CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA
HISTÓRIA
– 1ª SÉRIE – 4º BIMESTRE
ROTEIRO
DE AÇÃO
Duração prevista: 5 aulas (45 minutos
cada)
Área de conhecimento: História América
Portuguesa
Assunto: Nativos das terras
brasileiras
Competências:
Compreender os elementos
culturais que constituem as identidades.
Habilidades:
Interpretar
historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da
cultura;
Associar as
manifestações culturais do presente aos seus processos históricos;
Identificar as
manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e
artístico em diferentes sociedades.
Objetivos:
Caracterizar o modo de
vida dos índios na época da conquista portuguesa e nos dias atuais;
Compreender e respeitar
a diversidade cultural.
Materiais necessários: Cópia do texto; Data show; Mapa.
Introdução
Professor,
As atividades a seguir, têm como
objetivo analisar aspectos das sociedades indígenas no atual estado do Rio de
Janeiro, para isso, contaremos com o projeto: Identidades do Rio http://www.pensario.uff.br/ que através
de vídeos, hipertextos e textos analisa as comunidades indígenas no estado do
Rio de Janeiro do período colonial do século XVI aos dias atuais.
Os vídeos são curtos e o
texto para ser analisado pode ser trabalhado em duas hora-aula.
O objetivo das aulas e do
projeto:
“(...) é refletir sobre a memória social e cultural do estado
do Rio de Janeiro, considerando sua pluralidade, tomando a circulação e as
trocas culturais, nas diferentes cidades e regiões, como questões-chave para
pensar em novas bases a identidade estadual e para propor intervenções na área
de preservação e educação patrimonial a partir da criação do Identidades
do Rio.
http://www.pensario.uff.br/projeto
Providências:
O professor previamente deverá entregar aos alunos um mapa do Rio de Janeiro
para que os alunos possam identificar com base no primeiro vídeo as áreas em
que hoje se encontram as seis aldeias indígenas.
Pré-requisitos:
Elaboração e construção de gráficos.
Para o professor:
“O
POVO INDÍGENA GUARANI
As trocas e fluxos populacionais: o
movimento Guarani
Um dos elementos que mais chama a
atenção nas práticas sociais do povo Guarani é a intensa rede de trocas e
fluxos populacionais entre as aldeias distribuídas por uma extensa região no
sul do continente. As diversas terras Guarani não estão isoladas, mas
interligadas por redes de parentesco e reciprocidade. Os Guarani “mantêm entre
si estreitas e intensas relações políticas, matrimoniais, religiosas e
econômicas. Seus moradores vivem em constantes visitas uns aos outros. A
população Guarani, apesar de se fixar durante períodos de até vários anos em
determinadas aldeias, circula entre diferentes áreas, e dificilmente se
encontram numa família pessoas que não conheçam ou não tenham vivido em outras
aldeias” (Nimuendajú, 1987).
Para a antropóloga Elizabeth Pissolato
(2007), o movimento, para os Guarani, é o que produz condições de vida
consideradas boas, favoráveis. Ele é expressão de uma maneira própria de
conceber o território, para além da lógica da terra indígena estabelecida pelo
Estado, em um amplo circuito de espaços nos quais ocorre intensa circulação,
tanto de pessoas como de plantas, matérias-primas, sementes etc.
Como
observam Brighenti e Nötzold, o território Guarani (Ywy Rupá) foi cortado e
recortado pelas fronteiras nacionais, dos estados, províncias e municípios.
Essa divisão faz parte da história recente, mas os Guarani já deram mostras que
querem continuar circulando livremente por seu território (2009).”
http://cpisp.org.br/indios/html/saiba-mais/33/o-povo-indigena-guarani.aspx
Acesso: 20/11/2012
Procedimentos:
1ª Aula – Leitura do
texto e análise dos vídeos. (2 horas-aula)
Entregar aos alunos com antecedência (de
preferência na aula anterior para que os mesmos possam realizar uma leitura
prévia do texto e analisar com calma o mapa) o texto: Onde estão os índios do Rio? E o mapa que pode ser encontrado no
seguinte página: http://www.mapasparacolorir.com.br/mapa/estado/rj/estado-rio-de-janeiro-municipios-nomes.png.
1º
Momento
Apresentar
a turma de que forma as duas aulas vão estar organizadas e os seus objetivos;
2º
Momento:
Uma aula de apresentação
sobre as sociedades indígenas brasileiras nos seus aspectos mais gerais. O
próprio livro adotado pode fornecer essas informações. Na última parte do
roteiro são fornecidas algumas referências de textos.
3º
Momento:
Leitura individual dos
textos. Durante a leitura seria interessante o aluno elaborar as suas duvidas,
com relação ao texto por escrito para dinamizar o momento de debate do material
escrito e dos vídeos;
4º
Momento:
Exibição dos vídeos;
5º
Momento:
Análise
e debate dos textos e livros.
Ao término dessa etapa (5º Momento) esclareça
as dúvidas que por ventura tenham surgidos durante o debate e faça suas
considerações sobre o texto e os vídeos as relações devidas com o tema
estudado.
Para o próximo encontro pedir que a turma
se divida em grupos de até cinco (5) componentes e que tragam: papel pardo (ou
cartolina, papel 40 kg) caneta hidrocor e lápis de cor.
Entregar para os alunos individualmente o
texto: “O que pensam os brasileiros sobre os índios brasileiros”
e pedir que eles
façam uma leitura atenta do texto para a próxima aula.
2ª Aula – Análise de
documentos e avaliação. (2 horas-aula)
Ao chegar à sala pedir que os alunos se
organizem nos grupos previamente organizados. Após essa etapa, explique aos
alunos que eles deverão elaborar um gráfico com base nas informações contidas
no texto – cada grupo fica responsável por um tópico. (no caso de algumas de
minhas turmas eu já trabalhei a construção de gráficos).
No segundo tempo de aula pedir que os
grupos apresentem para os seus colegas as informações referentes a gráfico elaborado
pelo grupo em uma espécie de seminário.
3º Aula – Análise de
documentos e exercícios.
O
professor nessa aula deverá lembrar aos alunos o conceito de etnocentrismo e
fazer um levantamento sobre o que os alunos entendem por preconceito.
