Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

PROVA UFRRJ 2000

Concursos de Seleção 2000/I História Comissão Permanente do Concurso de Vestibular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ


HISTÓRIA
QUESTÃO 31

“Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo dagora assim os achávamos como os de lá. (As) águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute (isso) bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!”
Carta de Pero Vaz Caminha ao Rei de Portugal em 1º /5/1500.
Seguindo a evidente preocupação de descrever ao Rei de Portugal tudo o que fora observado durante a curta estadia na terra denominada de Vera Cruz, o escrivão da frota cabralina menciona, na citada carta, possibilidades oferecidas pela terra recém-conhecida aos portugueses.
Dentre essas possibilidades estão
(A) a extração de metais e pedras preciosas no interior do território, área não explorada então pelos portugueses.
(B) a pesca e a caça pela qualidade das águas e terras onde aportaram os navios portugueses.
(C) a extração de pau-brasil e a pecuária, de grande valor econômico naquela virada de século.
(D) a conversão dos indígenas ao catolicismo e a utilização da nova terra como escala nas viagens ao Oriente.
(E ) a conquista de Calicute a partir das terras brasileiras e a cura de doenças pelos bons ares aqui encontrados.

QUESTÃO 32
“1785
Cidade do México
Sobre a Literatura de Ficção na Época Colonial
O vice-rei do México, Matias de Gálvez, assina um novo decreto a favor dos trabalhadores índios.
Receberão os índios salário justo; bons alimentos e assistência médica; e terão duas horas de descanso, ao meio dia, e poderão mudar de patrão quando quiserem.”
GALEANO, Eduardo. As Caras e as máscaras. Rio, Nova Fronteira, 1985. p.107.
O autor procura ironizar com o título dado ao texto as práticas desenvolvidas pelos espanhóis na
América, já que
(A) os indígenas trabalhavam legalmente como escravos dos espanhóis sendo falsa a idéia de “salário justo” e “boas condições de vida e trabalho”.
(B) apesar das várias legislações sobre o assunto, ocorria, na prática, uma superexploração do trabalho indígena sob os regimes da mita ou da encomienda.
(C) a situação dos indígenas americanos era, na época, bem melhor do que propunha o decreto do vice-rei do México pela pressão exercida a favor deles pela Igreja Católica.
(D) os índígenas não podiam nunca mudar de patrão pois este sempre fora o rei da Espanha, que não abria mão dessas prerrogativas.
(E) o decreto não tinha razão de ser, pois os indígenas mexicanos tinham sido completamente dizimados pela conquista e pelo trabalho de exploração mineral no século XVI.

QUESTÃO 33
As ordens de Napoleão: soldados franceses queimando importações britânicas em 1810.
FIGURA 1

HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo, Verbo/ EDUSP, 1979. p. 27.
A explicação para o quadro acima está
(A) na repulsa da população francesa aos produtos ingleses vendidos na Europa Continental, em geral muito caros e de péssima qualidade.
(B) no protesto de operários franceses contra o desemprego causado na Inglaterra pela introdução de máquinas no processo produtivo (início da chamada “Revolução Industrial”).
(C) na disputa, até militar, entre uma Inglaterra já em acelerado estado de industrialização e uma França que busca o mesmo intento, abrindo concorrência ao produto inglês.
(D) na tentativa francesa de evitar que matérias-primas, mais baratas, oriundas da Inglaterra, arruinassem os produtos franceses.
(E) na revolta dos franceses contra o apoio dado pela monarquia inglesa à Família Real portuguesa quando esta decidiu retornar à Europa, após sua estadia no Brasil.

QUESTÃO 34
SONETO
(Feito quando fui solto em 1830)
“Para quando, oh! Brasil, bem reservas
Numa cega apatia alucinado,
Não vês teu solo aurífero ultrajado,
Por dragões infernais fúrias protervas?
Ainda não tens, Tamoio, povo bravo;

Setas ervadas contra o lusitano
Que pretende fazer-te seu escravo?
Eia! Dos lares teus, despe o engano
Quem nasceu no Brasil não sofre agravo,
E quem vê um Imperador, vê um tirano”.
Cipriano Barata
(...)
In: CASCUDO, Luiz da Câmara. Dr. Barata. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1938. p. 49.
Vocabulário: Agravo. Sm. Ofensa, injúria, afronta. Setas ervadas. Setas envenenadas. Protervo [ Adj.]. Impudente, insolente, descarado.
Cipriano Barata teve ativa participação nos movimentos políticos brasileiros da primeira metade do século XIX, com um discurso libertário denunciando os arranjos políticos das elites sempre em prejuízo da população desfavorecida. Os versos deste revolucionário brasileiro identificam um dos momentos de crise política no Brasil Imperial, qual seja
(A) o enfraquecimento político de D. Pedro I, sua aproximação do “partido português” e a repulsa dos brasileiros a este comportamento.
(B) a negativa dos setores conservadores em aceitar a decretação da maioridade de D. Pedro II.
(C) a contestação dos governos regenciais por movimentos armados nas províncias de norte a sul do Brasil.
(D) a expulsão dos Tamoios de suas terras pelos cafeicultores interessados na expansão de sua atividade econômica.
(E) o início do governo de D. Pedro I com a expulsão de contingentes militares portugueses e a afirmação de uma nacionalismo brasileiro.

QUESTÃO 35
“Em todos os sistemas sociais, é preciso haver uma classe para desempenhar as tarefas indignas, para fazer o que é monótono e desagradável ... nós a chamamos escravos. (...) não chamarei a classe existente no norte usando esse termo; mas vocês também os possuem; (...) A diferença entre nós, é que os escravos são contratados pela vida toda, e são bem recompensados; não há fome, nem mendicância, nem desemprego entre nós, e nem excesso de empregos, também. Os de vocês são empregados por diárias, não são bem tratados, e têm escassa recompensa, o que pode ser provado, da maneira mais deplorável, a qualquer hora, em qualquer rua de suas cidades. Ora, pois a gente encontrava mais mendigos em uma dia, em uma só rua de Nova Iorque, do que os que se encontram durante toda uma vida no sul inteiro. Nossos escravos são pretos, de uma raça inferior; ... os de vocês são brancos, de sua própria raça; são irmãos de um só sangue”.
Senador Hammond, Carolina do Sul
In: HUBERMAN, Leo. História da Riqueza dos EUA. São Paulo, Brasiliense, 1978. p. 158.
No período anterior à Guerra de Secessão ( 1861-1865 ), o senador sulista norte-americano buscava mostrar, em defesa da manutenção da escravidão nos estados do Sul dos Estados Unidos da América, que
(A) enquanto os sulistas mantinham escravos negros descendentes de africanos, a nobreza feudal nortista mantinha servos brancos descendentes de europeus.
(B) o estilo de vida sulista tendia a ser muito mais moderno e civilizado que o nortista.
(C) as indústrias do Sul funcionavam de maneira bem mais eficaz que a agricultura nortista.
(D) a miséria decorrente da escravidão poderia ser tão danosa à economia nortista quanto era no sul dos EUA.
(E) os efeitos da implantação do capitalismo industrial no Norte eram piores para os trabalhadores do que a escravidão.

QUESTÃO 36
“DECRETO SOBRE TERRAS DA REUNIÃO DOS SOVIETES DE DEPUTADOS OPERÁRIOS E
SOLDADOS.
26 de outubro (8 de novembro) de 1917
1) Fica abolida, pelo presente decreto, sem nenhuma indenização, a propriedade latifundiária.
2) Todas as propriedades dos latifundiários, bem como as dos conventos e da igreja, acompanhadas de seus inventários, construções e demais acessórios ficarão a disposição dos comitês de terras e dos Sovietes de Deputados Camponeses, até a convocação da Assembléia Constituinte.
3) Quaisquer danos causados aos bens confiscados, que pertencem, daqui por diante, ao povo, é crime punido pelo tribunal revolucionário. Presidente do Soviete de Comissários do Povo – Vladimir Ulianov – Lênin” .
In: NENAROKOV, A.P. 1917 : a Revolução mês a mês. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967. p.169.
A edição deste decreto pelo novo governo revolucionário russo imediatamente após a tomada do poder exprime a necessidade de
(A) explicitar o caráter camponês da Revolução Russa.
(B) dar a burguesia russa uma garantia de que seus bens e propriedades permaneceriam intocados.
(C) enfraquecer o poder dos antigos latifundiários e ganhar a imensa massa camponesa russa para a causa da Revolução, garantindo seu acesso à terra a partir de uma reforma agrária.
(D) permitir aos antigos proprietários das terras, a nobreza expropriada pela Revolução de fevereiro de 1917, a retomada de seus direitos.
(E) garantir a propriedade privada da terra para os novos detentores do poder, os Sovietes de Deputados e Camponeses.

QUESTÃO 37
“Ten. Gwaier – Está direito, V. Excia. submeterá o requerimento à votação, Sr. Presidente. Os jornais noticiam que o Sr. Presidente da República, para enxovalhar o Exército, vai mandar amanhã os seus agentes fecharem o Clube Militar, baseado numa lei que fecha as sociedades de anarquistas, de cáftens e de exploradores do lenocínio. Maior injúria não se pode fazer. Suprema afronta jogada às faces do Exército Nacional!
Maj. E. Figueiredo – O Sr. Presidente da República tem toda a razão.
Ten. Gwaier – V. Excia. Concorda que o Presidente da República feche o Clube Militar baseado naquela lei?
Maj. E. Figueiredo – Concordo.
Ten. Gwaier – Então V. Excia é cáften? É explorador do lenocínio? É anarquista? Queira desculpar porque, francamente, eu não sabia.
Maj. E. Figueiredo – Eu respondo a V. Excia. como homem. Respondo sua audácia. (...)
Sessão do Clube Militar de 24/06/1922, citado por SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968. p. 203.
O texto acima demonstra o clima de radicalização política no meio militar brasileiro na década de 1920.
Tal situação, de grande repercussão na sociedade brasileira de então, gerou um movimento conhecido por
(A) nacionalismo, pelas críticas que o Clube Militar faria aos governos civis pela entrega de serviços públicos e da exploração do subsolo brasileiro a estrangeiros, sob a forma de concessão.
(B) “jovens turcos”, por seus participantes, jovens oficiais do Exército, lutarem pela profissionalização da Arma contra a tradição positivista existente desde o final do Império.
(C) populismo, que buscava contemplar as reivindicações das massas populares urbanas sempre ignoradas pelas elites agrárias detentoras do poder na época.
(D) integralismo, que refletiu o crescimento do questionamento do Estado Liberal após a 1ª Guerra Mundial e a infiltração de idéias de caráter nazi-fascista no meio militar brasileiro.
(E) tenentismo, que procurou questionar os governos daquele período com propostas de caráter anti-oligárquico, por meio de movimentos armados dirigidos, em geral, por oficiais de baixa patente.

