Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

OS INFAMES DA HISTÓRIA. Pobres, escravos e deficientes no Brasil e


Os infames da História' mostra 'interdição' à feiúra

Os infames da História, de Lília Ferreira Lobo. Editora Lamparina, 456 páginas, R$ 53
Por Mary Del Priore
A feiúra é universal, onipresente. Quase ninguém ousou escrever sua história, nem aquela da solidão e da dor que são suas consequências mais imediatas. Há séculos, os feios e "diferentes" servem de bode expiatório a sociedades muito seguras de suas verdades ou do discurso de suas elites, sempre dispostas a determinar modelo ideais. Até hoje vivemos sob a tirania da perfeição física. Todos queremos ser sadios, magros, jovens para participar da sinfonia do corpo magnífico, quase atualizando as intolerantes teses estéticas dos nazistas.
Na outra ponta, criaturas como madre Teresa de Calcutá conheciam de perto os horrores do sofrimento físico. Ela dizia que o trágico da "feiúra" de um leproso, era a sua solidão, o fato de ser indesejável, rejeitado. Que se podia fazer tudo por um corpo em sofrimento. Mas nada por esse "outro" sofrimento feito de negação. Anônimos, os que são "defeituosos", simplesmente vêem seus corpos recusados. A fotografia, o filme, a televisão e o espelho dão ao homem moderno o conhecimento objetivo de sua própria imagem. Mas, também, a forma subjetiva que ele deve ter aos olhos de seus semelhantes. Numa sociedade de consumo, a saúde aparece como motor do bom desenvolvimento da existência e a imperfeição é vivida como um drama. Daí a multiplicação de clínicas de cirurgias milagrosas.
Mas, e no passado? Foi mais complexo e doloroso. E quem nos conta é a psicóloga Lília Ferreira Lobo numa obra pioneira sobre o tema, "Os infames da História". Resultado de alentada pesquisa de doutoramento, ela nos arrasta ao longo de quatro séculos para conhecermos de perto como eram vistos, ignorados ou tratados os escravos, pobres e deficientes do Brasil. Convida-nos a analisar as deficiências como "instituição" inserindo-as em sua historicidade, promovendo sua visibilidade. E demonstra que o momento em que surgem cuidados com a diferença é também aquele em que começam a se fabricar os sentidos que lhes atribuímos e a preocupação com o destino dos que não eram como os outros.
O livro se desenrola em quatro partes, recheadas de densas informações e atualizadas discussões teóricas e bibliográficas. Vasto contingente de fontes documentais, de crônicas de viajantes estrangeiros a denúncias da Inquisição, teses de medicina, livros de higienistas e criminalistas alimentam robustos capítulos. A primeira trata das monstruosidades, das resgatadas dos relatos de viagem do Renascimento à teratologia, ciência dos monstros e dos degenerados, que, no século XIX passa a discutir estragos na espécie humana. Na segunda, a autora explora o material produzido pelas Visitas do Santo Ofício analisando casos tão surpreendentes quanto o de Brites Fernandes de Camaragipe, aleijada e mentecapta, perseguida e condenada por deficiência mental. A idiotia, nesses tempos, era vista como um defeito moral. Mais eloqüente do que a Inquisição foi outro tribunal: o da eugenia. Esse perseguia "negros tolos", onanistas, pederastas, cegos, surdos-mudos, prostitutas e jovens delinqüentes.
A utopia de uma sociedade organizada e produtiva, constituída só por exemplares perfeitos da espécie humana, estava em curso com o apoio de renomados médicos do século XIX. Os remédios? Esterilização, extermínio, embranquecimento. Na terceira parte, Lilia se debruça sobre as marcas da deficiência no corpo de escravos, parcela dos que os teóricos chamavam de "humanidade inferior". E conta a trajetória dos descartados, dependentes da caridade pública e das redes de solidariedade montadas pelos próprios cativos. Doenças, mutilações, suicídio, fome e castigos eram ao mesmo tempo causa e conseqüência da existência destes "fardos sociais". E o que dizer de sua inserção no mundo do rendimento e da cidade? Na última parte deste alentado trabalho, excelente é sua contribuição sobre os estabelecimentos especializados como o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, o Instituto dos Surdos-Mudos e o Pavilhão-Escola Bournevelle para crianças, ainda tão pouco estudados. O último, substituiu o hospício que na pena de Olavo Bilac era a "Casa do Sofrimento": habitada por alucinações, ali tudo respirava miséria e abandono, e as crianças viviam pelo chão, gritando e se arrastando como "animais malfazejos". O único alimento, além da ração diária que recebiam, era o carinho de certa Tia Ana, uma Cabocla louca e segundo o poeta, doida de amor pelos filhos que não tivera. 
Por meio de um trabalho de fôlego e visivelmente apaixonado, Lilia se junta à luminosa constelação de psicanalistas que vem se debruçando sobre a História e emprestando sua escuta sensível ao passado. E nele, atenta àquilo que o corpo tem a dizer. Lugar de poder, emblema de identificação, máquina de suplícios da modernidade o corpo fala, conta e reconta. Para sorte do leitor, Lília está lá para encontrar as palavras certas, e registrar suas dores num livro inspirado e corajoso. 

