Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Fascismos. Nietzche e o Nazismo.

O trecho abaixo faz parte do artigo: A Política da Morte do Nazismo. Que analisa a política de eugenia praticada na Alemanha durante o nazismo.
A Nova Raça de Senhores
O mundo do futuro seria controlado pela nova raça de senhores (Herrenvolk) que imporia sua vontade de poder (Wille zur Macht) sobre uma massa submissa, tornada um rebanho (Herde). Dela exigiriam obediência de morte. Somente os fortes teriam "direito à vida", cujos critérios seriam estabelecidos, evidentemente, pelo super-homem. Os demais deveriam ser eliminados. Não eram dignos a ter "direito à existência". O super-homem não teria nenhuma qualidade herdada (sangue nobre por exemplo), sendo reconhecido apenas por sua personalidade de aço, por sua irrevogável determinação e pela entrega total a sua causa, fosse qual fosse a sua linhagem. A sua aristocracia era o caráter - duro, inquebrantável, insensível!
"Algum nunca chega a ficar doce, apodrece já no verão
É a covardia que o mantém dependurado no seu galho
Vive gente em demasia e por tempo demais fica pendurada no seu galho
Possa vir a trovoada que sacuda da árvore todos esses frutos
podres e bichados!
Possam vir os pregadores da morte rápida
Seriam para mim as verdadeiras trovoadas e os sacudidores da árvore da vida."
F. Nietzsche - Assim falou Zaratustra, 1885.
Nietzsche e o Nazismo
A enorme polêmica que envolve até hoje a real importância do pensamento de Nietzsche para o surgimento do nazismo, ou pelo menos fornecendo-lhe o vocabulário estridente e várias expressões ideológicas, nos obriga a arrolar a evidente similitude do pensamento nietzscheano com o que veio a acontecer depois na Alemanha de 1933. Afinal, a irmã dele, Elizabeth Vöster-Nietzsche deu a bengala do filósofo para Hitler quando ele visitou-a em Weimar em 1932. Para ela, aquele presente foi um símbolo que representou a transmissão de uma missão! Do teórico ao prático. Do filósofo que passara os seus últimos anos de vida alienado e entrevado ao homem de ação.
As Teorias Racistas:Gobineau e Chamberlain
A origem dos preconceitos raciais se perdem nos tempos. Modernamente, porém, o racismo adquiriu relevância teórica com a obra de José Arthur, o conde Gobineau - Ensaio sobre a desigualdade da raça humana (Essai sur l'inégalité des races humaines), de 1853-5, considerada a bíblia do racismo moderno.
Afirmava ele a superioridade geral da raça branca sobre as outras, e a dos arianos, identificados como os louros de descendência germânica, sobre os demais brancos. Gobineau interpretou a história pelo prisma do conflito de raças e acreditava, por exemplo, que a Revolução Francesa de 1789 foi uma vitória da raça inferior, a de origem celta-romana que ainda sobrevivia na França e que aproveitou a ocasião do assalto à Bastilha para vingar-se dos francos-germanos que, desde o século V, eram a raça dominante no país. Desde então, para Gobineau a França decaíra. No ensaio, o Conde caiu no inteiro agrado do círculo de Wagner, que o jovem professor Nietzsche então freqüentava.
O mais conhecido seguidor e divulgador do ideário racista na Alemanha foi o inglês Houston S.Charmberlain, membro da Sociedade Gobineau e genro de Richard Wagner, que apesar de ser um gênio musical tornara-se um anti-semita fóbico. Chamberlain, que viveu a maior parte do tempo na Alemanha, onde publicou Os fundamentos do Século XIX (Die Grundlagen des Neunzehnten Jahrhunderts) em 1899 - consagrando-se como o verdadeiro "imperador da antropologia alemã" -, defendia a tese de que era inquestionável a superioridade do ser teutônico, louro, alto e dolicocéfalo, sobre todos os demais. Para ele, o homem perfeito, superior, correspondia em geral ao tipo nórdico.
