Pesquisa: livros didáticos têm erros sobre a África
Um pesquisa realizada no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) com base em livros didáticos sugere que o ensino da história da África e ainda está longe do ideal. Segundo as conclusões do estudo, os livros didáticos exercem papel importante na manutenção de um estereótipo de caos social e econômico predominante na África.
Durante dois anos, o historiador Anderson Oliva analisou capítulos específicos sobre a história da África anterior ao século XIX em manuais escolares destinados aos quatro últimos anos do ensino fundamental (5ª a 8ª séries). Das oito obras, quatro fazem parte da lista que o Ministério da Educação (MEC) indica para as escolas públicas e outros quatro são adotados por escolas privadas.
De acordo com Oliva, os principais problemas estão nas "simplificações e generalizações que recaem em erros". Com isso, segundo o pesquisador, mantêm-se as idéias e imagens sobre o continente e suas populações, além de reforçar a crença de que a África não possui relevância para a história da humanidade.
No levantamento, um dos problemas mais apontados é a divisão do continente ao sul do Saara em apenas dois grandes conjuntos de povos. "Séculos de história e centenas de grupos étnicos são identificados apenas como os bantos e os sudaneses", exemplifica.
A tese afirma que essa divisão erra ao utilizar unicamente o critério das línguas faladas na região em questão. "É como se tratássemos toda a América Latina como uma sociedade igual", compara o pesquisador. Para ele, uma alternativa a tal critério seria evidenciar as complexidades e diversidades da África Negra, como referências às centenas de grupos étnicos que podem ser encontrados ao longo dos séculos.
Visão "Eurocêntrica"
De acordo com o levantamento realizado por Oliva, entre os livros analisados, o número de páginas destinadas à história da África é significativamente menor que o de outros assuntos. Os capítulos que tratam de temas como Europa Medieval, Absolutismo Monárquico, Renascimento Cultural e Construção do Pensamento Moderno Ocidental ocupam entre 15 e 20 páginas e vasta bibliografia.
Já a história da África é, quase sempre, abordada em um único capítulo que varia de 10 a 15 páginas, e com uma literatura de apoio restrita, alerta Oliva. "Isso mostra que o ensino da disciplina ainda segue a visão 'eurocêntrica'."
Apesar de todos os livros analisados serem novos - foram editados entre 1998 e 2000 - a pesquisa identifica um distanciamento entre os conteúdos dos manuais e a recente produção historiográfica. Para o estudo, isso demonstra "continuidade dos olhares coloniais".
Oliva destaca ainda um outro problema: o fato de o Brasil ter poucos cientistas que estudam a história, a arte ou a literatura daquele continente.
Legislação
Oliva faz ainda ressalvas à funcionalidade da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história da África e dos afro-brasileiros na educação básica. Segundo ele não foi implantada uma política específica para preparação de professores.
"Nem todas as universidades oferecem disciplinas sobre o tema em cursos de graduação para os professores. E algumas das que oferecem, não o fazem dentro do currículo obrigatório, apenas como disciplina optativa."
Onde o Brasil acerta
Em meio aos erros, algumas iniciativas foram elogiadas pelo historiador. Ele afirma que muitos autores de livros didáticos optaram por não utilizar imagens de negros escravos.
Outros ainda chamam a atenção dos alunos para as representações feitas dos africanos pelos europeus: a mudança da fisionomia dos africanos, de seus gestos, roupas e comportamentos, que recebem feições européias.
Ou ainda destacam aspectos dos padrões artísticos, sociais, políticos e as visões de mundo de algumas sociedades africanas, permitindo aos alunos criar uma intimidade maior com o continente.
E o pesquisador vê com otimismo os rumos desse segmento. De acordo com Oliva, editoras brasileiras têm se esforçado para fazer uma abordagem maior sobre o assunto. Já foram feitos livros paradidáticos, uma espécie de complemento aos livros que possuem falhas no tema. "É uma forma de preencher a lacuna de anos na educação, mas ainda não é o ideal", reconhece Oliva.