E para
finalizar a sequência didática sobre os nativos das terras brasileiras. Os
alunos deverão ler dois trechos retirados do livro “Tratado descritivo do Brasil” do senhor de engenho Gabriel S. de
Souza sobre os costumes sexuais dos índios e as normas relativas ao casamento
entre os nativos.
Exercício
Os alunos deverão identificar no texto, trechos que
demonstrem o preconceito do autor com relaçãol às práticas culturais dos
nativos.
Que trata da maneira dos casamentos
dos tupinambás e seus amores.
A
mulher verdadeira dos tupinambás é a primeira que o homem teve e conversou, e
não têm em seus casamentos outra cerimônia mais que dar o pai a filha a seu
genro, e como têm ajuntamento natural, ficam casados; e os índios principais
têm mais de uma mulher, e o que mais mulheres têm, se têm por mais honrado e
estimado; mas elas dão todas a obediência à mais antiga, e todas a servem, a
qual têm armado sua rede junto da do marido, e entre uma e outra têm sempre
fogo aceso; e as outras mulheres têm as suas redes, em que dormem, mais
afastadas, e fogo entre cada duas redes; e quando o marido se quer ajuntar com
qualquer delas, vai-se lançar com ela na rede, onde se detém só aquele espaço
deste contentamento, e torna-se para o seu lugar e sempre há entre estas
mulheres ciumes, mormente a mulher primeira; porque pela mor parte são mais
velhas que as outras, e de menos gentileza, o qual ajuntamento é publico diante
de todos. E quando o principal não é o maior da aldeia dos índios das outras
casas, o que tem mais filhas é mais rico e mais estimado, e mais honrado de
todos, porque são as filhas mui requestadas dos mancebos que as namoram; os
quais servem os pais das damas dous e três anos primeiro que lhas deem por
mulheres; e não as dão senão aos que melhor os servem, a quem os namoradores
fazem a roça, e vão pescar e caçar para os sogros que desejam de ter, e lhe
trazem a lenha do mato; e como os sogros lhes entregam as damas, eles se vão
agasalhar no lanço dos sogros com as mulheres, e apartam-se dos pais, mães e
irmãos, e mais parentela com quem dantes estavam; e por nenhum caso se entrega
a dama a seu marido enquanto lhe não vem seu costume; e como lhe vem é obrigada
a moça a trazer atado pela cinta um fio de algodão, e em cada bucho dos braços
outro, para que venha à notícia de todos. E como o marido lhe leva a flor, é
obrigada a noiva a quebrar estes fios, para que seja notório que é feita dona;
e ainda que uma moça destas seja deflorada por quem não seja seu marido, ainda
que seja em segredo, há de romper os fios da sua virgindade, que de outra
maneira cuidará que a leva logo o diabo, os quais desastres lhes acontecem
muitas vezes; mas o pai não se enoja por isso; porque não falta quem lha peça
por mulher com essa falta; e se algum principal da aldeia pede a outro índio a
filha por mulher, o pai lha dá sendo menina; e aqui senão entende o preceito
acima, porque ele a leva para o seu lanço, e a vai criando até que lhe venha
seu costume, e antes disso por nenhum caso lhe toca.
http://www.brasiliana.com.br/obras/tratado-descritivo-do-brasil-em-1587/pagina/367/
Que trata da luxúria destes bárbaros
São
os tupinambás tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam; os
quais sendo de muito pouca idade têm conta com mulheres, e bem mulheres; porque
as velhas, já desestimadas dos que são homens, granjeiam estes meninos,
fazendo-lhes mimos e regalos, e ensinam-lhes a fazer o que eles não sabem, e
não os deixam de dia, nem de noite. É este gentio tão luxurioso que poucas
vezes tem respeito às irmãs e tias, e porque este pecado é contra seus
costumes, dormem com elas pelos matos, e alguns com suas próprias filhas; e não
se contentam com uma mulher, mas têm muitas, como já fica dito, pelo que morrem
muitos de esfalfados. E em conversação não sabem falar senão nestas sujidades, que
cometem cada hora; os quais são tão amigos da carne que se não contentam, para
seguirem seus apetites, com o membro genital como a natureza o formou; mas há
muitos que lhe costumam pôr o pêlo de um bicho tão peçonhento, que lho faz logo
inchar, com o que têm grandes dores, mais de seis meses, que se lhe vão
gastando por espaço de tempo; com o que se lhe faz o seu cano tão disforme de
grosso que os não podem as mulheres esperar, nem sofrer; e não contentes estes
selvagens de andarem tão encarniçados neste pecado, naturalmente cometido, são
mui afeiçoados ao pecado nefando, entre os quais se não tem por afronta; e o
que serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza;
e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os
querem como mulheres públicas. Como os pais e as mães vêem os filhos com
meneios para conhecer mulher, eles lhas buscam, e os ensinam como a saberão
servir; as fêmeas muito meninas esperam o macho, mormente as que vivem entre os
portugueses. Os machos destes tupinambás não são ciosos; e ainda que achem
outrem com as mulheres, não matam a ninguém por isso, e quando muito espancam
as mulheres pelo caso. E as que querem bem aos maridos, para os contentarem,
buscam-lhes moças com que eles se desenfadem, as quais lhe levam à rede onde
dormem, onde lhe pedem muito que se queira deitar com os maridos, e as peitam
para isso; coisa que não faz nenhuma nação de gente, senão estes bárbaros.
http://www.historiadobrasil.com.br/viagem/docs01.htm
Avaliação.
A avaliação
deverá ser feita utilizando as informações do gráfico e a apresentação dos
grupos.
Para uma possível avaliação de
recuperação “paralela” o professor poderá utilizar as questões abaixo:
1ª Questão
|
Leia com atenção o texto escrito por
Jean de Léry e responda o que se pede:
Conversa entre Jean de Léry e um velho índio Tupinambá no século
XVI
Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros
estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan (madeira
pau-brasil). Uma vez um velho perguntou-me:
- Por que vindes vós outros, maírs
e perôs (franceses e portugueses),
buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?
Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não
a queimávamos, como ele supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal qual
o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho
imediatamente:
- E porventura precisais de muito?
- Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.
- Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.
- Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas; acrescentando
depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que
me falas não morre?
- Sim, disse eu, morre como os outros.
- Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em
qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo:
- E quando morrem para quem fica o que deixam?
- Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes próximos.
- Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes próximos.
