TESTEMUNHOS E DADOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Dificilmente as palavras conseguem reproduzir todo o horror de uma guerra, mesmo assim recolheu-se material daqueles que puderam deixar seu testemunho em forma de cartas, diários, memórias ou livros. Vamos ouvi-los:
Rápido desencanto com a realidade da guerra
"De repente, uns silvos estridentes nos precipitaram ao chão, apavorados. A rajada acaba de estalar sobre nós. Os homens, de joelhos, encolhidos, com a mochila sobre a cabeça e encurvando as costas, se apegavam uns aos outros. Por baixo da mochila dou uma espiada nos meus vizinhos: arquejantes, sacudidos por tremores nervosos e com a boca contraída numa contração terrível, batiam os dentes e, com a cabeça abaixada, tem o aspecto de condenados oferecendo a cabeça aos carrascos. Esta espera da morte é terrível. O cabo, que havia perdido seu capacete, me diz: rapaz, se soubesse que isso era a guerra e que vai ser assim todos os dias, prefiro que me matem logo. (...) Na sua alegre inconsciência, a maioria dos meus camaradas não havia jamais refletido sobre os horrores da guerra e não viam a batalha senão pelas cores patrióticas: desde nossa saída de Paris, o Boletim do Exército nos conservava na inocente ilusão da guerra ser um passeio e todos acreditavam na história dos boches se renderem aos magotes. (...) A explosão daquele instante, sacudiu nosso sistema nervoso, que não esperava por isso, e nos fez compreender que a luta que começava seria uma prova terrível. Escute meu tenente, parece que se defendem estes porcos!"
"De repente, uns silvos estridentes nos precipitaram ao chão, apavorados. A rajada acaba de estalar sobre nós. Os homens, de joelhos, encolhidos, com a mochila sobre a cabeça e encurvando as costas, se apegavam uns aos outros. Por baixo da mochila dou uma espiada nos meus vizinhos: arquejantes, sacudidos por tremores nervosos e com a boca contraída numa contração terrível, batiam os dentes e, com a cabeça abaixada, tem o aspecto de condenados oferecendo a cabeça aos carrascos. Esta espera da morte é terrível. O cabo, que havia perdido seu capacete, me diz: rapaz, se soubesse que isso era a guerra e que vai ser assim todos os dias, prefiro que me matem logo. (...) Na sua alegre inconsciência, a maioria dos meus camaradas não havia jamais refletido sobre os horrores da guerra e não viam a batalha senão pelas cores patrióticas: desde nossa saída de Paris, o Boletim do Exército nos conservava na inocente ilusão da guerra ser um passeio e todos acreditavam na história dos boches se renderem aos magotes. (...) A explosão daquele instante, sacudiu nosso sistema nervoso, que não esperava por isso, e nos fez compreender que a luta que começava seria uma prova terrível. Escute meu tenente, parece que se defendem estes porcos!"
- Diário do ten. Galtier-Boissière, na frente ocidental em 22 de agosto de 1914.
Sobre um ataque sob fogo da metralhadora e da artilharia
"Na pradaria avança uma companhia de atiradores... os homens dobrados em dois com a mochila nas costas e o fuzil nas mãos, correm pesadamente para jogar-se ao chão e seguir ao primeiro sinal. Um deles para próximo a mim, sua cara de camponês repentinamente transforma-se numa careta dolorosa e, continuando a correr, levanta o braço em cujo extremo esta pendente a mão esfacelada com os dedos atorados pela metade, efeito de uma bala... os homens jogam-se ao solo... o soldado continua dando saltos e ainda escuto seus gritos: "Meu tenente, meu tenente, aonde estás?."
- Max Dauville
"Ao atravessarmos o passadiço de Hauont os obuses alemães nos enfilaram e o local encheu-se de cadáveres por todos os lados. Os moribundos, enterrados na lama, nos estertores da agonia, nos pediam água ou suplicam que os matem. A neve segue caindo e a artilharia está causando baixas a casa instante. Quando chegamos ao Marco B não nos sobraram mais do que dezessete homens dos trinta e nove que saíram."
- Daguenet ajudante-chefe, Regimento de Infantaria 321.
"Os efeitos produzidos (do bombardeio) são bastante lamentáveis. O recruta recém-chegado recomeça a inquietar-se, sucedendo o mesmo com os outros dois. Um deles escapa, desaparecendo a correr. Os dois outros nos dão trabalho. Precipito-me atrás do fugitivo sem sabem se lhe devo dar um tiro nas pernas. Ouço neste momento um assobio; deito-me no chão e quando me levanto vejo a parede da trincheira coberta de estilhaços de obus, ensangüentada por pedaços de carne e de restos de uniforme. Volto para o nosso abrigo."
