Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

MOVIMENTOS SOCIAIS NA REPÚBLICA VELHA 2

Guerra de Canudos
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Ponto de partida
Objetivos
1) Conhecer as causas gerais e as imediatas do confronto em Canudos;
2) Entender os motivos da intervenção do Governo, bem como reconhecer os excessos dessa intervenção;
3) Conhecer a seqüência dos conflitos;
4) Refletir sobre o abandono do sertão nordestino por parte das autoridades governamentais da República velha e discutir em que sentido esse abandono, hoje, faz ou não parte do passado.
Comentário
A guerra de Canudos é um episódio muito significativo da história do Brasil: as populações de uma região de poucos recursos naturais é abandonada a sua própria sorte. Quando esta mesma população se organiza para resolver seu problema passa a ser vista como uma ameaça ao Estado.
Estratégias
1) Dividir inicialmente a classe em três equipes e propor que cada uma delas levante a história de Canudos, seguindo o percurso trilhado por Euclides da Cunha em "Os Sertões":
a) A terra: Caracterizar geograficamente a região onde ocorreu o conflito. Como era a região à época? Como é a região hoje?
b) O homem: pesquisar a cultura, lato senso, do sertão nordestino, levantando aspectos tais como o coronelismo, o cangaço, a religiosidade popular, a literatura de cordel, etc.
c) A luta: essa equipe pode se subdividir em quatro, cada uma das quais se dedicaria a narrar com o maior número de pormenores possível as quatro campanhas militares. Seria interessante levantar mapas da Bahia e da região de Canudos, assinalando nos mapas os locais onde se deram os confrontos, a marcha das colunas.
2) O professor pode completar a pesquisa dos alunos fazendo uma exposição sobre o Brasil da época, em que o eixo econômico estava no Sudeste, em função da economia cafeeira. Quanto ao Nordeste, enquanto o litoral e o agreste ainda conheciam algum desenvolvimento, como era a vida social no sertão? Destacar o caráter litorâneo do desenvolvimento econômico brasileiro.
Debate
Vale a pena discutir particularmente:
Qual o motivo da repressão violentíssima das autoridades governamentais?
Qual o motivo da resistência obstinada da população de Canudos?
Dicas e sugestões
Com todas as restrições que possam ser feitas ao filme "Guerra de Canudos", de Sérgio Resende, vale a pena fazer os alunos assisti-lo (ele se encontra em DVD), para motivá-los e levá-los a visualizar o panorama histórico.Existem diversos livros paradidáticos sobre o tema que podem servir de base à pesquisa dos alunos.
A República se impõe ao sertão a ferro e fogo
No início da Primeira República, no governo de Prudente de Morais, o interior do Nordeste brasileiro foi palco de um dos maiores conflitos sociais envolvendo a luta das populações pobres pela posse da terra. As principais causas deste conflito, que desencadeou a Guerra de Canudos, estão relacionadas às condições sociais e geográficas da região.
As características geográficas e as condições sociais do Nordeste brasileiro formavam um conjunto de fatores geradores de um estado de permanente conflito e revolta social. Toda aquela região era composta de latifúndios improdutivos, que eram grandes extensões de terra pertencentes a poucos proprietários.
Os coronéis e a seca
Esses grandes proprietários agrários, também conhecidos como coronéis, mantinham uma enorme massa de sertanejos em condições de absoluta miséria. Como não possuíam terras, os sertanejos eram obrigados a aceitar as péssimas condições de trabalho impostas pelos coronéis. A situação de miséria dessas populações era agravada pelas condições do clima da região.
O nordeste brasileiro sofria com as secas, que assolavam toda a região, acabando com as plantações de alimentos, matando as criações de animais e secando os reservatórios de água. Todos os anos, a fome e a sede matavam milhares de sertanejos.
Banditismo, fanatismo e conflito social
As condições de miséria das populações que habitavam o interior do Nordeste brasileiro favoreciam a ocorrência de conflitos e revoltas sociais. Os sertanejos formavam bandos de cangaceiros que aterrorizam as populações locais e atacavam as fazendas dos coronéis, roubando tudo que podiam.
