Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sexta-feira, 23 de abril de 2010

História - Aula 11 (2 de 2)

O Império Carolíngio e a Idade Média

Material complementar em vídeo e texto sobre a formação do feudalismo. Este material se relaciona com as primeiras aulas da 5ª série (6° Ano) - Livro Volume 2. Assista ao vídeo e leia o texto e venha preparado para as aulas ou utilize como material de revisão.
Os objetivos dessas aulas são:
► Compreender a origem do feudalismo;
► Caracterizar o feudo como elemento fundamental para o estabelecimento das relações de suserania e vassalagem.
As aulas 14 (1 e 2) completam essa aula (n°11-2)


Império Carolíngio - origens
Das bases da dinastia Merovíngia a Carlos Martel
Gilberto Salomão*Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
O reino que deu origem à França atual nasceu da invasão dos francos, um dos vários povos bárbaros germânicos que, a partir do século 4, penetraram no espaço do antigo Império Romano do Ocidente.Desde o final do século 3 a historiografia registra ações de pirataria dos francos na costa do Mar do Norte, adentrando regiões da Gália romana. Incapaz de detê-los, vivendo um processo de enfraquecimento, o Império Romano havia estabelecido acordos com eles, admitindo-os dentro de seu território, chegando mesmo a conceder, a alguns chefes guerreiros francos, postos de comando no exército, como Merobaudo, que se tornou general do imperador Valentiniano.A intensificação das invasões bárbaras e o conseqüente enfraquecimento definitivo do império abriram espaço para que todas as regiões da Gália fossem sendo ocupadas pelos francos. Coube a um chefe legendário, chamado Meroveu, impor-se sobre os demais chefes francos, estendendo sua hegemonia sobre toda a Gália. Tal poder, entretanto, não foi aceito sem reação dos demais chefes. Foi somente o neto de Meroveu, chamado Clóvis, que conseguiu impor, no final do século 5, sua autoridade efetiva sobre todos os demais chefes, sendo reconhecido como o primeiro rei dos francos. Sua origem, enquanto neto de Meroveu, que teria dado início a esse processo de unificação, deu nome à dinastia por ele fundada, a mais antiga dinastia monárquica da França: a merovíngia.
Conversão ao cristianismo
A unificação das terras ocupadas pelos francos sob o poder de Clóvis só foi obtida em função de um dado fundamental para que se compreenda a própria natureza do reino franco e sua importância ao longo da Idade Média. O povo franco, notadamente Clóvis, foi o primeiro entre os povos germânicos a compreender que seria impossível sua fixação nas regiões do antigo Império Romano sem o apoio - ou ao menos a aceitação - das populações nativas, majoritárias em termos numéricos. Para obter essa aceitação, Clóvis viu-se obrigado a compor politicamente com uma das poucas instituições remanescentes do império, a qual já detinha uma forte ascendência sobre grande parte de sua população: a Igreja Católica.A mitologia cristã salienta um episódio no qual Clóvis teria tido um sonho, decisivo para sua conversão ao cristianismo. O que existe de fato é a certeza de que a conversão de Clóvis ao cristianismo, em 496, e a conseqüente aliança que ele estabeleceu com a Igreja, foi, essa sim, decisiva para a afirmação de sua autoridade. Foi a partir do apoio da Igreja e dos cristãos da Gália que Clóvis pôde derrotar os demais guerreiros francos, impondo-se como rei.
Organização social dos povos germânicos
Entretanto, a partir daí, uma série de características dos povos germânicos foram decisivas para que a monarquia não conseguisse manter um mínimo de centralização efetiva ao longo das décadas seguintes. Mas para uma melhor compreensão dessa situação temos de, primeiramente, compreender a forma original de organização desses povos. As sociedades germânicas haviam evoluído de uma estrutura tribal para a formação de agrupamentos guerreiros, centrados na figura de um chefe que comanda guerreiros livres, os quais se submetem por vontade própria à autoridade daquele que é reconhecido como o indivíduo com maiores condições de comandá-los. Sendo fundamentalmente guerreiros, seus vínculos eram basicamente militares. Não conhecendo uma estrutura institucional de Estado, esses vínculos assumiam um caráter estritamente pessoal, forjado em juramentos de fidelidade e obediência por parte dos guerreiros, em troca da proteção que lhes era concedida pelo chefe. Essa forma de organização chamava-se comitatus, ou grupo de guerra, e teve importante influência na formação da sociedade feudal.A necessidade militar, ligada às conquistas que fazem parte do processo de destruição do Império Romano, levou a um processo de organização desses agrupamentos guerreiros. Longe de um Estado, tal como é concebido atualmente, o que se formou, de um modo geral, foi uma autoridade central, fundamentalmente militar, caracterizando um poder que, em termos genéricos, chamamos de "monárquico". Entretanto, esse poder real era exercido com fortes limitações, submetido ao prestígio pessoal do monarca e à Assembléia de Guerreiros, detentora, em última análise, do poder efetivo.A manutenção desse princípio pessoal de relacionamento faz com que o vínculo entre o rei e os chefes guerreiros mantenha as mesmas características herdadas do comitatus. Os guerreiros submetem-se ao rei pelos mesmos juramentos de fidelidade e obediência, enquanto o rei se obriga a garantir proteção e comando militar.
