Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Mensagem

2010
Feliz 2010!!! A você que contribuiu de alguma forma para que esse blog atendesse as expectativas, tanto minha, como a de todos que aqui acessaram.
Um grande abraço e um Ano Novo com muita paz e energia!

A Cobra vai fumar

Atividade interativa
se enconta um jogo sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Que além de ser Superdivertido é bastante didático. Vale a pena conferir. O nome do Jogo é: A Cobra Vai Fumar e ao jogar encarne um pracinha brasileiro tentando tomar Monte Castelo na Segunda Guerra Mundial.
Juntamente com esse infográfico, existem vários outros, com diferentes assuntos e conteúdos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Para melhorar o mundo.


O Natal durante a Primeira Guerra Mundial.

Noite feliz na terra de ninguém: Natal de 1914
No Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães deixaram as trincheiras e fizeram uma trégua. Durante seis dias, eles enterraram seus mortos, trocaram presentes e jogaram futebol
por Bruno Leuzinger
Finalmente parou de chover. A noite está clara, com céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nesta época do ano. O que não seria normal em outros anos é o fedor no ar. Cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos – alemães e britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a “terra de ninguém”, assim chamada porque não se sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paisagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas. O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se ouve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta agonizante gritando por socorro ou chamando pela mãe. Nada.
E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, ouve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam “Stille Nacht, Heilige Nacht”. Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como “Silent Night”; em português, foi batizada de “Noite Feliz”. Quando a música acaba, o silêncio retorna. Por pouco tempo.
“Good, old Fritz!”, gritam os britânicos. Os “Fritz” respondem com “Merry Christmas, Englishmen!”, seguido de palavras num inglês arrastado: “We not shoot, you not shoot!”(“Nós não atiramos, vocês também não”).
Estamos em algum lugar de Flandres, na
Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a frente ocidental – que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços, cruzando a França –, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea. Jamais acontecera algo igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro Der Kleine Frieden im Grossen Krieg – Westfront 1914: Als Deutsche, Franzosen und Briten Gemeinsam Weihnachten Feierten (“A Pequena Paz na Grande Guerra – Frente Ocidental 1914: Quando Alemães, Franceses e Britânicos Celebraram Juntos o Natal”, inédito no Brasil).
Conhecido então como Grande
Guerra (pouca gente imaginava que uma segunda como aquela seria possível), o conflito estourou após a morte do arquiduque Francisco Ferdinando. Herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, ele e sua esposa Sofia foram assassinados em Sarajevo, na Sérvia, no dia 28 de junho. O atentado, cometido por um estudante, fora tramado por um membro do governo sérvio. Um mês mais tarde, em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. As nações européias se dividiram. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram aos sérvios; a Alemanha, aos austro-húngaros. Nas semanas seguintes, os alemães invadiram a Bélgica, que até então se mantivera neutra, e, ainda em agosto, atravessaram a fronteira com a França. Chegaram perto de tomar Paris, mas os franceses os detiveram, em setembro.
Nos primeiros meses, a propaganda militar conseguiu inflar o orgulho dos soldados – de lado a lado. O fervor patriótico crescia paralelamente ao ódio pelos inimigos. Entretanto, em dezembro o moral das tropas já despencara. A
guerra se arrastava havia quase um semestre. Os britânicos haviam perdido 160 mil homens até então; Alemanha e França, 300 mil cada. Para piorar, as condições nas trincheiras eram péssimas. O odor beirava o insuportável, devido às latrinas descobertas e aos corpos em decomposição. Estirados pela terra de ninguém, cadáveres atraíam ratazanas aos milhares. Era um verdadeiro banquete. Com tanta carne, elas engordavam tanto que algumas eram confundidas com gatos. Pior que as ratazanas, só os piolhos. Milhões deles, nos cabelos, barbas, uniformes. Em toda parte.
Quando chovia forte, a água batia na altura dos joelhos. Dormia-se em buracos escavados na parede e era comum acordar assustado no meio da noite, por causa das explosões ou de uma ratazana mordiscando seu rosto. Durante o dia, quem levantasse a cabeça sobre o parapeito era um homem morto. Os franco-atiradores estavam sempre à espreita (no final da tarde, praticavam tiro ao alvo no inimigo e, quando acertavam, diziam que era um “beijo de boa-noite”). O
soldado entrincheirado passava longos períodos sem ter o que fazer. Horas e horas de tédio sentado no inferno. Só restava esperar e olhar para céu – onde não havia ratazanas nem cadáveres.
O cotidiano de horrores foi minando a vontade de lutar. Uma semana antes do Natal já havia sinais disso. Foi assim em Armentières, na França, perto da fronteira com a
Bélgica. Soldados alemães arremessaram um pacote para a trincheira britânica. Cuidadosamente embalado, trazia um bolo de chocolate e dentro, escondido, um bilhete. Os alemães pediam um cessar-fogo naquela noite, entre 19h30 e 20h30. Era aniversário do capitão deles e queriam surpreendê-lo com uma serenata. O bolo era uma demonstração de boa vontade. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para cima. Em meio à barbárie, esses pequenos gestos de cordialidade significavam muito.
Ainda assim, era difícil imaginar o que estava por vir. Na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês perfeito: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?” Silêncio. Seria uma armadilha? Ele prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o enterro”. Dezenas de armas estavam apontadas para ele. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Após minutos de conversa, combinaram de se reunir no dia seguinte, às 9 horas da manhã.
No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por eles – ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas a separação acabou aí: na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimônia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, disse. Depois, um
soldado alemão, ex-seminarista, repetiu tudo em seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Outros enterros semelhantes foram realizados naquele dia, mas o de Fleurbaix foi o maior de todos.
Aquela situação por si só já era inusitada: alemães e britânicos cavando e rezando juntos. Mas o que se viu depois foi um desfile de cenas surreais. Em Wez Macquart, França, um britânico cortava os cabelos de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Neuve Chapelle, também na França, os soldados indicavam discretamente para seus novos amigos a localização das minas subterrâneas. Em Pervize, na
Bélgica, homens que na véspera tentavam se matar agora trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete. Uns disputavam corridas de bicicleta, outros caçavam coelhos. Uma luta de boxe entre um escocês e um alemão foi interrompida antes que os dois se matassem. Alguém sugeriu um duelo de pistolas entre um alemão e um inglês, mas a idéia foi rechaçada – afinal, aquilo era um cessar-fogo.
Porém, o melhor estava por vir. Nos dias 25 e 26, foram organizadas animadas partidas de
futebol. Centenas jogaram bola nos campos de batalha. “Bola” em muitos casos era força de expressão; podia ser apenas um monte de palha amarrado com arame, ou uma lata de conserva vazia. E, no lugar de traves, capacetes, tocos de madeira ou o que estivesse à mão. Foi assim em Wulvergem, na Bélgica, onde o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção no resultado. Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. A vitória suada foi cercada de polêmica: o terceiro gol alemão teria sido marcado em posição irregular (o atacante estava impedido) e a partida, encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.
A maioria das confraternizações se deu nos 50 quilômetros entre Diksmuide (
Bélgica) e Neuve Chapelle. Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores – instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos. Já franceses e belgas eram menos afeitos a tomar parte no clima festivo. Seus países haviam sido invadidos (no caso da Bélgica, 90 por cento de seu território estava ocupado), para eles era mais difícil apertar a mão do inimigo. Em Wijtschate, na Bélgica, uma pessoa em particular também ficou muito irritada com a situação. Lutando ao lado dos alemães, o jovem cabo austríaco Adolf Hitler queixava-se do fato de seus companheiros cantarem com os britânicos, em vez de atirarem neles.
Naquele tempo, Hitler ainda não apitava nada. Entretanto, os homens que davam as cartas também não estavam nem um pouco felizes. Dos quartéis-generais, os senhores da
guerra mandaram ordens contra qualquer tipo de confraternização. Quem desrespeitasse se arriscava a ir à corte marcial. A ameaça fez os soldados voltarem para as trincheiras. Durante os dias seguintes, muitos ainda se recusavam a matar os adversários. Para manter as aparências, continuavam atirando, mas sempre longe do alvo. Na noite do dia 31, em La Boutillerie, na França, o fuzileiro britânico W.A. Quinton e mais dois homens transportavam sua metralhadora para um novo local, quando de repente ouviram disparos da trincheira alemã. Os três se jogaram no chão, até perceberem que os tiros eram para o alto: os alemães comemoravam a virada do ano.
A trégua velada resistiu ainda por um tempo. Até março de 1915, alemães e britânicos entrincheirados em Festubert, na França, faziam de conta que a
guerra não existia – ficava cada um na sua. Mas a lembrança das confraternizações foi aos poucos cedendo espaço para o ódio. A carnificina recrudesceu, prosseguindo até a rendição da Alemanha, em novembro de 1918, arrasando a Europa e deixando cerca de 10 milhões de mortos. Talvez a matança até valesse a pena, se a profecia do escritor de ficção científica H.G. Wells tivesse dado certo. O autor de A Máquina do Tempo escrevera em um ensaio que aquela seria “a guerra que acabaria com todas as guerras”. Wells, é claro, estava enganado. Os momentos de paz, como os do Natal de 1914, seriam escassos também ao longo de todo o século 20. A Grande Guerra tinha sido só o começo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

* O ensino que funciona *

O livro abaixo é uma ótima sugestão para as férias. Com a sua leitura poderemos encontrar novos caminhos e estratégias para dinamizar nossas aulas.


