Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Em Ouro Preto, Laurentino Gomes diz não escrever para historiadores

Escritor e jornalista participou do Fórum das Letras.
Depois de ‘1808’ e ‘1822’, o autor prepara a obra ‘1889’.
Raquel Gondim Do G1 MG
O escritor e jornalista paranaense Laurentino Gomes, autor dos best-sellers ‘1808’ e ‘1822’, participou do Fórum das Letras, em Ouro Preto (MG). Ele falou sobre o papel do escritor em ampliar o acesso à informação e do modo como ele associa o jornalismo e a História. Para Gomes, o sucesso de ‘1808’ e ‘1822’, que retratam, respectivamente, a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil e o processo de independência brasileiro, se deve ao interesse da sociedade em acompanhar de forma leve e acessível os fatos que marcaram o passado do país. “Uso elementos pitorescos e, às vezes, engraçados para conduzir o leitor a um mergulho mais profundo à sua própria história”, justificou. O autor disse que encara de maneira natural as críticas de alguns historiadores. “Tenho que aprender a conviver com isso. Para algumas pessoas, gera desconforto um jornalista escrever um livro de história que vira best-seller”, comentou. Apesar disso, o escritor disse que, de maneira geral, as obras têm sido bem recebidas entre os historiadores. “Eles estão sendo mais generosos do que eu podia imaginar. Pelo menos em público”, salientou. “Porém, o sucesso no Brasil ainda é muito mal visto”, continuou. Gomes diz que escreve “livros-reportagens de História” e classifica o jornalista como um “historiador do dia a dia”. Para ele, é uma tendência que profissionais de diferentes áreas usem meios acessíveis para transportar suas especialidades ao grande público. “O Drauzio Varella faz isso com a medicina, a Márcia Tiburi com a filosofia e a Ana Beatriz Barbosa Silva fez o mesmo com a psiquiatria ao escrever 'Mentes perigosas'', citou.
Ele destacou o interesse em atingir um público generalizado, a partir de uma linguagem compreensível para todos. “Eu não escrevi os dois títulos para historiadores, mas sim para professores que buscam uma maneira de chamar a atenção dos alunos e para a sociedade em geral”, enfatizou. Conforme ele, este é o mesmo propósito que o impulsionou a começar suas pesquisas para redigir o livro ‘1889’, sobre o Segundo Reinado e a Proclamação da República, seu próximo lançamento. Depois da trilogia, o escritor pretende produzir uma biografia de Dom Pedro I, porém, destacou que há um longo caminho até estar pronto para o gênero. “Teria que mudar a minha forma de trabalho e me dedicar às fontes primárias”, explicou. “Seriam anos de pesquisas no arquivo público”, apontou. O autor comentou sobre como a história e seus personagens se transformam com o passar do tempo, de acordo com o modo que as gerações atuais enxergam as anteriores. “O passado é modificado para atender o presente”, resumiu.

Fonte:http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/11/em-ouro-preto-laurentino-gomes-diz-nao-escrever-para-historiadores.html

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O ENEM e à indústria do vestibular

Nicolelis: Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo
por Conceição Lemes

Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.
Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões submeteram-se às provas. O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas. Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.
No teste do sábado, ocorreram dois erros distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.
O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.
“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”
Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação para bolsa do PRO-UNI.
“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte.
“Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura! Como jornalistas que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!
Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (Standart Admissions Test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.

Entrevista:
Viomundo — De um total de 3,4 milhões de provas aplicadas no sábado, houve problema incontornável em menos de 2 mil. Tem sentido detonar o Enem, como a mídia brasileira tem feito? E dizer que o Enem fracassou, como um ex-ministro da Educação anda alardeando?
Miguel Nicolelis — Sinceramente, de jeito algum — nem um nem outro. O Enem é equivalente ao SAT, dos Estados Unidos. A metodologia usada nas provas é a mesma: a teoria de resposta ao item, ou TRI, que é uma tecnologia de fazer exames. Ela foi criada há 100 anos e está em uso desde a década de 50. Curiosamente, em outubro de 2005, entre as milhões de provas impressas, algumas tinham problema na barra de códigos onde o teste vai ser lido. A entidade que faz o exame não conseguiu controlar, porque esses erros podem acontecer.

Viomundo — A Universidade de Duke utiliza o SAT?
Miguel Nicolelis — Não só a Duke, mas todas as grandes universidades americanas reconhecem o SAT. É quase um consenso nos Estados Unidos. Apenas uma minoria é contra. E o Enem, insisto, é uma adaptação do SAT, que é uma das melhores maneiras de avaliação de conhecimento do mundo. O teste é a melhor forma de avaliar uniformemente alunos submetidos a diferentes metodologias de ensino. É a saída para homogeneizar a avaliação de estudantes provenientes de um sistema federativo de educação, como o americano e o brasileiro, onde os graus de informação, os métodos, as formas como se dão, são diferentes.

Viomundo — Qual a periodicidade do SAT?
Miguel Nicolelis – Aqui, o exame é aplicado sete vezes por ano. O aluno, se quiser, pode fazer três, quatro, cinco, até sete, desde que, claro, pague as provas. No final, apenas a melhor é computada. Vários estudos feitos aqui já demonstraram que o SAT é altamente correlacionado à capacidade mental geral da pessoa.
Todo ano as provas têm uma parte experimental. São questões que não contam nota para a prova. Servem apenas para testar o grau de dificuldade. Outro peculiaridade do sistema americano é a forma de corrigir a prova. É desencorajado o chute.

Viomundo — Explique melhor.
Miguel Nicolelis — Resposta errada perde ponto, resposta em branco, não. Por isso, o aluno pensa muito antes de chutar, pois a probabilidade de ele errar é grande. Então se ele não sabe é preferível não responder do que correr o risco de responder errado.

Viomundo – Interessante …
Miguel Nicolelis – Na verdade, o SAT é a maneira mais honesta, mais democrática de avaliar pessoas de lugares diferentes, com sistemas educacionais diferentes, para tentar padronizar a forma de ingressar na universidade. Aqui, nos EUA, a molecada faz o exame e manda para as faculdades que quer frequentar. E as escolas decidem quem entra, quem não entra. O SAT é um dos componentes para essa avaliação. Dela fazem parte, notas ao longo da vida acadêmica, redação, entrevista…

Viomundo — Nos EUA, tem cursinho para entrar na faculdade?
Miguel Nicolelis — Tem para as pessoas aprenderem a fazer o exame, mas não é aquela loucura da minha época. Era cheio de cursinho para todo lugar no Brasil. Cursinho é uma máquina de fazer dinheiro. Não serve para nada a não ser para fazer o exame. Por isso ouso dizer: só os donos de cursinho e aqueles que não querem democratizar o acesso à universidade podem ter algo contra o Enem.

Viomundo –Mas o fato de a prova ter erros é ruim.
Miguel Nicolelis — Concordo. Mas os erros vão acontecer. Em 1978, quando fiz a Fuvest (vestibular unificado no Estado de São Paulo), teve pergunta eliminada, pois não tinha resposta. Isso acontece desde o tempo em que havia exame para admissão [ao primeiro ginasial, atualmente 5ª série do ensino fundamental) na época das cavernas (risos). Você não tem exame 100% correto o tempo inteiro.
Então, algumas pessoas estão confundindo uma metodologia bem estudada, bastante conhecida e aceita há décadas, com problemas operacionais que acontecem em qualquer processo de impressão de milhões de documentos. Na dimensão que aconteceu no Brasil está dentro das probabilidade de fatalidades.

Viomundo -- Em 2009, também houve problema, lembra-se?
Miguel Nicolelis -- No ano passado foi um furto, foi um crime. O MEC não pode ser condenado por causa de um assalto, que é uma contingência e nada tem a ver com a metodologia do teste.
Só que, infelizmente, gerou problemas operacionais para algumas universidades, que não consideraram a nota do Enem nos seus vestibulares. Isso não quer dizer que elas não entendam ou não aceitam o teste. As provas do Enem são muito mais democráticas, mais racionais e mais bem-feitas do que os vestibulares de qualquer universidade brasileira.
Eu fiz a Fuvest. Naquela época, era um lixo na época em que eu fiz. Não media nada. E, ainda assim, a gente teve de se sujeitar àquilo, para entrar na faculdade a qualquer custo.

Viomundo -- Fez cursinho?
Miguel Nicolelis -- Não. Eu tive o privilégio de estudar numa escola privada boa. Mas muitas pessoas que não tinham educação de alto nível eram obrigadas a recorrer ao cursinho para competir em condições de igualdade.
Mas o cursinho não melhora o aprendizado de ninguém. Cursinho é uma técnica de aprender a maximizar a feitura do exame. É quase um efeito colateral do sistema educacional absurdo que até recentemente tínhamos no Brasil. É um arremedo. É um aborto do sistema educacional que não funciona.

Viomundo -- Qual a sua avaliação do Enem?
Miguel Nicolelis -- É um avanço tremendo. Você retira o estresse do vestibular. Na minha época, e isso acontece muito ainda hoje, o jovem passava os três anos esperando aquele "monstro". De tal sorte, o vestibular transformava o colegial numa câmara de tortura. Uma pressão insuportável. Um inferno tanto para os meninos e meninas quanto para as famílias. Além disso, um sistema humilhante, porque as pessoas que podiam frequentar um colégio privado de alto nível sofriam com o complexo de não poder competir em pé de igualdade. Por isso os cursinhos floresceram e fizeram a riqueza de tanta gente, que agora está metendo o pau no Enem. Evidentemente vários interesses estão sendo contrariados devido ao êxito do Enem.

Viomundo -- Tem muita gente pixando, mesmo.
Miguel Nicolelis -- Todo esse pessoal que pixa acha que sabe do que está falando. Só que não sabe de nada. Exame educacional não é jogo de futebol. Tem metodologia, dados, história. E olha que eu adoro futebol. Sempre que estou no Brasil, vou ao estádio para assistir aos jogos do Palmeiras [Ninguém é perfeito (rs)!] O Brasil fez muito bem em entrar no Enem. É o único jeito de acabar com esse escárnio, com essa ferida que é o vestibular.

Viomundo — Nos EUA, não há vestibular para a universidade. O senhor acha que o Brasil seguirá essa tendência?
Miguel Nicolelis -- Acho que sim. O importante é o seguinte. O Brasil está tentando iniciar esse processo. Quando você inicia um processo dessa magnitude, com milhões fazendo exame, é normal ter problemas operacionais de percurso, problemas operacionais. Isso faz parte do processo.
Nós estamos caminhando para o Enem ser a moeda de troca da inclusão educacional. As crianças vão aprender que não é porque elas fazem cursinho famoso da Avenida Paulista que elas vão ter mais chance de entrar na universidade. Elas vão entrar na universidade pelo que elas acumularam de conhecimento ao longo da vida acadêmica delas. Elas vão poder demonstrar esse conhecimento sem estresse, sem medo, sem complexo de inferioridade. De uma maneira democrática.E, num futuro próximo, tanto as crianças de escolas privadas quanto as de escolas públicas vão começar a entrar nesse jogo em pé de igualdade. Aí, sim vai virar jogo de futebol.
Futebol é uma das poucas coisas no Brasil em que o mérito é implacável. Joga quem sabe jogar. Perna de pau não joga. Não tem espaço. O talento se impõe instantaneamente.
Educação tem de ser a mesma coisa. O talento e a capacidade têm de aflorar naturalmente e todas as pessoas têm de ter a chance de sentar na prova com as mesmas possibilidades.

http://www.viomundo.com.br/entrevistas/nicolelis-so-no-brasil-educacao-e-discutida-por-comentarista-esportivo.html

Rudá Ricci: Enem sofre ofensiva de interesses ligados à indústria do vestibular

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de “indústria do vestibular”, de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.

“Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, esclarece. Um vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.
Para ele, os vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas, e não à formação em sentido mais amplo. “O ensino médio é o maior problema da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda falência”, sustenta.
“O Enem faz questões interdisciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado”, elogia. Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos. Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para enfrentar provas de uma ou outra universidade.
O Enem traz uma “profunda revolução”, na visão de Rudá, “ao combater profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por universidade”. Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.
Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.
Controle social
Ricci critica a postura do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos pelos especialistas ligados ao PSDB como “oportunismo”. Isso porque, segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de Renato na pasta, de 1995 a 2002.
O que ele considera como mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os estudantes passem a rejeitar o exame. “Os jovens não querem mais essa bagunça. E têm razão”, pontua.
“Existe uma movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do sistema de vestibular”, avalia.
O sociólogo defende o modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio. Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.
Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. “Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova”, lamenta. “Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas”, sugere.
“A solução é nós discutirmos nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o vestibular nacional”, defende. O SAT, usado como método de seleção nos Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também são considerados na seleção por parte de universidades.

De: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ruda-ricci-enem-sofre-ofensiva-de-interesses-ligados-a-industria-do-vestibular.html

Fonte: http://boletimdehistoria-ricardo.blogspot.com/ Número 253


domingo, 14 de novembro de 2010

Resenha, 1822

1822, Laurentino Gomes. Ed. Nova Fronteira.
O livro 1822 desconsidera investigações e questionamentos que há mais de 30 anos vêm sendo desenvolvidos e divulgados por centenas de pesquisadores brasileiros e portugueses sobre o tema da Independência, dos quais resultaram não só profunda ampliação dos conhecimentos sobre a época como a superação de interpretações correntes.
Dedicado a "professores de História no seu trabalho anônimo de explicar as raízes de um país sem memória", o livro banaliza Saiba a versão mais conservadora e simplificada das complexas circunstâncias nas quais foram delineadas a separação de Portugal e a fundação do Império do Brasil. O fio condutor da narrativa é, aparentemente, a vida de D. Pedro. Entretanto, para fazer uma "reportagem" e contar como o Brasil conseguiu "manter a integridade de seu território e se firmar como nação independente", o autor se fundamentou em duas premissas: para ele, a
Independência foi produto de "sorte, acaso, improvisação", pois a desorganização interna era tamanha que só um "milagre" faria "dar certo" um país "que tinha tudo para dar errado"; desta forma, as decisões cruciais só poderiam ser tomadas por estrangeiros e portugueses -uma princesa austríaca, um militar mercenário inglês, D. Pedro, os deputados das Cortes em Lisboa e um "homem sábio", José Bonifácio, inspirado pelos padrões europeus. Como o próprio autor afirma, o livro é um "mosaico" de personagens e episódios, mas não está livre de equívocos: na cronologia, por exemplo, 12 de outubro de 1823 aparece como data do fechamento da Assembleia Constituinte pelo imperador, quando o correto é I2 de novembro.
Os capítulos não formam propositadamente uma sequência, havendo idas e vindas no tempo e no espaço, e, além disso, a composição do texto pressupõe que a História seja um grande depósito de dados, que o observador arrebanha como quer, e com eles monta um tabuleiro manipulando fragmentos e dando-Ihes a fisionomia que considerar mais adequada ou palatável. A "técnica jornalística" que o autor diz adotar, contudo, não o inocenta do partido que tomou. O enredo apresentado - desmentido por obras que ele mesmo cita e pela literatura atualmente disponível -sugere que o voluntarismo de indivíduos comanda a História, que a sociedade brasileira, tanto no passado quanto no presente, é incapaz de se autogovernar, e que ainda estão por nascer o povo e a nação brasileiros. Edições como esta disparam, sobretudo, um alerta: não educam, desinformam, são conformistas e encontram espaço nos
meios de comunicação.
CECÍLIA HELENA DE SALLES OLIVEIRA É DIRETORA DO MUSEU PAULISTA EPROFESSORA DA USP.
Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 6, n° 62, novembro de 2010. p. 92.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UMA PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A SALA DE AULA

“Toda vez que um segredo é descoberto, refere-se a um outro segredo num movimento progressivo rumo a um segredo final. Entretanto, não pode haver um segredo final.”
(Umberto Eco)

A sala de aula, espaço por todos chamado de minha, é onde nós nos realizamos.
Em um belo dia nela pela primeira vez entramos. Deslumbrados ficamos. O espaço tão sonhado que nos apontava a um mundo novo, a ser conquistado, a ser desnudado.
Avançamos por esse espaço com as lições que ali nos foram ensinadas. As pedras postas no caminho da vida foram, aos poucos, sendo retiradas com as ferramentas que nos deram dentro da sala de aula.
Outras ferramentas buscamos fora da sala de aula.
Admirávamos aquela pessoa meiga que de tudo sabia, a qual aprendemos a chamar de Tia mesmo sem sermos parentes. Depois de Professora pelas lições passadas. Olhávamos a pessoa meiga com o temor de ser castigado, ou de levarmos alguma “encomenda” direcionada a nossa mãe. Geralmente um pequeno pedaço de papel contendo o que havíamos feito naquela manhã ou tarde. Não sabíamos se era pior carregar o bilhete, escondê-lo, ou cumprir com a obrigação de entregá-lo a Mamãe arcando com as conseqüências do escrito.
Passavam os anos e nós passávamos de ano. Que felicidade. Estávamos na série seguinte. Sentíamos-nos adultos. Homens feitos.
Passavam as férias, viam as aulas.
Lá estávamos nós de volta ao nosso espaço: a sala de aula. Diferente este ano! Não havia em sua parede aqueles cartazes feitos por nós no ano que havia findo. Pelo contrário, eram paredes secas. Não tínhamos mais a professora meiga e o medo do castigo, ou do bilhete. Havia um monte de medos sem bilhetes: eram vários professores e professoras. O medo se multiplicava na proporção do aumento da responsabilidade. A cobrança em casa crescia.
Os grupos de amigos continuavam os mesmos, uma perda aqui ou ali sempre recuperada com uma nova contratação para recompor o elenco das brincadeiras. Havia aumentado o número de aulas junto com a quantidade de disciplinas. Haja tempo para estudar e estudar.
Surgiam os primeiros suspiros. Estes vinham acompanhados de grandes sonhos. Eram as fantasias do namoro nascendo em cada um. Logo se suspirava por uma, no ano seguinte por outra, porque a do ano anterior não tinha visto o suspiro, ou o tinha, simplesmente, ignorado.
Ano após ano aquele espaço chamado de sala de aula, agora minha classe, ia se tornando mais sério. Aumentava a idade, junto aumentava a cobrança paterna. Não mais existiam bilhetes para casa, íamos para casa com uma carta......de suspensão. Era na nossa mente a evolução: tínhamos saído do bilhete reclamatório à carta de suspensão. Alguns “evoluíram” demais: haviam recebido a Carta de Expulsão. Por um tempo cessávamos com as brincadeiras. Era o medo de evoluir mais um pouco.
Anos depois, sem que ninguém notasse, havíamos chegado ao 3º ano, do antigo científico, depois 3º ano do Ensino Médio. Deixemos as nomenclaturas de lado. Era a euforia de fazer o vestibular misturado a euforia de ter conquistado aquele suspiro de anos anteriores. O suspiro tinha virado namoro. Mas tínhamos de estudar para por à prova que a Tia, a Professora, os Professores e Professoras haviam feito o dever de classe, nos faltava fazer o de casa. Ou seja, eles e elas tinham nos ensinado. Passar no vestibular era dever nosso. Quem não passou por isso?
Minutos preciosos de televisão, de jogar bola, de namoro, foram trocados por horas a mais a frente dos livros, das apostilas e, agora com supervisão paternal.
Chegara o dia do exame vestibular. Antecedido que foi por um de angústia e uma noite de insônia. Saímos de casa para tentar um novo sonho: entrar em outra sala de aula. A sala de aula da Universidade. Cedo fomos acordados por uma mãe tensa, que na sua meiguice havia preparado algo leve para comermos antes de sair. A roupa passada nos esperava. Não podíamos sair tarde visto não poder chegar atrasado como nos dias de aula. Deixávamos uma família rezando e nos fazendo ter uma responsabilidade ainda maior. A única possível. Passar no vestibular. Claro que seria uma conquista nossa, mas faria todos da casa mais felizes.
Tensos escutamos pelo já antigo rádio, os nomes sendo lidos um a um, em ordem alfabética e por curso, por uma voz que não sabíamos de quem era. Nem chegava o curso para o qual tínhamos feito, nem chegava o nosso nome. Finalmente o locutor (palavra em desuso) falava em nosso curso. Os primeiros nomes aprovados, felicidades para muitos, tristeza para milhares. Festa em nossa casa. Festa na casa dos amigos. Mas havia alguém do grupo a não passar. Era um elo da corrente que ficava na estrada do tempo, que é a estrada da vida.
Choramos junto o ingresso na Universidade. Somente depois percebemos que todo aquele choro de felicidade, aquelas lágrimas de alegria, era a forma que a sala de aula a nos unir durante tanto tempo seria a mesma a nos separar. Havíamos ingressado na Universidade em cursos diferentes. Salas de aula diferentes. Olhamos-nos de repente: estávamos sós no meio de tanta gente. Esse era o sentimento compartilhado pelos velhos amigos de tantas salas de aula. No início do curso ainda conversávamos bastante. Com o tempo a nova sala de aula foi criando novos amigos, enquanto os velhos amigos tinham cada vez menos tempo para conversar. Eram trabalhos, provas, seminários. Eram novos grupos de amigos. A sala de aula do nosso futuro nos obrigava a conversar menos com nossos amigos de sempre.
Como é paradoxal essa sala de aula.
Era chegado o momento de glória da família. Havíamos terminado o curso universitário. Chegara o dia da aula da saudade, da colação de grau, do baile de formatura. Interessante, durante a aula da saudade se falou em saudade dos amigos feitos na Universidade. Não ouvimos falar dos outros amigos feitos na alfabetização.
Havíamos feito cursos na área de educação, mas basicamente licenciaturas.
Agora era chegada a hora de trabalhar. Trabalhar onde mesmo? Numa sala de aula.
Entrávamos em nossa primeira sala de aula como professores. Difícil dizer qual medo foi maior: o frio na barriga do profissional formado ou do menino que chorou para não ficar na sala de aula quando levado pela mãe.
Dilema nunca resolvido.
Mas estávamos realizados. Éramos profissionais. Éramos professores e agora tínhamos a nossa própria sala de aula.
Havíamos evoluído. De ocupantes de uma sala a proprietários de uma só para minha pessoa (e haja redundância para dizer que temos uma sala de aula).
A sala de aula é o espaço do homem. Do homem que se realizou. Pois todos os profissionais percorreram este caminho nestas linhas ditas. E mesmo aqueles que dizem não trabalhar em uma sala de aula – agradecendo a Deus, ainda por cima -, não sabem que vivem o tempo todo na maior sala de aula da alma humana: a vida.
Parabéns por sua existência sala de aula, obrigado por nos ensinar a viver.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SEM CONCURSO FICA DIFÍCIL!!

SEM CONCURSO FICA DIFÍCIL!!
O cara termina o segundo grau e não tem vontade de fazer uma faculdade.
O pai, meio mão de ferro, dá um apertão:
- Ahh, não quer estudar? Bem, perfeito!
Vadio dentro de casa eu não mantenho. Então vai trabalhar!...
O velho, que tem muitos amigos, fala com um deles, que fala com outro, até que ele consegue uma audiência com um político que foi seu colega lá na época de muito tempo atrás:
- Rodriguez, meu velho amigo!...
Tu te lembra do meu filho? Pois é! Terminou o segundo grau e anda meio à toa, não quer estudar...
Será que tu não consegue nada pro rapaz não ficar em casa vagabundeando?
Aos 3 dias, Rodriguez liga:
- Zé, já tenho! Assessor na Comissão de Saúde no Congresso, R$ 9.000,00 por mês, prá começar.
- Tu tá louco!!!!! O guri recém terminou o colégio, não vai querer estudar mais, consegue algo mais abaixo...
Dois dias depois:
- Zé! Secretário de um deputado, salário modesto, R$ 5.000,00, tá bom assim?
- Nãooooo, Rodriguez! Algo com um salário menor, eu quero que o guri tenha vontade de estudar depois....
Consegue outra coisa.
- Olha Zé, a única coisa que eu posso conseguir é um carguinho de ajudante de arquivo, alguma coisa de informática, mas aí o salário é uma merreca, R$ 2.800,00 por mês e nada mais....
- Rodriguez, isso não, por favor, alguma coisa de 500, 600, prá começar.
- Isso é impossível, Zé!!!
- Mas, por que???
- PORQUE ESSES SÃO POR CONCURSO, PARA PROFESSOR, PRECISA TÍTULO SUPERIOR, MESTRADO ETC.... É DIFÍCIL...

Fonte: http://www.raquelrfc.com/2010/11/sem-concurso-fica-dificil.html

domingo, 24 de outubro de 2010

Você é reacionário?

Você é reacionário?
“Pobre é assim porque merece?
Não existe racismo no Brasil?
Índio é preguiçoso?
Cotas é racismo contra branco?
Trabalhador grevista é baderneiro?
Programas sociais é “populismo”?
Todo camponês sem-terra é vagabundo?
Acha que a corrupção no Brasil começou em 2003?
Tem alguns amigos negros, mas não quer sua irmã, ou filha, namorando nenhum deles?
Acha que nordestino afunda o Brasil?
Os direitos humanos existem pra defender bandido?
Bandido bom é bandido morto?
Gosta de humilhar pessoas humildes?
Baseia seus chutes dizendo: “li na Veja”?
Já foi ou sonha ir pra Disneylândia?
Não dá a mínima para a pobreza no Brasil?
Você se acha mais inteligente que o “povão”?
O Brasil não te merece?
Se você disse “SIM” “para alguma das perguntas”, saiba que é um reacionário-conservador. E assim como todos da sua laia, saiba que você também é racista (mesmo que cordial), arrogante, pedante, elitista... (cortei ofensas) Parabéns (cortei ofensas)! O Brasil sempre foi feito pra você. Divirta-se!”
Postado por Gilvan In: Comunidade dos professores do estado do Rio de Janeiro no Orkut (com modificações)

sábado, 23 de outubro de 2010

OS DEZ MANDAMENTOS DO PROFESSOR

"DEZ MANDAMENTOS DO PROFESSOR"
Leandro Karnal
Primeiro
CORTAR O PROGRAMA!
Quase todas as disciplinas foram perdendo aulas ao longo das décadas anteriores. Não obstante, os programas nem sempre acompanharam estes cortes. Pergunte-se: isto é realmente importante? Este conteúdo é essencial? Não seria melhor aprofundar mais tais tópicos e menos outros? Se a justificativa é a pressão do vestibular, ela não pode ocupar 11 anos de Ensino Médio e Fundamental. Se a justificativa é uma regra da escola ou um coordenador obsessivo, lembre-se: o Diário de Classe sempre foi o documento por excelência do estelionato. A coragem da grande tesoura é essencial. Dar tudo equivale a dar nada. Ensinar a pensar não implica esgotar o conhecimento humano.
Segundo
SEMPRE PARTIR DO ALUNO!
Chega de lamentar o aluno que não temos! Chega de lamentar que eles não lêem, a partir de uma nebulosa memória do aluno perfeito que teríamos sido (nebulosa e duvidosa). Este é o meu aluno real. Se, para ele, Paulo Coelho é superior a Machado de Assis e baile Funk é superior a Mozart, eu preciso saber desta realidade para transformá-la. Se ele é analfabeto devo começar a alfabetizá-lo. Se ele está no Ensino Médio e ainda não domina soma de frações de denominadores diferentes devo estar atento: esta é minha realidade. A partir do zero eu posso sonhar com o cinco ou seis. A partir do imaginário da perfeição é difícil produzir algo. A Utopia, desde Platão e Thomas Morus, tem a finalidade de transformar o real, nunca de impossibilitá-lo.
Terceiro
PERDER O FETICHE DO TEXTO!
Em todas as áreas, em especial nas humanas, os alunos são instigados quase que exclusivamente ao texto. Num mundo imerso na imagem e dominado por sons e cores, tornamos o texto central na sala de aula. Devemos estar atentos ao uso de imagens, música, sensorialidades variadas. O texto é muito importante, nunca deve ser abandonado. Porém, se o objetivo é fazer pensar, o texto é apenas um instrumento deste objetivo maior. Há pessoas que pensam e nunca leram Camões e há quem saiba Os Lusíadas de cor e não pense... Lembre-se de que há outros instrumentos. A sedução das imagens deve ser uma alavanca a nosso favor, nunca contra. Usar filmes, propagandas, caricaturas, desenhos, mapas: tudo pode servir ao único grande objetivo da escola: ajudar a ler o mundo, não apenas a ler letras.
Quarto
POSSIBILTAR O CAOS CRIATIVO!
Fomos educados a um ideal de ordem com carteiras emparelhadas e, mesmo no fundo do nosso inconsciente, este ideal persiste. Qual professor já não teve o pesadelo de perder o controle total de uma sala, especialmente na noite mal dormida que antecede o primeiro dia de aula? Devemos estar preparados para o caos criador e para o lúdico. Alunos andando pela sala, trocando fragmentos de textos ou imagens dados pelo professor, discussões, encenações, o professor recitando uma poesia ou mandando realizar um desenho: tudo pode ser canal deste lúdico que detona o caos criativo. Surpreenda seus alunos com uma encenação, com um silêncio, com um grito, com uma máscara. Uma sala pode estar em ordem e ninguém aprendendo e pode estar com muitas vozes e criando ambiente de aprendizado. Lembre-se o silêncio absoluto é mais importante para nós do que para os alunos. É difícil vencer a resistência dos colegas e da própria escola a isto. Lógico que o silêncio também deve ser um espaço de reflexão, mas é possível pensar que há valor num solo gentil de flauta, numa pausa ou num toque retumbante de 200 instrumentos.
Quinto
INTERDISCIPLINAR!
Assim mesmo, entendido o princípio como um verbo, como uma ação deliberada. É fundamental fazer trabalhos com todas as áreas. Elaborar temas transversais como o MEC pede e, ao mesmo tempo, libertar o aluno da idéia didática das gavetas de conhecimento. Não apenas áreas afins (como História e Geografia) mas também Literatura e Educação Física, Matemática e Artes, Química e Filosofia. É preciso restaurar o sentido original de conhecimento, que nasceu único e foi sendo fragmentado até perder a noção de todo. O profissional do futuro é muito mais holístico do que nós temos sido até hoje.
Sexto
PROBLEMATIZAR O CONHECIMENTO!
Oferecer ao aluno o cerne da ciência e da arte: o problema. Não o problema artificial clássico na área de exatas, mas os problemas que geraram a inquietude que produziu este mesmo conhecimento A chama que vivou os cientistas e artistas é transmitida como um monumento inerte e petrificado. Mostrem as incoerências, as dúvidas, as questões estruturais de cada matéria. Mostrem textos opostos, visões distintas, críticas de um autor ao outro. Nunca fazer um trabalho como: "O Feudalismo" ou "O Relevo do Amapá"; mas problemas para serem resolvidos. Todo animal (e, por extensão, o aluno) é curioso. Porém, é difícil ser curioso com o que está pronto. Sejamos francos: se é tedioso ler um trabalho destes, qual terá sido o tédio em fazê-lo?Sétimo
VARIAR AVALIAÇÕES!
Provas escritas são válidas, como a vitamina A é válida para o corpo humano. Porém, avaliações variadas ampliam a chance de explorar outros tipos de inteligência na sala. As outras avaliações não devem ser vistas como um trabalhinho para dar nota e ajudar na prova, mas como um processo orgânico de diminuir um pouco a eterna subjetividade da avaliação.
Oitavo
USAR O MUNDO NA SALA DE AULA!
O mundo está permeado pela televisão, pela Internet, pelos jornais, pelas revistas, pelas músicas de sucesso. A escola e a sala de aula precisam dialogar com este mundo. Os alunos em geral não gostam do espaço da sala porque ele tem muito de artificial, de deslocado, de fora do seu interesse. Usar o mundo da comunicação contemporânea não significa repetir o mundo da comunicação contemporânea; mas estabelecer um gancho com a percepção do meu aluno.
Nono
ANALISAR-SE PESSOALMENTE!
A primeira pessoa que deve responder aos questionamentos da educação é o professor. Somos nós que devemos saber qual o motivo de dar tal coisa, qual a relevância, qual a utilidade de tal leitura. O professor é o primeiro que deve saber como tal ciência transformou a sua vida. Isto implica fazer toda espécie de questão, mesmo as incômodas. Se eu não fico lendo tal autor por prazer e nem o levo aos meus passeios como posso exigir que um jovem ou uma criança o façam? Qual a coerência do meu trabalho? Minha irritação com a turma indisciplinada é uma espécie de raiva por saber que eles estão certos? Minha formação permanente me indica novos caminhos? Estou repetindo fórmulas que deram certo quando eu era aluno há 20 ou mais anos? É necessário um exercício analítico-crítico muito denso para que eu enfrente o mais duro olhar do planeta: o do meu aluno.
Décimo
SER PACIENTE!
Hoje eu acho que ser paciente é a maior virtude do professor. Não a clássica paciência de não esganar um adolescente numa última aula de sexta-feira, mas a paciência de saber que, como dizia Rubem Alves, plantamos carvalhos e não eucaliptos. Nossa tarefa é constante, difícil, com resultados pouco visíveis a médio prazo. Porém, se você está lendo este texto, lembre-se: houve uma professora ou um professor que o alfabetizou, que pegou na sua mão e ensinou, dezenas de vezes, a fazer a simples curva da letra O. Graças a estas paciências, somos o que somos. O modelo da paciência pedagógica é a recomendação materna para escovar os dentes: foi repetida quatro vezes ao dia, durante mais de uma década, com erros diários e recaídas diárias. As mães poderiam dizer: já que vocês não querem nada com o que é melhor para vocês, permaneçam do jeito que estão que eu não vou mais gritar sobre isto (típica frase de sala de aula...). Sem estas paciências, seríamos analfabetos e banguelas. Não devamos oferecer menos ao nosso aluno, especialmente ao aluno que não merece nem quer esta paciência - este é o que necessita urgentemente dela. O doente precisa do médico, não o sadio. O aluno-problema precisa de nós, não o brilhante e limpo discípulo da primeira carteira.
Fonte: www.ime.unicamp.br In. FARIA, Ricardo de Moura. Estudos de História, vol 1.

Matéria para o teste 4° Bimestre.


Conteúdos para o teste (4° Bimestre)
2° Ano
Abolição da Escravidão;
Crise da Monarquia;
O Positivismo e suas influências no Brasil;
Proclamação da República;
República da Espada;
Coronelismo;
A política dos Governadores.

3° Ano
Governos Juscelino Kubitscheck;
Governo Jânio Quadros;
Governo João Goulart.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Formação continuada

Beatriz Aisenberg fala sobre leitura em História e Geografia
A pesquisadora argentina afirma que, para formar leitores autônomos, cabe aos professores ouvir o que os alunos entenderam sobre os textos


De um lado, estudantes com dificuldade de interpretação de textos sobre História e Geografia. De outro, mestres que julgam ser a leitura conteúdo das aulas de Língua. Para a pesquisadora argentina Beatriz Aisenberg, docente da Universidade de Buenos Aires e especialista em Didática das Ciências Sociais, esse é um dos grandes problemas a serem enfrentados pela escola. "Ensinar a interpretar é, sim, trabalho dos professores das diferentes disciplinas." Licenciada em Ciências da Educação, Beatriz investiga a relação da leitura no ensino e na aprendizagem de História há mais de dez anos. Considerada uma das precursoras das investigações em Didática das Ciências Sociais (disciplina que na Argentina inclui conteúdos de História, Geografia e de temas relacionados à política e à economia), ela faz parte de um grupo de pesquisa que procura descobrir quais as condições de trabalho que promovem a aprendizagem de Ciências Sociais. As aulas de educadores voluntários da capital argentina são gravadas e analisadas por especialistas liderados por Beatriz. O foco do trabalho são os polivalentes do nível primário (que lá vai até o 7º ano). Mas ela garante: "Os especialistas podem ajudar ainda mais a garotada a entender os textos de cada área". Nesta entrevista, concedida em seu apartamento, Beatriz explica como fazer isso.Qual a principal queixa dos professores em relação às atividades de leitura em Geografia e História?BEATRIZ AISENBERG A de que as crianças não sabem ler e interpretar bem. Porém boa parte dos problemas não tem a ver com a habilidade geral de leitura. As pesquisas psicolinguísticas mostram que essa não é uma competência geral que se aplica a tudo - sei ler uma carta, sei ler qualquer coisa. É um processo complexo entre o leitor e o que ele lê. Isso se acentua ainda mais quando falamos de História, por exemplo. O entendimento de um texto dessa área tem muito a ver com o que o leitor já sabe sobre ela. Se ele não possui um marco de conhecimento, a compreensão se torna muito difícil. De onde vem a dificuldade dos alunos nas atividades de leitura?BEATRIZ Por acreditarem na ideia de que ler é uma tarefa fácil, muitos educadores deixam os estudantes sem ajuda nesse momento. Meu grupo de pesquisa busca caracterizar as condições didáticas que permitem oferecer a eles o apoio necessário para que comprendam os textos e aprendam história por meio da leitura. Sem ajuda, é claro que eles têm dificuldade - ora, se soubessem ler, não precisariam ir à aula. Por isso, a escola deve ir progressivamente formando leitores. A autonomia não é algo que se constrói em uma semana. Há muitas intervenções a serem feitas pelo docente para que todos consigam ir compreendendo os textos das diferentes áreas e, com isso, adquirindo mais fluidez e independência nas práticas de leitura.

Quais são as intervenções que o professor de Ciências Sociais, especificamente, deve fazer?

BEATRIZ O grupo de pesquisa de que faço parte trabalha com distintos tipos de situação de leitura. Os alunos leem sozinhos, mas também há muitas atividades coletivas em que a turma é ajudada a reconstruir o mundo histórico apresentado no texto. Primeiro, há um trabalho forte do docente de rechear o texto com outras informações. Existe muito conhecimento implícito. Coisas que são óbvias para os adultos não são para os pequenos. Por isso, é preciso conversar sobre o tema em questão - a vida dos guaranis, por exemplo - para escutar a interpretação deles e, com base nisso, ajudá-los a avançar a partir do ponto em que entendem.

Há alguma recomendação específica para a leitura individual?

BEATRIZ Isso depende do conteúdo e dos propósitos colocados. Em geral, a sugestão é fazer uma primeira aproximação, uma leitura em silêncio. Apresentada a problemática, o professor diz "agora, cada um lê sozinho". Em alguns casos, indica-se que quem terminar a leitura converse com o companheiro ao lado sobre o conteúdo. Só então começa a reconstrução coletiva: "Vamos ver o que esse autor nos diz". Depois, é hora de analisar o que todos entenderam e ajudar os que menos compreenderam - verificando que informações não tinham.

Reler faz parte das atividades?

BEATRIZ Sim, em algum momento o docente pode falar "agora, pensem nessa questão e releiam determinado trecho". Em outros casos, ele começa com perguntas abertas ou propõe um estudo de caso. Quando o tema é "movimentos migratórios internos", por exemplo, a aula pode começar com o relato das experiências vividas por uma pessoa vinda do interior para a capital na década de 1940. Os testemunhos são entradas potentes para distintas temáticas históricas.

Que cuidados se deve ter ao encaminhar a leitura coletiva?

BEATRIZ Em primeiro lugar, deve-se pensar naqueles que têm mais dificuldades. Normalmente, os que mais sabem são os que mais falam e têm maiores condições de fazer perguntas. Por isso, eles se dão conta com maior facilidade de que não estão entendendo algo na aula. Nessas situações, o educador corre o risco de interagir apenas com cinco ou seis que são rápidos, em vez de atender aos que mais necessitam. É fundamental se aproximar dos que mais necessitam para ajudá-los. Em segundo lugar, é importante ir além da reprodução das palavras do texto e ajudá-los a reconstruir a temática histórica, relacionando fatos políticos, religiosos e econômicos. Essa é a base do trabalho intelectual do historiador. Como criar uma representação mental sobre a vida numa situação totalmente diferente da que eu conheço, em outra sociedade, em outro momento? A tarefa demanda estabelecer relações e se perguntar muitas coisas.

É preciso traduzir as expressões que as crianças não conhecem?

BEATRIZ Geralmente, durante a aula, se dá muito destaque às palavras que elas não entendem. Quando um termo é estranho, não há muito problema porque ele é visto como tal. Os maiores causadores de confusão são aqueles que o docente supõe serem conhecidos. Muitas vezes, eles têm um significado totalmente diferente no contexto do texto trabalhado. Houve uma situação em que uma voluntária de uma pesquisa estava falando sobre a Revolução de Maio (movimento que levou à independência da Argentina) e mencionou a palavra "monopólio". Uma aluna pensou que se referia ao jogo de tabuleiro Monopoly (no Brasil chamado Banco Imobiliário). Nada mais coerente para os pequenos que "monopólio" seja um jogo, algo totalmente estranho para mim ou para a professora. Esse é um erro muito grosseiro, mas com isso quero dizer que os estudantes aplicam ao texto um conhecimento prévio. Se o educador fica atento ao que eles estão entendendo, se dá conta do que é necessário fazer para que realmente compreendam o conteúdo trabalhado.

Por que ler para responder a um questionário não funciona?

BEATRIZ Porque as crianças leem sem entender. Localizar informações é algo muito fácil, mas isso não é ler! Escolhemos um texto porque queremos que elas aprendam determinados conteúdos. Quando dizemos que o leiam e depois "respondam às perguntas", anulamos a autonomia delas. Porém não podemos renunciar às questões porque elas nos orientam sobre o que é interessante discutir. Uma maneira de trabalhar é introduzir um tema com uma problemática que vai permear três ou quatro aulas. Outra é começar com uma questão simples, que pode ser mais potente do ponto de vista intelectual por ser de mais fácil compreensão. Se a ideia de que a leitura é fácil permanecer , muitos vão continuar saindo da escola sem saber ler.

Há um meio de escolher o melhor texto para trabalhar em sala?

BEATRIZ Não existe um ideal. O bom texto é o que permite melhor abordar o tema que vamos ensinar. Após definir o conteúdo da aula, começamos a ler tudo o que encontramos sobre ele - escrito para o público infantil ou não - e nos perguntamos: o que esse material tem de bom? E de ruim? Ele atende ao meu propósito de ensino? Além disso, é preciso considerar que um texto curto é muito mais difícil de entender do que um longo. O que se pode apreender de uma página sobre a Revolução Francesa? Em 20 páginas, há mais elementos para que quem não conheça o tema possa reconstruí-lo e compreendê-lo.

Como desenvolver na turma a capacidade de análise crítica dos textos?

BEATRIZ Na verdade, quando alguém começa a ler e reconstruir, já está indo pelo caminho crítico. Não há leitura que não seja crítica, principalmente quando se trabalho a reconstrução do mundo histórico do texto. Nesse ponto, a seleção do material é muito importante. Em História, por exemplo, tenho de buscar textos que façam alusão a diversos autores e contenham citações variadas. É preciso fazer todos perceberem que outros pesquisadores também já estudaram o tema e que muitas vezes apresentam opiniões distintas sobre ele. Além disso, é primordial ensinar a reconhecer as marcas do conhecimento histórico. Elas não podem ver os textos de História como uma janela para o passado, mas como uma interpretação de um autor sobre determinados fatos apresentados.

Como fazer com que todos participem das situações de interpretação?

BEATRIZ Não pensamos em algo que seja externo ao conhecimento. Buscamos desenvolver a paixão pelo assunto e criar situações que permitam à garotada estabelecer um vínculo com ele. Não é preciso criar coisas estranhas, como palavras cruzadas, para isso. O ideal é trazer problemáticas que gerem interesse e promover situações nas quais os alunos formulem perguntas. É preciso também ter paixão. Se o educador não vibra com o que está ensinando, é muito difícil que a sala se entusiasme e gere um vínculo positivo com o conhecimento.

De que forma se determina o tempo dedicado à interpretação de textos?

BEATRIZ Se ensino rápido e leio vários textos de maneira superficial, estou formando um tipo de sujeito. Se quero que ele entenda a complexidade do mundo social e que considere a existência de conflitos e de atores com diferentes interesses, tenho de ensinar essa complexidade. Essa segunda possibilidade leva dias e dias de análise, mas traz um resultado totalmente distinto. Um garoto pode decorar uma lista de causas para determinado fato histórico, mas o que elas significam, o que uma tem a ver com a outra? O professor tem de explicar e levá-lo a pensar, reconstruir, ler e discutir muito.

Quando é hora de a turma escrever?

BEATRIZ Começamos a tomar a escrita como um objeto de estudo nos últimos tempos. Temos claro que ninguém pode escrever sobre o que não sabe. É uma coisa óbvia, mas que a escola às vezes ignora. Em princípio, trabalhamos com situações de escrita depois de muita leitura para que a turma esteja apta a reconstruir a problemática histórica.

As escritas dos alunos servem para avaliar as aprendizagens?

BEATRIZ Elas dão informações apenas sobre parte do que a turma sabe. Geralmente, eles reescrevem muitas vezes. É preciso verificar as mudanças de uma produção para a outra e escutar por que decidiram mudar. Que relação há entre o que uma criança escreveu e o que sabe de Geografia? Isso não está claro. Sabemos que os textos e as provas escritas não são nada lineares. Temos de avaliar o que cada um aprende e o que sabe, mas a produção escrita sozinha não fornece essas respostas. Aliados ao que todos escreveram, os comentários feitos nas situações de leitura coletiva são muito úteis para avaliar o que foi aprendido.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA

Didáctica de las Ciencias Sociales - Aportes y Reflexiones, Beatriz Aisenberg e Silvia Alderoqui, 304 págs., Ed. Paidós, 52 reais

La Formación de los Conocimentos Sociales en los Niños, Alicia Lenzi e José Antonio Castorina, 288 págs., Ed. Gedisa, 70 reais

Comício da Central do Brasil 1964

O texto abaixo foi retirado da Revista de História da Biblioteca Nacional. Ele será utilizado, como fonte de consulta para a nossa próxima aula - 21-10-2010. Reproduza o texto e leve-o para a sala. Obs.: O texto será de uso individual.
Conservadores em desfile
Organizadas em oposição a João Goulart, as Marchas da Família se transformaram em forte apoio do governo militar, reunindo uma massa de civis nas capitais e interior do país
Aline Presot
19 de março, dia de São José, padroeiro da família. A data foi assim especialmente escolhida, naquele ano de 1964, como marco da primeira manifestação das Marchas da Família com Deus pela Liberdade. O movimento civil conservador, então inicialmente organizado em oposição ao governo do presidente trabalhista João Goulart, eleito em 1961, se revestiria, pouco tempo depois, de caráter oficial para comemorar e apoiar o governo militar imposto com o golpe de 1964, se espalhando por diversas regiões do país. Os anos de 1960 foram de grande efervescência cultural, com a bossa nova, o cinema novo, os grupos de teatro Arena e Oficina, o Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE). No campo da política, não foi diferente. Crescia no país um expressivo grupo que temia o “perigo comunista” e que achava que o ideário “ocidental e cristão” estaria sendo ameaçado. Assim, a posse de Goulart foi recebida com grande alarmismo e, a partir daquele momento, o país viveria uma das fases de mais agudo anticomunismo na história do século XX, que culminaria na intervenção militar em 31 de março de 1964, dando lugar a um regime autoritário que se estendeu por 21 anos. Na primeira metade da década, ocorreram no país algumas das maiores manifestações públicas de cunho político. Grupos de orientações ideológicas opostas disputavam o apoio popular para suas bandeiras políticas, levando milhares de pessoas às ruas. De um lado, segmentos identificados com o conservadorismo político, que vinham, há algum tempo, se articulando numa intensa campanha de mobilização da opinião pública pela desestruturação do governo de Goulart. De outro, representantes das “esquerdas” (comunistas, trabalhistas, nacionalistas), que se encontravam organizados e arregimentados em torno do projeto das “reformas de base” - que compreendiam um programa de mudanças nas estruturas bancária, fiscal, urbana, universitária e agrária; a extensão do direito do voto aos analfabetos e oficiais não-graduados das Forças Armadas, além da legalização do Partido Comunista. A agenda reformista incluía ainda políticas de controle do capital estrangeiro, bem como o monopólio estatal de determinados setores da economia, essa, uma grande preocupação de Goulart. O governo de João Goulart, o Jango (1961-1964), foi marcado por diversas crises políticas, também por uma grave crise econômica, em parte herança das administrações anteriores, e pelo acirramento das tensões sociais. Foi também durante esse governo que se verificou um considerável crescimento da mobilização popular, especialmente a camponesa, em torno de projetos políticos. De 1961 a 1963 eclodiram movimentos grevistas em todo o país e duas paralisações gerais. O constante esforço de conciliação entre as demandas dos setores conservadores e nacionalistas levaria em pouco tempo o presidente ao isolamento político. Os setores de direita temiam a suposta tendência “esquerdista” de Jango, enquanto as esquerdas passavam a identificar suas propostas a mero exercício de retórica. No início do ano de 1964, o governo deu uma “guinada à esquerda” e empunhou, com entusiasmo, a bandeira das reformas de base. Um grande comício marcaria o primeiro passo na concretização dessas reformas, numa tentativa de reaproximação das massas, que se encontravam cada vez mais descrentes do governo. Foi sua última manobra política em busca de apoio. Na sexta-feira, 13 de março, nos arredores da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, Jango selava publicamente o compromisso definitivo com as reformas. Ao mesmo tempo, muitas famílias cariocas respondiam à convocação de se acender uma vela na janela de suas residências como forma de protesto pela realização do comício – o ato era também evidente posicionamento contra uma suposta ameaça comunista, encarnada na figura do presidente. Enquanto isso, em São Paulo, centenas de mulheres se reuniram na Sé e rezaram o terço. Jango responderia a esses ataques afirmando em seu discurso: “Não podem ser levantados os rosários da fé contra o povo, que tem fé numa justiça social mais humana e na dignidade de suas esperanças”. Foi o bastante para que seus adversários se organizassem numa ação espetacular. As Marchas da Família com Deus pela Liberdade seriam um movimento de desagravo ao rosário, supostamente insultado por João Goulart. De fato, as mulheres da Camde (Campanha da Mulher pela Democracia), um movimento feminino organizado no Rio de Janeiro (então estado da Guanabara) em 1962 para se opor ao governo João Goulart, chegaram mesmo a distorcer suas palavras, afirmando que Jango teria dito que “os terços e a macumba da Zona Sul não teriam poder sobre ele”. As diferentes versões acerca da organização das Marchas da Família com Deus pela Liberdade convergem ao delegar à irmã Ana de Lurdes (Lucília Batista Pereira, neta de Rui Barbosa) a idéia do “movimento de desagravo ao rosário”, que deu origem às Marchas (foi aliás, com o objetivo de “universalizar” o apelo ideológico e conferir um caráter ecumênico à manifestação que aquela que foi originalmente idealizada como “Marcha em Desagravo ao Rosário” transformara-se em “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”). Tal iniciativa foi compartilhada com o deputado Cunha Bueno, que, indignado com o discurso proferido por Goulart durante o comício, procurou a irmã e, recebida a sugestão, partiu naquela mesma noite para os preparativos da Marcha paulista que ganhou às ruas cerca de uma semana depois do comício do presidente. As Marchas seriam também uma forma de dizer às Forças Armadas que era chegado o momento de se intervir na política, o que, segundo seus organizadores, representaria um anseio do povo. Um público estimado em 500 mil pessoas compareceu à primeira manifestação, realizada na capital paulista. Patrocinada pelos empresários aglutinados no Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), a manifestação contou com a presença maciça de grupos femininos. A multidão gritava em coro: “Tá chegando a hora/ De Jango ir embora”. Carregavam faixas e cartazes com mensagens anticomunistas e contra o governo. Senhoras com rosários em punho desfilavam em nome da democracia, da moral e da religiosidade. Após a realização da primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade, foram organizadas outras manifestações em diversas cidades. Eminentes figuras do meio político, que estiveram à frente do movimento em São Paulo, constituíram uma comissão com a finalidade de prestigiar as Marchas que viessem a se realizar em todo o país. Nas cidades de Bandeirantes, no Paraná, e Ipauçú, em São Paulo, reuniram-se o senador e padre Benedito Mário Calasans e os deputados Cunha Bueno, Hebert Levy e Conceição da Costa Neves, com o intuito de auxiliar os preparativos das Marchas que ocorreram nos dias 24 e 29 de março, respectivamente. Houve encontro semelhante em São Carlos, no interior paulista. Nesta cidade, a Marcha aconteceu no dia 2 de abril. Até mesmo em São Paulo, no dia anterior à primeira manifestação, ocorreram os chamados “‘comícios preparatórios’ em praças públicas de dez bairros da capital, que contaram com a presença de líderes estudantis, dirigentes de entidades de classes, bem como de parlamentares”, todos discursando em defesa das “liberdades democráticas” que, para eles, estariam ameaçadas por Jango. Entre os dias 21 e 29 de março, ocorreram Marchas nas cidades paulistas de Araraquara, Assis, Santos, Itapetininga, Atibaia, Tatuí, também em Curitiba, no Paraná, além das cidades de Bandeirantes e Ipauçú. Mesmo com a deposição de Jango, as marchas continuaram a ganhar força. Boa parte dessas manifestações, aproximadamente 85%, ocorreu posteriormente ao 31 de março, dia do golpe. Elas adquiriram, assim, o estatuto de um autêntico movimento em apoio ao governo militar. A grande passeata do Rio, ocorrida em 2 de abril, já estava sendo programada quando o golpe modificou o seu caráter, transformando-a numa espécie de “desfile da vitória”. O cortejo partiu da Igreja da Candelária, ao som do repicar dos sinos. A multidão percorreu um trajeto de dois quilômetros, atravessando as avenidas Rio Branco e Almirante Barroso até chegar à Esplanada do Castelo. No seu ápice, teria atingido, segundo algumas estimativas, o surpreendente número de um milhão de pessoas. A comemoração da vitória do golpe militar – ou da “Revolução”, como nomearam seus protagonistas — durou cerca de quatro horas. A propaganda organizada para a Marcha carioca buscava a adesão da população utilizando-se de valores e elementos simbólicos como o amor à pátria, o respeito à democracia, a defesa da família e das liberdades políticas. Um folheto distribuído pelas entidades promotoras da manifestação falava de seu caráter cívico-religioso, “destinado a reafirmar os sentimentos do povo brasileiro, sua fidelidade aos ideais democráticos e seu propósito de prestigiar o regime, a Constituição e o Congresso, manifestando total repúdio ao comunismo ateu e antinacional”. Os boletins eram distribuídos em igrejas, praias e clubes. A televisão e o rádio deram extensa cobertura aos preparativos da passeata. Também nas páginas dos jornais cariocas, dias antes de sua realização, podia-se ler: “em nome de sua fé religiosa compareça e traga a sua família”. Por todo o Brasil, as marchas pela vitória realizaram-se com o respaldo de grupos conservadores. Houve passeatas em São Paulo (500 mil pessoas), no Rio de Janeiro (1 milhão), em Belo Horizonte (200 mil), Goiânia (25 mil), Recife (200 mil), Niterói (50 mil), Fortaleza (200 mil), Florianópolis (50 mil) e Maceió (10 mil). Em Minas Gerais, várias dessas manifestações chegaram às cidades do interior, como Uberlândia, Formiga, Conselheiro Lafaiete, Lavras, Pains e Barbacena. Estima-se que cerca de 70 marchas ocorreram entre os meses de março e junho de 1964. Dessa forma, tais manifestações pretendiam demonstrar o caráter popular do golpe militar, uma vez que nesse momento boa parte dos cidadãos ia às ruas comemorar a vitória, dar “ação de graças” pelo afastamento do comunismo das terras brasileiras. A crença de que a intervenção militar expressava um desejo da sociedade civil serviu por alguns anos como motor para a realização das Marchas e justificativa para o apoio ao regime autoritário. Esta crença se encontrava sustentada por valores e normas morais, religiosos e sociais conservadores. No entanto, pouco depois, a força mobilizadora desse corpo de idéias foi se enfraquecendo. Durante toda essa “campanha anticomunista”, não se reivindicou, em nenhum momento, um regime de exceção prolongado, e sim uma intervenção breve e “restauradora”. Assim, paulatinamente, com o decorrer do governo militar, ocorreu uma mudança de postura por parte dos grupos que promoveram e aderiram às marchas, especialmente em função das denúncias de violência praticadas pelo regime: torturas, prisões e tantas outras arbitrariedades que deixaram uma dramática marca na história do país.
Aline Pressot é mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde defendeu a dissertação “As Marchas da Família com Deus pela Liberdade e o Golpe de 1964”, em 2004. http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=931
Informações, artigos, notícias complementares:
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/A_marcha_da_familia_com_Deus http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_20mar1964.htm
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=7641
http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_II/ediane_l._santana.pdf
http://apps.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/viewFile/559/381
http://www.scielo.br/pdf/rbh/v24n47/a11v2447.pdf