Bases da nobreza feudal
Esses traços mesclam-se a um aspecto econômico comum aos vários povos germânicos: o fato de terem na agricultura sua atividade básica, sendo o comércio praticamente desprezível. Assim, a questão militar assumiu um papel de sobrevivência cotidiana, ligada à defesa da terra geradora do alimento do qual eles necessitavam. Mais que isso, os chefes guerreiros, num processo de conquista, assumiam uma condição de conquistadores da própria possibilidade de sobrevivência, o que colocava as massas de trabalhadores não guerreiros sob sua direta dependência. Com isso, criou-se uma situação na qual a posse da terra articulou-se necessariamente à capacidade de defendê-la, relegando a massa de não guerreiros à condição de trabalhadores braçais, produtores do alimento em troca da terra e da proteção recebida. Essa relação gerou uma nítida diferenciação social, entre aqueles que trabalham e aqueles que guerreiam, constituindo estes últimos uma elite social e econômica, detentores da terra e do que havia de força militar. Estavam lançadas as bases para a constituição da nobreza feudal.
Descentralização política
Por outro lado, as relações entre esses guerreiros e as autoridades superiores também se fundaram nessas mesmas necessidades e princípios. Considerando-se o rei como autoridade militar suprema, sua condição, em última análise, é a de detentor de todas as terras. Para efetivar a defesa, ele concedia a outros chefes guerreiros o comando de parte dessas terras, além da proteção, mas exigindo, em troca, um juramento de fidelidade, obediência e serviço militar às necessidades do rei. Supondo-se que esse juramento inclua, apenas como um exemplo, que este chefe militar apresente-se ao rei com o auxílio de um determinado grupo de guerreiros armados, ele terá de ter esses guerreiros submissos a ele, da mesma forma que ele é submisso ao rei. Daí a necessidade de ceder-lhes parte de suas terras - e assim sucessivamente.Com isso, criou-se uma estrutura de verticalização das relações políticas e militares. No topo da hierarquia encontra-se o rei, vinculado a chefes guerreiros, os quais se vinculam a outros e assim por diante, num processo cujo efeito final é o estabelecimento de inúmeros domínios pessoais sempre submetidos a uma autoridade superior. Foram esses vínculos que deram origem às relações de suserania e vassalagem, base fundamental das relações entre a nobreza medieval. O próprio Clóvis dividiu o reino em províncias às quais ele o deu nome de condados, nomeando nobres guerreiros, condes, para administrá-las. Com isso, verificou-se uma tendência à descentralização política, tendência essa que se acentuou nas décadas seguintes.Outro aspecto a ser considerado é que, com base no velho costume, segundo o qual o rei é o detentor de todas as terras, o reino passava a ser considerado um bem pessoal, passível de herança como qualquer outro bem. Assim, era natural que o rei dividisse seus domínios entre seus filhos, quando se aproximava da morte.
Os major domus e as invasões islâmicas
O hábito franco de que o herdeiro fosse coroado aos 12 anos de idade, portanto ainda inexperiente para governar, levou ao surgimento dos Administradores do Palácio, ou Prefeitos do Palácio, os Maires du Palais, uma espécie de primeiro-ministro, oriundos de ricas famílias aristocráticas e homens fortes do poder real. Esse título, já num momento posterior, em que a herança da influência romana voltou a ser forte, passou a ser conhecido em sua forma latina: major domus.Dessa forma, tendo seu poder esvaziado pela dispersão entre os chefes locais e pela autoridade crescente dos major domus, o poder do rei tendeu a se tornar meramente decorativo, tanto que os últimos reis merovíngios ficaram conhecidos pela designação de reis indolentes. Seu poder era meramente formal, como chefe militar supremo, condição que numa época de paz não lhe granjeava qualquer autoridade efetiva. Ao mesmo tempo, ao manter vínculos com a nobreza guerreira, coletar tributos e controlar o pouco que havia de administração do reino, o major domus passava a ser a autoridade efetiva. Tal situação atingiu seu ponto mais agudo nas primeiras décadas do século 8, tendo como elemento impulsionador a invasão árabe sobre o território franco.Como sabemos, impulsionados pela religião islâmica, os árabes haviam iniciado, desde o século 7, um amplo processo de conquistas. Contando com a decadência dos impérios Persa e Bizantino, e com a fragilidade dos reinos bárbaros - descentralizados no sul da Itália, no norte da África e na península Ibérica -, os muçulmanos conseguiram, num intervalo de um século após a morte de Maomé, conquistar um gigantesco domínio, que culminou com a conquista da península Ibérica, em 711. A partir daí, o alvo inevitável seria o reino Franco, situado logo a norte. A liderança dos exércitos francos contra os árabes coube, no entanto, não ao rei, mas sim ao major domus Carlos Martel.