MARZANO, Robert J.; PICKERING, Debra J.; POLLOCK, Jane E. Ensino que funciona: estratégias baseadas em evidências para melhorar o desempenho dos alunos.
Resumo:
Ensino que Funciona – Estratégias Baseadas em Evidências para Melhorar o Desempenho dos Alunos
O que funciona na Educação? Como a pesquisa educacional encontra seu caminho até a sala de aula? Como podemos aplicá-la para ajudar nossos estudantes individualmente?
Perguntas como essas surgem na maioria das escolas, e os educadores, ocupados, frequentemente não têm tempo para encontrar as respostas. Os autores examinam décadas de achados de pesquisa para destilar os resultados em novas e amplas estratégias de ensino que têm efeitos sobre a aprendizagem do aluno, tais como:
Identificar semelhanças e diferenças.
Resumir e tomar notas.Reforçar o esforço e proporcionar reconhecimento.
Praticar a aprendizagem cooperativa.
Estabelecer objetivos e dar feedback.
Gerar e testar hipóteses.
Fazer perguntas, dar sugestões e usar organizadores avançados.

A Língua dos Faraós

Abaixo disponibilizamos parte de um artigo sobre: A Língua dos Faraós, extraído do site da Revista Leituras da História: http://portalcienciaevida.uol.com.br/ESLH/edicoes/24/artigo157057-1.asp?o=r. Para uma leitura completa do artigo é só acessar o site.
Escrevendo em Hieróglifos
Interpretar os símbolos sagrados dos faraós requer algumas regras básicas que até os não acadêmicos podem ser seguidas com certa facilidade. Confira no artigo a seguir algumas dicas e prepare-se para arriscar algumas palavras nessa fascinante linguagem
Por Moacir Elias Santos
Há muitos anos, quando ainda na infância, lembro-me de ter assistindo a um filme produzido em 1980, originalmente chamado The Awakening (O Despertar), mas traduzido aqui no Brasil como Reencarnação. Neste, havia uma cena curiosa, que mostrava o instante em que o egiptólogo Matthew Corbeck (interpretado por Charlton Heston) e sua assistente Jane Turner (Susannah York) encontravam uma grande inscrição hieroglífica, que mencionava uma rainha cujo nome havia sido apagado por seus atos malévolos. A leitura dos hieróglifos feita por ela parecia perfeita aos olhos de um leigo, mas grande foi minha surpresa, ao assistir o filme novamente duas décadas depois. As inscrições estavam corretas, mas ela estava lendo o texto de trás para frente! Acredito que os consultores do filme acabaram por esquecer este pequeno detalhe, que seria a primeira regra da interpretação dos hieróglifos: a direção da escrita.
A língua egípcia é formada por um grande número de sinais que no estágio conhecido como Médio Egípcio inclui aproximadamente setecentos hieróglifos. As imagens podem ser agrupadas dentro de diversas categorias, que apresentam figuras humanas, diversas classes de animais, plantas, edificações, objetos inanimados, entre muitas outras. Mas como seria possível, dentre tantos sinais, saber onde começa uma frase? A resposta é algo bem fácil: basta olhar para onde qualquer uma das figuras animadas está direcionada, seja ela uma mulher sentada ou um pato em pé. Assim, se as figuras estão todas voltadas para o lado esquerdo do espectador, lê-se da esquerda para a direita, se apontarem para a direita, lê-se da direita para a esquerda. A mesma situação ocorre para as figuras que se encontram em colunas: basta observar a direção das mesmas. Esta regra possibilitou aos egípcios escreverem em quatro sentidos diferentes na horizontal e na vertical.
O leitor já deve ter observado que, por vezes, os sinais hieroglíficos estão perfeitamente organizados dentro dos espaços das linhas, colunas ou mesmo ao lado das figuras que compõe uma cena. O senso estético dos antigos egípcios era muito apurado e podemos perceber, pelos detalhes das inscrições, que achavam muito estranho a colocação de um símbolo estreito e alto ao lado de um longo e baixo. Para eles a simetria deveria ser quase que perfeita e esta foi conseguida a partir da inserção dos símbolos dentro de retângulos imaginários. Esta harmonia resultou no agrupamento, sobreposição dos sinais e, até mesmo, inversão da ordem dos hieróglifos que compunham uma determinada palavra. Neste último caso é como se pudéssemos, na língua portuguesa, inverter a ordem das letras do substantivo "cabelo", somente para que as consoantes "b" e "l" ficassem juntas, resultando nesta forma: "cableo".
A forma dos sinais hieroglíficos, em geral, pode ser reconhecida sem muitas dificuldades, o que possibilita o seu rápido entendimento se a compararmos com outros sistemas de escrita, cujos símbolos são mais abstratos. Antes da decifração dos hieróglifos por Jean-François Champollion, em 1822, acreditava-se que a escrita egípcia era composta exclusivamente por um único tipo de sinal, o pictográfico. Na realidade, o sábio francês concluiu que os hieróglifos poderiam ser classificados também como ideográficos, fonéticos e determinativos, cada um com um valor gramatical diferente. Vejamos o que significa cada um destes sinais.

Em busca do sentido. Esta imagem de uma arquitrave do templo de Medinet Hhabu apresenta o disco solar alado com uma inscrição, contendo os dois nomes do faraó Rramsés III. A leitura se faz do centro para as extremidades, conforme indicado pelas setas.
A organização dos sinais hieroglíficos é feita dentro de retângulos imaginários. Note como os sinais são agrupados e sobrepostos. A inscrição é de uma parede do templo do deus-crocodilo Sobek, em Kom Ombo