EDUCAR PARA CRESCER


Cartazes para escolas
Dicas simples para envolver professores, alunos e pais na melhoria da qualidade de ensino no Brasil. Imprima e exiba em sua escola






Esses e outros cartazes no site:
http://educarparacrescer.abril.com.br/cartazes/index.shtml

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil



Certificado de participação
Certificamos que a equipe Argonautas, orientada pelo professor(a) Alexandre Wilson Simões da Silva e composta pelos(as) estudantes Sarah Fiorani, Miceli Bernardes e Caroline da Rocha participou da 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil, tendo concluído as fases 1, 2, 3, 4 e 5 com sucesso.
Prof. Dr. Marcelo Firer
Diretor do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp
Profa. Dra. Cristina Meneguello
Coordenadora da 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil

Aos alunos Caroline Rocha, Miceli Bernardes e Sarah Fiorani, meus parabéns pela dedicação, empenho e vontade de participar de um evento de tal monta.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Heroes of Hellas 2 - Olympia Deluxe

Recupere uma civilização em declínio com sabedoria e justiça, em Heroes of Hellas 2 - Olympia Deluxe, uma incrível sequência cheia de desafios e surpresas!
Heroes of Hellas 2 - Olympia Deluxe

Recupere uma civilização em declínio com sabedoria e justiça, em Heroes of Hellas 2 - Olympia Deluxe, uma incrível sequência cheia de desafios e surpresas!

CARACTERÍSTICAS
volte à Grécia neste divertido jogo de combine 3 e caça objetos ganhe ouro e invoque os deuses para criar um santuário para o povo divirta-se com oito minijogos variados e envolventes use as imagens do jogo como plano de fundo

REQUISITOS MÍNIMOS DO SISTEMA
Processador: PIII 500 MHz
128 MB RAM
Espaço livre em disco: 50 MB
Placa de vídeo 16-bit de 16MB DirectX

Fonte: http://jogos.super.abril.com.br/lobby_dw.jsp?gid=5960

domingo, 19 de setembro de 2010

Escolas estaduais de referência, Nave e Nata abrem inscrições para 2011
Cadastro é gratuito e deve ser feito pela Internet. Haverá seleção de alunos em 2 etapas
Rio - A Secretaria Estadual de Educação abre segunda-feira as inscrições para escolas de referência da rede, que oferecem Ensino Médio Integrado. São 160 vagas no Núcleo Avançado em Educação (Nave), na Tijuca; 120 para o Núcleo Avançado de Educação em Tecnologia de Alimentos (Nata), em São Gonçalo, e 200 no Colégio Estadual Erich Walter Heiner, Santa Cruz. Os candidatos terão de fazer um ‘vestibulinho’. O cadastro vai até o dia 5 pelo site www.educacao.rj.gov.br. As vagas são para alunos que concluíram o 9º ano do Ensino Fundamental ou a Fase 9 da Educação de Jovens e Adultos, vindos da rede pública federal, estadual ou municipal, com idade entre 13 e 16 anos. A inscrição é gratuita.
Na primeira fase, dia 16, candidatos às três unidades farão provas de múltipla escolha de Língua Portuguesa e Matemática. Na segunda etapa, dia 23 de outubro, acontece o teste de habilidade. O resultado sai dia 5 de novembro.
No Nave, parceria do estado com o Instituto Oi Futuro, o estudante fará o Ensino Médio regular e poderá, no curso, optar entre a formação em técnico em Geração de Multimídia, técnico em Programação de Jogos Digitais ou técnico em Roteiro para Mídias Digitais. No Nata, convênio com o Grupo Pão de Açúcar e a CCPL, o aluno escolhe entre se formar técnico de Leite e Derivados e técnico de Panificação.
Já no Colégio Estadual Erich Walter Heiner, associação com a siderúrgica Thyssenkrupp CSA, o Ensino Médio Integrado é em Administração.
Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/educacao/html/2010/9/escolas_estaduais_de_referencia_nave_e_nata_abrem_inscricoes_para_2011_110945.html

quinta-feira, 2 de setembro de 2010




Quanto custaria construir as pirâmides atualmente
[02-09-2010]
A Grande pirâmide de Giza é a mais antiga e a única que ainda perdura das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. A maior das pirâmides, serviu como tumba ao faraó da quarta dinastia do antigo Egito, Jufu -também conhecido por seu nome grego Quéops- e seu arquiteto foi Hemiunu, um parente de Jufu.

A data estimada do término da Grande Pirâmide é 2570 a.c e foi a primeira e maior das três grandes pirâmides da Necrópoles de Gizé nas imediações do Cairo no Egito e o edifício mais alto do mundo até o século XIX, só superado pelas agulhas da Catedral de Colônia (157 m, construída de 1248 a 1880) e a Torre Eiffel (300 m, erigida em 1889).
O egiptólogo britânico Sir William Matthew Flinders Petrie fez o estudo mais detalhado realizado até o momento a respeito do monumento, sendo suas dimensões as seguintes:
· Altura original = 146,61 m
· Altura atual = 136,86 m
· Ângulo: 51º 50' 35"
· Comprimento dos lados da base é:
o Lado N: 230,364 m
o Lado E: 230,319 m
o Lado S: 230,365 m
o Lado O: 230,342 m
o Média: 230,347 m
Os materiais necessários a sua construção foram os seguintes:
· Quéops: Mas de dois milhões de blocos de pedra calcária de várias toneladas cada uma.
· Quéfren: Um milhão de blocos de pedra calcária de várias toneladas
· Miquerinos: 100 mil blocos.
Para a sua construção foram necessários 100 mil homens e 20 anos, segundo Heródoto, além dos 10 anos para aprovisionar o material. Utilizaram embarcações de vela para o transporte dos blocos e rampas de terra, polias, rolos e alavancass para a construção.
Na atualidade seriam necessários 6 mil homens trabalhando durante 15 anos, com a ajuda de guindastes para elevar os blocos de construção fabricados em concreto visando baraterar o custo das pirâmides.
O custo dos materiais seria de 240 milhões de dólares e o pagamento da mão de obra consumiria 445 milhões de dólares, totalizando 685 milhões (aproximadamente 1,2 bilhões de reais).

domingo, 15 de agosto de 2010

Textos para o teste.

Material de apoio e complementar para o teste do 3° bimestre.

O POPULISMO EM QUESTÃO E A QUESTÃO DO POPULISMO
A CRÍTICA AO CONCEITO DE "POPULISMO". O termo "populismo" tem sido utilizado para caracterizar a política getulista e, por extensão, a prática de importantes políticos no período de 1945 a 1964. De modo simplificado, o conceito de populismo conteria dois ingredientes: de um lado, os líderes populares que manipulam os trabalhadores e, de outro, a massa trabalhadora que se deixa levar "passivamente" por esses líderes. Na época, o terreno comum entre o líder populista e a massa era a legislação trabalhista, considerada a grande obra de Vargas. Assim, populismo e trabalhismo tornavam-se faces da mesma moeda.
Trabalhos historiográficos mais recentes criticam essa concepção "populista" do período, afirmando que a capacidade de manipulação dos líderes era muito limitada e que os trabalhadores não eram criaturas passivas que aceitavam tudo o que vinha "de cima". Ao contrário, tiveram uma participação ativa na criação do trabalhismo, uma das características marcantes do período. Portanto, o conceito de "populismo" não dá conta da realidade e distorce os fatos - é o que concluem alguns estudos atuais.
Em História, como em qualquer outra disciplina, os conceitos estão perpetuamente
sujeitos a revisões e críticas. Como os conceitos são criados ou aprimorados em trabalhos de pesquisa e reflexão, o alvo das críticas são geralmente as obras mais representativas. No caso do populismo, os autores visados pelos críticos são os sociólogos Octávio lanni e Francisco Weffort, autores de “O colapso do populismo e O populismo na política brasileira", respectivamente. É preciso frisar que essas obras são apenas exemplos de uma vasta produção que envolve também outros autores.
A "REINVENÇÃO" DO TRABALHISMO. De acordo com a nova interpretação historiográfica, os trabalhadores tinham perfeita noção de seus interesses e o trabalhismo não foi um produto integralmente getulista. Ao contrário, os trabalhadores interferiram ativamente em sua construção. Em 1960, a participação dos trabalhadores na renda interna urbana foi de 64,9%, índice inferior apenas aos dos Estados Unidos, Inglaterra, Suécia e Noruega. Entre 1954 e 1964, o Brasil testemunhou o maior movimento social de sua história e vivencio ou um processo real de distribuição de renda. No plano político, o levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em 1964 em oito capitais revelou que 64% da população "tinha preferência partidária, índice alto mesmo para padrões internacionais. Isso significa que a maioria acreditava no sistema partidário, aceitava-o como instrumento de representação política". Em outras palavras, os trabalhadores estavam lutando ativamente por conquistas políticas, sociais e econômicas, e obtendo resultados positivos. A visão populista do processo é criticada por minimizar essas conquistas.
AÇÃO, MANIPULAÇÃO E CONCESSÃO. Contudo, seria absurdo negar que líderes políticos em geral e os populistas em particular não exercessem influência sobre uma parcela da sociedade. Se não tivessem essa capacidade, não seriam líderes. Líderes, por definição, têm seguidores.
E, se influenciam, os líderes também podem manipular, isto é, iludir e enganar seus liderados. Como ressalta o cientista político Francisco Weffort, "porém, a manipulação nunca foi absoluta". Ele lembra ainda que a idéia de "manipulação absoluta" é característica da "visão liberal elitista '".
Também é verdade que as classes populares não podem ser concebidas como sujeitos absolutamente conscientes de si e de seus interesses, livres de influências e manipulações, dotados da capacidade de agir com a maior coerência e segundo os melhores meios e oportunidades.
Essa visão heróica das classes populares e trabalhadoras é tão irreal como a visão de uma elite política todo-poderosa. Por isso, Weffort afirma que "o populismo foi um modo determinado e concreto de manipulação das classes populares, mas foi também um modo de expressão de suas insatisfações"? Quer dizer, as classes populares agem, mas estão sujeitas a manipulações.
As lideranças populistas certamente manipulavam, mas não estava ao seu alcance cancelar as pressões e reivindicações populares. Quando estas atingiam certo nível, era necessário fazer concessões.
Aquilo que na ótica populista aparecia como concessão, sob a perspectiva dos trabalhadores era conquista. Esse fato não escapou a Weffort, para quem
Vargas, apoiado no controle das funções políticas, "doa" às massas urbanas uma legislação trabalhista que começa a formular-se desde os primeiros anos do Governo Provisório e que se consolida no ano de 1943. São os setores que possuem maior capacidade de pressão sobre o Estado e aqueles que, desde antes de 1930, possuíam alguma tradição de luta; são também os setores disponíveis, para a manipulação política, pois apesar de que as regras do jogo eleitoral estivessem suspensas desde 1937 elas foram as conquistas da revolução de 1930
e continuam a ter uma existência virtual."

As conquistas trabalhistas foram, portanto, conquistas reais, e não simples paliativos. Porém, uma visão equilibrada não pode descartar a ideia de que o populismo não foi mera ficção; o termo designa certo estilo de atuação política característica do período compreendido entre 1930 e 1964.

Fonte: História do Brasil no contexto da história ocidental: ensino médio / Luiz Koshiba, Denise Manzi Frayze Pereira - 8° ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Atual, 2003.
Nova Ordem Mundial
Depois da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, um dos assuntos mais discutir é o surgimento de uma nova ordem mundial. Quando ela se definiu e o que traz de novo?A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve uma mudança para um mundo multipolar, onde as potencias impõe mais por seu poder econômico de que bélico. Na economia o que aconteceu de novo foi o processo de globalização e a formação de blocos econômicos supranacionais.
Velha ordem bipolar
Desde 1989, a humanidade começou assistir uma série de eventos que até então eram imagináveis. A queda do Muro de Berlim era impensável, bem como a reunificação da Alemanha Ocidental e da Oriental, em 1990.
O muro que dividia Berlim e a separação da Alemanha, constituíam os principais símbolos da Guerra fria. Apesar da proximidade geográfica, a mesma origem histórica e cultural havia muitas diferenças na Alemanha. De um lado estava a democracia pluripartidária, a hegemonia da propriedade privada e da livre iniciativa, uma sociedade rica, que apresentava altos índices de produtividade. Do outro lado, a ditadura do partido único, a exclusividade da propriedade estatal. O consumo limitado e baixos índices de produtividade. E as diferenças políticas, econômicas e sociais aumentaram cada vez mais. A Alemanha apesar de ser uma só nação, apresentava dói Estados. Era o modelo soviético frente a frente com o modelo norte-americano.Em 1991 houve o fim de outro símbolo da Guerra Fria, o Pacto de Varsóvia. Representantes que faziam parte deste pacto formalizaram a sua dissolução, em Praga, na então Tcheco-Eslováquia. Era o fim do conflito leste x oeste.
Por fim, em dezembro de 1991, foi selada desagregação geopolítica e territorial da União Soviética. O presidente Boris Yeltsin declarou a independência da Rússia, e após isso, se reuniu com os chefes de Estado da Ucrânia e de Belarus, em Minsk. Nesse encontro foi criada a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), substituindo a ex-União Soviética. Composta por doze países que faziam parte da ex-soviética, a CEI é uma aliança de Estados independentes.
Nova ordem multipolar
Hoje no mundo multipolar pós-guerra fria, o poder é medido pela capacidade econômica do país, que envolve disponibilidade de capitais, avanço tecnológico, mão-de-obra qualificada e nível de produtividade. Isso explica a emergência de Japão e Alemanha como potencias, e ao mesmo tempo, a decadência da Rússia. Embora a Rússia seja dona de em poderoso arsenal nuclear, o setor industrial é obsoleto e pouco produtivo, e o país se encontra em crise social, política e econômica.
A China possui uma economia que mais cresce no planeta, isso porque: possui a maior população do mundo, e portanto, um grande mercado consumidor; além de muita mão-de-obra barata, oferecendo facilidades para atração de capitais estrangeiros. Apesar disso também enfrenta sérios problemas internos, principalmente políticos.Assim, podemos afirmar que os países mais poderosos do mundo hoje são os Estados Unidos, Japão e Alemanha.
Outro aspecto de importância é a tendência da globalização em suas várias facetas, tanto em sentido mundial como regional.
Conflito norte x sul
Muitos tem dito com atenção que a nossa ordem mundial é a vitória do capitalismo e da democracia. Alguns argumentavam que o modelo político e econômico estabelecido pelos Estados Unidos se tornaria dominante a tal ponto que não haveria mais conflitos. Que houve uma vitória norte-americana sobre a União Soviética não podemos negar. Mas até mesmo os vencedores apresentam vários problemas econômicos, como por exemplo: elevado déficit público e elevado endividamento interno e externo; isso em parte se deve a corrida armamentista.Assim não devemos nos apressar ao afirmar que o capitalismo o melhor que o socialismo. É preciso primeiro avaliar: melhor para quem?
É bem claro que o capitalismo é mais dinâmico e competitivo. Não podemos nos esquecer, porem, de que os países subdesenvolvidos, com exeção da Coréia do Norte, Cuba e Vietnã são todos capitalistas. Muitos problemas no mundo, foram criados pelo sistema capitalista, como o aumento da pobreza, desemprego e concentração e estes aumentam em todo mundo.Um dos problemas mais sérios é a desigualdade social. Este problema vem se agravando até mesmo em países desenvolvidos. Com o aumento da incorporação de novas tecnologias no processo produtivo, a oferta tem diminuído e isso contribui e muito para se empobrecer a população. Também é cada vez maior o buraco que separa os países ricos dos pobres. Esse é o chamado conflito norte x sul, que é de natureza econômica, é não geopolítica, como era o caso do conflito leste x oeste
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/arlindojunior/geografia007.asp