- Na verdade, continuou o velho, que como vereis, não era nenhum
tolo, agora vejo que vós outros maírs
sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como
dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para
vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem ! Não será a terra que vos
nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem
amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu
também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
A relação entre trabalho e riqueza é a
mesma para o índio e para o francês? Explique.
Possibilidade de Resposta
Não. Para o índio, o trabalho é
realizado para suprir as necessidades de subsistência e não para acumular
riquezas. O trabalho está relacionado ao
cultivo da terra, ao alimento que ela produz. Por isso, a maior riqueza para o
índio é a terra, que lhe assegura sustento para essa e as próximas gerações.
Para o francês o trabalho é visto como um meio de acumular riquezas, que
servirá de herança para seus filhos ou outros parentes.
2ª Questão
|
Utilizando as informações dos gráficos
abaixo e seus conhecimentos sobre o assunto elabore um parágrafo comentando
sobre a situação dos índios no Brasil contemporâneo.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2011/12/uma-tragedia-indigena.htmlAcesso:
16/11/2012
Possibilidade de Resposta
Pessoal.
O aluno deverá utilizar as informações utilizadas na sala de aula
(principalmente os vídeos e o segundo texto) e o gráfico acima.
3ª Questão
|
A luta dos povos indígenas não é
exclusividade do nosso passado colonial, ainda hoje há diversos conflitos,
disputas e tensões, envolvendo as comunidades indígenas. Um exemplo é o que
acontece atualmente aqui, bem próximo de nós, na cidade do Rio de Janeiro, mais
precisamente no bairro do Maracanã. Leia o texto publicado no JB online e faça
o que se pede.
“Alertas, preocupados, sem
dormir, e dispostos a tudo. Assim estão os índios da Aldeia Maracanã, vizinha
ao Estádio Mario Filho, depois que a presidente do Tribunal Regional Federal da
2ª Região (TRF2), desembargadora federal Maria Helena Cisne, cassou duas
liminares que impediam a demolição do prédio onde funcionou o Museu do Índio de
1910 até 1978, bem como proibiam a retirada dos ocupantes do imóvel.
"Na última sexta-feira, e no
sábado, começaram a quebrar os muros do terreno. Afastado aqui da Aldeia. Mas
já no terreno. O clima está tenso. Estamos dispostos a qualquer coisa,
inclusive a não sair daqui vivos", disse Afonso Aporinã, um dos líderes da
Aldeia Maracanã, onde haverá uma reunião aberta ao público para organizar a
resistência.
Com medo de que a partir da decisão
do TRF-2 o governo do Estado tente retirá-los da área neste feriado prolongado,
os índios prometem reagir e ficar em estado de sentinela.”
http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/11/14/indios-da-aldeia-maracana-em-sentinela-prometem-resistir-com-a-vida/.
Acesso: 15/11/2012
Sobre o texto acima, a situação de
luta dos índios no passado e no presente e os seus conhecimentos acerca da
temática, marque a alternativa CORRETA:
a) Os conflitos entre os indígenas e
as populações brancas é uma exclusividade do passado colonial brasileiro;
b) O texto acima relata uma disputa
entre um grupo de índios e o governo do estado;
c) A idéia principal do texto é as
relações pacíficas entre as populações indígenas e o Estado brasileiro;
d) Podemos perceber que pela leitura
do trecho acima as aldeias indígenas se localizam exclusivamente longe dos
grandes centros urbanos.
4ª Questão
|
É bastante comum, entre os povos
indígenas, uma divisão das tarefas entre homem e mulher. Isto significa que
existem atividades que são feitas somente pelas mulheres e outras, somente
pelos homens.
Mesmo que esta divisão não seja igual
em todos os povos, as tarefas relacionadas ao preparo dos alimentos, ao cuidado
com as crianças e algumas atividades na roça são, geralmente, de
responsabilidade das mulheres. Já os homens são responsáveis pela derrubada do
mato para a criação da roça, pelas atividades de caça, de guerra, entre outras.
É importante dizer que as atividades
feitas por cada um dos gêneros (feminino ou masculino) se completam, pois
juntas garantem a qualidade de vida de toda a comunidade.
Você já imaginou o que seria da
refeição de uma família sem o trabalho realizado pelos homens que saíram para
caçar ou pescar? E como esta seria sem o trabalho das mulheres que prepararam
toda comida?
Juntos, homens e mulheres são
responsáveis pela produção dos alimentos, das redes, dos bancos, das casas, das
canoas, das ferramentas utilizadas no dia a dia, como vasos de cerâmica,
cestos, flechas, arcos etc. Vemos assim que o trabalho de cada membro do grupo
é fundamental para toda comunidade.
As crianças aprendem desde cedo as
tarefas do dia a dia, e é muito comum ver uma menina ajudando sua mãe ou um
menino acompanhando seu pai em seus afazeres. Elas costumam construir objetos
iguais aos dos adultos, mas em miniatura.
Assim,
brincando de imitar os mais velhos, meninos e meninas aprendem as atividades
que mais tarde irão desempenhar com perfeição.
Complete o quadro abaixo
com as informações retiradas do texto.
Tarefas
femininas
|
Tarefas masculinas
|
Tarefas sem distinção de gênero
|
5ª Questão
|
Crianças
indígenas... são apenas crianças
“A criança indígena, quando dentro do
contexto cultural histórico, em que vivia, em sua ancestralidade, costumava ter
seu nome, intuído pelo Pajé. Os nomes eram escolhidos entre os reinos animal,
mineral e vegetal. Essa revelação ocorria, na hora em que a criança nascia, e
todos os eventos que circundavam aquele momento, poderiam ser interpretados
como indicadores do nome, e inclusive, do destino que poderia ter a criança.
Mas após o ritual de passagem, da adolescência, onde o jovem teria que realizar
algumas tarefas, que variavam um pouco, entre as tribos, como matar um inimigo,
por exemplo, ele obtinha o direito de agregar mais nomes ao seu nome de
nascimento. Esses nomes posteriores, também deveriam obedecer critérios
circunstanciais que envolviam os fatos e os feitos do bravo guerreiro e serem
provados ou sugeridos pelo pajé. Assim,
quanto mais feitos de bravura, mais honra, e consequentemente, mais nomes.
Como
cada região territorial, tem sua geografia, fauna e flora peculiares, os nomes
variavam em função do ambiente em que vivia cada tribo”.