Os pictográficos podem representar um objeto, um ser ou mesmo uma idéia. Podemos afirmar que um desenho pictográfico é um signo-objeto.Vamos observar como isto ocorre na prática, com dois exemplos referentes aos sinais de "casa" e "braço". Para escrever a palavra "casa", os escribas egípcios desenhavam a imagem da planta baixa de uma residência com um só cômodo e colocavam ao lado desta, ou abaixo, um pequeno traço vertical, que denominamos "traço determinativo", para confirmar que o sinal representa realmente uma casa. Já a palavra "braço" se escreve com o sinal de um antebraço e, tal como no caso anterior, é necessária a colocação do traço determinativo para confirmar o sentido do sinal, mostrando que se trata realmente de um braço.
Pronúncia
Antes de prosseguirmos com os tipos de sinais são necessárias algumas explicações sobre a pronúncia das palavras e a transliteração. Como o egípcio antigo que era falado em tempos faraônicos é uma língua morta, e pelo fato de que as vogais não eram utilizadas na escrita, tal como ocorre na língua árabe, os estudos sobre a fonética egípcia são um campo difícil. Quem assistiu aos filmes hollywoodianos Stargate, A Múmia e O Retorno da Múmia deve ter ouvido algumas palavras que soariam como se escutássemos vindas dos antigos egípcios. Mas na realidade, o único eco que ainda podemos ouvir está presente na língua Copta, que se conservou graças à liturgia da Igreja Copta no Egito, sobre a qual veremos mais neste texto.
Mas como pronunciar o egípcio se não existem vogais, apenas consoantes e semivogais?
A resposta, novamente, é fácil. Os pioneiros da filologia egípcia criaram um sistema para permitir a vocalização das palavras, adicionando um "e" quando temos duas consoantes juntas. Assim, para a palavra "casa", que possui valor sonoro "pr", lê-se "per". No Brasil, todos os pesquisadores que aprenderam a língua egípcia com o Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso, seguem a pronúncia dos egiptólogos franceses para as palavras. Por exemplo, quando aparece um "w" em alguma palavra, pronuncia-se "u". O "a" e o "i", que são semivogais, são lidos como tais. Esta pronúncia é um pouco diferente para os falantes de língua inglesa e alemã. Tais convenções são totalmente artificiais, portanto, para quebrar a monotonia. No caso de algumas palavras ou nomes de reis, optou-se por trocar o "i" pelo "a", além de inserir, às vezes, a vogal "o". Por exemplo, se sempre seguíssemos a convenção egiptológica pronunciaríamos o nome de um rei assim: "Imenhetep", mas na literatura pode aparecer Amenhotep ou mesmo Amonhotep. Isto, sem dúvida, cria certas confusões para os leigos, mas os pesquisadores já se acostumaram com a variedade destas pronuncias em particular, inclusive também pela existência de variantes provenientes da língua grega, como "Amenófis" para Amenhotep.
Outra convenção feita pelos egiptólogos está relacionada à transliteração das palavras egípcias. Esta é uma forma de transformar sinais hieroglíficos em letras para que possamos entender a pronuncia dos mesmos. O sinal hieroglífico para a palavra "casa", que mencionamos acima, é transliterado "pr". Neste processo apenas os sinais que possuem valor sonoro ou fonético aparecem. Outros, que veremos adiante, como os complementos fonéticos e determinativos, não são marcados na transliteração.
Ideograma
O segundo tipo de sinal é o ideograma, cujo significado está relacionado à apresentação de uma idéia. Contudo, diferentemente do pictograma, o ideograma não trata do próprio objeto, mas do conceito apresentado por ele. Vejamos um exemplo: a imagem de um homem com a mão na boca pode expressar diversas situações relacionadas ao gesto, tal como o ato de "falar" - mdw, de "ter sede" - ib, e mesmo, de "comer" - wnm. Embora façamos uma distinção entre sinais pictográficos e ideográficos, diversas gramáticas de Médio Egípcio não o fazem. Tratam os pictogramas e os ideogramas como se representassem o mesmo conceito, relacionado a uma idéia. Na língua egípcia quase todos os sinais são fonéticos, isto é, são figuras que representam um som específico e que podem ser divididas em três grupos: uniconsonantais ou uniliterais, biconsonantais ou biliterais, e triconsonantais ou triliterais. A diferença entre os grupos é justamente o número de sons.
O grupo de uniconsonantais são os que representam uma única consoante. Na língua egípcia existem vinte e quatro sinais deste tipo, alguns com diferentes formas, que corresponderiam ao pseudo-alfabeto. Nas tabelas abaixo temos o sinal hieroglífico, sua transliteração e o respectivo valor sonoro:
O segundo grupo de sinais fonéticos é o dos biconsonantais, isto é, daqueles que representam duas consoantes. o número de sinais nesta categoria atinge aproximadamente uma centena. A tabela ao lado apresenta alguns dos mais comuns:

As palavras que são formadas por sinais biconsonantais ou triconsonantais podem ser seguidas por outros sinais fonéticos. estes são chamados "complementos fonéticos". embora estes hieróglifos tenham um valor sonoro, pois a maioria pertence ao pseudo- alfabeto, no contexto em que aparecem, não devem ser lidos. Sua função nas palavras era de facilitar o aprendizado da escrita e da leitura, além de enfatizar ou preencher espaços se houvesse necessidade. o último tipo de sinal é chamado de determinativo. diferentemente dos demais, ele não possui nenhum valor fonético, quando aparece ao final de uma palavra. Seu uso está restrito a identificar um sentido, ou o seu real significado. os determinativos também servem para localizar o final de uma palavra, já que na língua egípcia não há espaços para a separação entre elas. Na língua egípcia também encontramos algumas particularidades no que se refere à escrita. Algumas palavras relacionadas a nomes de divindades e pessoas importantes, como o rei, são colocadas à frente das demais em sinal de respeito. Esta alteração chama-se inversão respeitosa ou Transposição Honorífica.
Encontramos, igualmente, determinadas palavras que podem sofrer abreviação por falta e espaço no local onde se encontram, seja e uma estela ou em uma parede
Uma Gramática Inicial Para a leitura de um pequeno texto são necessárias explicações sobre mais algumas regras gramaticais. embora elas representem o primeiro passo para o aprendizado da escrita hieroglífica, há muitas outras que omitiremos aqui por razões ligadas à complexidade e ao espaço
Gênero e Número H á no egípcio dois gêneros: masculino e feminino. Substantivos masculinos não possuem nenhuma desinência, já os femininos contêm um t no final das palavras. Por exemplo:

Note que no exemplo abaixo, quando a palavra está no feminino, o determinativo também muda - a figura do homem sentado foi substituída pela da mulher sentada. os números são três: singular, dual e plural. o singular não possui nenhum sinal. As terminações no dual são wy para o masculino e y para o feminino O plural é designado com w para o masculino e wt para o feminino. Os três traços também designam o plural. O plural arcaico era feito com a triplicação do símbolo.
Genitivo direto
O genitivo é formado pela união de dois substantivos, podendo ser expresso de duas maneiras, direta e indireta, isto é, com ou sem uma partícula de ligação. é comum em títulos e frases onde os substantivos estão estreitamente conectados. Podem ser traduzidos por: de, do, da, dos e das. No genitivo direto não há partícula de ligação. Exemplos:

Genitivo direto

Já o genitivo indireto possui uma partícula de ligação (adjetivo genitivo) da seguinte forma:

Na escrita egípcia os adjetivos seguem a forma do gênero e do número do substantivo que descrevem e aparecem depois do substantivo. Por exemplo:

Pronomes sufixos
Estes pronomes indicam a quem uma coisa pertence. Podem ser usados como sujeito depois de um verbo, como pronome possessivo depois de um substantivo, como pronome pessoal depois de uma preposição e como objeto depois de um infinitivo. Necessariamente eles devem ser acompanhados de um ponto na transliteração. Assim temos:

Preposições
Há muitas preposições na língua egípcia. Vejamos algumas:

sábado, 12 de dezembro de 2009

Exercícios de Revisão - Gabarito.

Gabarito
Exercícios de revisão - 3° ANO
Assunto:
A República Populista
1. A crise política desencadeada com a renúncia se deve ao fato de os militares antigetulistas não admitirem a pose do vice, Jango. A crise foi solucionada quando parlamentares e militares chegaram a um acordo, propondo a instituição de regime parlamentarista. Jango assumiria, mas com poderes diminuídos, pois o poder executivo se deslocaria para o primeiro-ministro.
Assunto: A Primeira Guerra Mundial
Mapa: Alianças.
2. As potências européias estabeleceram essas alianças para se prevenirem contra uma eventual guerra. Assim, formou-se a Tríplice Aliança (Potências Centrais). Em oposição a essa aliança, formou-se a Tríplice Entente. Essas alianças, em vez de aplicar os conflitos, só fizeram aumentar o clima de tensões, pois, pelos compromissos que elas envolviam, bastava um pequeno atrito para que todas fossem arrastadas à guerra.
Assunto: Revolução Russa
3. Ainda quando Lenin era vivo, Stalin já havia assumido o cargo de secretário-geral do Partido Comunista da URSS. Era uma posição política estratégica. Quando Lenin morreu a disputa pela liderança da URSS concentrou-se nos dois nomes mais importantes: Stalin e Trotsky. O primeiro era conhecido pela sua habilidade no jogo político e o segundo pela sua firmeza teórica. Sob o ponto de vista de Stalin, consolidar o socialismo na Rússia era prioritário. Só depois, em um prazo não determinado, se procuraria estender a revolução socialista para outros países. Trotsky acreditava que isso não era possível, pois a Rússia ficaria isolada e o governo revolucionário não se manteria. Era a tese da “Revolução Permanente”.
Trotsky morto.
Stalin iniciou ‘um ardiloso esquema para desacreditar Trotsky das bases do partido’. Em 1925 conseguiu destituir Trotsky do cargo de comissário.
Assunto: República Populista
4. Juscelino achava que era preciso que o Brasil saísse definitivamente da situação de país atrasado e pobre. Daí o incentivo ao capital estrangeiro. Com isso, grandes empresas estrangeiras instalaram-se aqui.
A política de crescimento acelerado promovida por JK, entretanto, exigia grandes públicos, provocando emissão de dinheiros e inflação, além do crescimento da dívida externa.
Assunto: Os EUA na década de 20
5. A classe média vivia uma febre de consumo, proporcionada pela grande produção e exportação, e melhoria do padrão de vida. A alta produtividade melhorou também a renda dos trabalhadores das fábricas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mitologias I

Série: Mitologia
HADES
Iniciaremos a nossa série sobre mitologia greco-romana com a imagem, que aparece, no perfil do Blog, que é Hades. Nas próximas semanas postarei mais sobre esse deus mitológico.