QUESTÃO 38
“ (...) Todos ainda se lembram dos discursos megalomaníacos de Carlos Prestes (...) nos quais (...) previa que as hostes da U.D.N. se desagregariam, (...). Quanto ao P.S.D. era uma colcha de retalhos costurados uns aos outros pelo fio precário da ditadura, e se dissolveria a uma simples ordem do “Chefe” nacional. Vê agora, o pobre ex-cavaleiro, (...) que nada saiu como previra, (...)
Em lugar dos grupos burgueses se desintegrarem, foi Prestes quem se isolou, quem ficou sozinho com Getúlio, e agora é obrigado a seguir, direitinho, a reboque, seja de Eduardo Gomes, seja de Dutra; ou levantar um dr. Jacarandá qualquer para “seu” candidato.
A saída forçada de Getúlio obriga os grupos a se consolidarem definindo-se melhor e, finalmente, a disputarem as eleições como adversários. (...) Pode-se dizer que a verdadeira campanha de “sucessão presidencial” só iniciou-se a partir de 30 de outubro.”
Jornal Vanguarda Socialista (16/11/1945) citado de CARONE, Edgard. Movimento Operário no Brasil (1945/1964). São Paulo, Difel, 1998. p. 258-9. v.2.
A conjuntura política brasileira do segundo semestre de 1945 é analisada neste artigo a partir de uma ótica crítica à ação desenvolvida pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) e seu líder Luís Carlos Prestes. Abriam-se, na época, novos horizontes para o país com a derrubada da ditadura getulista e de eleições constituintes e presidenciais. Nestas, saiu vitorioso
(A) o grupo de oposição à ditadura getulista representado pela UDN, que apresentou como candidato o antigo “tenente” Eduardo Gomes, à frente de um projeto liberal-conservador.
(B) o candidato do PCB, Eurico Gaspar Dutra, apoiado por setores do getulismo voltados a levar adiante as conquistas da legislação trabalhista.
(C) o PSD, que acabou por apresentar a candidatura de Getúlio Vargas, seu fundador, o qual, derrubado pouco antes do poder, acabou a ele voltando pelo voto popular.
(D) o ex-ministro da Guerra do governo Vargas, Eurico Dutra, com uma política conservadora que incluiu a perseguição aos comunistas e a movimentos populares.
(E) o projeto, articulado por Vargas, de manter o controle do poder a partir do presidente eleito, Eurico Dutra, apoiado pelos getulistas do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
QUESTÃO 39
O pacto Germano-soviético satirizado pelos traços de Belmonte representou um elemento chave para a eclosão da 2ª Guerra Mundial em 1939. E, apesar do texto da charge, podemos afirmar que uma das intenções do acordo seria de
FIGURA 2
(A) garantir para a União Soviética a posse da Ucrânia e da Bielorússia, perdidas com a saída da Rússia da 1ª Guerra Mundial no início de 1918.
(B) permitir à Alemanha que, no caso de ocorrência de guerra não fosse necessário o combate em duas frentes, evitando o conflito imediato a leste (União Soviética).
(C) estabelecer com a invasão da Polônia, ocorrida logo após a assinatura do Pacto, que esta tivesse seu território dividido por Rússia, Áustria e Alemanha repetindo o ocorrido em 1815, ao final das Guerras Napoleônicas.
(D) evitar que a União Soviética e a Alemanha, as duas superpotências de então, se destruíssem mutuamente, fortalecendo os projetos dos governos democráticos da França e Itália no continente europeu.
(E) desestabilizar a política de alianças na Europa levando os governos francês e inglês a declararem guerra à Alemanha, a qual acabaria reagindo com apoio italiano e soviético (Eixo Berlim/ Roma/ Moscou).
QUESTÃO 40
“O Brasil é hoje uma Nação dividida. Há 14 anos tenta-se silenciar seu povo. O regime, imposto contra os interesses da maioria da população, outorgou-se o direito de legislar sobre tudo e sobre todos. A tudo e a todos, por todos os meios, tentou impor sua vontade.
(...)
Expressando insatisfações nacionais, os participantes do Congresso repudiam a marginalização política, econômica e social do povo brasileiro, condenam a repressão que sobre ele se abate e exigem anistia.
(...)
As entidades presentes no Congresso Nacional pela Anistia assumiram o compromisso da transformação da luta pela anistia num amplo e estruturado movimento popular, entendendo que é da organização e da pressão popular que depende a conquista do fim da legislação repressiva, inclusive a revogação da Lei de Segurança Nacional e da insegurança dos brasileiros; desmantelamento do aparelho de repressão política e fim da tortura; liberdade de organização e manifestação e anistia ampla, geral e irrestrita. (...)”
Manifesto à Nação - do Congresso Brasileiro pela Anistia. Folha de São Paulo: 6/11/1978. A luta pela anistia política no Brasil, segundo o Manifesto à Nação, tinha objetivos
(A) restritos à libertação dos presos políticos, por serem as prisões arbitrárias e ilegais.
(B) os mais amplos, voltados à derrubada do sistema capitalista e à conquista do socialismo no Brasil.
(C) puramente político-partidários, garantindo a eleição do maior número de parlamentares oposicionistas.
(D) amplos, de derrubada dos instrumentos repressivos da ditadura e a conquista de uma sociedade mais livre.
(E) os mais limitados, dada a grande força que ainda tinha na época o governo ditatorial e seu aparato repressivo.

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