CLAUDIA
BAIBICH. http://caboclosnaumbanda.blogspot.com.br/2009/03/significados-de-nomes-indigenas.html.
Acesso: 20/11/2012In. Berutti,
Flávio. Caminhos do Homem: Volume 1.
Curitiba, PR: Base Editoril: 2010. p. 230.
Pelo estudo do texto acima, é possível perceber a importância que o
território e a natureza têm para as populações indígenas? Explique.
6ª Questão
|
(Rede
Pitágoras) Leia atentamente as notícias abaixo.
De um total de 534 crianças
indígenas da etnia Guarani-Kaiowá
examinadas pela Funasa – Fundação Nacional da Saúde – em aldeias do Mato
Grosso do Sul, 136 estão desnutridas ou em risco de desnutrição. (...) O
presidente da Funasa afirmou que o órgão não tem culpa pelos casos de
desnutrição e que não cabe à FUNASA distribuir cestas básicas.
O
Globo, 10/03/2005, O País, p.12
|
Triste a noção de normalidade
do governo do PT, a julgar pelas declarações do ministro da Saúde, Humberto
Costa a respeito das mortes de crianças indígenas em Dourados (MS). Diz o
ministro: “As mortes estão dentro do
número que normalmente acontece”.
Desde quando alguém morrer de
fome pode ser considerado um fato dentro do que “normalmente acontece”? O
que o ministro não vê é a vergonha e a indignidade que é morrer de fome,
uma criança atrás da outra.
ARTIGO DE CLÓVIS ROSSI. Folha de São Paulo,
10/03/2005. p.A2
|
A Funasa reconheceu a morte
de 43 crianças indígenas nos primeiros dois meses deste ano, mas apenas
admitiu dois casos de morte por desnutrição. Um relatório da FUNASA apontou
que 80 crianças indígenas xavantes menores de cinco anos morreram nas aldeias de Mato Grosso em 2004.
Agência Folha, 05/03/2005
|
a) RESPONDA: Qual o
assunto em comum nas três reportagens?
b) EXPLIQUE a reação indignada do jornalista Clóvis Rossi com
as declarações do Ministro da Saúde.
c) DESCREVA uma semelhança entre a situação vivida pelos
índios no período da colonização e a
realidade descrita nas reportagens acima.
7ª Questão
|
(Rede
Pitágoras) Leia com atenção o que escreveu o índio Davi Ianomâmi.
Eu sou ianomâmi. Nós ianomâmis
pensamos que o homem branco era bom para nós. Agora eu estou vendo que é a
última invasão da terra indígena, as outras já estão todas invadidas.
Chegaram para tomar a nossa terra. Estão tomando.
A mesma coisa aconteceu lá fora
com outros irmãos índios, na América; agora acontece aqui na nossa terra. O
governo não deveria fazer isso. Ele sabe que nós somos os brasileiros mais
antigos, que nos chamamos ianomâmis.
Ele diz que nós vamos morrer de
fome se fechar o garimpo. Se eles não pararem de garimpar, nós vamos sim
morrer de fome. Mas se parar o garimpo, nós plantamos macaxeira, banana,
cará, taioba, mamão, cana, pupunha, e ninguém morre de fome. Nós ianomâmis
queremos nossa terra própria. Não queremos acabar com nossos costumes. Até
hoje não perdemos nossa língua e a terra, por isso essa luta.
Boa
Vista, 31/08/1989, Davi Ianomâmi, Folha de São Paulo – 05/05/1990
|
O
problema vivido pelos ianomâmis é o problema vivido por várias outras tribos.
a) IDENTIFIQUE o problema.
b) TRANSCREVA a parte do texto em que Davi Ianomâmi aborda o que
ocorreu com os astecas, incas
e outros grupos indígenas.
c) EXPLIQUE o que Davi Ianomâmi quis dizer com: “Se
eles não pararem de garimpar, nós vamos
sim morrer de fome”.
“Formado
por 14 bases avançadas do Exército, com apoio da Aeronáutica e da Marinha, o
Calha Norte abrange 70 municípios brasileiros, 38 dos quais ao longo dos 5.993
km da faixa de fronteira (mais de 1/3 das fronteiras terrestres do país), nos
estados do Amazonas, Roraima, Pará e Amapá”, explica o coronel Claudimar. Sua
área de atuação corresponde 14% do território nacional, praticamente
inexplorado, esparsamente demarcado, fracamente povoado e praticamente sem
vigilância terrestre, onde habitam cerca de 2.300.000 pessoas (apenas 1,2% da
população brasileira), incluindo 25% da população indígena do país. Além das 14
bases avançadas, existem quatro Comandos de Fronteira, reunindo aproximadamente
1000 homens cada, com armamento padrão e moderno do Exército Brasileiro e dois
veículos de guerra, um Cascavel e um Urutu, em Boa Vista. Já as bases avançadas
são constituídas pelos Pelotões Especiais de Fronteira, cujo lema é
Vida, Combate e Trabalho. Um pelotão comum reúne 35 homens, mas estes, por
serem especiais, reúnem 65 a 70, armados com metralhadoras e fuzis FAL 7.62
mais metralhadoras de mão e pistolas 9mm.
Fazem
a pé o patrulhamento intensivo e ostensivo da floresta inóspita ou a bordo de
embarcações rápidas, de alumínio, pelos inúmeros rios da região.
A
maioria dos soldados dos Comandos e dos Pelotões são índios pertencentes às
etnias locais. Acostumados às dificuldades da floresta, incorporaram ao
armamento militar seus armamentos rústicos, porém leves, como a zarabatana,
cujo dardo pode atingir um alvo a 200 metros, e o arco e a flecha. Uma flecha
disparada num homem a 10 metros de distância pode transpor seu corpo.”
http://www.amazonialegal.com.br/textos/Calha_Norte.htm.
Acesso: 20/11/2012
Tendo como embasamento para responder
a questão o seu módulo didático e as suas conclusões sobre a questão indígena
no Brasil atual, analise as questões abaixo e marque a alternativa CORRETA:
a) O objetivo do Programa Calha Norte
e levar a chamada “civilização” para os povos indígenas, principalmente para os
Yanomani;
b) Pela leitura do texto podemos
inferir (deduzir, concluir) que o Programa Calha Norte tem por objetivo
proteger as fronteiras brasileiras e que para isso, o governo federal incorpora
o conhecimento indígena sobre a região;
c) O texto nos mostra a inexistência
de um programa brasileiro de proteção as nossas fronteiras;
d) O Programa Calha Norte é um
programa que pretende demarcar as terras indígenas brasileira.
