Mitos da Criação
Luciane Cristina Miranda de Jesus*Especial para a página 3 Pedagogia & Comunicação
Objetivos
1) Conceituação de mito e história nas sociedades antigas e modernas.
2) Valorização da tradição oral pelas narrativas mitológicas.
3) Conhecimento das variadas concepções de origem do mundo a partir de mitos de diversos povos.
4) Comparação entre mitos produzidos em regiões geograficamente distantes entre si, mas com enredos semelhantes.
5) Reconhecimento da importância das narrativas mitológicas para preservação da história-memória dos povos.
Ponto de Partida
1) Ler o texto "Mitologia - uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo reproduzido abaixo.
Justificativa
Nas sociedades antigas, ditas primitivas, o mito não faz parte da história, mas, sim, é a própria história. Já em nossa sociedade, o mito e a história são concebidos de maneiras distintas e diante do pensamento empírico-científico, mito e história assumem categorias bem definidas e dissociáveis entre si.
Para quem vive em uma cultura mitológica, tudo o que se faz na vida é um ritual, apenas uma repetição de eventos que ocorreram nos mitos; é uma visão cíclica e o tempo cronológico não tem nenhuma importância, uma vez que o "começo" pode ser sempre restabelecido.
Embora a sociedade ocidental moderna, da qual fazemos parte, compreenda a história, de maneira geral, de forma linear, várias de nossas ações podem ser consideradas uma repetição de eventos cíclicos, como os que ocorrem nos mitos. Um exemplo disso é a nossa festa de ano novo, muito significativa para nós, porque nos traz um sentimento de renovação, de esperança, de recomeço.
Estratégias
1) Para saber o que uma classe conhece do conceito de mitologia, o professor poderia iniciar a aula perguntando a alguns alunos: Quando se fala em mitologia, que palavra lhe vem à mente?
2) Organizar a lousa de modo que cada fileira de alunos (por exemplo) seja representada por uma coluna. Dessa forma, registrar na lousa a resposta de cada aluno, com a palavra que lhe veio à mente quando se falou em mitologia. Para que a aula fique mais envolvente e o aluno pense mais sobre a palavra que vai dizer, informe que é proibido repetir palavras que outro aluno já tenha falado. Eles deverão ser criativos e rápidos neste primeiro exercício.
3) Agora, o professor poderá apresentar o texto que será objeto de reflexão e discussão da aula: "Mitologia - uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo". Fica a critério do professor realizar a leitura em voz alta para toda a classe ou deixar que os alunos individualmente a realizem.
4) Solicite que, ao lerem o texto, os alunos grifem com uma caneta marca-texto as palavras que por ventura forem as mesmas registradas na lousa. O professor deverá chamar a atenção sobre essas palavras, pois são reveladoras do quanto os próprios alunos são detentores de um conhecimento prévio.
5) Após este exercício inicial, é interessante que o professor reflita com a classe sobre a diferença entre mito e teoria científica. É importante que os alunos percebam as diferenças, mas não as classifiquem como certas ou erradas. Deve-se ressaltar que os mitos trabalham com uma outra temporalidade, que não é precisa nem linear.
6) O professor também deverá assegurar uma atividade que mostre o paralelismo entre vários mitos, principalmente aqueles que dizem respeito à criação do mundo, contados em regiões geograficamente distantes entre si. Traçar esses paralelismos requer, por parte dos alunos, o envolvimento com pesquisa e com cartografia para localizar os lugares onde as narrativas mitológicas se originaram.
7) Para que todos os grupos tenham acesso aos outros mitos pesquisados, o professor deverá solicitar que cada grupo monte um painel, como uma sucessão de pequenos quadros onde o mito poderá ser compreendido não por meio da escrita, mas por meio dos desenhos elaborados pelo grupo.
8) Essa etapa do trabalho poderá ser compartilhada com a disciplina de Artes, inclusive os desenhos poderão mostrar as técnicas de pintura que os alunos aprenderam nessa disciplina.
Como desafio, cada grupo deverá fazer a leitura das imagens produzidas pelo outro grupo, além de dizer de qual povo pertence a narrativa mitológica.
Após a apresentação de todos os grupos, os alunos deverão indicar quais narrativas mitológicas são semelhantes entre si.
9) Após as apresentações desses painéis, o professor poderá selecioná-los para expô-los no mural interno ou externo, valorizando dessa forma o trabalho de toda a equipe.