O cangaço era uma das formas mais comuns de luta contra a miséria e a fome, mas pode ser entendido como um tipo de revolta primitiva ou inconsciente, porque não tinha por objetivo a luta pela transformação das condições sociais mais gerais. O emprego da violência de forma rotineira e de caráter vingativo, são as marcas do cangaço.
Essas condições também favoreciam o surgimento de líderes religiosos, conhecidos na região como beatos ou conselheiros. Pregando a salvação da alma, esses religiosos mobilizavam seguidores e formavam comunidades. Movimentos populares de caráter religioso eram uma outra forma primitiva de contestar e lutar contra a miséria e a fome. Eles se contrapunham ao catolicismo conservador vigente, e por esse motivo não eram bem vistos pela Igreja.
Canudos e o Conselheiro
A história de Canudos começa por volta de 1893. Nesta época, no arraial de Canudos, no vale do rio Vaza-Barris, no interior da Bahia, reuniu-se um grupo de fiéis seguidores do beato Antônio Conselheiro, que pregava a salvação e dias melhores para quem o seguisse. Em 1896 o arraial já possuía cerca de 15 mil sertanejos que viviam de modo comunitário. Sobreviviam com a criação de animais e plantações.
Tudo era dividido entre os habitantes e o que sobrava era comercializado nas cidades vizinhas. Desse modo, conseguiam obter os bens e produtos que não eram produzidos no local. Para se protegerem, os habitantes de Canudos organizaram grupos armados. Foi assim que, em poucos anos o arraial de Canudos se firmou na região como um contestado, passando a reunir cada vez mais sertanejos que lutavam para mudar suas condições de vida fugindo da miséria e dominação dos grandes latifundiários.
A Guerra de Canudos
O rápido crescimento da comunidade de Canudos passou a incomodar os coronéis locais e a Igreja católica. Os latifundiários perdiam mão-de-obra enquanto a Igreja perdia seus adeptos. O contestado de Canudos passou a ser alvo de inúmeras críticas.
Padres e coronéis faziam pressão para que o governador da Bahia acabasse com Canudos. Na imprensa, os intelectuais e jornalistas condenavam os habitantes da comunidade sob a acusação de quererem restabelecer o regime monárquico e chamando os sertanejos de bandos de "fanáticos" e "degenerados".
O governo da Bahia organizou expedições militares para destruir Canudos. A primeira, comandada pelo tenente Manuel Pires Ferreira, foi composta por 120 homens e terminou sendo vencida pelos fiéis de Antônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade. A Segunda expedição, foi composta por 500 homens e foi chefiada pelo major Febrônio de Brito, mas também foi derrotada.
Terceira derrota
Diante do fracasso, foi organizado uma terceira expedição militar composta por 1.200 homens, sob chefia do coronel Moreira César - considerado pelos militares um herói do exército brasileiro. Ainda assim, a expedição foi vencida, e o coronel foi morto em combate. Com a terceira derrota, a resolução do problema passou para a competência do governo federal. O ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, preparou uma quarta expedição que foi composta por 6 mil homens e chefiada pelo general Artur Oscar.
Fortemente armados, os soldados cercaram por três meses o arraial de Canudos, que sofreu forte bombardeio e depois foi invadido. O arraial foi completamente destruído a 5 de outubro de 1897. Os sertanejos de Canudos, homens, mulheres, velhos e crianças, foram massacrados pelos soldados, que tinham ordens para não fazer nenhum prisioneiro.
A destruição de CanudosO presidente Prudente de Morais comemorou a vitória das tropas militares. Mas pouco a pouco, começaram a surgir críticas proveniente de políticos, intelectuais e de diversos setores da sociedade, sobre a necessidade do uso de tamanha violência contra os habitantes de Canudos. A Guerra de Canudos passou para história como o grande massacre da população pobre e humilde do Nordeste brasileiro.
O famoso escritor Euclides da Cunha, que na época acompanhou o conflito armado na condição de jornalista, como correspondente de "O Estado de S. Paulo", retratou o episódio em sua obra "Os Sertões". Nela, ele apresenta uma contundente denúncia sobre o massacre dos sertanejos de Canudos, retratando-os como bravos heróis que resistiram até o fim.

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