Os alemães, para ele, eram o povo mais bem dotado entre todos os europeus, estando bem mais acima do restante da raça branca. A enorme acolhida que sua obra teve naquela época na Alemanha explica-se por ela ter sido contemporânea ao império guilhermino, então no seu apogeu. O II Reich alemão, formado em torno da Prússia depois que ela alcançou a vitória na guerra de 1870 contra a França, fez da antiga Germânia a maior potência industrial e militar do mundo de antes da Primeira Guerra Mundial. O livro de Chamberlain, como não poida deixar de ser, inflava de orgulho os alemães ao associar a excepcionalidade do momento em que viviam como resultante de um feliz destino racial, determinado pela própria natureza.
Para ele e para os historiadores racistas que o seguiam, a queda do império de Roma deveu-se aos romanos terem-se descuidado da manutenção e preservação da sua superioridade racial. Ao se miscigenarem (mistische) com os povos vencidos, inocularem-se com sangue da raças derrotadas, o que os levou a um enfraquecimento genético e à inevitável decadência. Uma política que almejasse o apuro racial era a conseqüência lógica a ser rigorosamente adotada por qualquer povo consciente da sua superioridade étnica que desejasse manter elevada a sua cultura e o seu domínio.
Esquema da Transmissão Cultural Racista
CULTURA ANCESTRAL --- SANGUE --- TRANSMISSÃO GENÉTICA --- PATRIMÔNIO CULTURAL HERDADO
A Responsabilidade das Instituições Científicas
A legislação de eugenia adotada pelos nazistas foi decorrência direta dos estudos feitos pelo Instituto Imperador Guilherme de Antropologia, Genética Humana e Eugenia (Forchunginstitut Kaiser Wilhelm), e pela Sociedade Alemã de Pesquisa (Deustche Forschungsgemeinschaft, DFG). Os principais responsáveis que forneceram os argumentos médicos e genéticos para a aplicação da eugenia foram o prof. Eugen Fischer, o chefe do departamento de psiquiatria, prof. Ernst Rüdin, e o chefe do departamento de antropologia, prof. von Verschuer. Tanto o instituto como a sociedade de pesquisa eram respeitáveis instituições científicas - internacionalmente consagradas - que orientaram com seu pessoal a política de esterilização, eutanásia e extermínio praticada pelo regime nazista de 1933 a 1945.
A Comunidade Racialmente Pura
Tratava-se segundo os cientistas de fixar-se quem deveria pertencer à comunidade racial (Volksgemeinschaft), composta exclusivamente de alemães sadios e racialmente inatacáveis, eliminado-se a presença de qualquer elemento poluidor (os insanos, os degenerados, os judeus e os ciganos). Para preservá-los em sua pureza, nenhuma possibilidade de confraternização inter-racial seria permitida. A mistische, a mistura racial era vista como uma ameaça possível de degenerar a raça superior. Segundo um dos pesquisadores anti-semitas, o prof. Clauss, havia um impedimento para esses casamentos mistos porque as "almas raciais", a dos arianos e a dos judeus por exemplo, jamais poderiam compreender-se ou afinar-se, mesmo quando nasciam no mesmo país e falavam ou mesmo idioma.