- E. M. Remarque, pág. 116
"Apareceram primeiro uns esqueletos de companhia, conduzidos as vezes por um oficial sobrevivente que se apoiava num bastão; todos andavam, ou melhor avançavam passo a passo, com os joelhos dobrados, inclinados sobre si mesmos e cambalhando como se estivessem bêbados (...) iam com a cabeça baixa, o olhar sombrio, encurvados pelo peso da mochila e do fuzil. A cor de seus rostos não se diferenciava dos capotes, de tal maneira estavam cobertos e recobertos de barro seco; os uniformes com a pele, estavam totalmente incrustados desse barro. Os automóveis precipitavam-se com seus roncos em colunas cerradas esparramando esta lamentável maré de sobreviventes da grande hecatombe, mas eles não diziam nada, nem sequer gemiam porque haviam perdido a força inclusive para queixar-se. Quando esses forçados da guerra levantavam a cabeça para os telhados da aldeia se admirava neles, em seus olhares, um incrível abismo de dor e, neste gesto, suas expressões pareciam fixadas pelo pó e tensos pelo sofrimento, parecia que esses rostos mudos gritavam alguma coisa aterradora: o horror incrível do seu martírio. Alguns soldados da segunda reserva que os estavam olhando ao meu lado, permaneciam pensativos e dois deles choravam em silêncio..."
- Gaudy, subtenente, preparando-se para a substituição na batalha de Verdun em 1916.
Cenas Dantescas
"O odor fétido nos penetra garganta adentro ao chegarmos na nossa nova trincheira, a direita dos Éparges. Chove torrencialmente e nos protegemos com o que tem de lonas e tendas de campanha afiançadas nos muros da trincheira. Ao amanhecer do dia seguinte constatamos estarrecidos que nossas trincheiras estavam feitas sobre um montão de cadáveres e que as lonas que nossos predecessores haviam colocado estavam para ocultar da vista os corpos e restos humanos que ali haviam."
- Raymond Naegelen, na região de Champagne.
"Desenterro um poilu do 270, foi fácil tirá-lo. Há todavia vários soterrados que gritam: os alemães devem ouvi-los porque metralham. Não é possível trabalhar em pé e por um momento tenho vontade de fugir, mas na verdade não posso deixar assim meus camaradas... tento desprender o velho Mazé, que segue gritando: mas quanto mais terra eu tiro, mais afunda: consigo desenterrá-lo por fim até o peito e pode respirar melhor; vou então socorrer um homem do 270 que grita também, mas debilmente, e consigo livrar-lhe a cabaça até o pescoço, enquanto ele chora e suplica que não lhe deixe ali. Estão faltando outros dois, mas não escuto nada e volto a cavar para desenterrar suas cabeças. Então me dou conta que estão mortos. Tonteio um pouco porque estou esgotado; o bombardeio continua."
- Gustavo Hefer, 28º Regimento de Infantaria.
"Pela manhã, quando ainda está escuro, há um momento de emoção: pela entrada do nosso abrigo precipita-se uma turba de ratos fugitivos, que trepam por toda a parte a longo das paredes. As lâmpadas de algibeira alumiam este túmulo. Toda a gente grita, pragueja e bate nos ratos. Descarregam-se, assim, a raiva e o desespero acumulados durante numerosas horas. As caras estão crispadas, os braços ferem, os animais dão gritos penetrantes e temos dificuldades em parar, pois estávamos prestes a assaltar-nos mutuamente."
- E. M. Remarque, pág. 113.
Da Sensação de Desumanização
"Perdemos todo o sentimento de solidariedade. Mal nos reconhecemos quando a nossa imagem de outrora cai debaixo do nosso olhar de fera perseguida. Somos mortos insensíveis que, por um estratagema e um encantamento perigoso, podemos ainda correr e matar."
- E. M. Remarque, pág. 121.
"Durante mais de uma hora, antes que alguém fale, ficamos estendidos, arquejantes, descansando. Estamos de tal forma esgotados que, apesar da acuidade da nossa fome, não pensamos nas conversas. Só a pouco e pouco tornamos a ser, pouco mais ou menos, seres humanos."
- E. M. Remarque, pág. 123.
- E. M. Remarque, pág. 123.
Fonte. Acesso: 09/01/2009 http://www.ailton.pro.br/textos_testemunhos_dados_primeira_guerra.htm
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