MARY DEL PRIORE é historiadora e sócia honorária do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2009/10/05/os-infames-da-historia-mostra-interdicao-feiura-228736.asp

Mais resenhas
http://comendolivros.blogspot.com.br/2011/11/os-infames-da-historia.html
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142011000100014

" 'Mass Murder' nas Escolas"


"Mass Murder" “Assassinato em massa” nas escolas: aconteceu...mais uma vez!
Historiador Francisco Carlos Teixeira, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa os “mass murder” nas escolas americanas.
POR FRANCISCO CARLOS TEIXEIRA*
Enviar ! Imprimir ! As notícias chegadas nas últimas horas ( 14/12/12) nos dão conta de mais um ataque massivo – “mass murder” - de um atirador contra civis inocentes nos Estados Unidos. Desta feita o massacre, atingindo crianças, foi em Sandy Hook, Connecticut. A imprensa norte-americana, notável por seus meios e equipamentos, transmitiu do local desde cedo e assinalou, com um traço vermelho, que era hora de oferecer solidariedade aos familiares e evitar quaisquer debates políticos sobre. A polícia prometeu, por sua vez, “esclarecer todos os fatos”. Será isso mesmo?
Caso de Polícia, saúde mental e fenômeno social
O mais notável no massacre de Sandy Hook, e tristemente notável, é a repetição dos acontecimentos narrados pelas agências internacionais. No caso atual um atirador mata um familiar, possivelmente em casa, e então busca a escola em que ela trabalha – ainda falta apurar detalhes - , e ele mesmo estudara, e inicia um ataque em massa contra os pequenos alunos. O saldo ainda não confirmado aponta para possivelmente mais de trinta pessoas mortas, a maioria crianças. Sandy Hook é uma “elementary school”, sendo seus alunos crianças e pré-adolescentes. O atirador, Adam Lanza, morto no local, tinha 20 anos e estava pesadamente armado com armas automáticas compradas por sua própria mãe.
Os ataques desse tipo, em especial contra escolas, são repetitivos no caso americano, a ponto de contarmos 177 ataques contra “High Schools” (a partir de 1853) e 111 outros contra “Elementary schools”, incluindo o atual ataque contra Sandy Hook. Alguns destes ataques, como Sandy Hook ou Bath School, em 1927, foram verdadeiros banhos de sangue. Outras, poucos, infelizmente, foram frustrados, deixando feridos e mereceram pouco destaque na mídia. Um bom número atingiu apenas um aluno ou um professor, sendo tratado com forte indiferença. A maioria absoluta deles foi cometida por alunos (e/ou funcionários) que estudavam/trabalhavam na mesma escola atacada e, ainda uma vez, a maioria dos atacantes, bem como de suas vítimas, tinha entre 14-18 anos de idade. Grande parte dos perpetradores deixou relatos – como no caso brasileiro da escola de Realengo (RJ) em 2011-, ou colegas relataram, um perfil solitário, inteligência média-alta, dedicação aos estudos e grande dificuldade de estabelecer e/ou manter relacionamentos. A grande maioria dos adolescentes e jovens sofreu alguma forma de assédio e de exclusão social, algumas vezes publicamente e de forma violenta (ainda uma vez como no caso da escola em Realengo, RJ).
Neste contexto – como também dos assassinatos de massa na Noruega e na Alemanha – os “especialistas” trataram de construir, rapidamente, análises e perfis “pessoais”, buscando descobrir o que, na personalidade do perpetrador, originou os ataques. Assim, uma “cliniquização” ( ou uma explicação psicologizante ) do atacante – família desfeita, distúrbios mentais, uso de drogas – é imediatamente aventada. Embora, paradoxalmente, os próprios colegas digam que eram “excêntricos” talvez, mas não mais do que boa parte do alunado – e que não mata colegas!
Assim, a sociedade e suas instituições, em especial as escolas, seriam poupadas de quaisquer responsabilidades na irrupção de um surto psicótico na pessoa do atacante. Em suma, estaríamos verdadeiramente buscando as respostas certas no lugar/pessoas certas? Ou, num movimento rápido de ocultamente do massacre que se passa nas escolas, estaríamos ocultando a dimensão social dos “mass murder” e de seus íntimos imbricamentos com o clima mental e emocional existente nas escolas?
É comum ouvirmos, e depois de 38 anos de magistério pude, eu mesmo, vivenciar e acompanhar casos seguidos de stress coletivo, cólera, mágoas e ira entre alunos e seus colegas, professores e alunos, bem como professores e seus colegas, funcionários e, até mesmo, pais e professores. Algumas vezes, incluindo o Brasil, com desdobramentos de violência física.