Fonte. Acesso: 19/12/2008http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/index.asp?vEditoria=&vCod=36527
Um pesquisa realizada no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) com base em livros didáticos sugere que o ensino da história da África e ainda está longe do ideal. Segundo as conclusões do estudo, os livros didáticos exercem papel importante na manutenção de um estereótipo de caos social e econômico predominante na África.
Durante dois anos, o historiador Anderson Oliva analisou capítulos específicos sobre a história da África anterior ao século XIX em manuais escolares destinados aos quatro últimos anos do ensino fundamental (5ª a 8ª séries). Das oito obras, quatro fazem parte da lista que o Ministério da Educação (MEC) indica para as escolas públicas e outros quatro são adotados por escolas privadas.
De acordo com Oliva, os principais problemas estão nas "simplificações e generalizações que recaem em erros". Com isso, segundo o pesquisador, mantêm-se as idéias e imagens sobre o continente e suas populações, além de reforçar a crença de que a África não possui relevância para a história da humanidade.
No levantamento, um dos problemas mais apontados é a divisão do continente ao sul do Saara em apenas dois grandes conjuntos de povos. "Séculos de história e centenas de grupos étnicos são identificados apenas como os bantos e os sudaneses", exemplifica.
A tese afirma que essa divisão erra ao utilizar unicamente o critério das línguas faladas na região em questão. "É como se tratássemos toda a América Latina como uma sociedade igual", compara o pesquisador. Para ele, uma alternativa a tal critério seria evidenciar as complexidades e diversidades da África Negra, como referências às centenas de grupos étnicos que podem ser encontrados ao longo dos séculos.
Visão "Eurocêntrica"
De acordo com o levantamento realizado por Oliva, entre os livros analisados, o número de páginas destinadas à história da África é significativamente menor que o de outros assuntos. Os capítulos que tratam de temas como Europa Medieval, Absolutismo Monárquico, Renascimento Cultural e Construção do Pensamento Moderno Ocidental ocupam entre 15 e 20 páginas e vasta bibliografia.
Já a história da África é, quase sempre, abordada em um único capítulo que varia de 10 a 15 páginas, e com uma literatura de apoio restrita, alerta Oliva. "Isso mostra que o ensino da disciplina ainda segue a visão 'eurocêntrica'."
Apesar de todos os livros analisados serem novos - foram editados entre 1998 e 2000 - a pesquisa identifica um distanciamento entre os conteúdos dos manuais e a recente produção historiográfica. Para o estudo, isso demonstra "continuidade dos olhares coloniais".
Oliva destaca ainda um outro problema: o fato de o Brasil ter poucos cientistas que estudam a história, a arte ou a literatura daquele continente.
Legislação
Oliva faz ainda ressalvas à funcionalidade da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história da África e dos afro-brasileiros na educação básica. Segundo ele não foi implantada uma política específica para preparação de professores.
"Nem todas as universidades oferecem disciplinas sobre o tema em cursos de graduação para os professores. E algumas das que oferecem, não o fazem dentro do currículo obrigatório, apenas como disciplina optativa."
Onde o Brasil acerta
Em meio aos erros, algumas iniciativas foram elogiadas pelo historiador. Ele afirma que muitos autores de livros didáticos optaram por não utilizar imagens de negros escravos.
Outros ainda chamam a atenção dos alunos para as representações feitas dos africanos pelos europeus: a mudança da fisionomia dos africanos, de seus gestos, roupas e comportamentos, que recebem feições européias.
Ou ainda destacam aspectos dos padrões artísticos, sociais, políticos e as visões de mundo de algumas sociedades africanas, permitindo aos alunos criar uma intimidade maior com o continente.
E o pesquisador vê com otimismo os rumos desse segmento. De acordo com Oliva, editoras brasileiras têm se esforçado para fazer uma abordagem maior sobre o assunto. Já foram feitos livros paradidáticos, uma espécie de complemento aos livros que possuem falhas no tema. "É uma forma de preencher a lacuna de anos na educação, mas ainda não é o ideal", reconhece Oliva.
Fonte. Acesso: 19/12/2008http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/index.asp?vEditoria=&vCod=36527
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