Hades, o tenebroso rei das regiões infernais, era uma divindade sombria, temida e odiada pelos mortais. Irmão de Zeus, recebeu como quinhão o Tártaro, a trevosa região embaixo da terra. Também lhe chamavam Ais, Aidoneus e Plouton. Acredita-se que Ais originalmente designasse a terra dos mortos, e sua etimologia é o indo-europeu - "lugar de encontro, reunião". Os Cíclopes (Kyklopes) fizeram para ele um capacete com o poder de torná-lo invisível, e assim poder vigiar melhor os mortais. Como senhor das profundezas da terra, lhe era atribuído o poder sobre as sementes e as raízes, ou seja, a riqueza agrícola. Daí vinha o nome eufemístico com que era chamado, Plouton, o “Rico”. Como a figura de um temido e inflexível rei do mundo dos mortos demonstra claramente influências asiáticas, talvez mesopotâmicas, é possível que sua forma original fosse a de um mero deus protetor dos grãos. É possível que os gregos tivessem trazido consigo o culto indo-europeu de um primitivo Rei dos Mortos, que fora também o primeiro homem, e portanto, o primeiro morto (há muitos paralelos com lendas indianas, iranianas e romanas). Vestígios deste “rei dos ancestrais mortos” aparecem na do mundo, e com sua tristeza, toda a natureza começou a minguar. Core, por já ter comido uma semente de romã no reino de Hades, não pôde mais deixar o Inferno. Como Demeter ameaçava fazer a natureza perder sua força, Zeus obteve um acordo conciliatório: Core passaria metade do ano com sua mãe na terra, e a outra metade com seu marido no Tártaro, tornando-se conhecida como Perséfone.Segundo Hesíodo, uma bigorna jogada do Céu demora dez dias para atingir o chão, e precisaria de mais dez dias para chegar ao fundo do Tartaros. Lá estavam as almas dos mortos, que vagavam como fantasmas incorpóreos, se alimentando do sangue das vítimfigura cretense de Minos, considerado como juiz dos infernos. Sob a influência das religiões pré-helênicas, acabou ofuscado por Hades.Hades aparece muito pouco na mitologia, e tem pouquíssimos mitos próprios. Destes, o mais importante é o rapto de Perséfone. Desejoso de ter uma rainha , Hades conseguiu com o auxílio de seu irmão Zeus, raptar Kore, sua sobrinha, filha do senhor do Olympos com Demeter. Esta, desesperada com o sumiço de sua filha, procurou-a por todas as partesas que seus parentes sacrificavam em seu nome.
Era no Tártaro que vivia Styx, ninfa filha do Okeanos que personificava o rio infernal do próprio nome. Era em nome de suas águas que os deuses deviam jurar, e por isso era muito temida. Se um deus cometesse perjúrio, ficava impedido de se alimentar de néctar e ambrosia. Perdia as forças lentamente e teria de se afastar dos outros deuses durante dez anos.

