Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Comparando os modelos de colonização






CIEP 289 CECÍLIO BARBOSA DA PAIXÃO
CURSO NORMAL
ASSUNTO: COMPARANDO OS MODELOS DE COLONIZAÇÃO
DISCIPLINA: HISTÓRIA
PROFESSOR: Alexandre

OUTROS OLHARES
“Por que os EUA são tão ricos e nós brasileiros somos tão pobres? Por que as coisas parecem dar certo lá e aqui não? Essas perguntas já passaram muitas vezes pelas cabeças dos brasileiros como você querido aluno? Para explicar essas diferenças enormes foram gastos rolos de papel e rios de tinta.
As explicações de maior sucesso são sempre as mais simples, mesmo que a realidade seja muito complexa. Uma dessas explicações, talvez a pior de todas, diz que há colônias de exploração e colônias de povoamento.
As colônias de exploração, é claro, seriam as ibéricas. Como diz o nome, as áreas colonizadas por Portugal e Espanha existiriam apenas para enriquecer as metrópoles. Nesse tipo de colônia, as pessoas sairiam da Europa apenas para enriquecer e volta ao país de origem. Essa verdade tão cômoda explica o subdesenvolvimento de países como Peru, Brasil e México: todos eles foram colônias de exploração (...).
O oposto de colônias de exploração seriam as de povoamento. Para essas, as pessoas iriam não para enriquecer e voltar, mas para morar na nova terra. Logo, sua atitude não seria predatória, mas preocupada com o desenvolvimento das áreas anglo-saxônicas, como os EUA e o Canadá.
Há uma ideia associada a esta que versa sobre a qualidade dos colonos. Para as colônias de exploração as metrópoles enviaram o ‘resto’: aventureiros sem valor que chegariam aqui como olhos fixos na cobiça e no desejo de ascensão. As colônias de povoamento receberiam o que houvesse de melhor nas metrópoles, gente de valor que, perseguida na Europa, viria, resignada, com seus bens e cultura para o Novo Mundo.
Esse argumento por vezes implica posições ainda mais absurdas, posto que racistas: os ingleses seria uma raça mais desenvolvida; os portugueses e espanhóis, pelo contrário, uma raça inferior.
Pronto! A explicação é perfeita! Somos porque fomos explorados por uma gentalha medonha! Os EUA são ricos porque tiveram o privilégio da colonização do alto nível da Inglaterra. Como você sabe, nossa cultura adora explicações de dois opostos: Deus e o Diabo, povoamento e exploração, Fluminense e Flamengo, preto e branco, isto é, uma explicação maniqueísta, um bom e um mal. (...)
Há outra explicação? (...)
A América Ibérica foi, em quase todos os sentidos mais organizada, planejada e metódica que a Anglo-Saxônica. Caso atribuamos valor à organização, é inegável que a colonização Ibérica foi muito ‘melhor’ que a anglo-saxônica.
Na verdade, só podemos falar em projeto colonial nas áreas portuguesa e espanhola. Só nelas houve preocupação constante e sistemática quanto às questões da América. A colonização da América do Norte inglesa (...) foi assistemática – Que não tem sistema.
No século XVII, quando a América Espanhola já apresentava universidades, bispados, produções literárias e artísticas de várias gerações, a costa inglesa da América do Norte era um amontoado de pequenas aldeias atacadas por índios e rondadas pela fome.
Portugal e Espanha mandavam para a América, na época da conquista, alguns de seus membros mais ilustres e preparados. Dentre os primeiros franciscanos que foram ao México, por exemplo, estava Pedro de Gante, parente do próprio imperador. No Brasil, a nova e entusiasmada ordem dos jesuítas veio junto com o primeiro governador-geral. Não seria para melhor explorar os recursos da nova terra? Nem de longe podemos afirmar que semelhante fenômeno tenha ocorrido na fase da conquista da América inglesa.
Decorridos cem anos do início da colonização, caso comparássemos as duas Américas, constataríamos que a ibérica é muito mais urbana, com mais comércio, maior população e produções culturais e artísticas mais ‘desenvolvidas’ que a inglesa. Exatamente ai vai residir a maior facilidade dos colonos norte-americanos em proclamarem a sua independência. Os maus casamentos terminam antes dos bons. A falta de um efetivo projeto colonial foi o que aproximou os EUA da independência. As Trezes Colônias nascem sem a tutela direta do Estado. É por ter sido ‘fraca’ (...) que a colonização inglesa deu origem à primeira independência vitoriosa da América.
Continuando nesse caminho, notamos elementos que não confirmam a ideia de exploração e povoamento. O mundo ibérico dá a ideia de permanência. Construir e reformar permanentemente, ao longo de três séculos, uma catedral como a da cidade do México não é atitude típica de quem quer apenas enriquecer e voltar para a Europa. A solidez das cidades coloniais espanholas, seus traçados urbanos e suas pesadas construções não são harmônicas com um projeto de exploração imediata.
As pessoas que falam desses ‘ideais’ de enriquecimento fácil parecem imaginar que um espanhol cobiçoso embarcava em um avião em Sevilha e, horas depois, desembarcavam na América. Essas pessoas não levam em conta o imenso desconforto de uma viagem de navio, onde o desconhecido se aliava a provisões podres e altos riscos de naufrágios, piratas e corsários.
O europeu que viesse para a América, em primeiro lugar, deveria ser de uma extrema coragem (...). é óbvio que a atração das riquezas da América foi forte. No entanto, é óbvio também que apenas as autoridades metropolitanas tinham liberdade de ir e vir.
No limite do cômico, aqueles que apelam para a explicação de colônias de povoamento e exploração parecem dizer que, caso um colono em Boston, no século XVII, encontrasse um monte de ouro no quintal, ele diria: ‘não vou pegar esse ouro porque sou um colono de povoamento, não de exploração, vim aqui para trabalhar, não para ficar rico e voltar’.
Em se tratando da colonização ibérica, devemos seguir o conselho de Janice Theodoro da Silva; ‘desconfia da empresa e degustar a epopéia’. A epopéia inclui a exploração mercantilista, mas não se reduziu a ela.
Não é, certamente, nessa redução de exploração e povoamento que encontraremos as respostas para as diferenças tão gritantes na América.”

(KARNAL, Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo; Contexto, 2001. Texto adaptado)

DESAFIOS
1) Quais os argumentos utilizados para classificar as colonizações de povoamento e exploração?

2) Quais as consequências da teoria de colônias de povoamento e de exploração, segundo o autor?

3) Como Leandro Karnal contradiz a tese de colônias de exploração e de povoamento?

Aluna:_____________________________________________________________ nº________

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