Não seria o caso de pensarmos a instituição escolar em seu conjunto? E isso seria muito especialmente verdadeiro para o caso norte-americano.
Um massacre oculto
Desde o ataque de Columbine High School (que não foi nem o primeiro e nem o mais letal dos ataques) até o atual ataque em Sandy Hook, as escolas são palco, alvo e/ou causação de súbitas explosões de raiva e ira. Sabemos todos – e isso não é um apanágio dos Estados Unidos – a escola, mesmo com escolas de ensino básico, e particularmente nas escolas para adolescentes – como as chamadas “High school” norte-americnas – são lugares onde o assédio moral, social (e mesmo sexual) pode ser intenso, cruel e, mesmo, levar a uma aniquilação do próprio eu de indivíduos mais fragilizados por sua aparência física, opção de gênero, timidez ou qualquer outro atributo pessoal correlacionado com uma vaga e cruel categoria de “losers”, os perdedores na “corrida” social pelo sucesso.
Nem sempre os professores e os profissionais de apoio e orientação – como pedagogos e psicólogos – tem a chance de acompanhar alunos – ou seus parentes – de forma adequada para prever ataques de “mass murder” como os ocorridos. Da mesma forma, não é possível “cliniquizar” todas a sociedade e manter um psicólogo de plantão dentro de cada sala de aula. Assim, tais ataques – malgrado suas particularidades e do seu desenho – não são, e dificilmente poderiam ser, previstos e, logo, prevenidos. Mas, por outro lado, a determinação da polícia de Newtown, Connecticut, em explicar a razão do ataque seja inútil. Poderão explicar, em detalhes, como seu “deu” o ataque. Mas, sua “explicação” escapa a Sandy Hook, em Newtown, Connectcut – há uma razão maior, mas ampla, insidiosa, que paira sobre todo o sistema educacional norte-americano.
Da mesma forma, nem só escolas são alvos de ataques. Cinemas e shoppings foram alvo de atos de assassinos de massa, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. No entanto, mesmo nestes casos há um claro elo de ligação: escola, cinema e shopping são locais de reunião de jovens ou, ao menos, há sempre uma maioria de jovens. De certa forma, são continuidades dos grupos de companheirismo que se formam nas escolas. Os ataques representam, mais uma vez reconhecidas as especificidades, um notável acúmulo de frustrações, mágoas e perda que se expressam, então, em violência cega e bruta – em pleno local socialização e entretenimento dos jovens, que o perpetrador pode sentir como recusado a ele mesmo.
Da mesma forma os ataques na Noruega, em 2011, organizado em detalhes por um supremacista branco ou o ataque contra as crianças judias em Toulouse, em 2012, foram atos de terrorismo ideologicamente motivados. Cruéis e brutos tinham uma direção e mostram a face da intolerância de tipo racista e religioso. Os ataques como de Sandy Hook são cruéis e cegos, não visam uma pessoa ou um conjunto de pessoas realmente existentes, concretas. Visam “uma situação” que exaspera, por motivações diversas, o perpetrador.
O grande massacre dos inocentes
Também devemos reconhecer que os Estados Unidos não possuem o monopólio do “mass murder” (cabe diferenciar de “serial killer”, que, em regra, agem durante longo tempo escolhendo vítimas a partir de critérios diversos, conforme cada caso). Nos últimos anos assistimos, como já destacamos, a assassinatos em massa na pacata Noruega e na organizada e politicamente correta França. Mesmo no Brasil tivemos tristes episódios de ataques em cinema (São Paulo) e em uma escola (Rio de Janeiro), com um perfil muito próximo dos casos norte-americanos. Nos últimos anos a autoritária China Popular, com seus critérios draconianos de justiça, tem assistido, para perplexidade de suas autoridades, a vários ataques em escolas, com uso de armas brancas ou utensílios de trabalho transformados em armas.
No entanto, no caso dos Estados Unidos as estatísticas compilados pela Secretaria de Estado de Justiça, reunindo dados completos e pormenorizados dos ataques é, simplesmente, estupeficante. A mais antiga referência a um ataque em escolas norte-americanas data de 1764, antes mesmo da independência do país em 1776. Daí em diante as ocorrências são quase epidêmicas, com o século XIX marcado por ataques sucessivos em 1867, 1868, 1871, 1889, 1891 e 1898, perfazendo neste período pelo menos 19 vítimas infantis. A precisão das armas ainda precária e sua natureza obrigando o recarregamento davam, então, chances aos administradores de deter o atacante.