Tróia IV

Como é que uma guerra travada há mais de 3250 anos atrás ainda pode despertar o interesse do Ocidente? Pois é um fato que o sitio, a pilhagem e o incêndio da poderosa cidade de Tróia, situada na costa oriental do Mar Egeu, talvez tenha sido aquela que, até os dias de hoje, mais atenção despertou de poetas, historiadores, arqueólogos, pensadores e, no nosso século, de cineastas.
Os gregos antigos consideravam-na o mito fundador da unidade cultual deles, porém muitos outros, ao longo dos séculos que se seguiram ao fim do Mundo Clássico, acreditaram que a Guerra de Tróia não passara de um fantasia épica imaginada por um poeta de gênio: Homero (que teria nascido na Grécia Jônica no século VIII a.C.). Seja como for, a história da saga da tomada de Tróia, seus heróis e heroínas, profetizas e deuses, nunca deixou de fascinar aqueles que dela se aproximaram com atenção e curiosidade.
As razões materiais da Guerra de Tróia
Estrategicamente bem localizada, não muito distante do Estreito do Helesponto (hoje Dardanelos), Tróia ou Ílion, como também era conhecida, era um importante centro comercial na Idade Média do Bronze da Era Minóica. Provavelmente sua população original era formada por hititas, visto que naquele tempo eram eles quem ocupavam a atual região da Anatólia turca. Se o continente pertencia ao Império Hitita, povo famoso por ter forjado o ferro, o Mar Egeu à frente dela pertencia à Talassocracia (Talasso = mar, cracia = governo) dos Minóicos, uma antiga e bela civilização que antecedeu a dos gregos.
As escavações arqueológicas mais recentes (as primeiras começaram em 1871), feitas no sítio de Hissarlik, onde se presume que a lendária Tróia tenha sido erguida, datam a fundação dela ao redor do ano de 2.250 a.C. A confirmar-se isso, é de supor-se que ela tenha sido submetida a sitio e destruída pelos heróis gregos mais ou menos mil anos depois disso: entre 1260 a 1250 a.C.
As razões materiais da guerra até hoje são controversas. Sendo uma cidade rica, os tesouros dela (os fabulosos “tesouros de Príamo”, rei da cidade) devem ter atraído a cobiça dos gregos. Possivelmente importaram outros motivos também. Por ser passagem obrigatória dos navios carregados de trigo que vinham do Mar Negro em direção à Grécia, Tróia cobrava tributos por cada barco que singrasse pela sua costa.
Isto, por igual, deve ter irritado os reis gregos que, dados à pratica da pirataria, viram no incidente do rapto de Helena, a rainha de Esparta, motivo suficiente para submeter a famosa cidade à pilhagem. Para o filósofo Hegel, a Guerra de Tróia teve para o gregos antigos o mesmo significado que as Cruzadas para a Cristandade Medieval.
Origem lendária da Guerra de Tróia
Tudo teria começado, a guerra que se estendeu por dez anos, na festa de casamento do rei Peleu, um humano, com Tétis, uma das tantas deusas do mar. Tendo o centauro Quirón oferecido o banquete de núpcias, todos os deuses do Olimpo foram convidados. A exceção, aliás, justificada, foi não terem avisado a Eris, a deusa da Discórdia, excluída do rol dos presentes a festa. Em vista disso, para vingar-se, insinuando-se entre os convivas, ela jogou entre eles uma bela maça de ouro. Nela havia uma inscrição: “à mais bela”. De imediato três deusas lá presentes, Hera, Palas Atenas e Afrodite, quiseram ficar para si com o fruto dourado.
O todo-poderoso Zeus, não querendo envolver-se na celeuma, recomendou às três concorrentes que fossem até o Monte Ida, nas proximidades de Tróia, e pedissem ao jovem Paris, o pastor local (porém filho do rei Príamo), que servisse como árbitro da contenda. Num repente as três deusas apareceram em frente a ele. Que ele logo se decidisse. Cada uma delas prometeu-lhe algo: Hera acenou-lhe com conquistas militares, Atenas com a sabedoria, enquanto Afrodite, a deusa do Amor, prometeu colocar-lhe nos braços a mulher mais bela do mundo: Helena rainha de Esparta. E foi assim que o destino futuro de Tróia foi traçado, visto que a sentença de Páris foi a favor de Afrodite.
Tempos depois, encontrando um pretexto para viajar para Esparta, Paris visitou Helena, e, aproveitando-se da ausência momentânea do marido dela, o rei Menelau, fugiu com ela para Tróia. Para vingar a ofensa que estendeu-se sobre todos os príncipes gregos - comprometidos com um juramento que haviam feito ao rei Tindaro, pai de Helena, na época em que todos eram pretendentes a casarem-se com ela - , eles, estimulados pelas deusas Hera e Palas Atenas, decidiram armar-se e navegar para os lados da grande cidade do litoral do Egeu oriental para resgatarem-na do leito de Pais, o protegido de Afrodite, e repararem a honra ofendida de Menelau.
A expedição contra Tróia
Atendendo a convocação de Agamenon Atreu, rei de Micenas e irmão de Menelau, 69 reis e príncipes gregos, com barcos e homens, reuniram-se no porto de Àulis na Beócia. Dali esperavam que Bóreas soprassem os ventos favoráveis que os levassem para a guerra. Os guerreiros vieram de todas as partes da Hélade: Peneleu trouxe os beócios, os fócios eram chefiados por Esquédio e Epistrofo, e os lócrios seguiam o valoroso Ajax Oileu. Os abantes eram conduzidos por Elefenor, e Melesteu liderava os atenieses, enquanto Diomedes, guerreiro indomável, arrastava consigo os de Argos.
Os da Lacedemônia, região em situava-se Esparta, eram guiados por Menelau, ao tempo em que Anfimaco e Talpio faziam o mesmo com os epeus. Se Agapeor comandava os arcádios, o astucioso Ulisses, rei de Ítaca, ia à frente dos cefalônicos e Toas na dos etólios. Os das ilhas de Creta e de Rodes obedeciam a Idomeneu e a Tleoponemo, enquanto os mirmidões remavam com Aquiles, o mais bravo dos bravos. Os pardácios navegavam com Protesilau (o primeiro dos gregos a morrer na guerra), e logo em seguida a eles estavam os guerreiros de Ferai e de Metone.
Até o infeliz Filoctetes, arqueiro exemplar, que tentava recuperar-se de um ferimento na ilha de Lenos, fora convocado. Os de Trica, de Argissa, Cifo, aumentavam a expedição, até encerrar-se a relação dos chefes e dos povos com Proto, o comandante dos magnetos. No total perfaziam 1.186 embarcações, carregando no seu bojo 50 mil dos mais valentes dos aqueus (como os gregos se chamavam então).
Todavia, uma ventania atroz impedia a partida deles. O adivinho Calcas, convocado na ocasião, interpretou aquilo como uma artimanha da deusa Artemisa para prejudicar os gregos. A única solução, para aplacar-lhe, seria a oferta de um sacrifício humano. Agamenon, o chefe supremo, então tomou a terrível decisão de imolar a sua filha Ifigênia para que amainasse a tempestade e a expedição pudesse prosseguir. O que foi feito.
O sitio a Tróia e as batalhas dos heróis
Durante os dez anos seguintes os gregos, acampados na planície em frente a Tróia, tentaram tomar de assalto a grande cidade. A resistência do rei Príamo e dos seus filhos, especialmente de Heitor, fizeram os sitiantes amargar desastres. Além disso, receberam apoio de uma série de povos vizinhos que os ajudaram a enfrentar os aqueus, tais como os dardânios, os pelasgos, os trácios, os cícones, os mísios, os frigios, os meônios, os carios e os lícios, num total de 15 integrantes da Liga Assawa (que congregava os troianos e seus aliados), oposta à Liga dos Aqueus.
A aventura do resgate de Helena se transformou assim numa guerra de largas proporções, envolvendo a maior parte das tribos e nações que povoavam a Grécia, os arquipélagos do Egeu oriental e as regiões costeiras da Ásia Menor. Os deuses do Olimpo se dividiram. Uma espécie de guerra civil também eclodiu entre eles. Uns apoiando os gregos outros os troianos, sendo que Zeus, o supremo, procurou manter-se como árbitro para evitar os excessos.
Deste modo, a andromaquia (uma luta entre os homens), misturou-se a uma teomaquia (uma disputa entre os deuses). Entre episódios mil, grande duelos foram travados entre Diomedes e Enéias, entre Pátroclo e Heitor e entre este e Aquiles, o herói máximo dos gregos. Em inúmeras ocasiões, os próprios deuses disfarçados, lançando-se em meio ao choque das espadas, participavam ao lado de um ou do outro campo, protegendo os seus favoritos, sendo que, por isso, o destemido Diomedes chegou até a ferir o próprio Ares, o deus da guerra.
O assalto e a pilhagem de Tróia
