Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entrevista com Carlos Ginzburg



"Google é uma ferramenta de pesquisa histórica e de cancelamento da história porque, no presente eletrônico, o passado se dissolve". (Frase proferida pelo historiador italiano Carlo Ginzburg no Fronteiras do Pensamento, edição 2010).Algumas dessas colocações, do referido historiador na conferência História na Era Google, realizada no dia 29 de novembro em Porto Alegre, causaram-me uma inquietação. A visão do Historiador de prestígio sobre a ferramenta Google e as revolucionárias tecnologias de informação, aproxima a proposta do uso de blogs como ferramenta de memória a uma breve discussão seguida de questionamentos. O uso de blog como ferramenta de memória visa o contrário da afirmação de Ginzburg. Temos, com o uso da tecnologia e das redes sociais, a hipótese de que seja possível manter uma memória social viva, que propicie a coesão e a identidade da comunidade de Viamão, através da construção coletiva do conhecimento. Com o uso de tecnologia como meio de armazenamento, difusão e propagação de informações, lembranças e conhecimento, pode-se ter como resultado, a preservação da memória . Os esforços nessa direção devem partir de um entendimento sobre o Valor da Memória. Le Goff 1988, p.477, infere que a relação memória e história se resume em “salvar o passado para servir ao presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação [. . .] dos homens.” Desta forma, e segundo Ginzburg, na análise sobre o Google, surgem questionamentos, pois estaria o homem prestes a supressão de liberdade em detrimento de tecnologia como o Google? O contexto atual, do uso das tecnologias da informação, estaria confirmando o que Le Goff coloca em sua obra, ou a experiência de construção coletiva do conhecimento do Blog Memória Viamense pode significar uma negação à afirmação de Ginzburg?

REFERÊNCIASLE GOFF, Jacques. Memória. In: História e Memória. Campinas: Ed. UNICAMP, 1994, p. 423-483
Fonte: http://www.memoriaviamense.com/



Entrevista com Carlo Ginzburg: Era Google
Por: Equipe Fronteiras

As artes, as linguagens, os conhecimentos, as cidades, os comportamentos fazem parte da grande memória da humanidade e, por vezes, são objeto de investigações dedicadas e amparadas em métodos. É disso que trata a História: examinar a memória, procurar provas, compreender o passado, resolver dúvidas, encontrar um tipo de verdade.

A História está inteiramente dentro da "Era Google" e o faz ampliando seus poderes em um tempo em que os riscos se ampliam igualmente, sobretudo o risco de fraudes e manipulações, tão fáceis com os meios digitais disponíveis.A preocupação com a pesquisa, a fraude, a ficção e a verdade histórica marcaram a conferência de Carlo Ginzburg, História na Era Google, no último encontro da edição 2010 do Fronteiras, dia 29 de novembro.

Carlo Ginzburg é autor de muitos livros de história e um dos pioneiros na chamada micro-história – corrente historiográfica que contempla temáticas ligadas ao cotidiano de comunidades específicas, situações-limite e biografias que se constroem em pequenos contextos ou através de personagens extremos, geralmente figuras anônimas, que passariam despercebidas. Como historiador, Carlo Ginzburg se preocupa com o papel que a História tem em examinar fontes, evidências e teses e em denunciar os vários tipos de manipulações da memória histórica.

Ginzburg tem refletido sobre a História no contexto atual e futuro, cenário que ele chama de "Era Google". Vejamos algumas de suas preocupações ao estudar, refletir, escrever e ensinar a História em uma época em que páginas de busca da internet oferecem respostas sobre quase tudo, mas sem que se garanta a credibilidade imediata da maioria destas fontes.

Confira a entrevista de Ginzburg concedida ao Prof. Dr. Francisco Marshall para o Fronteiras do Pensamento:

FP – Quais são os desafios da Era Google?

Carlo Ginzburg – A web apresenta muitas fontes. As novas tecnologias, como o Photoshop, podem criar um novo tipo de falsificações ou semifalsificações. Sempre existiram falsificações, os historiadores deveriam estar familiarizados com elas, deveriam detectar como cada época cria suas falsificações e as utiliza como documentos históricos. Deveríamos estudar tanto os pontos de falsificação em si quanto aquilo que o falso finge ser. A tecnologia vai produzindo diferentes tipos de fraudes. Passamos da imprensa a fotografias, ao cinema e logo à internet. Mas, assim como há um novo espaço para fraudes, há, também, um novo espaço para se detectar estas fraudes.

FP – E quando as pessoas referem que "está na internet" como sinônimo de fonte confiável?Carlo Ginzburg – Mas isso já ocorria antes, com os livros. Há uma expressão italiana parlare come un libro stampato (falar como um livro ilustrado). É um tipo de autoridade associada à escrita, em contraposição à visão dos sentidos. Devemos ensaiar novos usos da web, como de qualquer outra fonte, sabendo que nem tudo é verdade.

FP – Que tipo de transformação pode acontecer com a memória humana diante da capacidade, cada vez maior, dos suportes de armazenamento?

Carlo Ginzburg – Devemos distinguir entre a memória como armazenamento e a memória da experiência vivida. A internet expande a primeira além da imaginação. Mas como fica a segunda? Estou observando alguns estudos de caso para responder a essa pergunta.

FP – Em que sentido os novos recursos tecnológicos podem contribuir com os estudos da micro-história?

Carlo Ginzburg – Eu acredito que eles contribuem. Internet é uma tecnologia – um instrumento neutro, que pode ser usado para fins muito diferentes, incluindo a micro-história e a abordagem analítica das provas. Ao contrário do que se possa pensar, a internet não é autosuficiente. Ela demanda tecnologias mais antigas como os livros, as bibliotecas, as relações interpessoais cara a cara e a relação professor-aluno. Todos nós dependemos de algum tipo de interação entre o Google e as bibliotecas. Então o problema é como ir além disso. Rejeitar o Google seria absurdo, assim como rejeitar as bibliotecas seria ainda mais absurdo. O desafio é atravessar ambos. O problema é “como”, pois a combinação me parece inevitável.

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