Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sábado, 22 de agosto de 2009

"Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico"

Comentários sobre o novo livro de Stuart Schwartz
"Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico" (Edusc & Companhia das Letras, 2009)
"Schwartz demonstra, de forma eloquente e convincente, uma narrativa harmoniosa que é ao mesmo tempo emocionante e esclarecedora. "Cada um na sua lei" deve provar ser uma contribuição muito importante para a nossa compreensão das crenças religiosas, passado e presente. " Carlos Eire" Livros & Cultura " (11/01/2008) - Este texto refere-se à edição Paperback.
"Neste soberbo e surpreendente livro original, Stuart Schwartz levanta uma tese audaciosa de que é certo excitar a atenção e controvérsia” Felipe Fernandez-Armesto, Tufts University (Felipe Fernández-Armesto 2009/03/15).
"Não são muitas histórias acadêmicas que fazem você rir em voz alta. Schwartz mostra pessoas comuns usando vulgaridade e humor para convencer inquisidores de que sexo entre pessoas solteiras não era pecado, e que todos os crentes sinceros (muçulmanos, cristãos, protestantes) seriam salvos, embora soubessem que tal provocação normalmente conduzia a castigos selvagens. Este é um livro que você deve ler." Geoffrey Parker, autor de The Grand Strategy of Philip II (Geoffrey Parker).
"Stuart Schwartz amplia o caminho para a tolerância religiosa com fascinantes exemplos novos, a partir de Portugal, Espanha e suas colônias americanas. Comerciantes, agricultores e escravos argumentam um relativismo prático tão independente quanto qualquer estudioso radical. Um importante livro para compreender o que leva as pessoas a aceitarem a diferença, e uma fonte de esperança para o nosso próprio tempo”. Natalie Zemon Davis, autora de Trickster Travels: A Sixteenth-Century Muslim Between Worlds (Natalie Zemon Davis).
"Schwartz, um ilustre historiador do Brasil colonial e da América Latina, escreveu um trabalho fascinante e provocador que representa muitos anos de exaustiva pesquisa através de registros inquisitórios em ambos os lados do Atlântico... Temos um trabalho que vai se tornar rapidamente um clássico." - Sara T. Nalle, Renaissance Quarterly.
"... Este livro deverá desencadear uma maior reavaliação de atitudes populares para com a religião, não somente no Atlântico Ibérico, mas também em outros cantos do início do mundo moderno." Liam Brockey Mateus, Jornal da Interdisciplinary History.

Tolerância revelada
Em novo livro, Stuart Schwartz afirma que houve tolerância religiosa no mundo ibérico mesmo em meio às fogueiras da Inquisição. Em entrevista exclusiva, ele fala sobre a obra e seus novos projetos.
Ao contrário do que se pensa, a Inquisição não transformou em cinza todo pluralismo religioso da época e, mesmo sob o risco da fogueira, a tolerância sobreviveu nos países ibéricos e colônias além-mar. Em seu novo livro, ‘Cada um na sua lei’, o historiador norte-americano Stuart B. Schwartz pretende reparar esta injustiça utilizando não o pensamento de nomes iluminados, mas a despercebida vida cotidiana dos anônimos da época.A obra chega ao Brasil já premiada. No ano passado, por conta do livro, Stuart recebeu o importante prêmio Cundill, um dos mais importantes do mundo na área de História. Publicada pela Companhia das Letras, a edição em português será lançada no dia 17 em São Paulo e dia 19 em Salvador (2009).
O problema da salvação das almas era tão importante durante a Idade Média que foi criada uma ciência para tratar do tema. A soteriologia mobilizou teólogos por anos. Alguns mais ousados desafiavam os dogmas católicos com interpretações consideradas heréticas, como a teoria da apocatástase defendida pelo escritor Orígenes de Alexandria (185-254). Segundo ele, a natureza misericordiosa de Deus redimiria os pecados e salvaria a todos no final dos tempos.Apesar de rejeitada pela Igreja, posições como a de Orígenes contaminaram boa parte da opinião pública europeia durante séculos. Por se ater pouco à vida das pessoas comuns, Schwartz acredita que a historiografia acabou menosprezando a existência de sentimentos de tolerância que se faziam presentes mesmo em uma época na qual predominava a ortodoxia católica
Seja pelo recorte das fontes ou por ir na contramão de interpretações historiográficas tradicionais, ‘Cada um na sua lei’ se propõe a superar clichês. "Lutero, Spinoza e Locke são interessantes não porque eram iguais a todos os outros e sim porque eram diferentes, e porque a individualidade e a capacidade pessoal deles em criar e representar ideias vieram a imprimir suas marcas no curso da história. Quero conceder esse mesmo privilégio às pessoas desconhecidas que aparecem nestas páginas", escreve o autor no prefácio de sua mais nova obra. Na entrevista abaixo, Schwartz comenta sobre o livro, seus projetos futuros e as pesquisas sobre o Brasil no exterior.
– A salvação ainda é uma questão nos dias atuais ou vivemos sob o domínio de uma espécie de teoria da apocatástase?
O pensamento da salvação não domina mais por conta de uma secularização do mundo moderno, mas permanece sendo assunto de interesse para um grande segmento da população mundial. O senso comum desenvolveu um relativismo e a crença de que o bem pode ser encontrado em muitas fé. Isto foi mais ou menos a posição do Vaticano II, mas o debate teológico continua aberto. A liberdade de consciência religiosa se tornou uma questão de “direitos humanos” mais do que de “tolerância” de um sofrimento com algo desagradável. Esta é a maior mudança do século XX.
– Quais as relações entre os interesses mercantis de uma globalização incipiente e a tolerância pregada pelo humanismo renascentista?
Os avanços do século XVII com os judeus representaram uma influência de interesses econômicos em certa medida. Certamente a globalização da economia mundial facilita o intercâmbio cultural e vice-versa, mas é muito difícil ver se estas relações e atitudes são profundas e duradouras ou facilmente alteradas com as mudanças econômicas e políticas. Por outro lado, aqueles que se são contra a globalização por vezes encontram na oposição religiosa uma ferramenta útil, procurando na pureza religiosa um modo de resistir à integração global.
– Qual a influência do historiador britânico Henry Kamen neste livro?
Kamen tem encorajado meu projeto, apesar de discordarmos em vários aspectos. No passado, ele defendeu sozinho certa tolerância na sociedade hispânica e tem enfatizado a dissidência que sempre existiu. Mas ele também tende a diminuir os aspectos mais autoritários do mundo hispânico. Eu o admiro extremamente sua produtividade e sobretudo sua contribuição para a historiografia hispânica, mas acredito que o impacto da repressão foi maior do que ele acredita.
– Em uma entrevista, o senhor afirmou que "não faz sentido mais separar, pelo lugar de nascimento, a maneira de um estudioso ver a história". Por que deixou de fazer sentido falar em 'brasilianistas'?
Existem brasileiros, brasilianistas e até brasileiros brasilianistas (aqueles formados na Europa ou Estados Unidos), como Fernando Novais costumava dizer. O que foi Peter Eisenberg? O que é Michael Hall e Robert Slenes? E Roberto DaMatta? Neste mundo transglobal, o rótulo de brasilianista (um estrangeiro que estuda sobre Brasil) faz cada vez menos sentido. Isso não significa que não subsistam diferenças culturais de percepção e interpretação, mas simpatia e conhecimento muitas vezes podem superar a origem nacional.
– As discussões sobre raça continuam atraindo os maiores interesses norte-americanos sobre a cultura brasileira?
Raça e escravidão continuam sendo importantes, mas os temas mudaram para enfatizar mais as continuidades, identidades e a persistência das culturas africanas. Por exemplo, há o excelente trabalho de Marina de Mello e Souza, Mariza de Carvalho Soares, Paul Lovejoy e John Thornton, especialistas na África que têm se interessado no Brasil. E estudiosos como João Reis continuaram a produzir trabalhos de alta qualidade nesta área, que reflete a concentração em novos temas.
– Em outra entrevista à Revista de História, o senhor disse que o historiador Thomas Skidmore tinha razão quando afirmou que certa geração de estudantes norte-americanos eram "os afilhados de Fidel". Como soa a frase duas décadas depois da queda do muro de Berlim?
Skidmore disse que minha geração de especialistas na América Latina eram "afilhados de Fidel" porque, depois de 1959, o governo dos Estados Unidos percebeu que a compreensão da América Latina era muito limitada. Então, criou bolsas para estudo de línguas, entre outras coisas. Por exemplo, o português na década de 60 foi considerado uma "linguagem crítica" e seu estudo foi incentivado. Mas se os EUA pensava que o apoio formaria uma geração que beneficiaria sua própria política, ficou logo óbvio que muitas das críticas mais severas ao governo vieram destes "afilhados".
Vejamos o caso de Bradford Burns na Universidade da California (UCLA). Ele escreveu um livro sobre Barão do Rio Branco e se tornou um líder na crítica da intervenção dos Estados Unidos na América Central durante os anos 80, de modo tão franco que o presidente Reagan se pronunciou publicamente para denunciá-lo. Ou Ralph Della Cava, autor de um livro sobre Padre Cícero, que escreveu um relatório sobre a tortura no Brasil durante o governo militar que levou a muitas críticas à política de apoio dos EUA àquele regime autoritário.
– Como analisa a recente guinada à esquerda do continente latino-americano?
Eu não sou especialista na América Latina contemporânea, mas tenho opiniões. Claramente, a preocupação norte-americana com o Oriente Médio tem beneficiado o ressurgimento da esquerda latino-americana. Sem recursos para intervir e frente aos novos desafios econômicos, os políticos dos Estados Unidos testemunharam o retorno à democracia e, às vezes, aos governos populistas em todo continente. Todos os tipos de governo de esquerda estão representados. Daqueles orientados ao trabalho, como no Brasil e Argentina, passando pela étnica-nacionalista na Bolívia e os esquerdistas pragmáticos do Chile, até os teólogos da libertação no Paraguai e, como Greg Grandin recentemente escreveu, os utópicos na Venezuela e talvez Cuba.O incrível neste desejo de uma reforma econômica e social e a rejeição do capitalismo desenfreado, que fez muito pior em desigualdade social nos anos 80 e 90, é sua força, apesar de toda violência e pressão econômica para colocar a América Latina em direção ao neoliberalismo. O estilo de Chávez e sua retórica me lembram os anos 60. Eu não gosto de "continuísmo" sob qualquer forma, mas a Venezuela tem tido uma excelente taxa de crescimento, ele diminuiu o desemprego e sondagens mostram que ele tem o apoio da maioria da população. Quaisquer que sejam seus defeitos, após a história eleitoral recente e a violação de direitos civis em nosso próprio país, americanos como eu poderiam ser mais relutantes em criticar outras nações nestes assuntos.
- A qual projeto está se dedicando atualmente?
Dou aulas em Yale. Meu curso sobre o Brasil, "500 anos de amanhãs", continua a chamar atenção e muitos alunos vão visitar o país, estudar português e até mesmo se mudar para o Brasil. Mas atualmente estou trabalhando em dois grandes projetos. Um é um estudo da separação de Portugal da Espanha e do papel emergente do Brasil no mundo atlântico entre 1580 e 1680. O outro é uma história social dos furacões caribenhos e como as sociedades respondem às catástrofes naturais. Estes dois devem me manter ocupado por algum tempo. Mas coisas novas estão sempre próximas. Em 1798, quando Napoleão invadiu o Egito, agentes franceses tentaram estimular uma revolta na Bahia (a Revolta dos Alfaiates) e também uma na Irlanda, ao mesmo tempo em que a revolução haitiana foi progredindo. Estou pensando em um livro curto chamado "1798", que une tudo isso em conjunto como parte de uma história atlântica da revolução.
- Há previsão de lançamento dos dois livros mais adiantados?
Os dois projetos estão ainda em fase de pesquisa, embora tenha artigos publicados recentemente nos dois tópicos. Estou animado por ambos e, enquanto a História continuar me entusiasmando, quero continuar como historiador.
DADOS DO PRODUTO
TÍTULO: CADA UM NA SUA LEI
ISBN: 9788535914993
IDIOMA: Português.
ENCADERNAÇÃO: Brochura Formato: 14 x 21 488 págs.
ANO EDIÇÃO: 2009
VALOR APROXIMADO: R$ 50,00

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