Com a chegada das armas automáticas e aquelas de fácil, e rápido, recarregamento, os ataques, e número de vítimas, cresceram. No século XX tais ataques tornaram-se, então, verdadeiramente epidêmicos, ocorrendo massacres nas “Elementary School” nos anos de 1902, 1906, 1907, 1909, 1912, 1919 e culminado no terrível massacre de 1927, quando Andrew Kehoe, após matar a esposa, ataca, com bombas caseiras, a Bath Elementary School, causando 45 mortes, no maior massacre escolar da história dos Estados Unidos. Andrew Keohoe era funcionário da escola de longa data.
Os anos seguintes assistiram a continuidade dos ataques: 1933, 1940, 1944, 1959, 1960 e 1961, com pelo menos 16 crianças mortas – lembremo-nos que em média a “Elementary school” americana abriga crianças entre 4 e 11 anos de idade. Mas, se juntarmos às estatísticas de ataques às “Elementary school” os ataques havidos contra as “High school”, que recebem adolescentes na faixa de 12-18 anos, em média, os ataques crescem de forma exponencial: são 24 ataques entre 1903 e 1968, com a morte de 27 adolescentes. Ainda uma vez a qualidade das armas e a prontidão de inspetores e funcionários faz com que a maioria dos ataques tenha em média 1-2 mortos, evitando o caráter cataclísmico do “bombardeamento” de Bath School em 1927.
A massificação do “Scholl Mass Murder”
A partir dos anos de 1970, contudo, os ataques se multiplicam e as “high school” substituem, apenas parcialmente as “elementary scholl”, como cenário principal dos ataques. Nestes anos temos 7 ataques, com 7 mortes; nos anos de 1980 são 13 ataques, com 15 mortes; nos anos de 1990 já são 60 ataques, com exatos 93 mortes de adolescentes. Entre os ataques da década de 1990 inscreve-se o tristemente célebre ataque de 1999 contra a Columbine High School, no Colorado, matando 15 alunos e professores. Os atiradores, que ensaiaram o massacre repetidas vezes, estavam envoltos – além das condições de frustração e mágoas acumuladas – numa espécie de cultura “dark”, valorizando a morte falsamente “heroica” muito comum nos vídeos games que eles assistiam e verdadeiramente cultuavam, tais como “Dom” e “Wolfstein 3D”. Eric Harris tinha 18 anos e Dylan Klebold 17 anos e relataram, em seus documentos deixados como “memorial” do massacre, casos de “bullying” e exclusão.
Nos anos 2000 até 2012 foram 68 ataques contra High School, com 74 mortes de estudantes. Nesta lista dolorosa encontramos o massacre de 2005 contra a Red Lake High School, em Minissota, atacada pelo jovem Jeffrey Weise, de 17 anos, que após matar os avós, ataca os colegas na escola. Também está nesta relação o ataque do estudante aos colegas da Virgínia Tech, universidade no estado da Virgínia, e formalmente uma faculdade e não uma “escola”, daí o expurgo dos seus 33 mortos das estatísticas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no âmbito de “school´s mass murder”.
Infelizmente os ataques centrados nas “High School” não afastaram o risco das “Elementary school” e no ano de 2010 deram-se 10 ataques, com 31 mortes; em 2011, foram 5 ataques e 16 mortes e em 2012, antes do ataque contra a escola de Sandy Hook (em 14/12/2012), já haviam ocorrido dois ataques, felizmente frustrados.
Embora este quadro seja verdadeiramente assustador, a mídia americana e influentes políticos – e mesmo especialistas universitários – insistiram, no dia de ontem (quando se deu o ataque, 14/12/2012) que não se deveriam “fazer política com o sofrimento das famílias”. Ora, há alguma coisa muito errada aqui.
Mass Murder e Política
Um dos mais importantes, e progressistas, sociólogos dos Estados Unidos –especializado na análise das contradições, projetos e frustrações do homem comum na sociedade de massas americana – Charles Wright Mills (1916-1962), num pequeno manual de sociologia, tornado um clássico introdutório da disciplina – “A Imaginação Sociológica” -, advertia os colegas sobre a diferença entre um “problema social” e uma “questão social”.
Wright Mills, num linguagem precisa, insistia que processos que se repetem no conjunto da sociedade e causam enorme dano e dor, mesmo mal-estar social, não podem, de forma alguma, ser atribuídos a motivos ou causas pessoais do tipo preguiça, baixo esforço ou baixa estima, ausência de talento ou incapacidade social ou distúrbios mentais. Bem ao contrário, o quanto de tais “distúrbios” tem origem em processos sociais cruéis e excludentes? Ao seu tempo, Wright Mills combatia o brutal individualismo liberal e o darwinismo social que explicava sucessos e insucessos das pessoas, num a sociedade altamente competitiva, exclusivamente através da “garra” e vontade de vencer de cada um. Colocando-se na contramão dos mitos americanos do “self made men” e da ideia de que todos vencem, se trabalham o suficiente para isso, na América, Mills vislumbrava uma sociedade já atingida por frustrações e pelo mal-estar que podia rapidamente expressar-se em repentinas explosões de ira.