PRIMEIRO TEXTO (aulas 1 e 2)
Onde estão os índios
do Rio?
Leonardo Soares
Quirino da Silva
Há 104 anos foi feito o último registro
sobre um índio natural do estado do Rio de Janeiro. Era o óbito de Joaquina
Maria Pury, registrado em 30 de maio de 1902 na paróquia de Santo Antônio de
Pádua, no município de mesmo nome. O estado só voltaria a ser habitado por
povos indígenas no final da década de 1940, em razão da migração de guaranis
para a região de Angra e Parati.
O Dia Internacional dos Povos Indígenas,
comemorado no dia nove de agosto, desde 1995, pode servir de ponto de partida
para se conhecer a história do desaparecimento das tribos que viviam no estado
na época do descobrimento, bem como para se saber sobre as atividades da ONU
nesse campo.
Para isso, o Portal de Educação Pública
conversou com o professor José Ribamar Bessa Freire, do Programa de Estudo de
Povos Indígenas da Uerj (Pro-Índio ) e consultou
a documentação da ONU sobre o que vem sendo feito no organismo em prol das
populações indígenas.
Como declarou o professor Bessa em seu
artigo "Tem índio no Rio", de 2000, o estudo das culturas indígenas e
sua relação com os colonizadores servem não só para se conhecer o outro, nesse
caso os índios, mas para se pensar sobre a sociedade em que vivemos.
Índios e colonização
No início do século XVI, quando franceses
e portugueses chegaram à região onde hoje fica o estado do Rio de Janeiro, as
populações indígenas podiam ser dividas em quatro grandes grupos em função do
tronco linguístico a que pertenciam, segundo o livro Aldeamentos indígenas
do Rio de Janeiro (atualmente esgotado).
O primeiro grupo era o tupi-guarani,
falado pelas tribos do litoral, entre elas os Tupinambás ou Tamoios e os
Tupiniquins. O estudo de sua língua deu origem à Língua Geral. Durante o
período colonial, existiram duas versões dessa língua. A Língua Geral Paulista
(LGP), falada no sul do país, e a Língua Geral Amazônica (LGA), na região
norte.
As duas versões foram as línguas francas
usadas pelos colonizadores - em especial pelos jesuítas, que a organizaram, e
pelos bandeirantes - para se comunicarem com os povos indígenas. Até 1750, a
LGP foi a língua mais falada no litoral do Brasil. A LGA resistiu até 1870.
As tribos dos grupos
Puri-Coroado, Maxakali e Botocudo falavam línguas do tronco macrojê. Estas se
localizavam no interior do estado, principalmente na bacia do rio Paraíba do
Sul. A única exceção eram os Goitacás, que viviam próximos a foz do rio Paraíba
do Sul.
O último grupo linguístico não foi
classificado. A ele pertenciam as tribos Guaianá ou Goianá que viviam no
litoral sul, entre Angra e Parati, e na Ilha Grande.
O processo de extermínio dos povos
indígenas que viviam no estado se deu do litoral para o interior. Não por
acaso, ele também seguiu os ciclos econômicos que marcaram a colônia e o
império - pau-brasil, açúcar, ouro e café. No primeiro século da colonização,
as doenças vindas da Europa - como a sífilis, a varíola e o sarampo - dizimavam
aldeias inteiras. Depois, as guerras, tanto como aliados de franceses e
portugueses, quanto contra estes últimos, também contribuíram para reduzir as
populações do litoral. Por fim, a escravização e a aculturação deram cabo dos
últimos índios que ainda viviam de acordo com seus costumes.
Escravidão
e Extermínio
Durante o período colonial até a década
de 1750, a mão-de-obra indígena poderia ser forçada a trabalhar de duas formas:
pela escravização e pelo sistema de descimento. A primeira (escravização), os
índios eram aprisionados nas chamadas Guerras Justas, movidas pelos colonos e
autoridades locais.
Como as populações nativas estavam sendo
dizimadas por esse meio, o rei D om
Sebastião baixou regulamento para normaliza r
as condições em que essas guerras poderiam ser feitas. Pelo documento, só o rei
ou o governador poderia autorizar a realização desse tipo de
"conflito". Ademais, só seriam justas as guerras feitas contra tribos
hostis ou canibais.
O resgate era a segunda forma de se
escravizar um indígena, então chamados de "negros da terra". Os
colonos compravam os prisioneiros que as tribos faziam durante suas guerras
para usarem como escravos em suas plantações. Esses escravos indígenas também
eram chamados de "índios de corda", por terem sido anteriormente
prisioneiros de outras tribos.
No filme Desmundo, de 2003, é retratada
discussão entre colonos, índios e autoridades sobre a compra e a captura de
"negros da terra" e "índios de corda".
O sistema de descimento era a forma que
as autoridades coloniais tinham de fazer índios livres trabalharem de forma
compulsória. Em 1548, o Regimento de Tomé de Souza, governador-geral, estipulou
que os índios convertidos fossem separados dos não-convertidos. Eles deveriam
descer (daí descimento) de suas aldeias e ser trazidos para as repartições.
Esses aldeamentos
ficavam próximos aos núcleos coloniais e serviam de depositário de mão-de-obra
para a colonização. O nome vem do fato de seus habitantes serem repartidos para
trabalhar para os colonos, missionários ou autoridades. Esse trabalho
compulsório durava, em geral, de dois a seis meses. Os que serviam a
administração pública eram empregados tanto para a realização de obras públicas
quanto para o serviço militar.
Como forma de incentivo para descerem, os
habitantes dessas aldeias recebiam uma sesmaria. Algumas cidades do estado
surgiram de repartições, como Cabo Frio, Itaguaí, Itaboraí e Mangaratiba.
Uma das razões que provocava o
esvaziamento das mesmas era o fato de serem as condições de trabalho longe das
ideais. Nas propriedades de colonos e de padres, os habitantes das repartições
trabalhavam o mesmo tempo que os negros e eram submetidos às mesmas condições -
alimentação inadequada, castigos e maus tratos. Por isso, os índios descidos
costumavam fugir das repartições.