Império Carolíngio - apogeu e declínio
Pepino, Carlos Magno e as invasões bárbaras
Gilberto Salomão*Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
A ascensão de Carlos Martel ao cargo de major domus já evidenciara uma situação de dualidade de poder na França. Embora, em princípio, tal cargo fosse uma indicação real, seu pai, Pepino de Heristal, havia conseguido impor seu nome como sucessor, tornando o cargo hereditário, numa estrutura de poder paralelo ao poder monárquico.De qualquer modo, foi sob o comando de Carlos Martel, e sua inequívoca liderança sobre os guerreiros francos, que estes conseguiram derrotar os árabes na batalha de Poitiers, em 732.A vitória teve múltiplos significados para o reino franco. Em primeiro lugar, ela consolidou a aliança entre os francos e a Igreja Católica, já que foram eles os únicos capazes de deter os infiéis que ameaçavam a Cristandade. Em segundo lugar, efeito básico da guerra para um povo germânico, verificou-se um fortalecimento da autoridade central, com a nobreza guerreira unida em torno de um comando centralizador. Por outro lado, lembramos que esse comando está nas mãos não de um rei formal, mas sim de seu major domus, cujo poder, prestígio e liderança sobre a nobreza suplantavam em muito o poder do rei.
Pepino, o BreveFoi o filho de Carlos Martel - chamado de Pepino, o Breve - quem representou a conclusão desse processo. Alegando ser portador de sangue real (afirmava ser filho de Carlos Martel com a rainha Batilde) e contando com o apoio dos nobres e da Igreja, ele depôs o último rei merovíngio, Childerico 3º, e fez-se coroar rei da França no ano de 751. Surgia aí uma nova dinastia, chamada de carolíngia, pelo fato de se originar em Carlos Martel.Foi durante o reinado dos reis carolíngios que os francos atingiram o apogeu de seu poder na Europa. Pepino ampliou a aliança que existia, desde Clóvis, entre os francos e a Igreja. O elemento mais forte dessa ampliação foi a luta movida por Pepino contra os lombardos, que ameaçavam Roma. Detentores de domínios ao norte da Itália, os lombardos, um dos povos germânicos que havia invadido as terras do Império Romano durante o século 5, vinham penetrando cada vez mais para o centro da península, ameaçando Roma e, conseqüentemente, a Igreja. O próprio papa, Estevão 2º, ante o risco de invasão de Roma, fora forçado a se exilar na França. Foi ali que ele coroou Pepino, o Breve como rei dos francos. Foi com apoio militar dos francos que o papa pôde retornar a Roma, com a derrota do rei dos lombardos, Astolfo, e com a Igreja tendo suas propriedades restituídas. Três anos depois, entretanto, Astolfo voltou a atacar Roma. Pepino, o Breve ordenou nova invasão da Itália, derrotando definitivamente os lombardos. Como resultado, os lombardos cederam os territórios de Ravena e de Pentápolis a Pepino, que, juntando-os ao ducado de Roma, doou ao papa Paulo 1º, que substituíra Estevão 2º, originando o Patrimônio de São Pedro, ou Estados Pontifícios.A ação de Pepino, o Breve foi decisiva para a ampliação dos domínios francos. A irreversível aliança estabelecida com o papado foi o fator de justificação ante os fiéis para que aceitassem a dominação franca. Tanto que as conquistas francas, ampliadas de modo drástico no reinado do filho de Pepino, o Breve, Carlos Magno, foram todas elas obtidas com o apoio da Igreja.