A divisão popular da sociedade entre “pessoas de sucesso” e “losers”, os perdedores, já se expressa, assim, nos primeiros anos de vida e nas primeiras escolhas de jovens adolescentes, em especial num clima de competição – muitas vezes, vezes demais, desleal e cruel – no interior da própria escola. Eleições e concursos frequentes, mobilizações em torno de competições e torneios, o incentivo a mostrar um perfil de vencedor e de celebridade “popular” criam, no conjunto da sociedade, mas em especial na escola, um clima de verdadeira guerra social. O romance, de terror note-se bem, de Stephen King, chamado “Carrie, a estranha”, ambientado numa “high school”, de 1974, consagrou, de forma alegórica, o clima exacerbado e cruel de exclusão das diferenças no sistema educacional norte-americano, a cegueira de mestres e funcionários e o clima de linchamento moral. Quando tais pessoas tem acesso fácil e livre – como Adam Lanza – a um arsenal de armas automáticas são dadas as condições básicas para o desastre.
Mills, com sua delicadeza incisava – bem ao contrário de Stephen King - afirmava: aquilo que se repete e atinge amplas camadas sociais não é um problema “pessoal” e, sim, uma questão social.
A teimosia dos políticos, e dos especialistas americanos, em não discutir a livre venda de armas, a segurança nas escolas e programas de educação que valorizem o trabalho social, os objetivos de equipe e que diminuam as “guerras” entre grupos de “losers” e de “populars” nas escolas é, claramente, parte causal dos massacres.
O recuo, durante a campanha eleitoral de 2012, do Presidente Obama em colocar com clareza a questão da livre venda e porte de armas automáticas – algumas com capacidade de luta em campos de guerra total -mostra uma tremenda e indesculpável rendição perante os mitos da direita conservadora e reacionária norte-americana. Além, é claro, do lucrativo negócio de armas.
Lobbies e Mitos da Direita
Para a direita mais reacionária norte-americana, como se expressa, por exemplo, no grupo denominado “Tea Party” – núcleo duro do reacionarismo republicano – as armas, sua livre venda e posse, são uma garantia de liberdade. Voltam-se, todo o tempo, e de forma totalmente inadequada, para uma apropriação ideológica das guerras de Independência dos Estados Unidos, quando milícias de fazendeiros pegavam suas armas, atacavam repentinamente os britânicos – os “Minutmen” – e então retornavam às suas atividades rotineiras de bons fazendeiros. Assim, manter suas armas, treinar pré-adolescentes em tiro – incluindo a caça – seria manter, pura e simplesmente, a tradição dos “Pais Fundadores” da Nação.
Nem a história foi assim – já que George Washington montou exército profissional regular e os colonos americanos receberam forte auxílio do exército real francês – como, é claro, os Estados Unidos de 2012 não são as Treze Colônias de 1776. Talvez resida aqui a melhor definição de fundamentalismo: apegar-se, de forma peremptória, a um traço, narrativa ou fato do passado como uma verdade imutável. Além disso, numa cultura fortemente dividida entre noções de o que é bom e justo e aquilo que é o mal, a frustração e fragilidade identitária apegam-se em armas como muletas psicológicas. Para muitos jovens a arma é um prolongamento, capacitante e potente, de suas próprias fraquezas, substituindo sentimentos de impotência pelo poder absoluto de vida e morte.
Cabe agora às autoridades norte-americanas olhar em perspectiva: examinar esta imensa lista de mortes – em especial de crianças e adolescentes – e se perguntar se estamos, verdadeiramente, em face de atiradores “com problemas pessoais” ou em face de uma “questão social”.
Discutir a política de venda e posse de armas, melhorar a segurança das escolas – como os mesmos conservadores não duvidam em “securitizar” os bancos onde guardam seus bens – e, acima de tudo, rever os parâmetros pedagógicos que criaram uma escola competitivamente extremada, individualista e voltada para a geração contínua de “celebridades” é uma ação que se impõe com urgência.
E que as tragédias alheias, que já nos tocaram, sirvam também de lição para nós brasileiros.
* Este texto foi publicado originalmente na “Carta Maior” e sua republicação no Café História foi autorizada (e encorajada) pelo autor.
 Fonte: http://cafehistoria.ning.com/mass-murder-nas-escolas. Acesso:18/12/2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Formação Continuada III - Os nativos das terras brasileiras