Sugestões de leitura para o professor
"Mitos Paralelos", de J. F. Bierlein, tradução de Pedro Ribeiro - uma introdução aos mitos no mundo moderno e as impressionantes semelhanças entre heróis e deuses de diferentes culturas. (Ediouro, 2004)
"Mito e realidade", de Mircea Eliade (Perspectiva, 1972).
"História e Mito", de Eudoro Souza (Ed. Universidade de Brasília, 1981).
Luciane Cristina Miranda de Jesus*Especial para a página 3 Pedagogia & Comunicação
Objetivos
1) Conceituação de mito e história nas sociedades antigas e modernas.
2) Valorização da tradição oral pelas narrativas mitológicas.
3) Conhecimento das variadas concepções de origem do mundo a partir de mitos de diversos povos.
4) Comparação entre mitos produzidos em regiões geograficamente distantes entre si, mas com enredos semelhantes.
5) Reconhecimento da importância das narrativas mitológicas para preservação da história-memória dos povos.
Ponto de Partida
1) Ler o texto "Mitologia - uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo reproduzido abaixo.
Justificativa
Nas sociedades antigas, ditas primitivas, o mito não faz parte da história, mas, sim, é a própria história. Já em nossa sociedade, o mito e a história são concebidos de maneiras distintas e diante do pensamento empírico-científico, mito e história assumem categorias bem definidas e dissociáveis entre si.
Para quem vive em uma cultura mitológica, tudo o que se faz na vida é um ritual, apenas uma repetição de eventos que ocorreram nos mitos; é uma visão cíclica e o tempo cronológico não tem nenhuma importância, uma vez que o "começo" pode ser sempre restabelecido.
Embora a sociedade ocidental moderna, da qual fazemos parte, compreenda a história, de maneira geral, de forma linear, várias de nossas ações podem ser consideradas uma repetição de eventos cíclicos, como os que ocorrem nos mitos. Um exemplo disso é a nossa festa de ano novo, muito significativa para nós, porque nos traz um sentimento de renovação, de esperança, de recomeço.
Estratégias
1) Para saber o que uma classe conhece do conceito de mitologia, o professor poderia iniciar a aula perguntando a alguns alunos: Quando se fala em mitologia, que palavra lhe vem à mente?
2) Organizar a lousa de modo que cada fileira de alunos (por exemplo) seja representada por uma coluna. Dessa forma, registrar na lousa a resposta de cada aluno, com a palavra que lhe veio à mente quando se falou em mitologia. Para que a aula fique mais envolvente e o aluno pense mais sobre a palavra que vai dizer, informe que é proibido repetir palavras que outro aluno já tenha falado. Eles deverão ser criativos e rápidos neste primeiro exercício.
3) Agora, o professor poderá apresentar o texto que será objeto de reflexão e discussão da aula: "Mitologia - uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo". Fica a critério do professor realizar a leitura em voz alta para toda a classe ou deixar que os alunos individualmente a realizem.
4) Solicite que, ao lerem o texto, os alunos grifem com uma caneta marca-texto as palavras que por ventura forem as mesmas registradas na lousa. O professor deverá chamar a atenção sobre essas palavras, pois são reveladoras do quanto os próprios alunos são detentores de um conhecimento prévio.
5) Após este exercício inicial, é interessante que o professor reflita com a classe sobre a diferença entre mito e teoria científica. É importante que os alunos percebam as diferenças, mas não as classifiquem como certas ou erradas. Deve-se ressaltar que os mitos trabalham com uma outra temporalidade, que não é precisa nem linear.
6) O professor também deverá assegurar uma atividade que mostre o paralelismo entre vários mitos, principalmente aqueles que dizem respeito à criação do mundo, contados em regiões geograficamente distantes entre si. Traçar esses paralelismos requer, por parte dos alunos, o envolvimento com pesquisa e com cartografia para localizar os lugares onde as narrativas mitológicas se originaram.
7) Para que todos os grupos tenham acesso aos outros mitos pesquisados, o professor deverá solicitar que cada grupo monte um painel, como uma sucessão de pequenos quadros onde o mito poderá ser compreendido não por meio da escrita, mas por meio dos desenhos elaborados pelo grupo.
8) Essa etapa do trabalho poderá ser compartilhada com a disciplina de Artes, inclusive os desenhos poderão mostrar as técnicas de pintura que os alunos aprenderam nessa disciplina.
