Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Metodologia de Aula 1

Aprendendo História com Palavras Cruzadas
Fazer palavras cruzadas é um dos passatempos mais comuns quando estou de férias, curtindo alguns dias na praia. É divertimento dos mais práticos, pois podemos carregar facilmente as revistas e uma caneta (ou lápis) para tudo quanto é lado sem que isso onere ou dificulte demais nosso trânsito. Além disso, quando todos tiram um cochilo à tarde ou estão jogando baralho e não há uma vaga na partida para um de nós, lá estão as cruzadas disponíveis para matar um tempinho.
O melhor de tudo é que, comprovadamente os passatempos contidos em revistas de palavras cruzadas ajudam a aprimorar o vocabulário, estimulam a atenção e a concentração e, de quebra, divertem muito quem os faz.
Sempre acreditei que para efetivar a educação seria necessário atrelar o trabalho em sala de aula a atividades prazerosas, daquelas bem gostosas, que integram a turma, exigem esforço e tem como recompensa uma enorme satisfação relacionada ao objetivo atingido. Boas lembranças como aquelas das férias e do tempo divertido gasto com as palavras cruzadas despertaram então a possibilidade de “cruzar” os caminhos das salas de aula com os passatempos contidos nas revistas de palavras cruzadas.
Foi daí que surgiu a proposta de realizar atividades em aula em que os estudantes tivessem que produzir suas próprias palavras cruzadas, caça-palavras e criptogramas.
O projeto foi então desenvolvido com turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. O melhor de tudo foi à receptividade dos alunos e a forma decidida como encararam o desafio. Uma vez definida a forma como atuaríamos e o que deveríamos fazer, as duplas formadas iniciaram um rigoroso trabalho de prospecção de material para a composição dos passatempos.
Essa era, inclusive, a demanda inicial:- selecionar idéias, palavras, personagens, acontecimentos e conceitos que pudessem virar parte da brincadeira. Acredito que a noção lúdica atrelada ao projeto levou os estudantes a partir com ímpeto para sua realização. Era o tal prazer que eu havia mencionado anteriormente que funcionava como motor de mais uma realização dos grupos.
Cada uma das turmas tinha pela frente temas diferentes da história a trabalhar. Os alunos do 1º ano estavam frente a frente com o Absolutismo e o Mercantilismo do mundo Moderno europeu dos séculos XV e XVI. A turma do 2º ano estava lidando com a Revolução Russa de 1917 que estabeleceu o socialismo naquele país. O grupo do 3º ano encarou o desafio de trabalhar com as revoltas do Período Regencial brasileiro (como a Balaiada, a Cabanagem, a Farroupilha e a Sabinada).
Tendo os temas definidos, cada dupla tinha que buscar as palavras que poderiam ser encaixadas em seu passatempo (a propósito, uma vez que tínhamos o tema e estabelecemos que o projeto seria realizado por duplas, fizemos um sorteio através do qual se definiu para cada grupo formado um dos formatos de passatempos propostos para essa atividade, ou sejam: palavras cruzadas, caça-palavras e criptogramas).
Foi necessário que explicássemos a proposta e os modelos de passatempos que seriam usados, especialmente os criptogramas, desconhecidos da maioria dos estudantes e que, uma vez visualizados através de exemplos tirados das próprias revistas de palavras cruzadas, foram facilmente entendidos.
As palavras selecionadas eram então encaixadas em criptogramas, palavras cruzadas ou caça-palavras. Então passava a ser necessário que os grupos criassem textos, perguntas ou frases incompletas (com espaços a preencher) onde se encaixassem os termos selecionados para o passatempo para que as pessoas que os realizassem soubessem o que deveriam procurar nos caça-palavras ou como deveriam preencher as cruzadas e os criptogramas.
Durante todo esse percurso percorrido pelos estudantes foi necessário que os mesmos lessem e relessem o texto base da atividade (retirado dos próprios fascículos ou apostilas utilizados em aulas). Foi fundamental também que ocorresse uma criteriosa escolha de palavras para a composição das atividades já que as mesmas deveriam ser suficientemente significativas ou relevantes para que os outros alunos, quando realizassem o passatempo, pudessem lembrar-se ou saber a respeito das mesmas.
A composição visual dos passatempos também deu bastante trabalho para os estudantes. Perceberam com isso que a produção de um passatempo leva mais tempo que supunham a princípio e, de quebra, que deve ser realizada em etapas que pressupõem pesquisas, diagramação, elaboração de textos ou perguntas, averiguação dos quadradinhos e do posicionamento das palavras, composição visual da atividade e alguns outros detalhes a mais a serem acertados para que tudo fique o mais perfeito possível. Ao final da atividade, os estudantes trocaram as atividades e tinham que resolver aquelas que haviam sido criadas por seus colegas. Nesse intercâmbio fiz com que aqueles que haviam criado cruzadas fizessem criptogramas ou caça-palavras, que tivesse produzido criptogramas teria que realizar caça-palavras ou palavras-cruzadas e que os produtores de caça-palavras fizessem cruzadas ou criptogramas.
Logo alguns descobriram pequenos erros de diagramação, colunas em que faltavam letras; a maioria teve alguma dificuldade para realizar já que a forma como haviam proposto as questões ou o modelo de passatempo produzido pelos colegas era diferente daquele que haviam feito; apesar disso, todos se divertiram e disseram ter aprendido muito com a atividade.
Nesse sentido, como forma de conferir se o aprendizado havia se efetivado fizemos o fechamento da atividade com uma revisão dos pontos principais de cada um dos assuntos tratados pelas diferentes turmas (1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio). Para tanto o ponto de partida para as explicações eram as palavras selecionadas para os passatempos.
Por exemplo, no caso da turma do 2º Ano, termos como bolcheviques, mencheviques, Czarismo, socialismo ou personagens como Lênin, Trotsky e Stálin, destacados nas palavras cruzadas, criptogramas ou caça-palavras foram o mote para as explicações sobre a Revolução Russa. Tudo ficou muito mais fácil, pois os estudantes já sabiam quem eram os principais participantes da revolução, os objetivos dos revolucionários, as facções envolvidas na luta, os principais momentos da luta dos socialistas,...
E o melhor de tudo é que aprendemos, nos divertimos, trabalhamos com formatos alternativos, desenvolvemos nossa criatividade, pesquisamos...
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte. Acesso: 12/12/2008
http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=242

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