Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

BANDEIRANTES: HERÓIS OU VILÕES

Desmitificando os bandeirantes
Luciane Cristina Miranda de Jesus*Especial para a página 3 Pedagogia & Comunicação
Ponto de Partida
1) Ler o primeiro e o terceiro itens do texto Entradas e Bandeiras - Bandeirantes expandiram limites do Brasil.
2) Ler o texto Bandeirantes - Heróis ou vilões? A construção do mito.
Justificativa
A capital paulista, vários municípios da região metropolitana de São Paulo e até mesmo várias outras cidades não só do interior paulista, mas também do interior do Brasil, foram no passado caminhos abertos pelos bandeirantes, em um Brasil inóspito, que se tornaria gigante pela natureza desbravadora e destemida destes bandeirantes, que ora aparecem como vilões e outrora como heróis.
Diante desses juízos de valor é fundamental que os alunos tenham conhecimento sobre a construção da memória mitificada dos bandeirantes paulistas e entendam as intenções dessa construção levando-se em consideração os vários sujeitos históricos envolvidos na preservação dessa memória.
Objetivos
1) Distinguir entre as expedições chamadas de Entradas e de Bandeiras ocorridas durante os primeiros séculos do período colonial brasileiro;
2) Refletir sobre o contexto histórico em que a memória em torno dos bandeirantes passa a ser construída com o intuito de mostrar o passado heróico do Estado de São Paulo.
Estratégias
1) Ao iniciar o estudo sobre os bandeirantes, é importante que o professor faça uma sondagem com os alunos a respeito do assunto. Faça uma tabela na lousa com duas colunas, sendo uma para o conceito de Entradas e outra para o conceito de Bandeiras. Peça aos alunos que verbalizem o que entendem por cada uma dessas nomenclaturas e paralelamente garanta o registro na lousa e os alunos no caderno, para posterior consulta.
2) Apresente aos alunos o primeiro item do texto Entradas e Bandeiras - Bandeirantes expandiram limites do Brasil e aleatoriamente escolha um dos seus alunos para realizar a leitura para toda a classe.
3) Em seguida, após a leitura do conceito de Entradas e de Bandeiras, peça para os alunos consultarem seus registros no caderno e verificarem se alguma conceituação se aproxima da qual foi dada pela historiografia.
4) Agora, apresente os motivos que levaram inúmeros homens a se organizarem nessas expedições desbravadoras não só para o interior, mas também para o litoral. A leitura do terceiro item do texto Entradas e Bandeiras - Bandeirantes expandiram limites do Brasil, cujo subtítulo é "São Vicente e São Paulo" demonstra os vários fatores que motivaram as expedições bandeirantes, como a procura de indígenas para apresamento e venda, metais e pedras preciosas.
5) A partir das etapas já trabalhadas, o professor deverá perguntar qual dos dois títulos serviria para dar aos bandeirantes: heróis ou vilões? É bem possível que os alunos devam ficar como último adjetivo. Portanto, esclareça que a memória em torno dos bandeirantes foi construída de forma positiva e não ao contrário. Cabe agora a leitura do texto Bandeirantes - Heróis ou vilões? A construção do mito.
6) A leitura do texto é ótima para elucidar que classe social forjou uma memória de glorificação do passado dos bandeirantes e os motivos pelos quais forjaram. É interessante esclarecer aos alunos que o conhecimento histórico é interpretação e sendo interpretação, está imbuído de subjetividade e ideologia.
7) Para dar sentido à mitificação dos bandeirantes, peça aos alunos para realizarem uma pesquisa sobre os monumentos construídos na cidade de São Paulo que fazem referência a eles. Também peça para elencarem o nome das principais rodovias que cortam a capital paulista, cujos nomes são de bandeirantes.
*Luciane Cristina Miranda de Jesus é formada em história pela Universidade de São Paulo e professora dessa disciplina na rede particular de ensino do Estado de São Paulo.