Não estou conseguindo justificar algumas das questões.




CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA
HISTÓRIA – 1ª SÉRIE – 4º BIMESTRE
ROTEIRO DE AÇÃO
Duração prevista: 5 aulas (45 minutos cada)
Área de conhecimento: História América Portuguesa
Assunto: Nativos das terras brasileiras
Competências:
Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
Habilidades:
Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura;
Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos;
Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Objetivos:
Caracterizar o modo de vida dos índios na época da conquista portuguesa e nos dias atuais;
Compreender e respeitar a diversidade cultural.
Materiais necessários:  Cópia do texto; Data show; Mapa.
Introdução
            Professor,

            As atividades a seguir, têm como objetivo analisar aspectos das sociedades indígenas no atual estado do Rio de Janeiro, para isso, contaremos com o projeto: Identidades do Rio http://www.pensario.uff.br/ que através de vídeos, hipertextos e textos analisa as comunidades indígenas no estado do Rio de Janeiro do período colonial do século XVI aos dias atuais.

       Os vídeos são curtos e o texto para ser analisado pode ser trabalhado em duas hora-aula.

       O objetivo das aulas e do projeto:

 “(...) é refletir sobre a memória social e cultural do estado do Rio de Janeiro, considerando sua pluralidade, tomando a circulação e as trocas culturais, nas diferentes cidades e regiões, como questões-chave para pensar em novas bases a identidade estadual e para propor intervenções na área de preservação e educação patrimonial a partir da criação do Identidades do Rio.

http://www.pensario.uff.br/projeto     

Providências:
            O professor previamente deverá entregar aos alunos um mapa do Rio de Janeiro para que os alunos possam identificar com base no primeiro vídeo as áreas em que hoje se encontram as seis aldeias indígenas.

Pré-requisitos:
            Elaboração e construção de gráficos.
Para o professor:
“O POVO INDÍGENA GUARANI
As trocas e fluxos populacionais: o movimento Guarani
Um dos elementos que mais chama a atenção nas práticas sociais do povo Guarani é a intensa rede de trocas e fluxos populacionais entre as aldeias distribuídas por uma extensa região no sul do continente. As diversas terras Guarani não estão isoladas, mas interligadas por redes de parentesco e reciprocidade. Os Guarani “mantêm entre si estreitas e intensas relações políticas, matrimoniais, religiosas e econômicas. Seus moradores vivem em constantes visitas uns aos outros. A população Guarani, apesar de se fixar durante períodos de até vários anos em determinadas aldeias, circula entre diferentes áreas, e dificilmente se encontram numa família pessoas que não conheçam ou não tenham vivido em outras aldeias” (Nimuendajú, 1987).
Para a antropóloga Elizabeth Pissolato (2007), o movimento, para os Guarani, é o que produz condições de vida consideradas boas, favoráveis. Ele é expressão de uma maneira própria de conceber o território, para além da lógica da terra indígena estabelecida pelo Estado, em um amplo circuito de espaços nos quais ocorre intensa circulação, tanto de pessoas como de plantas, matérias-primas, sementes etc.
Como observam Brighenti e Nötzold, o território Guarani (Ywy Rupá) foi cortado e recortado pelas fronteiras nacionais, dos estados, províncias e municípios. Essa divisão faz parte da história recente, mas os Guarani já deram mostras que querem continuar circulando livremente por seu território (2009).”

Procedimentos:
1ª Aula – Leitura do texto e análise dos vídeos. (2 horas-aula)
       Entregar aos alunos com antecedência (de preferência na aula anterior para que os mesmos possam realizar uma leitura prévia do texto e analisar com calma o mapa) o texto: Onde estão os índios do Rio? E o mapa que pode ser encontrado no seguinte página: http://www.mapasparacolorir.com.br/mapa/estado/rj/estado-rio-de-janeiro-municipios-nomes.png.

       1º Momento
                   Apresentar a turma de que forma as duas aulas vão estar organizadas e os seus objetivos;
       2º Momento:
                   Uma aula de apresentação sobre as sociedades indígenas brasileiras nos seus aspectos mais gerais. O próprio livro adotado pode fornecer essas informações. Na última parte do roteiro são fornecidas algumas referências de textos.
       3º Momento:
                   Leitura individual dos textos. Durante a leitura seria interessante o aluno elaborar as suas duvidas, com relação ao texto por escrito para dinamizar o momento de debate do material escrito e dos vídeos;
       4º Momento:
                   Exibição dos vídeos; 
       5º Momento:
            Análise e debate dos textos e livros.
       Ao término dessa etapa (5º Momento) esclareça as dúvidas que por ventura tenham surgidos durante o debate e faça suas considerações sobre o texto e os vídeos as relações devidas com o tema estudado.
       Para o próximo encontro pedir que a turma se divida em grupos de até cinco (5) componentes e que tragam: papel pardo (ou cartolina, papel 40 kg) caneta hidrocor e lápis de cor.
       Entregar para os alunos individualmente o texto: “O que pensam os brasileiros sobre os índios brasileiros” e pedir que eles façam uma leitura atenta do texto para a próxima aula.

  2ª Aula – Análise de documentos e avaliação. (2 horas-aula)
       Ao chegar à sala pedir que os alunos se organizem nos grupos previamente organizados. Após essa etapa, explique aos alunos que eles deverão elaborar um gráfico com base nas informações contidas no texto – cada grupo fica responsável por um tópico. (no caso de algumas de minhas turmas eu já trabalhei a construção de gráficos).
       No segundo tempo de aula pedir que os grupos apresentem para os seus colegas as informações referentes a gráfico elaborado pelo grupo em uma espécie de seminário.  
3º Aula – Análise de documentos e exercícios.
       O professor nessa aula deverá lembrar aos alunos o conceito de etnocentrismo e fazer um levantamento sobre o que os alunos entendem por preconceito.
       E para finalizar a sequência didática sobre os nativos das terras brasileiras. Os alunos deverão ler dois trechos retirados do livro “Tratado descritivo do Brasil” do senhor de engenho Gabriel S. de Souza sobre os costumes sexuais dos índios e as normas relativas ao casamento entre os nativos.

Exercício
Os alunos deverão identificar no texto, trechos que demonstrem o preconceito do autor com relaçãol às práticas culturais dos nativos.

Que trata da maneira dos casamentos dos tupinambás e seus amores.

