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Súplica Cearense

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Religião africana


A RELIGIÃO IORUBÁ, A CRENÇA NOS ORIXÁS E A CRENÇA ALÉM FRONTEIRA: O TRANSNACIONALISMO RELIGIOSO.

I - Objetivos:

a. Geral: Analisar a religião iorubá e o transnacionalismo étnico dessa religião, e a geração de várias cidadanias no Golfo da Guiné no século XVI.

b. Específicos: Conceituar transnacionalismo e ou cidadania plurinacional.Conceituar orixás e vodus dentro das religiões iorubá e fon. Refletir sobre cidadania plurinacional. Relacionar cidadania nacional e cidadania transnacional.

II - Metodologia:Texto base: Textos anexos: "Os Orixás e "Os Orixás e o transnacionalismo religioso". 1º Passo: Perguntar aos alunos o que eles sabem sobre Orixás e Vodus. A partir das observações dos alunos, ir construindo no quadro tópicos, que serão relacionados em duas vertentes: uma sobre orixás, Exu, religiões afro-brasileiras, candomblé, etc; e a outra seria vodu, magia negra, feitiçaria, etc. 2º Passo: A partir das opiniões expressas pelos alunos, iniciar a desconstrução da assimilação de vodus ao folclore haitiano e o cinema (com filmes de terror), e também a visão hierárquica da igreja católica associando as religiões iorubá e fon à bruxaria européia. Explicar que a arte iorubá era peculiar, pois estava orientada a expressão do desconhecido, dos ancestrais e do mundo supra-sensível. Citar o exemplo do Exu, que é demonizado, devido sua representação de um símbolo fálico. 3º Passo: Explicar que os orixás e os vodus são divindades iorubás (nagôs) e fon (gege). Caracterizar a religião iorubá e fon original, religiões étnicas. Lembrar os alunos que os iorubás foram chamados pelos europeus de "os gregos da África", e identificar as razões para essa assimilação. Utilizar as imagens de Exu e de Gu, um orixá e um vodu respectivamente, e a sua representação artística. Construir com os alunos o discurso de demonização, por se tratarem de imagens que remetem ao desconhecido. 4º Passo: Explicar que a partir do século XVI no Golfo da Guiné surgirá o fenômeno do transnacionalismo religioso e cidadanias multinacionais. Descrever que significa a crença nos orixás e vodus, anteriormente relacionada aos seus povos originais, irá transcender o conceito de etnia. Leitura de um trecho do texto anexo (4º, 5º e 6º parágrafos). 5º Passo: Explicar a cidadania multinacional e relacioná-la com a cidadania brasileira. A devoção pessoal em um orixá ou vodu transcendia a própria etnia (fon, ewe, tapa, nupe). A partir da crença em um orixá, os devotos se tornavam parte da comunidade desta divindade e com tudo a ela associada: lugares sagrados, ritos, crendices, etc. 6º Passo: A partir da relação entre orixás e santos católicos (utilizando o texto anexo) explicar que os africanos vindos como escravos para o Brasil trazem sua fé, e a partir do sincretismo, das irmandades, e irá originar as religiões afro-brasileiras, e também afro-americanas. Explicar que a tradição, a oralidade e as crenças africanas ainda estão presentes e vivas no nosso país. 7º Passo: Após a aula expositiva, ler o primeiro parágrafo do texto. Uma pergunta filosófica sobre a questão nacional e nacionalista. Analisar a primeira frase do texto do ponto de vista filosófico. O caso da cidadania plurinacional e multicultural que apresentamos, é uma pequena contribuição ao debate que desejamos. Por uma parte, vertical, é dizer, um dialogo com o profundo e rico passado do continente africano, e por outra, horizontal, é dizer, uma conversação com todas as culturas do mundo. O objetivo seria que os alunos reflitam sobre o conceito discutido em sala (transnacionalismo e relacionem com nacionalismo), e que façam um pequeno texto escrito.
IV - Recursos Didáticos:Material de Apoio Xerografado.Imagens sobre arte iorubá, orixás e vodus.
V - Avaliação: Serão perguntas reflexivas e filosóficas (em anexo) sobre o tema da aula.
VI - Bibliografia:DEL PRIORE, Mary & VENÂNCIO, Renato. Ancestrais. Uma introdução à história da África Atlântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2004. DOUGLAS, Mary. Os Lele Revisitados, 1987: "Acusações de Feitiçaria à Solta". Mana, 5(2):7-30, out. 1999. Eshu-Elegba. Disponível em <http://br.geocities.com/jurema.geo/links/artigo5.html> . Acesso em: 24 jun. 2008. Exu. Disponível em <http://br.groups.yahoo.com/group/Arte_Xamanica/message/399>. Acesso em: 24 jun. 2008. Exus. Disponível em <http://www.ceao.ufba.br/mafro/welcome.htm>. Acesso em: 24 jun. 2008.Gu. Disponível em <http://www.ceao.ufba.br/mafro/welcome.htm>. Acesso em: 24 jun. 2008. MAFRO (s.n.t.). Setor África: Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores. OLIVA, Anderson. As faces de Exu: representações européias acerca da cosmologia dos orixás na África Ocidental. Revista Múltipla, X (18): 9-38, jun. 2005._______. A História da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didática. Estudos Afro-Asiáticos, 3 (25): Rio de Janeiro, 2003. "ORIXÁS", Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation.REIS, João José. Domingos Pereira Sodré: Um Sacerdote Africano na Bahia Oitocentista. Afro-Ásia, 34. Salvador, 2006. p. 251. WIKIPÉDIA. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alteridade>. Acesso em: 07 jun. 2008. WIKIPÉDIA. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Continuum>. Acesso em: 07 jun. 2008. WIKIPÉDIA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Odu. Acesso em: 07 jun. 2008.YAI, Olabiyi Babalola. Religión y Nación Multicultural Un Paradigma del África Precolonial. In: Arocha, Jaime (Org.). Utopía para los excluídos. Bogotá: Facultat de Ciencias Humanas UN, 2004. p. 83-85.