Entradas e Bandeiras
Bandeirantes expandiram limites do Brasil
Renato Cancian*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Foi a partir do século 17 que as terras do interior do Brasil passaram a ser rotineiramente exploradas. O desbravamento e povoação dessas terras foram iniciados por expedições pioneiras chamadas de Entradas e Bandeiras. As Entradas geralmente eram expedições oficiais, ou seja, foram organizadas pelo governo da autoridade colonial. Já as Bandeiras tinham motivação particular, isto é, eram organizadas por colonos que se estabeleceram nos povoados.Os historiadores ainda hoje debatem sobre a caracterização dos dois tipos de expedições, mas ainda assim aceitam a diferenciação mencionada acima. O mais importante é entender os fatores que ocasionaram a criação das Entradas e das Bandeiras e as mudanças que essas expedições provocaram no processo de colonização do Brasil.
Riquezas e escravos
As Entradas e Bandeiras foram expedições organizadas para explorar o interior com o propósito de procurar riquezas minerais, tais como ouro, prata e pedras preciosas. Objetivavam também caçar e apresar índios para escravizá-los. Não era uma tarefa fácil organizá-las, e muito menos explorar o interior do território colonial. Havia a necessidade do preparo de muitas provisões, como alimentos, armas e instrumentos, que deviam ser transportados por animais e pelos próprios exploradores.
Outra tarefa difícil era reunir homens que estivessem dispostos a penetrar mata adentro e permanecer muitos meses no interior, sem a certeza de que retornariam com vida para seus povoados e do êxito que teriam na descoberta de riquezas ou no enfrentamento e apresamento dos índios.
As Entradas tiveram início logo após a descoberta do Brasil. Em 1504, Américo Vespúcio organizou uma Entrada composta por trinta homens que partiu de Cabo Frio e penetrou no sertão. Martim Afonso de Souza organizou duas Entradas. A primeira foi composta por quatro homens, saiu da Guanabara e permaneceu no interior por cerca de dois meses. A segunda foi composta por cerca de 80 homens e chefiada por Pedro Lobo. Saiu da ilha de Cananéia (no atual estado de São Paulo) e jamais retornou. Após o estabelecimento do Governo-Geral, as Entradas passaram a ser organizadas com maior freqüência, mas restringiram-se a explorar o interior da Bahia e de Minas Gerais.
São Vicente e São Paulo
As Entradas declinaram no início do século 17. As Bandeiras surgiram no início do desse mesmo século e se estenderam por todo o século seguinte. Foi na vila de São Vicente que surgiram as primeiras Bandeiras. O solo dessa região, impróprio para o plantio da cana-de-açúcar, ocasionou o rápido declínio da produção açucareira levando a estagnação econômica dos povoados. Os habitantes da região tiveram que encontrar outra atividade econômica para sobreviver. A alternativa foi a organização das expedições desbravadoras.
A vila de São Paulo também ficou famosa pela organização de expedições bandeirantes. As Bandeiras organizadas pelos habitantes de ambas as vilas dedicaram-se, inicialmente, à caça e apresamento de índios para vendê-los como mão-de-obra escrava aos engenhos produtores de açúcar, situados nos ricos solos do Nordeste brasileiro. Seus alvos principais eram as missões jesuíticas que concentravam grande número de índios em fazendas, para serem pacificados e depois catequizados pelos religiosos da Companhia de Jesus.
O colégio de Piratininga
Foram os jesuítas, liderados pelo padre Nóbrega, que se estabeleceram na região de Piratininga, fundando um pequeno povoado que cresceu e deu origem a vila de São Paulo. Tudo começou com a construção de um colégio e uma casa, que eram locais para catequese dos índios. Com o surgimento das Bandeiras e das atividades de caça e apresamento dos índios, os jesuítas entraram em conflito com os bandeirantes. Na década de 1640, os bandeirantes expulsaram os jesuítas de São Paulo. Muitas missões jesuíticas, além das que se fixaram em Piratininga, foram destruídas pelos bandeirantes.
Com a substituição do índio pelo negro africano no trabalho escravo da grande lavoura, o ciclo do bandeirismo de caça e apresamento dos nativos declinou. Os bandeirantes passaram, então, a se concentrar na exploração de riquezas minerais.
As Bandeiras organizadas pelos habitantes da vila de São Vicente começaram a procura de ouro nos leitos dos rios da região e foram percorrendo a zona litorânea.As Bandeiras organizadas pelos habitantes de São Paulo, com o mesmo propósito, foram motivadas a penetrar no sertão brasileiro, favorecidas pela situação geográfica da vila e pelo curso dos rios da região, que facilitavam a exploração do interior. Mas é importante assinalar que a caça e apresamento de índios não parou por completo, os próprios bandeirantes passaram a utilizar a mão-de-obra indígena para trabalharem nas pequenas lavouras de subsistência e até nas próprias expedições de exploração.
Povoamento e expansão territorial
As expedições bandeirantes tiveram importância crucial para o povoamento, diversificação das atividades econômicas e expansão territorial do Brasil colonial. Ao longo das trilhas percorridas e dos caminhos abertos pelos bandeirantes foram surgindo diversos povoados. As Bandeiras que percorreram o litoral à procura de ouro, partindo de São Vicente, deram origem às vilas de Itanhaém, Iguape, Paranaguá, Laguna e Desterro, entre outras. A penetração no sertão deu origem a vilas e arraiais como Cuiabá, Vila Rica, Diamantina, Sabará e Mariana, entre outras.
As expedições bandeirantes também possibilitaram a descoberta de riquezas minerais como ouro, prata e diamante, metais preciosos que deram origem a um novo ciclo econômico de exploração colonial. O êxito dos bandeirantes, principalmente na descoberta de metais preciosos, fez com que a Coroa portuguesa passasse a financiar muitas expedições com o objetivo de encontrar essas riquezas minerais e explorá-la como alternativa a crise econômica provocada pelo declínio da produção do açúcar.
Enquanto as Entradas respeitavam os limites territoriais fixado pelo Tratado das Tordesilhas, que dividia as terras do continente americano entre Portugal e Espanha, as Bandeiras geralmente ultrapassavam essa fronteira, em direção às regiões Sul, Norte e Centro Oeste. Entre 1580 e 1640, Portugal ficou sob domínio Espanhol. Durante esse período, também conhecido como a união das Coroas ibéricas, a Espanha governou Portugal e todos os seus domínios. Nessa época, os bandeirantes não encontraram resistências quanto a ultrapassar Tordesilhas. Quando Portugal se libertou do jugo espanhol o território colonial brasileiro havia se ampliado significativamente.
Mitos e monumentos
As Bandeiras deram origem a narrativas épicas, mitos e lendas sobre o desbravamento e conquista do sertão brasileiro, que hoje fazem parte do simbolismo regional. Embora tenham sido responsáveis pela escravização e dizimação de inúmeras etnias indígenas e pela destruição de muitas missões jesuíticas, os bandeirantes são retratados como homens heróicos, portadores de coragem, bravura e espírito aventureiro, que penetraram na mata e desbravaram a vastidão do interior até então desconhecido, enfrentaram e dominaram índios, descobriram e exploraram riquezas minerais e fundaram povoados.
Na capital paulista, outrora vila e centro irradiador das expedições bandeirantes, ergueu-se o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, um dos mais importantes escultores brasileiros. E bandeirantes famosos como Bartolomeu Bueno da Silva (conhecido como Anhangüera), Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Pais, foram homenageados tendo seus nomes dados a importantes rodovias que percorrem o interior do Estado de São Paulo.



Heróis ou vilões?

A construção do mito

Túlio Vilela*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação


Os bandeirantes, nos quadrinhos de "Piratas do Tietê", obra de Laerte

Durante muito tempo, os bandeirantes foram encarados como "heróis". Eles teriam sido os desbravadores que contribuíram para a construção de nosso país, expandindo nossas fronteiras.Essa imagem heróica acabou dando lugar a outra, oposta: os bandeirantes teriam sido bandidos cruéis e sanguinários, que saqueavam aldeias indígenas, matando crianças, violentando mulheres e escravizando os índios.
Em nossos livros didáticos o bandeirante foi retratado dessas duas formas: ora herói, ora vilão. Ambas as imagens exageram aspectos verdadeiros da vida dos bandeirantes e ignoram outros.
Figuras polêmicas
Os bandeirantes estão entre as figuras mais polêmicas da história do Brasil. A confusão se dá entre a história dos bandeirantes propriamente dita e a construção da memória em torno deles.A imagem que bandeirantes que há os traz calçados com botas de montar, vestidos com calções de veludo e casacas de couro almofadado. É desse modo que eles aparecem em pinturas, ilustrações de livros e até em estátuas.A pesquisa histórica revela uma realidade bastante diferente: a maioria dos bandeirantes andava descalça e com roupas muito simples. Na verdade, todas as imagens que vemos dos bandeirantes foram feitas muito tempo depois da época em que eles viveram.Expedições que geralmente partiam de São Paulo e eram organizadas com o fim de capturar índios e encontrar ouro e pedras preciosas, as bandeiras existiram do século 16 ao 18, enquanto as pinturas mais antigas sobre o tema foram feitas a partir do século 19, sob a ótica idealizadora do Romantismo.
A construção do mito
Outro fator que contribuiu para o mito do herói bandeirante foi a própria transformação de São Paulo em uma metrópole, que ocorreu muito tempo depois da época dos bandeirantes. No período colonial, São Paulo não passava de um povoado isolado com pouco mais de mil habitantes.O crescimento da economia cafeeira contribuiu para que São Paulo crescesse. A região ganhou a fama de "terra do trabalho", de lugar em progresso. As elites paulistas resolveram difundir uma história idealizada, segundo a qual, as raízes desse progresso já existiam na época dos bandeirantes. Os membros da aristocracia do café seriam os descendentes diretos dos "heróicos bandeirantes".Os paulistas, especialmente os membros da elite, traziam "no sangue" a herança dos bandeirantes, homens valentes que não tinham medo de desafios, o que explicaria porque os paulistas eram trabalhadores dedicados e incansáveis.Repare que esse regionalismo está carregado de preconceito em relação aos habitantes de outras partes do Brasil: São Paulo seria uma exceção, terra de riqueza e progresso num país de miséria e atraso; o paulista leva o trabalho a sério enquanto os brasileiros de outros lugares seriam "preguiçosos".

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