            A mulher verdadeira dos tupinambás é a primeira que o homem teve e conversou, e não têm em seus casamentos outra cerimônia mais que dar o pai a filha a seu genro, e como têm ajuntamento natural, ficam casados; e os índios principais têm mais de uma mulher, e o que mais mulheres têm, se têm por mais honrado e estimado; mas elas dão todas a obediência à mais antiga, e todas a servem, a qual têm armado sua rede junto da do marido, e entre uma e outra têm sempre fogo aceso; e as outras mulheres têm as suas redes, em que dormem, mais afastadas, e fogo entre cada duas redes; e quando o marido se quer ajuntar com qualquer delas, vai-se lançar com ela na rede, onde se detém só aquele espaço deste contentamento, e torna-se para o seu lugar e sempre há entre estas mulheres ciumes, mormente a mulher primeira; porque pela mor parte são mais velhas que as outras, e de menos gentileza, o qual ajuntamento é publico diante de todos. E quando o principal não é o maior da aldeia dos índios das outras casas, o que tem mais filhas é mais rico e mais estimado, e mais honrado de todos, porque são as filhas mui requestadas dos mancebos que as namoram; os quais servem os pais das damas dous e três anos primeiro que lhas deem por mulheres; e não as dão senão aos que melhor os servem, a quem os namoradores fazem a roça, e vão pescar e caçar para os sogros que desejam de ter, e lhe trazem a lenha do mato; e como os sogros lhes entregam as damas, eles se vão agasalhar no lanço dos sogros com as mulheres, e apartam-se dos pais, mães e irmãos, e mais parentela com quem dantes estavam; e por nenhum caso se entrega a dama a seu marido enquanto lhe não vem seu costume; e como lhe vem é obrigada a moça a trazer atado pela cinta um fio de algodão, e em cada bucho dos braços outro, para que venha à notícia de todos. E como o marido lhe leva a flor, é obrigada a noiva a quebrar estes fios, para que seja notório que é feita dona; e ainda que uma moça destas seja deflorada por quem não seja seu marido, ainda que seja em segredo, há de romper os fios da sua virgindade, que de outra maneira cuidará que a leva logo o diabo, os quais desastres lhes acontecem muitas vezes; mas o pai não se enoja por isso; porque não falta quem lha peça por mulher com essa falta; e se algum principal da aldeia pede a outro índio a filha por mulher, o pai lha dá sendo menina; e aqui senão entende o preceito acima, porque ele a leva para o seu lanço, e a vai criando até que lhe venha seu costume, e antes disso por nenhum caso lhe toca.

http://www.brasiliana.com.br/obras/tratado-descritivo-do-brasil-em-1587/pagina/367/

Que trata da luxúria destes bárbaros
            São os tupinambás tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam; os quais sendo de muito pouca idade têm conta com mulheres, e bem mulheres; porque as velhas, já desestimadas dos que são homens, granjeiam estes meninos, fazendo-lhes mimos e regalos, e ensinam-lhes a fazer o que eles não sabem, e não os deixam de dia, nem de noite. É este gentio tão luxurioso que poucas vezes tem respeito às irmãs e tias, e porque este pecado é contra seus costumes, dormem com elas pelos matos, e alguns com suas próprias filhas; e não se contentam com uma mulher, mas têm muitas, como já fica dito, pelo que morrem muitos de esfalfados. E em conversação não sabem falar senão nestas sujidades, que cometem cada hora; os quais são tão amigos da carne que se não contentam, para seguirem seus apetites, com o membro genital como a natureza o formou; mas há muitos que lhe costumam pôr o pêlo de um bicho tão peçonhento, que lho faz logo inchar, com o que têm grandes dores, mais de seis meses, que se lhe vão gastando por espaço de tempo; com o que se lhe faz o seu cano tão disforme de grosso que os não podem as mulheres esperar, nem sofrer; e não contentes estes selvagens de andarem tão encarniçados neste pecado, naturalmente cometido, são mui afeiçoados ao pecado nefando, entre os quais se não tem por afronta; e o que serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas. Como os pais e as mães vêem os filhos com meneios para conhecer mulher, eles lhas buscam, e os ensinam como a saberão servir; as fêmeas muito meninas esperam o macho, mormente as que vivem entre os portugueses. Os machos destes tupinambás não são ciosos; e ainda que achem outrem com as mulheres, não matam a ninguém por isso, e quando muito espancam as mulheres pelo caso. E as que querem bem aos maridos, para os contentarem, buscam-lhes moças com que eles se desenfadem, as quais lhe levam à rede onde dormem, onde lhe pedem muito que se queira deitar com os maridos, e as peitam para isso; coisa que não faz nenhuma nação de gente, senão estes bárbaros.

http://www.historiadobrasil.com.br/viagem/docs01.htm


Avaliação.
       A avaliação deverá ser feita utilizando as informações do gráfico e a apresentação dos grupos.
       Para uma possível avaliação de recuperação “paralela” o professor poderá utilizar as questões abaixo:

1ª Questão
 


Leia com atenção o texto escrito por Jean de Léry e responda o que se pede:

Conversa entre Jean de Léry e um velho índio Tupinambá no século XVI
Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan (madeira pau-brasil). Uma vez um velho perguntou-me:
- Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?
Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente:
- E porventura precisais de muito?
- Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.
- Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas; acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?
- Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo:
- E quando morrem para quem fica o que deixam?
- Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes próximos.
- Na verdade, continuou o velho, que como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem ! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

A relação entre trabalho e riqueza é a mesma para o índio e para o francês? Explique.