Como solução para ter mão-de-obra sempre
disponível, as autoridades costumavam trazer índios de outras regiões da
colônia para manter as aldeias. Em 1628, por exemplo, os jesuítas trouxeram de
Santa Catarina 405 carijós e os instalaram em Guaratiba. Dois anos depois, 43
habitantes dessa repartição foram trabalhar na construção de fortificações da
cidade do Rio de Janeiro.
Outro fato que contribuía para o
despovoamento das repartições era que os nativos enviados para trabalhar para
os colonos nem sempre voltavam. Um dos artifícios usados pelos escravistas era
o de casar os índios vindos das repartições com índias escravas. Dessa forma,
mantinham-nos presos à propriedade alegando que não poderiam romper os sagrados
laços do matrimônio. Para evitar essa prática, em 1698, o governador geral do
Rio de Janeiro proibiu o casamento entre "negros da terra" e
"índios livres", como eram chamados os habitantes das repartições.
De início, as repartições ficavam sob
controle dos padres jesuítas. Depois, esse controle será dividido com colonos e
com militares. No século XVIII, a briga pela mão-de-obra, cada vez menor,
proveniente das repartições é um dos motivos que vai levar à expulsão da
Companhia de Jesus do Brasil.
Nos séculos XVIII e XIX, a descoberta do
ouro e depois a expansão da lavoura cafeeira, serviram para dizimar os grupos
restantes.
Por volta de 1800, segundo estudos feitos
pelo Pro-Índio, apenas 15 núcleos ainda mantinham sua identidade étnica. Todos
eram de índios dos grupos Puri-Coroado, Botocudo ou Maxacali. Estes núcleos
foram sendo extintos na medida em que a cultura do café avançava pelo vale do
Paraíba. Primeiro, na atual região do Médio Paraíba e, depois, no Norte
Fluminense.
Nessa época, os índios eram classificados
de acordo com seu grau de integração à sociedade brasileira. Os que ainda
preservavam sua cultura eram chamados de bravos. Os caboclos eram os
catequizados.
Por fim, os destribalizados, que haviam
perdido suas terras porque elas foram tomadas por fazendeiros ou pelas Câmaras
Municipais. Estes índios, como Joaquina Maria Pury, mudaram para as cidades,
onde viviam marginalizados.
Guaranis fluminenses
Depois disso, o estado só voltaria a ter
população indígena no fim da década de 1940. Nessa época, os primeiros índios
guarani do grupo linguístico Mbya, vindos do sul do Brasil, vão se estabelecer
na região de Parati.
Eles só foram descobertos pelas
autoridades federais em 1972, quando da abertura da Rodovia Rio-Santos. As
autoridades só voltaram sua atenção sobre o grupo depois que saiu uma
reportagem sobre as obras da rodovia. Segundo o professor Bessa, até então o
Serviço de Proteção ao Índio e sua sucessora, a Funai, registravam que o estado
não tinha população indígena. O professor observa, ainda, que, em conversa com
antigos tropeiros da região elas diziam que os índios estavam na região há
muito tempo.
Atualmente, os 500 guaranis do estado
vivem em três aldeias - Sapukaí, Itatiim e Araponga. Sendo que as de Rio Pequeno e Mamanguá estão em processo de
reconhecimento e a de Tekoa mboyty, onde os índios pleiteiam junto a FUNAI o
processo de regularização das terras.
Publicado em 08/08/06.http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0028.html.
Acesso: 19.11.2012. Adaptado
SEGUNDO TEXTO (aulas 3 e 4)
O que pensam os brasileiros sobre os índios brasileiros
Historicamente os índios têm sido objeto
de múltiplas imagens e conceituações por parte dos não-índios e, em
conseqüência, dos próprios índios, marcadas profundamente por preconceitos e
ignorância. Desde a chegada dos portugueses e outros europeus que por aqui se instalaram,
os habitantes nativos foram alvo de diferentes percepções e julgamentos quanto
às características, aos comportamentos, às capacidades e à natureza biológica e
espiritual que lhes são próprias. Alguns religiosos europeus, por exemplo,
duvidavam que os índios tivessem alma. Outros não acreditavam que os nativos
pertencessem à natureza humana pois, segundo eles, os indígenas mais pareciam
animais selvagens. Estas são algumas maneiras diferentes de como “os brancos”
concebem a totalidade dos povos indígenas a partir da visão etnocêntrica
predominante no mundo ocidental europeu.
Dessa visão limitada e discriminatória,
que pautou a relação entre índios e brancos no Brasil desde 1500, resultou uma
série de ambigüidades e contradições ainda hoje presentes no imaginário da
sociedade brasileira e dos próprios povos indígenas. A sociedade brasileira
majoritária, permeada pela visão evolucionista da história e das culturas,
continua considerando os povos indígenas como culturas em estágios inferiores,
cuja única perspectiva é a integração e a assimilação à cultura global. Os
povos indígenas, com forte sentimento de inferioridade, enfrentam duplo
desafio: lutar pela auto-afirmação identitária e pela conquista de direitos e
de cidadania nacional e global.
As contradições e os preconceitos têm na
ignorância e no desconhecimento sobre o mundo indígena suas principais causas e
origens e que precisam ser rapidamente superados. Um mundo que se autodefine
como moderno e civilizado não pode aceitar conviver com essa ausência de
democracia racial, cultural e política. Como se pode ser civilizado se não se
aceita conviver com outras civilizações? Como se pode ser culto e sábio se não
se conhece – e o que é bem pior – não se aceita conhecer outras culturas e
sabedorias? Enquanto isso não acontece, continuamos convivendo com as
contradições em relação aos povos indígenas, as quais podemos resumir na
atualidade em três distintas perspectivas sociais.
A primeira diz respeito à antiga visão
romântica sobre os índios, presente desde a chegada dos primeiros europeus ao
Brasil. É a visão que concebe o índio como ligado à natureza, protetor das
florestas, ingênuo, pouco capaz ou incapaz de compreender o mundo branco com
suas regras e valores. O índio viveria numa sociedade contrária à sociedade
moderna. Essa visão criada por cronistas, romancistas e intelectuais, desde a
chegada de Pedro Álvares Cabral em 1500, perdura até os dias de hoje e tem
fundamentado toda a relação tutelar e paternalista entre os índios e a
sociedade nacional, institucionalizada pelas políticas indigenistas do último
século, inicialmente, por meio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e,
atualmente, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Aqui o índio é percebido
sempre como uma vítima e um coitado que precisa de tutor para protegê-lo e
sustentá-lo, isto é, sem tutor ou protetor os índios não conseguiriam se
defender, se proteger, se desenvolver e sobreviver. Daí a idéia da FUNAI como
pai e mãe, ainda muito presente entre vários povos indígenas do Brasil.
A segunda perspectiva é sustentada pela
visão do índio cruel, bárbaro, canibal, animal selvagem, preguiçoso, traiçoeiro
e tantos outros adjetivos e denominações negativos. Essa visão também surgiu
desde a chegada dos portugueses, através principalmente do seguimento
econômico, que queria ver os índios totalmente extintos para se apossarem de
suas terras para fins econômicos. As denominações e os adjetivos eram para
justificar suas práticas de massacre, como autodefesa e defesa dos interesses
da Coroa. Ainda hoje essa visão continua sendo sustentada por grupos econômicos
que têm interesse pelas terras indígenas e pelos recursos naturais nelas
existentes. Os índios são taxados por esses grupos como empecilhos ao
desenvolvimento econômico do país, pelo simples fato de não aceitarem se
submeter à exploração injusta do mercado capitalista, uma vez que são de
culturas igualitárias e não cumulativistas. Dessa visão resulta todo o tipo de
perseguição e violência contra os povos indígenas, principalmente contra suas lideranças
que atuam na defesa de seus direitos.
A terceira perspectiva é sustentada por
uma visão mais cidadã, que passou a ter maior amplitude nos últimos vinte anos,
o que coincide com o mais recente processo de redemocratização do país,
iniciado no início da década de 1980, cujo marco foi a promulgação da
Constituição de 1988. Eu diria que é a visão mais civilizada do mundo moderno,
não somente sobre os índios, mas sobre as minorias ou as maiorias socialmente
marginalizadas. Esta visão concebe os índios como sujeitos de direitos e,
portanto, de cidadania. E não se trata de cidadania comum, única e genérica,
mas daquela que se baseia em direitos específicos, resultando em uma cidadania
diferenciada, ou melhor, plural. Aqui os povos indígenas ganharam o direito de
continuar perpetuando seus modos próprios de vida, suas culturas, suas
civilizações, seus valores, garantindo igualmente o direito de acesso a outras
culturas, às tecnologias e aos valores do mundo como um todo.
Direitos específicos e cidadania plural
indicam teoricamente que os povos indígenas têm um tratamento jurídico
diferenciado. Por exemplo, é concedido a eles o direito de terra coletiva
suficiente para a sua reprodução física, cultural e espiritual, e de educação
escolar diferenciada baseada nos seus próprios processos de ensino-aprendizagem
e produção, reprodução e distribuição de conhecimentos. Dessa nova perspectiva,
do ponto de vista dos povos indígenas, trataremos de forma mais aprofundada nos
próximos capítulos.
Por ora, interessa saber um pouco mais sobre
como os brasileiros não-índios percebem e concebem o futuro de vida dos povos
indígenas do Brasil. Para isso, utilizaremos uma interessante pesquisa
realizada pelo IBOPE a pedido do Instituto Socioambiental (ISA) em 2000, por
ocasião das comemorações dos 500 anos do “Descobrimento do Brasil” e publicada
por Povos Indígenas no Brasil (ISA, 2000). É uma pesquisa de opinião pioneira
desta natureza, envolvendo povos indígenas. Segundo o IBOPE, foram ouvidos
2.000 homens e mulheres entre 24 e 28 de fevereiro daquele ano.
Imagem
dos índios: 78% dos entrevistados revelaram ter interesse no futuro dos
índios sobre os quais prevalece uma visão positiva; 88% concordam que os índios
ajudam a conservar a natureza e vivem em harmonia com ela, e que não são
preguiçosos, mas encaram o trabalho de forma diferente da sociedade branca
ocidental; 89% afirmaram que os índios não são ignorantes, mas possuem uma
cultura diferente da cultura branca e que só são violentos com aqueles que
invadem as suas terras para tomar-lhes.
As
terras indígenas: Apenas 22% dos entrevistados consideraram que os 11%
das terras do Brasil de posse dos índios sejam muita terra para eles, enquanto
que 68% entendem que a extensão das terras indígenas é adequada ou suficiente;
70% dos brasileiros entrevistados consideraram que os índios, mesmo falando
português e se vestindo como os brancos, devem ter seus direitos territoriais
garantidos.
O
direito à diferença: Há quase um consenso nacional quanto ao
reconhecimento dos direitos dos índios de serem diferentes dos brancos, nos
modos de viver, de pensar e de trabalhar; 92% dos brasileiros acham que os
índios devem ter os direitos de continuar vivendo de acordo com os seus
costumes e suas culturas; 67% discordam que os índios devam ser preparados para
abandonar suas aldeias e selvas para viver como e com os brancos.
Futuro:
Em razão do trágico processo histórico vivido durante os 500 anos de
colonização, a garantia do futuro dos povos indígenas continua, na opinião de
muitos brasileiros, a ser muito incerta; 45% expressaram otimismo quanto ao
futuro dos povos indígenas do Brasil, tanto com relação a continuarem vivendo
nas suas terras quanto à preservação da sua cultura, enquanto 21% manifestaram
pessimismo quanto a isso.
Papel do governo: A maioria dos
brasileiros entrevistados acha que o papel do governo brasileiro é garantir a
efetividade dos direitos indígenas para que continuem vivendo de acordo com
seus modos de vida desejada, implantando programas de saúde e educação
adequados (48%), demarcando as suas terras (37%) e estimulando a produção de
bens voltados para o mercado (31%); 82% acham que o governo federal deveria
atuar para evitar a sua extinção. Os entrevistados apontaram três principais
problemas enfrentados pelos povos indígenas: invasão das terras indígenas
(57%), desrespeito à cultura (41%) e doenças transmitidas pelo contato com os
brancos (28%).
A opinião pública brasileira, expressa
por meio da pesquisa acima mencionada, confirma uma tendência percebida na
prática cotidiana dos povos indígenas: a do aumento progressivo de pessoas e de
segmentos sociais que vão superando a visão estereotipada sobre os primeiros
habitantes do Brasil. Dito de outra forma há uma consciência cada vez maior de
que os povos indígenas constituem, sim, um dos pilares da sociedade brasileira
e é uma referência importante, senão central, da identidade nacional, assim
como é o negro, sem os quais o Brasil não é possível ser ele mesmo. Este
caminho para o reencontro com sua história e sua origem pode significar um
reencontro consigo mesmo, única possibilidade de seu desenvolvimento pleno,
justo, democrático e igualitário diante da diversidade étnica e cultural de seu
povo.
O
Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil
de hoje. Gersem dos Santos Luciano Baniwa http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf
Acesso: 19/11/2012
Aprofundamento:
Ø Para os colegas da Costa Verde
Nossa
Senhora da Guia de Mangaratiba: conflitos de identidades em terras de índios. Bárbara
Helena de Araujo Guimarães Sanches http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoBarbaraHAGS.pdf
Os Guarani no Rio de Janeiro
|
Existem
índios no Rio de Janeiro. São os Guarani do subgrupo Mbya, falantes da língua
Tupi.
Nos Estados Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul vivem, além dos Mbya, os Guarani dos subgrupos Nhandeva e Kaiowá. Em 1996, as três terras indígenas existentes no Rio de Janeiro - a Terra Indígena Guarani de Bracuí, localizada no município de Angra dos Reis, a Terra Indígena Araponga e a Terra Indígena Parati-Mirim localizadas no município de Paraty - tiveram o processo de demarcação concluído e foram homologadas pelo governo federal. O Presidente da República, seguindo a Constituição brasileira, reconheceu-as oficialmente como terras tradicionais do povo Guarani e fez publicar no Diário Oficial da União os decretos que dão direito aos Guarani a posse permanente dessas terras. Vivem nas três aldeias, aproximadamente, 450 pessoas. A Terra Indígena Guarani de Bracuí é a que tem a maior população, cerca de 320 indivíduos. Mais da metade é constituída por crianças menores de 14 anos. Os Guarani que vivem hoje , em território brasileiro, somam, aproximadamente, cinco mil pessoas. Há também Guarani vivendo em áreas na Argentina, Paraguai e Bolívia. O subgrupo Mbya , em Angra dos Reis, vive no alto da serra em meio à Mata Atlântica, de onde podem avistar o mar. Atravessar o mar e encontrar a Terra Sem Mal, o paraíso mítico, é o sonho dos Guarani. Na busca incessante desse paraíso, que segundo a tradição pode ser alcançado em vida, eles precisam cumprir e respeitar um conjunto de regras e conduta divina que lhes são transmitidas pelos xamãs. São elas que norteiam as relações que mantém com a natureza, com todos os seres humanos e com os espíritos. É o modo de ser e viver guarani, o nandereko. Um bom lugar para viver, de acordo com o seu nandereko, é próximo ao mar, mas distante dele. Tem que ter terra boa para plantar, pois são, tradicionalmente , agricultores, mantendo roças familiares e plantando, em sistema de rodízio, os principais alimentos de sua dieta como o milho(awati), mandioca (mandio), batata-doce (djety’i), amendoim (manduvi) e feijão (kumandá), uma média de três hectares ao ano. Tem que ter um lugar para pescar, caçar e colher as frutinhas do mato. Costumam ter sempre próximo às casas de moradia (o’y) árvores frutíferas como complemento alimentar, tais como o abacateiro e a bananeira. A mata é necessária para os índios para colherem o material necessário para a construção de casas, cestos, arcos, ornamentos e objetos rituais, mágicos e religiosos. A Casa de Reza (opy) ocupa lugar de destaque, convergindo para ela todas as atividades significativas da aldeia. No seu interior, cuja vedação é completa para impedir a entrada de espíritos indesejáveis, os Guarani ouvem as belas palavras (porahei) proferidas pelos xamãs e realizam os rituais funerários, de cura, e do batismo do milho. É no pátio ,em frente a opy, que se realizam as reuniões de deliberação da comunidade e o xondarê, dança lúdica guarani, quando todos brincam ao som do violão e da rebeca. São os xamãs, conhecidos também por rezadores, que, ouvindo as vozes e orientações dos deuses, os conduziram a esses espaços para que pudessem neles construir suas aldeias, o tekoa. O tekoa é formado por um complexo de pequenos núcleos, de duas ou mais casas, dispersos pela área escolhida. Nele, as relações sociais e de parentesco, a divisão sexual do trabalho e as relações cosmológicas com os espíritos e o sobrenatural se reproduzem e se atualizam, dando sentido ao modo de ser e viver Guarani. Há quinhentos anos os Guarani têm enfrentado o desafio de sobreviver de acordo com suas tradições, interagindo com a sociedade brasileira. Vêm selecionando e incorporando as suas tradições e valores as novas necessidades e conhecimentos advindos dessa relação. Hoje, administram, em parceria com várias instituições, os projetos que escolheram para desenvolver em sua comunidade: a escola bilíngüe, que já produziu uma cartilha Guarani para alfabetização, e um livro contando a história do contato com os não-índios do ponto de vista Guarani; a instalação de um posto de saúde na aldeia e a formação de agentes de saúde guarani; a construção de açudes para piscicultura; a criação de animais; o ponto de venda de artesanato em Angra dos Reis e o projeto de oficinas fotográficas; entre outros. Na aldeia Sapukai, do tekoa de Bracuí , os Guarani vivem o tempo presente e constroem o futuro de seus filhos. |
A
REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA EM UM MITO INDÍGENA. José Ribamar Bessa Freire (*)
INTRODUÇÃO
Algumas
pesquisas vêm revelando, nos últimos quinze anos, o papel da escola e dos
textos didáticos na imagem que os brasileiros construiram sobre os índios. Uma
das primeiras abordagens mais sistemáticas concluiu, em 1987, que embora não
exista “uma imagem única do índio no livro didático”, o que predomina é uma
representação “no mínimo, enganadora e equivocada”, com afirmações inexatas, detalhes
exóticos e incompreensíveis, projeções de valores estranhos”, todos eles, enfim,
apresentando o índio “como ser inferior”. (Silva, 1987: 40 e 89).
ÍNDIOS
Maria
Regina Celestino de Almeida
Doutora pela UNICAMP e professora do Departamento de História da UF
Doutora pela UNICAMP e professora do Departamento de História da UF
Fontes:
Bibliografia:
Luís
Donisete Benzi Grupioni (org). Índios do
Brasil. 4ª edição. São Paulo: Global: Brasília: MEC,
2000.
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