Cansados daquele cerco sem fim, que se estendia por quase dez anos, escutando o conselho de Ulisses (orientado por Atena), o mais ardiloso dos combatentes, os gregos simularam uma retirada deixando em frente ao portão central de Tróia um enorme cavalo de madeira. Aparentemente seria uma homenagem deles à inquebrantável resistência dos troianos. Pelo menos assim eles o entenderam. Imprevidentes, não dando ouvidos ao que alertara Cassandra, a profetiza, arrastaram o cavalo para dentro da cidade. Foi o fim de Tróia.
À noite, aproveitando-se de que a população dormia estonteada pelos vapores do vinho sorvido na festa da vitória, Ulisses e um grupo seleto de guerreiros desceu de dentro da barriga do cavalo e, abrindo as portas, permitiu que o restante dos gregos entrasse de surpresa na cidade. Deu-se um massacre. Tróia viu-se pilhada e depois incendiada. Toda a família real sucumbiu. Helena, encontrada em meio as ruínas, foi devolvida a Menelau.
Dividido o botim, os chefes gregos trataram de encher os porões dos barcos com o espólio e inflaram as velas de volta para casa. Mas nem todos conseguiram. Ulisses, o responsável pelo estratagema que levou Tróia à perdição, foi punido de maneira exemplar. Os deuses condenaram-no a deambular pelos mares, envolvido em aventuras incríveis, a enfrentar tempestades e naufrágios, a resistir ao canto das perigosas sereias, a escapar de feiticeiras, a lutar contra o ciclope, façanhas nas quais perdeu as naus, os frutos do saque e todos aqueles seus companheiros que o haviam acompanhado na aventura.
Homero, o poeta cego
A história da Guerra de Tróia alcançou a imortalidade devido a um poeta. Os gregos antigos, ao contrário de muitos especialistas que surgiram depois (como o italiano G.Vico e o filósofo alemão C. Wolf), acreditavam que a soberba narrativa da conquista de Ílion e o que se seguiu, resultou dos versos de um rapsodo cego chamado Homero. Vivendo provavelmente no século VIII a.C., ele costumava peregrinar pelas cortes e pelas ágoras, os mercados públicos das polis daquela época, a repetir em estrofes candentes, entusiastas, cosendo os cantos uns nos outros, os memoráveis feitos dos aqueus (também designados como argivos e danaos), antepassados dos gregos.
Segundo o costume, apresentava-se em pé, apoiado num bastão, narrando de memória em voz alta para que todos ouvissem, preservando assim a memória dos combates dos másculos heróis do passado. Teria sido ele o principal responsável por dar uma unidade cultural a todos o povo do continente da Ática, da península do Peloponeso e das ilhas do Mar Egeu de fala grega. Para Hesíodo, foi Homero quem constituiu a “teologia nacional da Grécia”. É consenso hoje que “nenhum poeta, nenhuma personalidade literária ocupou na vida do seu povo um lugar semelhante” (M.I.Finley, 1972).
Epopéia essa que ele narrou em duas obras distintas: a Ilíada (dedicada ao último ano da guerra) e a Odisséia (a narrativa das peripécias de Ulisses, ocorridas depois da guerra). Neles se encontram não só a relação estreita dos homens com os inúmeros deuses, como também a exposição da cosmogonia grega, o que solidificou a posição dos dois poemas como expressão dos ideais de formação dos nobres gregos (Paidéia). Coube, ao que se sabe, ao tirano ateniense Pisístrato, a partir de 561 a.C., mandar compor por um tal de Zenôdoto, tanto a Ilíada como a Odisséia, na forma tal como hoje se as conhece. No total, os dois grandes poemas subdivididos em 24 cantos cada um, perfazem 27.803 versos, sendo até hoje a mais extensa narrativa épica versificada que a literatura ocidental conheceu.
Outras obras
Personagens da Guerra de Tróia, heróis ou sofredores, ainda serviram de inspiração para muitos autores teatrais nos séculos posteriores a Homero. Os grandes trágicos fizeram inúmeras peças tendo como centro a vida daqueles que participaram da expedição ou foram suas vítimas. Ésquilo, na trilogia “Orestíade” (de 458 a.C.), dedicou a primeira parte dela ao retorno do rei Agamenon à Micenas e a morte que sofreu pelas mãos de Clitemnestra, a sua esposa adultera. Sófocles concentrou-se em dois dos guerreiros que lutaram contra Tróia, “Ajax” (de 445 a.C.), que enlouquecido suicidou-se, e “Filoctetes” (de 409 a.C.), o exímio arqueiro ferido de morte e abandonado por todos.
Eurípides, por sua vez, compôs a peça “Hécuba” (de 424 a.C.) para narrar o sofrimento da rainha de Tróia, a esposa de Príamo que viu os filhos morrerem ou serem vendidos como escravos. Ainda dedicou outra a “Helena”(412 a.C.), duas ao brutal destino de Ifigênia, a filha sacrificada de Agamenon (“Ifigênia em Aulis” e em “Tauris”, 414 e 410 a.C.), e uma outra ainda dedicada aos sofrimentos das mulheres de Tróia (“As troianas”, de 413 a.C.)
Na Idade Média, Renascença e século XX
Coube ao trovador francês Benoit de Saint-Maur, inspirado numa antiga Crônica Troiana escrita por dois autores gregos Dares e Dictis, compor , por volta de 1160, um longo poema intitulado Le roman de Troie (O romance de Tróia), com quase 30 mil versos em pares, dando uma conotação feudal à história do cerco e da conquista da cidade de Príamo. Poema que terá enorme difusão nas cortes daquela época.
Seguindo na trilha de explorar temas da decorrentes da Guerra de Tróia, o escritor italiano G. Boccacio escreveu Il Filostrato, em 1335, e G. Chaucer, o patriarca das letras inglesas, compôs um belíssimo poema de 8 mil versos intitulado Troilus and Criseyde, entre 1372-1386, fonte direta em que W.Shakespeare, já na Renascença inglesa, iria beber para compor a sua peça The History of Troylus and Cresseid”, de 1603. Um drama leve, no qual a situação difícil de Tróia serve apenas de pano de fundo para uma historia de amor não correspondido entre Troilo, um dos filhos do rei Príamo, e a bela Criseida.
No século XX, será o escritor irlandês James Joyce quem, inspirando-se na Odisséia de Homero, irá escrever “Ulisses”, de 1922, romance paradigmático da literatura modernista contemporânea. A épica de Homero ainda ajudou a Derek Walcott, um escritor do caribe britânico, a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura em 1992 com seu poema Omeros, de 1990.
As ruínas polêmicas de Tróia
Desde que as primeiras escavações foram feitas no monte Hissarlik, há bem mais de um século atrás, ocasião em que, entre 1871 e 1890, Henrich Schliemann, o primeiro e maior arqueólogo da Alemanha, revelou ao mundo os seus estupendos achados arqueológicos, as ruínas da antiga cidade de Tróia e seus tesouros (das nove Tróias sobrepostas encontradas, a VII teria sido a destruída por uma guerra) não cessaram de provocar intensas discussões e batalhas verbais entre os arqueólogos e demais especialistas e estudiosos.
Originalmente a Escola Helenística Ortodoxa, de estudiosos ingleses e germânicos, desconsiderava a possibilidade de Tróia ter algum dia existido. Atribuíam tudo à fantasia de um grande poeta. A Escola dita Romântica, todavia, sempre manifestou-se pela existência da cidade de Príamo, dando credibilidade total à narrativa de Homero.
A mais recente delas, dessas refregas de arqueólogos, apelidada pela imprensa alemã de a Nova Guerra de Tróia, ocorrida no primeiro semestre de 2002, envolveu dois acadêmicos respeitados: o dr. Manfred Korfmann, que há anos faz pesquisas em Hissarlik, e seu colega Frank Kolb, um professor de História Antiga, ambos docentes da Universidade de Tubinga.
Korfmann anunciara que “Tróia foi muito importante naquela época. Não só existia a cidade-fortaleza (acrópole) como também haviam os bairros baixos da cidade, que abarcavam uns 270 mil m². Portanto, Tróia era várias vezes maior do que a fortaleza conhecida até agora de 11 mil m².” Devido a sua situação geográfica, ela “ocupava uma posição chave como mediadora entre Ocidente e Oriente”. Tese que originalmente fora sustentada pelo filósofo Hegel, morto em 1831, que nunca pôs os pés naquela região.
Kolb acusou-o de tirar conclusões precipitadas, quando não irreais, das escavações e achados feitos recentemente. Para ele, a Tróia que a arqueologia revelara era um estabelecimento de “terceira classe”, estando bem longe de merecer os adjetivos grandiosos usados por Korfmann, tal como haver descoberto uma “Nova Grande Tróia”. Todavia, dando seguimento as escavações, a tese de Korfmann viu-se reforçada pelos novos achados que parecem assegurar que o perímetro de Tróia era bem mais amplo do que se imaginou originalmente.
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Sissa, Giulia e Detienne, Marcel - Os deuses gregos, São Paulo, Cia das Letras, 1990.
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Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/2004/05/14/004.htm