Renascimento CarolíngioCarlos Magno assumiu o trono em 768. Empenhou-se em expandir seus domínios, anexando o norte da Itália, em mãos dos lombardos, submetendo a Saxônia, a Baviera e a Bretanha, estabelecendo o controle franco sobre o nordeste da península Ibérica, derrotando os ávaros e obtendo a submissão de boêmios, morávios e croatas. Fez do Reino Franco a mais extensa unidade administrativa da Europa ocidental.Todas essas conquistas foram feitas, repetimos, tendo a Igreja como principal avalizadora e justificadora. Essa condição consolidou-se definitivamente quando, na missa de natal de 800, o papa Leão 3º coroou Carlos Magno Imperador dos Romanos. O título tinha uma conotação essencialmente religiosa, significando o imperador daqueles que seguiam a religião de Roma. Entretanto, acabou assumindo um significado muito maior, de uma ressurreição do Império Romano do Ocidente. Claro que essa ressurreição dava-se em direta aliança com a Igreja Católica, a qual passaria a gozar de uma estrutura política forte para amparar seu crescente poder. Criava-se ali a dicotomia e a complementaridade entre o poder espiritual - representado pela Igreja e centrado na figura do papa - e o poder temporal, terreno, que tinha no imperador sua expressão máxima.A administração do Império seguiu o modelo franco da divisão em condados (cerca de 200), passando os bispos também a exercerem um poder condal em suas cidades. Nas regiões fronteiriças Carlos Magno criou as Marcas, sob o controle de um funcionário, o que originou o termo "marquês". Estas medidas favoreceram o desenvolvimento dos poderes jurídico-militares regionais localizados. Numa tentativa de manter algum controle central, Carlos Magno criou os missi dominici, funcionários que percorriam o império, fiscalizando a administração de condes e bispos. Mais do que eles, entretanto, o verdadeiro responsável pela manutenção de um mínimo de centralização foi o estado de guerra constante que caracterizou o governo de Carlos Magno. Ele multiplicou os domínios e as relações de vassalagem, colocando o rei no alto de uma estrutura minimamente organizada em termos político-militares.A centralização política que parcela da Europa ocidental conheceu depois de mais de três séculos favoreceu um modesto desenvolvimento econômico, incapaz de reverter a ampla organização rural, e promoveu o chamado Renascimento Carolíngio. Escolas foram fundadas, os aristocratas estimulados a alfabetizarem-se, a corte tornou-se um centro de homens sábios e algo do passado cultural romano foi recuperado. O chamado Renascimento Carolíngio foi um fenômeno essencialmente cultural, diretamente apoiado na Igreja Católica.
Fim da dinastia carolíngiaCom a morte de Carlos Magno, em 813, o poder passou para seu filho Luís, o Piedoso, que governou até 840. Fortemente influenciado pela Igreja, Luís foi um monarca fraco. Terras da Igreja e domínios senhoriais conseguiam livrar-se do controle do poder central, tornando-se autônomos e livrando-se do cumprimento de suas obrigações para com o poder central.Seu governo coincidiu também com uma nova onda de invasões, que caracterizaram toda a Europa ocidental do século 9. Vindos da Escandinávia, os vikings e seus navios de quilha rasa subiam os rios, espalhando a morte e a destruição por vastas áreas. Os sarracenos, piratas muçulmanos do norte da África, assolaram as zonas litorâneas da Itália e da França. E os magiares (ou húngaros), cavaleiros nômades das estepes da Ásia central, submeteram o norte da Itália e a Alemanha a contínuas incursões de pilhagem.A morte de Luís significou o fim da unidade imperial. Seus três filhos repartiram o Império no Tratado de Verdun (843). Carlos, o Calvo, ficou com a França Ocidental (que deu origem ao Reino da França); Luís, o Germânico, com a França Oriental (a futura Alemanha); e Lotário, com a França Central, repartida após a sua morte, em 870, entre Carlos e Luís.A autoridade real esfacelou-se rapidamente. Condes, duques e marqueses usurpam os poderes reais e passam a exercê-los em nível local. Em 877, os domínios, chamados então de feudos, tornam-se hereditários. Em 911, o rei Carlos, o Simples, incapaz de deter os ataques vikings, cedeu-lhes o ducado da Normandia, origem de sua outra denominação, normandos. O ano de 911 viu também o fim do ramo germânico dos carolíngios, com a morte de Luís, o Jovem. Em 987, morrendo o último soberano carolíngio da França Ocidental, Luís 5º, os aristocratas escolheram Hugo Capeto, Conde de Paris, como rei.Essa data assinala o fim da dinastia carolíngia sobre a França, dando origem à dinastia capetíngia, que governou o país até o século 14.
Fontes: UOL Educação

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