Como desafio, cada grupo deverá fazer a leitura das imagens produzidas pelo outro grupo, além de dizer de qual povo pertence a narrativa mitológica.
Após a apresentação de todos os grupos, os alunos deverão indicar quais narrativas mitológicas são semelhantes entre si.
9) Após as apresentações desses painéis, o professor poderá selecioná-los para expô-los no mural interno ou externo, valorizando dessa forma o trabalho de toda a equipe.
Sugestões de leitura para o professor
"Mitos Paralelos", de J. F. Bierlein, tradução de Pedro Ribeiro - uma introdução aos mitos no mundo moderno e as impressionantes semelhanças entre heróis e deuses de diferentes culturas. (Ediouro, 2004)
"Mito e realidade", de Mircea Eliade (Perspectiva, 1972).
"História e Mito", de Eudoro Souza (Ed. Universidade de Brasília, 1981).
*Luciane Cristina Miranda de Jesus é formada em história pela Universidade de São Paulo e professora dessa disciplina na rede particular de ensino do Estado de São Paulo.
Mitologia
Uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo
Antonio Carlos Olivieri*Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Por considerar a raça humana irremediavelmente perdida e cheia de defeitos, Zeus, o soberano dos deuses, resolveu acabar com ela. Para isso, provocou um dilúvio no mundo para afogar a humanidade. Apenas o casal formado por Deucalião e Pirra seria poupado, em virtude de sua bondade. Zeus os aconselhou a construírem uma arca e se abrigarem nela. Depois de flutuar nove dias e nove noites, sobre as águas da tormenta, a arca parou no topo de uma montanha, onde o casal desembarcou.
Uma das formas que o homem encontrou para explicar o mundo
Antonio Carlos Olivieri*Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Por considerar a raça humana irremediavelmente perdida e cheia de defeitos, Zeus, o soberano dos deuses, resolveu acabar com ela. Para isso, provocou um dilúvio no mundo para afogar a humanidade. Apenas o casal formado por Deucalião e Pirra seria poupado, em virtude de sua bondade. Zeus os aconselhou a construírem uma arca e se abrigarem nela. Depois de flutuar nove dias e nove noites, sobre as águas da tormenta, a arca parou no topo de uma montanha, onde o casal desembarcou.
Quando as águas baixaram, apareceu Hermes, o mensageiro de Zeus, e lhes disse que o soberano satisfaria qualquer desejo dos dois. Deucalião lhe disse que queriam ter amigos. Hermes determinou que ambos jogassem por cima dos ombros pedras recolhidas do chão. As pedras jogadas por Deucalião se transformaram em homens ao atingir o solo. As pedras de Pirra tornaram-se mulheres e, assim, o mundo foi repovoado.
Muito semelhante ao episódio do dilúvio bíblico, esse mito grego narra a destruição e o ressurgimento da humanidade na Terra. De fato, a mitologia, entre os povos antigos ou primitivos, era uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza.
Era também um modo de estabelecer algumas verdades que não só explicassem parte dos fenômenos naturais ou culturais, mas que ainda dessem formas para a ação humana. Não sendo, porém, nem racional nem teórico, o mito não obedece a lógica nem da realidade objetiva, nem da verdade científica. Trata-se de uma verdade intuída, que dispensa provas para ser aceita.
À mercê de forças naturais
À mercê de forças naturais
O mito pode ter nascido do desejo e da necessidade de dominar o mundo, para fugir ao medo e à insegurança. À mercê das forças naturais, que são assustadoras, o homem passou a lhes atribuir qualidades emocionais. As coisas não eram consideradas como matéria morta, nem como independentes do sujeito que as percebe: o próprio ser humano.As coisas, ao contrário, eram vistas como plenas de qualidades, podendo tornar-se boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o homem se movia num mundo animado por forças que ele precisava agradar para haver caça abundante, para fertilizar a terra, para que a tribo ou grupo fosse protegido, para que as crianças nascessem e os mortos pudessem ir em paz para o além.
Mito, magia e desejo
Mito, magia e desejo
O pensamento mítico, portanto, está muito ligado à magia e ao desejo de que as coisas aconteçam de um determinado modo. A partir dele desenvolveram-se os rituais, como técnicas de obter os acontecimentos desejados. O ritual é o mito em ação. Já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do Paleolítico (12.000 a 5.000 a.C.) desenhava os animais - com um estilo muito realista, diga-se de passagem - e depois os atacava com flechas, para garantir o êxito da caçada.
O mito tem funções determinadas nas sociedades antigas e primitivas. Inicialmente, ele serve para acomodar e tranqüilizar o homem num mundo perigoso e assustador, dando-lhe segurança. O que acontece no mundo natural passa a depender, através de suas ações mágicas, dos atos humanos. Além disso, o mito também serve para fixar modelos exemplares de todas as atividades humanas.
Atualizando o sagrado
Atualizando o sagrado
O ritual é a repetição dos atos dos deuses, que foram executados no início dos tempos e que devem ser imitados e repetidos para as forças do bem e do mal se manterem sob controle. Desse modo, o ritual é uma atualização dos acontecimentos sagrados que tiveram lugar no passado mítico.
Assim, o mito é uma primeira narrativa sobre o mundo, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, na qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Sua função principal não é propriamente a de explicar a realidade, mas a de adaptar psicologicamente o homem ao mundo.
O mito primitivo é sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência precisa ser assegurada, existe antes do indivíduo. É só através do grupo que os sujeitos individuais se reconhecem enquanto tal. O indivíduo só tem consciência, só se conhece como parte do grupo, da tribo. Através da existência e do reconhecimento dos outros, ele se afirma enquanto ser humano.
A prevalência da fé
A prevalência da fé
Outra característica do mito é a de apresentar-se como uma verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação decorre da fé e da crença. Não é uma aceitação racional, fundamentada em provas e raciocínios.
Sob essa perspectiva coletiva, a transgressão da norma, a não-obediência da regra afeta o transgressor e toda sua família ou comunidade. Desse modo é criado o tabu - a proibição -, cuja desobediência é extremamente grave. Só os ritos de purificação podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar que o castigo dos deuses recaia sobre todos.
A imortalidade do mito
A imortalidade do mito
Mas e quanto aos nossos dias? Por acaso não existem mais mitos? O pensamento filosófico e científico, que tiveram início com os primeiros filósofos, na Grécia do século 6 a.C., teriam ocupado todo o lugar do conhecimento e condenado à morte o modo mítico de nos situarmos no mundo?
Essa é a posição defendida por Augusto Comte, filósofo francês do século 19, fundador de uma corrente filosófica chamada positivismo. As idéias positivistas explicam a evolução da espécie humana em três fases: a mítica (religiosa), a filosófica (metafísica) e a científica. Esta última seria o ápice do desenvolvimento humano e não só é considerada superior às outras, como também seria a única válida para se chegar à verdade.
Além da razão
Além da razão
Porém, ao opor a razão ao mito, o positivismo empobrece a realidade humana. O homem moderno, tanto quanto o antigo, não é constituído só de razão, mas também de afetividade e emoção. Se a ciência é importante e necessária à nossa construção de mundo, por outro lado ela não oferece a única interpretação válida do real.
Negar o mito é negar uma das formas fundamentais da existência humana. O mito é a primeira forma de dar significado ao mundo: fundamentada no anseio de segurança, a imaginação cria histórias que nos tranqüilizam, que são exemplares e nos orientam no dia-a-dia.
Os super-heróis e os salvadores da pátria
Os super-heróis e os salvadores da pátria
Na verdade, independentemente de nosso desenvolvimento intelectual, o mito continua a nos acompanhar. Sua função de criar narrativas mágicas subsiste, por exemplo, na arte e permeia a nossa vida diária.
Atualmente, os meios de comunicação de massa trabalham os desejos e anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. Os super-heróis dos desenhos animados e das histórias em quadrinhos, por exemplo, encarnam o Bem e a Justiça e assumem a nossa proteção imaginária, exatamente por que o mundo moderno, com todos os seus problemas, especialmente nos grandes centros urbanos, revela-se cada vez mais um lugar extremamente inseguro.
Da mesma maneira, no plano político, certas figuras procuram se transformar em heróis populares, dizendo lutar contra as injustiças sociais e os privilégios. Também artistas e esportistas podem ser transformados em modelos de existência: são fortes, saudáveis, bem alimentados, etc. Até as telenovelas, ao trabalhar a luta entre o Bem e o Mal, estão lidando com valores míticos, pré-reflexivos, que se encontram dentro de todos nós.
Além de mitos, o mundo moderno também tem seus rituais. Afinal, as festas de formatura, de Ano Novo, os trotes dos calouros, os bailes de quinze anos, não são em tudo semelhantes aos antigos rituais de passagem das velhas tribos e clãs?
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