A Divisão da Política da Eugenia
Dividiu-se a política da eugenia em três grande categorias quanto à sua execução:
1) a esterilização (Sterilisirung) foi aplicada a certas classes de gente: nos insanos, nos idiotas, nos imbecis, nos pervertidos e em criminosos habituais;
2) a eutanásia (Gnadentod, a morte sem dor) nos doentes irrecuperáveis de qualquer idade, nos idosos senis, e em alguns casos de demência, por meio de injeções de fenol, nos asilos ou em sanatórios. Depois no transcorrer da guerra simplesmente deixava-os morrer de fome;
3) o extermínio (Endlösung) teve um alcance bem mais amplo. Inicialmente concentrou-se nos menores excepcionais, nas vítimas do mongolismo (quatro mil) que estavam acolhidos em escolas especiais e em sanatórios e que foram gaseados em caminhões adaptados como câmaras da morte, sendo para tanto utilizado o monóxido de carbono. Em seguida foi a vez dos loucos (70.273 por gás e 120 mil de fome), e, por fim, o holocausto dos judeus (seis milhões) e dos ciganos (200 mil), vitimados em massa pela "solução final" (Endlösung). Depois de terem abandonado os fuzilamentos em massa que ocorreram no Leste Europeu, a partir de 1941 eles foram gazeados e incinerados em campos de extermínio espalhados pela Alemanha e principalmente pela Polônia (em Auschwitz matava-se 4.500 ao dia).
Quem tinha direito à vida
As populações dos países ocupados eram divididas em quatro categorias estabelecidas pela Central de Segurança do Reich (Reischssicherheitshauptamt, RuSHA), um braço da poderosa SS (Shutzstaffel), chefiada por Heinrich Himmler.
Na primeira, eram classificados os alemães e seus descendentes; na segunda - os não-alemães; ao terceiro grupo pertenciam as pessoas consideradas aptas para o trabalho; e na quarta - aqueles que eram enviados para o campo de trabalho/extermínio de Auschwitz.
Em dez de dezembro de 1941, com a crescente dificuldade das forças nazistas no seu avanço na URSS, Heinrich Himmler ordenou que uma comissão de médicos viajasse por todos os campos de concentração a fim de eliminar os doentes e os "psicopatas" (em geral, os comunistas) que fossem considerados incapazes para o trabalho. Doravante bastaria ser idoso, doente, judeu, sacerdote, comunista ou social-democrata para ser assassinado.
Os Selecionadores
Os responsáveis pelo extermínio fixaram a partir de nove de março de 1943, uma equipe permanente de "selecionadores" que aguardavam as vítimas nas plataformas das estações ferroviárias, todos portadores de títulos de doutor (*). O trabalho deles era supervisionar os procedimentos de extermínio. Deviam separar os fracos, os doentes, os velhos, bem como as crianças e enviá-los para as câmaras de gás, enquanto um outro grupo, mais jovem e ainda sadio, seria mantido vivo para os trabalhos na infra-estrutura dos campos e nas fábricas que os utilizava como mão-de-obra.
(*) Uma organização médica reivindicou essa função junto ao comando da SS, em vista, segundo ela, dos selecionadores terem que ter formação acadêmica, com extensão em antropologia racial, para, em meio a multidão semita ou não-germânica, que desembarcava nos campos, poderem identificar um ariano puro e salvá-lo da morte certa.

Bibliografia
Brannigan, Augustine - A base social das descobertas científicas, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1984.
Calic, Edouard - O Império de Himmler, Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1970.
Fest, Joachim
- Hitler, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1976.
Friedländer, Saul -Nazi Germany and the Jews,Harper Collins Publishers, Nova Iorque, 1997, tomo I
Goldhagen, Daniel J. -Os carrascos voluntários de Hitler Companhia das Letras, São Paulo, 1997
Lifton, Robert Jay - The Nazi doctors: medical killing and the Psychology of GenocideHarper Collins Publishers, Nova Iorque, 1986
Müller- Hill, Benno - Ciência assassina, Editora Xenon, Rio de Janeiro, 1993
Rutherford, Ward - Genocídio, Editora Renes, Rio de Janeiros, 1976.
Shirer, William - Ascensão e queda do IIIº Reich, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1967, 4 vols.,5ª ed.
Para saber mais.
A Política da Morte do Nazismo. Site: Educaterra. História por Voltaire Schilling.
Sobre a obra de Nietzche e o nazismo.
As experiências nazistas na medicina atual.
Sobre Hitler.

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