Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Escravidão.

O trabalho escravo no Brasil

Disciplina: História
Ciclo: Ensino Fundamental 2º Ciclo
Assunto: Escravismo
Tipo: Artes Visuais

A proposta apresentada a seguir pode iniciar um diálogo e uma reflexão sobre as origens do trabalho compulsório no Brasil (escravidão, principalmente negra), entre alunos de 6ª ou 7ª série.
A classe deve ser organizada em roda e o professor inicia o trabalho perguntando sobre o significado da palavra escravidão. Porém, os alunos não devem expressar suas idéias oralmente e sim com uma palavra escrita, um gesto ou desenho.
Em seguida, o professor apresenta a figura “A Negra”, de Tarsila do Amaral, podendo ampliá-la para facilitar a observação dos alunos. Com a imagem em mãos, estabelece comparações com a produção do grupo e verifica a opinião dos alunos sobre a negra idealizada pela artista, perguntando se ela representa de fato a condição dos negros da atualidade ou a que estereótipo corresponde.
Inicia-se, então, um debate com os alunos sobre a situação atual dos negros em nosso país. Como apoio para essa discussão, podem-se utilizar textos, situações que os alunos apresentarem (que envolvam preconceito e diversidade de oportunidades), fragmentos de músicas, como “O Teu Cabelo não Nega”, ou ainda trechos de livros, como Macunaíma, de Mário de Andrade (Exemplos de textos que podem ser utilizados no final da postagem).
É importante que o professor mostre que palavras ou expressões podem assumir diferentes sentidos, conforme a situação em que estão sendo empregadas. Por exemplo, falar que “a situação está preta” não implica necessariamente em racismo, pois desde o tempo das cavernas o ser humano teme a falta de luz, por representar perigo. Já em expressões como “isso é coisa de negro”, fica claro o conteúdo racista.
O professor também deve lembrar que a escravidão no Brasil não ocorreu apenas com os negros. Não podemos esquecer dos índios, escravizados quando os portugueses chegaram ao Brasil. Além disso, o preconceito racial também se estende a outros “não brancos”, como os próprios índios, os árabes etc. Caso o professor queira aprofundar o trabalho, pode ampliar o tema introduzindo a questão do preconceito em geral e da intolerância com a diversidade étnica e cultural.
Para concluir a atividade, pode-se solicitar a elaboração de um texto coletivo, com o registro das idéias dos alunos em relação à atividade desenvolvida, que dará ao professor subsídios para estabelecer conexões entre a situação de agora e a experimentada pelos escravos a partir do século XVI.
A atividade pode ser realizada de forma interdisciplinar, contando com os professores de Educação Artística e Língua Portuguesa. Como projeto interdisciplinar pode, por exemplo, contar com a montagem de uma peça teatral ou a exposição de telas produzidas pelos alunos a partir do tema.
O professor de Educação Artística pode ressaltar técnicas variadas de composição artística e promover a apreciação, comparação e releitura de outros quadros da própria Tarsila do Amaral ou de outros artistas, introduzindo um estudo sobre o Modernismo e a questão da identidade nacional.
Já o professor de Língua Portuguesa pode discutir textos narrativos e poesias, visando à produção escrita dos alunos e ao desenvolvimento de suas habilidades, seja com teatro, pintura, concurso de poesias, ou ainda saraus e o que mais a criatividade permitir. No entanto, deve-se ficar atento aos objetivos da atividade, para não haver dispersão nem afastamento da proposta de trabalho.

Texto original: Maria Walburga dos Santos
Edição: Equipe EducaRede
TEXTOS ANEXOS:
I) "Fragmento"
O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho... Quando o herói saiu do banho estava loiro e de olhos azuizinhos, a água lavava o pretume dele.(Macunaíma, Mário de Andrade)
II) "O Teu Cabelo Não Nega"
O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata eu quero é teu amor
(Música carnavalesca)
III) "Imagens da Escravidão Urbana"
O vaivém dos negros, no Rio de Janeiro - capital do império -, foi captado em diferentes tempos, locais e situações pelos artistas e cronistas. Na condição de escravos libertos, contribuíram para o burburinho das cenas urbanas, tomando conta do cais do porto, das ruas, chafarizes, feiras, vendas e mercados. [...]
Já a vida cotidiana do branco desenrola-se no isolamento, para dentro das casas. Isso é notório, principalmente em relação às mulheres, que levavam uma vida social limitada, contida pelos valores morais e tradições herdadas da Península Ibérica. Vez ou outra foram flagradas à janela ou sacada pelo olhar aguçado do viajante.
Seus raros passeios se restringiam às idas à missa, às visitas de cerimônia e às eventuais festas, sempre, é claro, acompanhadas pelo chefe da família. Mulher honrada se resguardava dos olhares curiosos, escondendo-se por trás das cortinas das cadeirinhas, hábito que serviu de tema para imagens crônicas dos visitantes estrangeiros.
O uso da cadeirinha persistiu ao longo do século; e, nesta sua trajetória, era comum a mulher ser carregada por negros uniformizados de libré e casaca enfeitada com galões dourados. Mas sempre descalços, como manda a tradição para escravos. [...]
Referindo-se a cidade de Salvador, Avé-Lallemant comenta: "[...] tudo parece negro: negros na praia, negros na cidade, negros na parte baixa, negros nos bairros altos. Tudo que corre, grita, trabalha, tudo que transporta e carrega é negro".
(KOSSOY, Boris & CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Olhar Europeu - O Negro na Iconografia Brasileira do Século XIX. São Paulo: EDUSP, 1994. Texto citado e adaptado em: FARACO, Carlos Emílio. Linguagem Nova - 7ª Série. São Paulo: Ática, p.42.)
IV) "O Dicionário"
Entrei na biblioteca e abri o dicionário do Aurélio. Procurei a palavra negro e entre seus significados estavam estes: "sujo, encardido", "triste", "maldito". Mais embaixo vinha negrura, palavra que podia ser associada à idéia de crueldade, perversidade, ruindade, falta, erro, culpa. Saí da sala achando que ser negro não era muito bom não.
Passei pela secretaria e uma moça falava em tom de desespero. "A coisa está preta!" Pensei então: "Assim eu não vou querer ser nem negra e nem preta".
Mas aí me empinei toda e fui perguntar à professora se não estava errado o dicionário e as pessoas falarem que o escuro é ruim. A professora também era escura e disse: "É preciso prestar atenção à semântica! Ela é uma prática para justificar a superioridade de uma população sobre outra, desprezando-a cotidianamente em pequenas fórmulas de associações negativas".
Com o tempo, entendi direitinho: o sentido que nós damos às palavras indica o modo como vemos o mundo, traduz o que achamos das coisas. Se alguém diz, por exemplo, que fulano "fez um serviço de preto", isso quer dizer que no fundo a pessoa acha que todas as pessoas negras sempre fazem trabalhos malfeitos. E isso por acaso é verdade? (Não, é racismo.)
Com o tempo, entendi também que o dia só existe se existe a noite. E que os dois são iguais. Sombra é bom quando tem muita luz e luz é bom quando está muito escuro. O petróleo é negro e não é sujo, o carvão é preto e faz fumaça branca, e eu pensei em tantos opostos que se equilibram que... deu um branco na minha cabeça!
(LIMA, Heloísa P. Histórias de Preta. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998. p.54)
Fonte: EducaRede

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