Tróia III


Um pouco de humor.
O que causou a guerra de troia?
Várias visões diferentes e factíveis sobre um mesmo assunto, evidenciam a incapacidade de uma única visão (dentre as 6) explicar totalmente o assunto.
Reproduzo aqui o que aprendi na palestra de Reinaldo Gonçalves da UFRJ que ocorreu outro dia lá na faculdade (FCE-UFBA). A tese do professor era que não se pode fazer uma analise internacional tendo os interesses nacionais como um bloco hegemônico, mas também se deve analisar as brigas dentro do estado pela hegemonia. Todos conhecem a historia da guerra de tróia, ter o visto o filme (na qual Brad Pitt deveria ganhar o premio de pior ator) ajuda bastante a compreender a questão, mas vamos a ela:
O que causou a Guerra de Tróia?
Segundo um cientistas político, Agamemon tinha um projeto de poder, ele queria unificar a Grécia e aproveitou a oportunidade.
Segundo um geógrafo, a guerra ocorreu por causa do território onde se localizava Tróia que era próximo ao trajeto das caravanas de comercio entre a Europa e a Ásia.
Segundo um sociólogo, a sociedade grega era divida em estamentos, o estamento dominante ligados aos militares precisavam se mostrar atuantes para manter seu status, isto é, a sociedade grega para se manter como estava necessitava estar permanentemente em guerra.
Segundo um economista, a influência do setor econômico foi essencial, o setor estaleiro (dos barcos) que era grande então viu uma oportunidade de expansão e pressionou o estado neste sentido.
Segundo um advogado, ocorreu uma violação do direito internacional, a partir do roubo de um bem público grego, o seqüestro de Helena.
Segundo um psicólogo, temos que considerar a motivação pessoal de cada pessoa separadamente; por exemplo quando consideramos a luxuria de Paris em conquistar Helena, que topa a aventura de bom grado e a honra do seu irmão Heitor para com Paris, chegamos a uma escolha completamente injustificada coletivamente, mas plenamente justificada individualmente. Do lado grego temos uma outra serie de egos pessoais que combinados resultam na declaração de guerra.
Depois dessa exposição, na qual cada profissional destaca uma parte da trama, não há mais como ver o todo, como uniforme. Várias visões diferentes e factíveis sobre um mesmo assunto, evidenciam a incapacidade de uma única visão (dentre as 6) explicar totalmente o assunto. “como conceber o todo sem as partes, ou mesmo as partes sem o todo?” Considerando isto, como não lembrar de Asquintas
Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/10/334240.shtml

Tróia II

Gregos x Troianos, uma luta de homens e deuses
O que é verdade e o que é mito na lendária guerra de Tróia? Descobertas arqueológicas mostram o encontro da realidade com a ficção
por Carla Aranha
O mito da guerra de Tróia resiste à prova do tempo. Passam os séculos e a aventura narrada na Ilíada de Homero, um dos maiores clássicos de todos os tempos, continua a fascinar gerações, sendo considerada por muitos o ponto de partida da história da Grécia. Afinal, em meio aos escombros das muralhas troianas – localizadas numa esquina da Europa com a Ásia, na atual Turquia – estavam as sementes da civilização grega e de seus ideais de democracia e valorização do indivíduo. O conflito virou um marco na trajetória desse povo.
Mas o que o poeta grego, que teria vivido no século 8 a.C., conta na épica obra? Em primeiro lugar – é bom lembrar –, ele não presenciou o conflito. E compôs a Ilíada mais de 400 anos depois dos combates, com base em relatos orais. O resultado é um enredo de guerra, amor e morte em que até os deuses descem do Olimpo para os campos de batalha. No meio da escaramuça divina, Tróia foi varrida do planeta, por volta do ano 1200 a.C. Os gregos, liderados pela maior cidade da região, Micenas, cantaram vitória. Daí o fato de esses gregos anteriores à própria Grécia serem chamados de “micênicos”.
Segundo Homero, tudo começou com o rapto da bela Helena, esposa do rei Menelau, de Esparta. Páris, filho do soberano de Tróia, apaixonou-se por ela durante uma visita à Grécia e a levou na bagagem quando voltou para sua terra natal. Tomados pela ira, Menelau e seu irmão, Agamêmnon, rei de Micenas, arrastaram todos os conterrâneos para a briga e partiram para cima dos troianos.
Assim começou a luta. O cerco durou dez longos anos. E os gregos só conseguiram penetrar na cidade, que detinha uma posição estratégica para a navegação, na travessia entre o Mediterrâneo e o mar Negro, graças à astúcia. No relato de Homero, os micênicos construíram um gigantesco cavalo de madeira e o deixaram às portas da cidade rival. Os troianos aceitaram o presente como uma proposta de paz. Mas eles nem imaginavam que dentro da falsa oferenda estavam os melhores guerreiros inimigos, que abririam os portões de Tróia, decretando seu fim.
No final da história de Homero, a Grécia só tinha a comemorar: Tróia ficou em ruínas e Helena foi levada de volta para casa. Além disso, toda a família real troiana acabou morta, incluindo Páris, que – assim como Helena –, estava entre os seres mais belos do mundo. Era o início da civilização grega, que, mais tarde, influenciaria todo o Ocidente.
Mitos e verdades
A obra de Homero eternizou a guerra de Tróia. É óbvio, no entanto, que os versos da Ilíada não constituem um relato fiel do que aconteceu na cidade, localizada nas redondezas da atual Istambul, na Turquia. Até hoje, por exemplo, não foram encontradas evidências da existência da linda Helena ou do sedutor Páris. Por outro lado, descobertas arqueológicas indicam que, por trás da lenda, existem verdades. “Homero mistura na sua obra, como era típico da cultura grega da época, relatos históricos com narrativas míticas. Mas a história que ele conta é verossímil, apesar de ser muito difícil separar o joio do trigo”, avalia o historiador Francisco Marshall, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Já no final do século 19, pesquisas conduzidas na Turquia levaram à descoberta de Tróia. A existência da cidade estava, então, comprovada. E, recentemente, novas escavações permitiram mais revelações. “Esqueletos humanos, inscrições de cerâmica e as próprias muralhas da cidade comprovam que Tróia foi atacada diversas vezes em um curto período de tempo, vindo a sucumbir completamente”, conta o arqueólogo Manfred Korfmann, líder de uma equipe de 350 especialistas que vêm esmiuçando a região desde 1993. Segundo o arqueólogo, a descoberta de antigos muros que cercavam a cidade, além de cerâmicas que reproduzem o formato das muralhas, também indica que Tróia foi um local muito importante e um possível alvo de potências emergentes. A grandeza é reforçada em escritos do Império Hitita, importante civilização que habitou a Anatólia. De acordo com os registros, troianos e hititas tinham uma estreita relação.
Professor da Universidade de Tübingen, na Alemanha, Korfmann também sai em defesa de Homero. Segundo ele, o poeta grego descreveu corretamente a geografia local. “Não existe nenhum registro arqueológico que contradiga a percepção de que Tróia e a região ao redor da cidade formaram o cenário histórico da Ilíada”, diz o arqueólogo. “Hoje tudo sugere que o poeta deve ser levado a sério. Seu relato do conflito militar entre gregos e troianos é baseado na memória histórica dos eventos”, acredita.
Fonte:http://historia.abril.com.br/guerra/gregos-x-troianos-luta-homens-deuses-434046.shtml
Para aprofundar o tema:

Tróia I


Mitologia e História.
A princípio, duas realidades que poderiam ser excludentes uma à outra, dadas suas características tão diversas, já que uma tem base em uma tradição religiosa e fantástica e a outra, um alicerce calcado em métodos e elementos pretensamente científicos.No entanto, falar da Antigüidade histórica é tratar da reconstrução de um período com base em indícios, que podem ter origem em elementos arqueológicos, em ponderações científicas sobre a evolução do ser humano e do meio ambiente e até nas tradições orais, passadas de geração a geração, e que, em algum momento, foram perpetradas em registros escritos.Com a chegada aos cinemas da superprodução Tróia, do diretor Wolfgang Petersen, surge sempre a curiosidade de se saber o que é real e o que é imaginário em uma história como a da Guerra de Tróia. Há realidade no que contou Homero, o grande autor grego que teria vivido por volta do século VIII a.C. e a quem é creditada a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisséia, principais obras que relatam o drama troiano? Ou trata-se simplesmente de um relato criativo de tradições orais que remontam séculos?Homero existiu?A própria existência de Homero é posta em dúvida em alguns momentos. Além disso, caso o autor grego tenha escrito mesmo os dois poemas, relatando a tal Guerra de Tróia, o teria feito cerca de quatrocentos anos depois de o fato ter realmente ocorrido, segundo a tradição, em uma época em que a escrita com base no alfabeto ainda não era dominada pela civilização que habitava o Mediterrâneo de então. Infere-se, portanto, que toda a história teria sido passada oralmente, de geração a geração, com todas as influências que esse tipo de transmissão do conhecimento tende a sofrer.Tendo um fundo de realidade ou não, a verdade é que a obra de Homero, inserida no chamado Ciclo Troiano da tradição antiga, exerceu grande influência sobre a formação do que hoje conhecemos como a Cultura Ocidental, cujo berço está justamente na civilização grega antiga. Sobre os textos de Homero foi construída toda uma tradição que viria a se tornar a base da formação da tradição grega. Platão, um dos maiores filósofos dessa tradição, que teria vivido mais de trezentos anos depois de Homero, reconhecia a relevância do autor."A importância de Homero na literatura grega é enorme. Ele é considerado o primeiro poeta, o primeiro aedo (poeta, em grego). Platão, séculos depois de Homero, ainda dizia que Homero educou a Grécia. Quer dizer, a influência da tradição oral Homérica foi muito forte em toda a cultura grega. Sem dúvida. Você vai estudar a épica grega, você começa por Homero. Você vai estudar a tragédia grega, você começa relacionando com Homero. Você vai estudar medicina grega, você começa pensando naqueles detalhes de onde iam as flechas na guerra, segundo Homero. Se você for estudar retórica, você vai pegar os discursos de Homero", analisa a professora de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), Filomena Hirata.Porém o purismo histórico, calcado sempre em métodos os mais científicos possíveis, impede que aquilo que foi escrito por Homero seja aceito com uma real descrição de fatos que teriam ocorrido em Tróia.Ciência com base em HomeroNo entanto, alguns indícios, principalmente arqueológicos, abriram portas para que as histórias contadas na Ilíada e na Odisséia possam ser compreendidas como possuidoras de um fundo de verdade."Os poemas de Homero, a Ilíada e a Odisséia são narrativas tradicionais que reportam a memória desse povo. Esses poemas têm a função social de reunir o saber, os padrões de comportamento, as informações que interessam à vida em todos os sentidos. Heinrich Schliemann, no século XIX, estava convencido de que estas histórias tinham um fundo verdadeiro no sentido histórico. E ele foi escavar em Troada, que é o lugar em que supostamente se passaram os combates, que coincide com a atual Turquia. Seguindo a reconstituição que Homero fez da descrição de batalhas, do palácio de Príamo (rei de Tróia durante a guerra, segundo a Ilíada), descobriu várias cidades soterradas. Uma delas ele identificou como sendo a Tróia de Príamo. Depois disso, ele fez escavações em Micenas (na Grécia) e recuperou o palácio de Micenas. Descobriu tumba e tesouro que ele atribuiu a Agamenon (rei de Micenas, chamado também de rei dos reis, líder dos aqueus - como eram chamados os gregos na Ilíada - na Guerra de Tróia, segundo Homero). Então, ele estava convencido de que havia descoberto a tumba de Agamenon, seus tesouros, a cidadela de Príamo. Os arqueólogos posteriores não tinham tanta certeza quanto à identificação dos pormenores. Mas, com isso se demonstrou que havia um fundo de verdade nessas lendas contadas pelos poemas", lembra o professor Jaa Torrano, de Literatura Grega da FFLCH-USP.Assim, Torrano avalia que a história se mistura à tradição relatada por Homero. "Tem um fundo histórico na guerra de Tróia. Teria havido uma cidade que foi saqueada. Teria havido uma coligação dos gregos continentais contra outro povo que vivia na Turquia. Tem um fundo de verdade, como se fosse um romance histórico. Os episódios são, provavelmente, criação do narrador, mas tem um pano de fundo verdadeiro."Vale lembrar que em suas escavações na atual Turquia, Schliemann encontrou dez cidades construídas umas sobre as outras, considerando que a sétima cidade mais antiga seria a Tróia de Príamo.A conclusão de Schiliemann de que teria comprovado a existência de Tróia por suas escavações é questionada, por exemplo, pelo historiador José Otávio Nogueira Guimarães, professor do Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da UnB (Universidade de Brasília)."Schliemann vai dizer em um primeiro momento: `Está provado, Tróia existiu. Esses tesouros que foram encontrados aqui pertenciam à aristocracia troaiana, o que foi encontrado em Micenas pertencia aos heróis aqueus que vão lutar contra Tróia´... Mas, em seguida, essas descobertas de Schliemann também vão ser postas em questão... Porque a cidade onde teria sido encontrado o que se chama de tesouro troiano, objetos de ouro, a cidade mais rica, pelas datações arqueológicas remonta a 2.500 e 2.200 a.C., quer dizer, um período bem anterior àquele ao qual, segundo a tradição, teria se passado a guerra, no final do século XII a.C.... A cidade que pela data da tradição corresponderia à Tróia arqueológica seria a Tróia 7ª-A. Essa Tróia 7ª-A parecia ser uma cidade relativamente pobre e que, segundo os indícios arqueológicos, teria sido destruída por um terremoto e não por uma empreitada militar", explica Guimarães.E Guimarães completa: "Depois os historiadores vão tentar buscar outros tipos de fonte para tentar esclarecer o contexto da guerra. Há os arquivos ititas, que fazem referência a Kaia. Porque o Império Itita se localizava mais ou menos onde hoje é a Turquia. E Tróia é uma cidade do litoral norte da costa da Ásia Menor, o litoral turco, hoje, e que praticamente estaria sob o domínio Itita. Foram buscadas referências entre estes textos ititas e o mundo micênico, mas pouca coisa foi encontrada, quase nada, a não ser uma referência aos aquigauas, que seriam possivelmente os aqueus (gregos), mas nada que viesse a comprovar a história".Na mesma linha, vai a avaliação da professora Filomena Hirata. "A História acho que é uma coisa diferente. Dizer que a Guerra de Tróia, tal qual ela é relatada na Ilíada de Homero, foi o que aconteceu historicamente não é uma verdade. Não teria sido possível ter havido uma guerra nos moldes que Homero conta, um cerco a uma cidade que durou dez anos. Isso era impraticável" , diz. "O que havia eram muitas guerras, mas eram guerras rápidas, guerras para conseguir bens. Os gregos saíam atrás de metais preciosos, escravos. Mas eram guerras rápidas. Pode até ter havido em um dado momento uma guerra por causa de uma mulher, mas não nos moldes que conta Homero", acrescenta."Ainda que haja um sítio arqueológico escavado já há muito tempo - através dos trabalhos do alemão Schliemann, localizado em Tróia, que corresponderia hoje a uma região da Turquia -, ainda que haja uma possível identificação entre uma das cidades estudadas por Schliemann com aquilo que poderia ser a antiga Tróia, tudo isso é muito difícil de ser rigorosamente provado", avalia Filomena Hirata.Diferenças culturaisÉ importante ter em mente que o que hoje compreendemos como sendo mitologia - um grupo de crenças que formam a base religiosa da Grécia Antiga - era compreendido e analisado de outra forma àquela época. "Para os gregos, não havia essa distinção (entre História e Mitologia). Eles imaginavam que todos esses eventos tinham acontecido, consideravam esses heróis seus antepassados distantes. Então eles acreditavam na historicidade deles", diz André Malta Campos, professor de Grego Antigo da FFLHC-USP."Claro que hoje a gente vê de uma outra forma. E ficam tentando, os historiadores, os arqueólogos, querem ver em Homero o que pode ser um retrato do que de fato aconteceu. Não há como a gente saber com certeza. Há como sabermos que houve guerras em Tróia, várias destruições de Tróia, e a tendência é localizar a destruição dessa Tróia retratada por Homero no século XII a.C., entre as várias camadas arqueológicas que existem de Tróia, e tentar buscar em Homero elementos que retratem algum período da Grécia Antiga. Mas, na verdade, Homero é um miscelânea de elementos", afirma Campos.O que é certo é notar que, segundo as observações históricas, a prática do saque pelo uso da força, a partir da guerras como instrumento de conquista, era corriqueira em meios às civilizações antigas. Segundo o professor José Guimarães, hoje, acredita-se que se há algum núcleo histórico nos relatos de Homero isso está ligado a uma guerra de pilhagem que teria virado esse acontecimento grandioso pela imaginação poética."Guerras de pilhagem eram extremamente comuns nesse mundo. A guerra era um fato econômico. Você organiza excursões além mar para fazer escravos, saquear tesouros. Então a guerra de pilhagem era um exemplo corriqueiro nesse mundo Mediterrâneo no final do milênio antes de Cristo", diz o professor da UnB.Por outro lado, o professor Jacyntho Lins Brandão, de Língua e Literatura da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), lembra a criação de instrumentos de observação que viriam a ser aplicados por historiadores para depurar indicações históricas a partir de relatos da tradição oral ou mesmo da Literatura e da arte.Brandão lembra as observações historiador grego Evêmero, do século IV a.C. Segundo o historiador - de cujo nome derivou o termo evemerismo (doutrina segundo a qual as personagens ou heróis mitológicos são seriam humanos divinizados após a morte, como definido no dicionário Aurélio) -, ao separar dos mitos aquilo que é fantasioso, chegaríamos a um fundo de verdade, a uma origem histórica.Jacyntho Brandão, explica que "se eu trabalhar uma tradição mitológica qualquer, e não só a grega, eu chego a um fundo de verdade que ela tem, desde que eu consiga identificar quais são os elemento de fabulação poética que estão sendo colocados em cima de um texto histórico. Vou dar um exemplo do Brasil para entender o que é isso. Nós temos aqui, na História do Brasil, Getúlio Vargas. Não temos dúvida nenhuma de que isso é História. Se a gente pegar um cordel do Nordeste, nós vamos encontrar algo assim: a chegada de Getúlio Vargas ao inferno. Quer dizer, se a gente não tivesse documento histórico sobre Getúlio Vargas, esse cordel - vamos pensar daqui a mil anos - é uma referência de que Getúlio Vargas existiu. Aí podemos pegar esse cordel, tirar o que é maravilhoso e então você encontra o resto de história ali"."O extraordinário em relação a Homero é que os gregos já ficavam discutindo: será que isso é verdade? Homero não estava na Guerra de Tróia, como é que ele podia saber o que aconteceu lá? Havia várias leituras de Homero, desde ele ser lido como um historiador durante a Antigüidade toda, até as críticas que pensavam que tudo ali era alegórico, então precisava ter uma hermenêutica para entender o sentido dos poemas, até pensar que tudo aquilo era mentira", afirma Brandão." No século XIX, quando (Heinrich) Schliemann resolve descobrir onde ficava Tróia, e usa os poemas de Homero para poder ver qual era a localização, ele vai lá para o lugar onde hoje é a Turquia, a partir das indicações de Homero, e descobre Tróia. Este é o dado, em princípio inacreditável, se não tivesse sido descoberto, que provocou uma série de reflexões sobre a poesia de Homero, de pensar que ali não há só poesia, de que mesmo esse material, recebendo uma tratamento poético, está guardando uma memória sim, uma memória histórica de tradição oral", analisa o professor da UFMG.A Mitologia presenteSupondo-se então que os poemas de Homero possuem um fundo de verdade - que seja um relato de uma tradição histórica passada de eventos e personagens, mais alegoricamente ou menos -, é interessante notar a presença dos mitos religiosos na ação. Os deuses do Olimpo e outras figuras fantásticas, descritos tão detalhadamente na tradição mitológica grega, estão presentes nas histórias da Ilíada e da Odisséia.Essas figuras mitológicas são atores nas obras de Homero. Interferem na trama e são afetados pelos efeitos produzidos durante a Guerra de Tróia. Até mesmo o principal herói da Ilíada, Aquiles, é um semideus, isto é, filho de uma deusa (Tétis) com um humano (Peleu)."Quando a gente está falando de mito, e daí vem a palavra grega mythos, o primeiro sentido do termo em grego é de discurso, narrativa. Inclusive o verbo que vem daí é o verbo normal antigo, em Homero, que significa falar, narrar. Então, numa primeira aproximação, mito é uma narrativa qualquer. A segunda coisa é que tipo de acesso a gente tem a isso, que chamamos de mitologia grega. Nós temos acesso só a partir do que foi escrito, e esse campo do mito, nesse contexto que é oral, que significa falar, dizer, contar, é uma coisa que simplesmente a gente não conhece: não havia gravador na época. Agora, quando a gente recebe essa mitologia escrita, recebe uma variedade muito grande de versões, então, dá uma impressão falsa quando se fala da mitologia grega, como se isso fosse um conjunto de textos oficiais que tem uma versão determinada. Seria mais interessante a gente pensar que nós temos não uma mitologia, propriamente, mas sim, temos mitografias. Nós temos vários registros escritos desse negócio indefinido que a gente não consegue saber dar o contorno direito, que seriam os mitos", avalia Brandão.EssênciaRetrato de parte de uma História antiga, colagem de mitos ou apenas uma obra literária. Seja como for classificado o legado de Homero, e todo o arcabouço cultural que se seguiu a ele a partir da tradição helênica, é certo inferir que tal produção foi de suma importância à formação de todo um arcabouço que deu base à sociedade ocidental.Desses fundamentos, valores e princípios que perduram até hoje foram desenvolvidos os fundamentos, valores e princípios atuais. Hoje, pode-se dizer que toda a humanidade é influenciada, direta ou indiretamente, por aquilo que foi legado daqueles primórdios históricos, literários, mitológicos. No entanto, permanece sempre a curiosidade natural do ser humano em relação a sua origem e a seu destino. Quem sabe, um dia, contaremos com tecnologia que reconstrua momentos passados e revele "as verdades".Como disse Chico Buarque em sua canção "Futuros Amantes", sobre o amor que pode "esperar em silêncio", no futuro: "Sábios em vão/Tentarão decifrar/O eco de antigas palavras/Fragmentos de cartas, poemas/Mentiras, retratos/Vestígios de estranha civilização".
http://hitzblog.blogspot.com/2009/03/mitologia-e-historia-sobre-o-lancamento.html
Atividades on-line sobre Tróia: