Trabalhadores imigrantes no Brasil - século XIX/XX
Leide Alvarenga Turini
Antes da vinda de imigrantes para o trabalho nas
lavouras, algumas experiências já haviam sido realizadas com colonos europeus
no Brasil. Por exemplo, no início do século XIX, com o objetivo de promover o
povoamento de algumas regiões do país, o governo brasileiro criou o sistema
de colonização que consistia na instalação de imigrantes em pequenas
propriedades de terra. Por esse sistema, as famílias de colonos imigrantes
recebiam pequenos lotes de terra onde deveriam produzir principalmente gêneros
alimentícios para o mercado interno. Pelo sistema de colonização chegaram ao
Brasil, nas primeiras décadas do século XIX, imigrantes alemães e suíços que se
estabeleceram no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Colônias
como a de São Leopoldo (1824) no Rio Grande do Sul e a de São Pedro de
Alcântara (1828), em Santa Catarina, foram criadas dentro dos princípios do
sistema de colonização. Mais tarde outras colônias foram fundadas, como a
colônia Dona Francisca (hoje Joinville) e a colônia de Blumenau (1850), em
Santa Catarina. As colônias estabelecidas no sul do país não representavam uma
ameaça para os cafeicultores do sudeste nem para os pecuaristas gaúchos uma vez
que se localizavam em áreas não ocupadas pelo latifúndio e produziam gêneros
que não concorriam com os da grande lavoura. Esperava-se desses colonos
imigrantes que, ao receberem terras, formassem uma camada social intermediária
entre escravos e latifundiários (a categoria social dos pequenos
proprietários) com a tarefa de produzir vários gêneros para o mercado
interno, atendendo às necessidades dos latifúndios (cuja base era a monocultura
de exportação) e dos núcleos urbanos em expansão.
Mas foram poucos os colonos imigrantes que receberam
terras e subsídios do governo brasileiro, principalmente a partir da aprovação
da lei de terras de 1850. Esta lei proibiu a aquisição de terras devolutas
por posse ou doação. A partir de então, a terra só poderia ser adquirida
mediante título de compra. Essa lei provocou a expulsão de muitos
posseiros, bem como impediu que outros trabalhadores nacionais e também
imigrantes tivessem acesso a terra.
De qualquer maneira, o sistema de colonização durou
pouco. A partir de 1840, quando os proprietários paulistas passaram a defender
a vinda de imigrantes para o trabalho nas lavouras de café, o sistema adotado
nada tinha a ver com o que havia sido realizado nas primeiras décadas do século
XIX. Conhecido como sistema de parceria, a primeira experiência
ocorreu em 1847, na Fazenda Ibicaba (região de Limeira), cujo proprietário era
o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Para o transporte dos imigrantes
o senador Vergueiro fundou a empresa Vergueiro e Cia. Os trabalhadores
imigrantes contratados eram todos camponeses empobrecidos,
artesãos e operários que esperavam encontrar no Brasil o que na Europa estavam
impossibilitados de obter: acesso a terra, bens materiais e condições dignas de
vida.
De acordo com o contrato de parceria, os colonos
tinham todas as despesas de viagem pagas e transporte até a fazenda. Os gastos
com manutenção e instalação da família, efetuados logo após a chegada dos
mesmos corriam também por conta do fazendeiro. Essa gratuidade era, na verdade,
apenas um adiantamento: logo que o colono iniciasse a produção deveria
começar a pagar o fazendeiro com juros de 6% ao ano e, mais tarde, juros de até
12% ao ano. A cada família de colonos imigrantes era atribuído um certo número
de pés de café para cultivar, colher e secar, além de um pedaço de terra para
plantar gêneros de subsistência. Do lucro obtido com o café colhido, o colono
deveria receber a metade, descontando-se, porém, todos os gastos com a secagem
no terreiro, limpeza, beneficiamento, transportes e impostos. O fazendeiro
ficaria também com a metade do lucro dos alimentos vendidos pelos colonos.
Ainda com pouco tempo de funcionamento, o sistema de
parceria acarretou vários problemas que acabaram em sérios conflitos entre as duas
partes. Os colonos acusavam os fazendeiros de lhes destinar poucos cafeeiros
frutíferos que produziam uma safra pequena e em terras menos acessíveis.
Reclamavam dos pesos e medidas utilizados pelos proprietários que avaliavam a
mercadoria em prejuízo dos colonos. Criticavam a falta de liberdade religiosa e
as moradias em que eram instalados: casas de pau-a-pique, sem forro, de chão
batido e, em algumas vezes, até antigas senzalas. Consideravam injusta a
entrega de metade da produção de sua roça ao fazendeiro e desonesta a contagem
dos juros. Além disso, muitos fazendeiros, ao contrário do que haviam prometido
anteriormente, cobravam aluguel dos colonos. O endividamento dos colonos era
permanente, pois além das dívidas contraídas com a viagem, havia também as
dívidas feitas nos armazéns das fazendas. Durante o tempo em que o colono não
podia colher seus próprios alimentos e, em virtude do pouco que recebiam, eram
obrigados a comprar fiado nos armazéns do fazendeiro. Este comprava os
alimentos a preços reduzidos e os fornecia aos colonos a preços altíssimos.
Dessa maneira, muitos imigrantes endividaram-se de maneira irrecuperável, sendo
que a dívida chegava a dobrar ou até mesmo triplicar seu valor em dois ou três
anos e o colono acabava ficando preso ao fazendeiro, quase como um escravo.
Os colonos não se acomodaram a esta situação.
Inicialmente realizaram protestos pacíficos enviando reivindicações e críticas
por escrito às autoridades locais e internacionais. Depois, recusaram-se a
trabalhar e pouco a pouco muitas famílias abandonaram as fazendas. Foram
inúmeros os casos de greves, rebeliões, prisões e queixas entre colonos e
fazendeiros. Por outro lado, os fazendeiros se sentiam ameaçados e acusavam os
colonos de indisciplinados, reclamando das freqüentes deserções de suas
fazendas. Quando eram consultados sobre maneiras de melhorar o sistema,
sugeriam financiamento do governo, fiscalização e repressão policial.
Durante
a década de 1860 as fazendas de café foram abandonando o sistema de parceria e,
na década de 1880, iniciou-se o sistema de imigração subvencionada ou
subsidiada. Os fazendeiros paulistas organizaram, em 1886, a Sociedade
Promotora de Imigração que, entre outras atividades, passou a administrar a
Hospedaria dos Imigrantes, construída no mesmo ano em São Paulo, e que se
tornaria um verdadeiro mercado de trabalho onde se firmavam contratos entre
imigrantes e fazendeiros. Na imigração subvencionada, diferente do que ocorria
no sistema de parceria, o governo brasileiro assumia a responsabilidade de
arcar com as despesas de viagem dos trabalhadores imigrantes e de suas famílias
e os fazendeiros arcavam com os gastos do colono durante o seu primeiro ano de
vida no país. Além disso, os colonos receberiam um salário fixo anual e mais um
salário de acordo com o volume da colheita, fixado por alqueire de café
produzido.
(...)
Acesso o texto completo no link: http://gephiseseba.blogspot.com.br/2011/09/trabalhadores-imigrantes-no-brasil.html
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