Os orixás e o transnacionalismo pré-colonial

O caso da cidadania plurinacional e multicultural que apresentamos, é uma pequena contribuição ao debate que desejamos. Por uma parte, vertical, é dizer, um diálogo com o profundo e rico passado do continente africano, e por outra, horizontal, é dizer, uma conversação com todas as culturas do mundo.Em geral, o multiculturalismo e a inclusão parecem característicos dos chamados "impérios" africanos. Nos antigos impérios de Gana, Mali, Songai, Kongo, a hegemonia do grupo conquistador nunca implicou a imposição da religião e da língua.Mas o caso que mais nos interessa é a dos povos e entidades geopolíticas da África Ocidental, situados entre o rio Níger a leste e o rio Volta ao oeste, do século XV ao XIX. Trata-se dos reinos e povos ewe, aja tado, alada, xogbonu, danxome, oyo, ijebu, ifé, tapa, bini, para citar os mais proeminentes. Historicamente, estes reinos e os povos que os compõem, se consideram pertencentes a uma grande família: o ebi; entidades políticas estas que desenvolveram entre si um sistema sofisticado de hierarquias, senhorios, fidelidades e obrigações mutuas; dentro dos quais a religião desempenha um papel fundamental no surgimento e permanência de uma cidadania multinacional. Assim que haviam sido perturbados pelo comercio atlântico, teria se desenvolvido estes acontecimentos políticos e culturais nesta parte da África.Como bem se sabe, esta é o berço das religiões orixá e vodu que sobreviveram na América e que, ainda sem missionários ou cruzados, continua sua expansão hoje fora das comunidades negras da América e Europa. Como exemplo, na Baía de Benin existem 401 orixás ou vodus, o qual se deve interpretar da seguinte maneira: 400 simboliza um grande número e 1 simboliza a perpetua dinâmica característica do panteão, assim dizendo, o principio da criatividade religiosa. Há vários tipos de orixás e vodus: orixás de família, orixá protetor de uma cidade ou aldeia (orixá tutelar) e orixá individual. Muito mais tarde nasceu o vodu de Estado.Os orixás ou vodus circulam livremente entre os povos que os transferem uns a outros; e como se sabe, cada deidade (orixá ou vodu), tem sua cidade ou lugar histórico ou mítico, onde nasceu ou onde Olorum, o deus supremo, lhe fez surgir. Ogum, deus da metalurgia, da guerra e da tecnologia, nasceu em Ire, no país dos Ekiti, uma etnia iorubá situada na parte oriental do continuum dialetal. Oiá, deusa da tempestade, nasceu em Ilé Ira, as margens do rio Níger, do qual seu nome. Xangô, deus do raio e da justiça, vem de Oyo, no centro do país iorubá, assim como Exu Elegba, o deus da ambigüidade, da dualidade, dos encontros e da tradução, o Hermes iorubá, tem como pátria Ketu, na atual República do Benin. Nanã provém da parte ocidental do país nagô, parte do atual Togo.Uma característica básica destas religiões iniciáticas consiste em que cada individuo se identifica com uma deusa ou um deus que é dono de sua pessoa: ori ("destino"). Nelas o mais importante é o individuo e sua relação com seu deus e com todos os que o mesmo deus selecionou e que, portanto, tornam-se parte de sua família, sem importar o Estado onde residem.Como parte do processo de iniciação o noviço tem que aprender a historia da deidade a qual pertence, a língua do lugar onde nasceu a mesma, suas comidas, maneira de vestir-se e outros costumes. Assim sendo, cada pessoa iniciada se considera como cidadã do lugar de nascimento de seu orixá ou vodu. Um adepto de Nanã, ainda que seja nativo de Oyo no centro do país iorubá, têm que aprender a língua nagô, falada na parte oeste do continuum. Ifá o deus da sabedoria e da adivinhação, é o orixá mais conhecido e consultado na área, e como seu lugar de origem é Ilê-Ifé, berço da civilização iorubá, seus sacerdotes aprendem o iorubá e memorizam os milhares de seus mitos esotéricos, classificados em 256 odu ou combinações, e as interpretam a seus eleitos nas distintas línguas da região. Desta maneira, a iniciação religiosa é uma escola de alteridade, na qual os noviços passam por uma verdadeira curiosidade pelo estrangeiro. Em suma, o sistema reduz drasticamente a fidelidade incondicional ao Estado-nação, posto que uma parte importante da população tem mais de uma cidadania; onde a alteridade está inscrita na mesma idéia da nação.Fonte: YAI, Olabiyi Babalola. Religión y Nación Multicultural Un Paradigma del África Precolonial. In: Arocha, Jaime (Org.). Utopía para los excluídos. Bogotá: Facultat de Ciencias Humanas UN, 2004. p. 83-85.
VocabulárioOdu - sistema de adivinhação de Ifé, atributo do deus Ifá. O sistema geomântico utiliza 16 conchas (que simbolizam os 16 caminhos da vida) que formam 256 combinações cada qual decorado pelo babalaô, que o recita ao fiel. .Continuum - espaço topológico não vazio, separado, conexo e localmente compacto.Alteridade - o mesmo que outridade. É a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).
Referências:

Texto traduzido e adaptado pelo professor. Vocabulário criado a partir do site Wikipédia.

Atividades:
1) Analise o relato do viajante europeu sobre um Legba (Exu) de Ouidah (cidade do Benin) em 1743, e do pesquisador Pierre VergerEis como apresenta o Legba de Ouidah, onde permaneceu de 1743 a 1765. A um quarto de légua dos fortes os daomeanos ainda têm um deus Príapo, feito grosseiramente de terra, com seu principal atributo, que é enorme e exagerado em relação à proporção do restante do corpo. As mulheres, sobretudo, vão oferecer-lhes sacrifícios, de acordo com sua devoção e com o pedido que lhe farão. Esta má estátua encontra-se debaixo do forro de uma choupana que a abriga da chuva. (Pruneau de Pommegorge, 1743)Porque os assentamentos de Eshu encontrados na África eram considerados obscenos e imorais pelos europeus que lá chegaram. Em toda expedição que era feita à África sempre tinham padres missionários com a finalidade de catequizar e converter os pagãos africanos. E naturalmente essa catequese não permitia que continuassem a cultuar seus orixás pagãos. .(Pierre Verger, Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns, p. 133).1) Qual a visão de Pruneau de Pommegorge sobre a religião dos daomeanos?
1.a) Por que a representação de Exu é evocada como "má"?


1.b) A partir da leitura do texto, caracterize o que significa transnacionalismo.


2) Qual orixá você se identificaria? Mas a partir da leitura do texto, é você quem escolhe seu deus guia?


3) Caracterize a religião iorubá antes da chegada dos europeus e a religião iorubá após o contato com os europeus.


4) Acreditava-se, também, que a parte habitável da Etiópia era moradia de seres monstruosos: "os homens de faces queimadas". [...] A cor negra, associada à escuridão e ao mal, remetia no inconsciente europeu, ao inferno e às criaturas das sombras. O Diabo, nos tratados de demonologia, nos contos moralistas e nas visões das feiticeiras perseguidas pela Inquisição, era, coincidentemente, quase sempre negro (Del Priore e Venâncio, 2004: 56).A partir da afirmação acima, discuta o significado que possuí a palavra negro, na cultura ocidental. Qual a sua opinião sobre isso.


Imagens (Próxima postagem)
1 -Escultura de Exu / Autor: Pierre Verger / Fonte: Livro Orixás
2 -Escultura de Eshu-Elegba / Foto do livro: Tradition and Change in Yoruba ArtE.B. Crocker Art Gallery - Nova Iorque
3 -Escultura em Ferro de Exus / Salvador - Bahia / Escultor: Agnaldo Silva da Costa / Fonte: MAFRO (s.n.t.). Setor África: Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores.
4 - Escultura em Ferro de Gu / Etnia Fon / Abomé, República Popular do Benin / Autor: Simon Akati / Fonte: MAFRO (s.n.t.). Setor África: Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores.

ORIXÁS
NOME / SÍMBOLO / CORES / ELEMENTO / SANTO CATÓLICO / SAUDAÇÃO / DOMÍNIO
EXU Tridente e bastão / Preto e vermelho / Fogo / Santo Antônio e São Benedito / Laroiê!Exu domina as passagens e encruzilhadas. Abre e fecha os caminhos. É o mensageiro dos mortais ante os outros orixás
IANSÃ Chicote e raio / Vermelho e branco / Fogo / Santa Bárbara / Epa Hei!Iansã é a rainha das ventanias e temporais. Encoraja os mortais e os protege contra desastres e acidentes
IEMANJÁ Leque e conchas / Azul-claro / Água / Nossa Senhora das Candeias / Odó Iyá!O mar é o domínio de Iemanjá, um orixá feminino que promove a harmonia na família.
NANÃ Vassoura de palha e bastão de hastes de palmeira / Branco e azul / Água e terra / Sant'Ana / Salubá!Os domínios de Nanã são os pântanos e alagados. É a grande-mãe, a mais velha dos orixás e a guardiã do portal entre a vida e a morte.
OBÁ Facão e navalha /Rosa / Ar / Santa Catarina / Obá Xirê!Obá é quem fortalece e protege os que buscam o sucesso material
OBALUAIÊ ou OMOLU Cajado e búzios / Amarelo e preto / Terra / São Lázaro / Atotô Totô Hum!Obaluaiê é o senhor dos cemitérios, do interior da terra, das doenças e dos espíritos.
OGUM Espada e instrumentos de ferreiro / Vermelho e verde / Fogo / São Jorge / Ogum ê!É o senhor da guerra e das artes manuais. Protege, particularmente, os ferreiros e quem trabalha com ferramentas de metal.
OSSAING alho com folhas / Verde e branco / Terra / São Benedito / Euê ô!Os domínios de Ossain são as florestas e plantas em geral. Ossain é o orixá das ervas medicinais, da cura e dos segredos para afastar doenças.
OXALÁ Cajado e caramujo / Branco / Ar / Nosso Senhor do Bonfim / Epa Babá!Seu domínio é o céu. Oxalá é o grande pai celeste, senhor das almas e provedor de progresso e saúde.
OXÓSSI Arco e flechas / Verde / Terra / São Sebastião / Okê Arô!Oxóssi domina as matas e animais silvestres. É o provedor do sustento e patrocinador das vinganças
OXUM Leque e espelho / Amarelo / Água / Nossa Senhora da Conceição / Erieiê ô!Orixá das águas doces, da riqueza, do amor e da fertilidade. Protege os partos e bebês
OXUMARÉ Arco-íris / Verde e amarelo / São Bartolomeu /Arô Moboi!Orixá bissexual. É homem durante seis meses e mulher, nos outros seis. Rege todas as pessoas, coisas e movimentos ambíguos.
XANGÔ Machado de duas lâminas / Marrom / Fogo / São Jerônimo / Cawô Kabiecilê!Seus domínios são os raios, os trovões e os meteoritos. Xangô corrige as injustiças, é a voz do povo e representa o orgulho.
[1]"Orixás," Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.
Fonte. Acesso: 17/12/2008 (Modificado)

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