Possibilidade de Resposta
Não. Para o índio, o trabalho é realizado para suprir as necessidades de subsistência e não para acumular riquezas.  O trabalho está relacionado ao cultivo da terra, ao alimento que ela produz. Por isso, a maior riqueza para o índio é a terra, que lhe assegura sustento para essa e as próximas gerações. Para o francês o trabalho é visto como um meio de acumular riquezas, que servirá de herança para seus filhos ou outros parentes.

2ª Questão
 

    
Utilizando as informações dos gráficos abaixo e seus conhecimentos sobre o assunto elabore um parágrafo comentando sobre a situação dos índios no Brasil contemporâneo.


Possibilidade de Resposta
Pessoal. O aluno deverá utilizar as informações utilizadas na sala de aula (principalmente os vídeos e o segundo texto) e o gráfico acima.
  

3ª Questão

A luta dos povos indígenas não é exclusividade do nosso passado colonial, ainda hoje há diversos conflitos, disputas e tensões, envolvendo as comunidades indígenas. Um exemplo é o que acontece atualmente aqui, bem próximo de nós, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro do Maracanã. Leia o texto publicado no JB online e faça o que se pede.

         “Alertas, preocupados, sem dormir, e dispostos a tudo. Assim estão os índios da Aldeia Maracanã, vizinha ao Estádio Mario Filho, depois que a presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), desembargadora federal Maria Helena Cisne, cassou duas liminares que impediam a demolição do prédio onde funcionou o Museu do Índio de 1910 até 1978, bem como proibiam a retirada dos ocupantes do imóvel.
            "Na última sexta-feira, e no sábado, começaram a quebrar os muros do terreno. Afastado aqui da Aldeia. Mas já no terreno. O clima está tenso. Estamos dispostos a qualquer coisa, inclusive a não sair daqui vivos", disse Afonso Aporinã, um dos líderes da Aldeia Maracanã, onde haverá uma reunião aberta ao público para organizar a resistência.
            Com medo de que a partir da decisão do TRF-2 o governo do Estado tente retirá-los da área neste feriado prolongado, os índios prometem reagir e ficar em estado de sentinela.”
Sobre o texto acima, a situação de luta dos índios no passado e no presente e os seus conhecimentos acerca da temática, marque a alternativa CORRETA:
a) Os conflitos entre os indígenas e as populações brancas é uma exclusividade do passado colonial brasileiro;
b) O texto acima relata uma disputa entre um grupo de índios e o governo do estado;
c) A idéia principal do texto é as relações pacíficas entre as populações indígenas e o Estado brasileiro;
d) Podemos perceber que pela leitura do trecho acima as aldeias indígenas se localizam exclusivamente longe dos grandes centros urbanos.


    4ª Questão
 

            É bastante comum, entre os povos indígenas, uma divisão das tarefas entre homem e mulher. Isto significa que existem atividades que são feitas somente pelas mulheres e outras, somente pelos homens.
            Mesmo que esta divisão não seja igual em todos os povos, as tarefas relacionadas ao preparo dos alimentos, ao cuidado com as crianças e algumas atividades na roça são, geralmente, de responsabilidade das mulheres. Já os homens são responsáveis pela derrubada do mato para a criação da roça, pelas atividades de caça, de guerra, entre outras.
            É importante dizer que as atividades feitas por cada um dos gêneros (feminino ou masculino) se completam, pois juntas garantem a qualidade de vida de toda a comunidade.
            Você já imaginou o que seria da refeição de uma família sem o trabalho realizado pelos homens que saíram para caçar ou pescar? E como esta seria sem o trabalho das mulheres que prepararam toda comida?
            Juntos, homens e mulheres são responsáveis pela produção dos alimentos, das redes, dos bancos, das casas, das canoas, das ferramentas utilizadas no dia a dia, como vasos de cerâmica, cestos, flechas, arcos etc. Vemos assim que o trabalho de cada membro do grupo é fundamental para toda comunidade.
            As crianças aprendem desde cedo as tarefas do dia a dia, e é muito comum ver uma menina ajudando sua mãe ou um menino acompanhando seu pai em seus afazeres. Elas costumam construir objetos iguais aos dos adultos, mas em miniatura.
Assim, brincando de imitar os mais velhos, meninos e meninas aprendem as atividades que mais tarde irão desempenhar com perfeição.

Complete o quadro abaixo com as informações retiradas do texto.
Tarefas femininas
Tarefas masculinas
Tarefas sem distinção de gênero








                                




   5ª Questão

Crianças indígenas... são apenas crianças
            “A criança indígena, quando dentro do contexto cultural histórico, em que vivia, em sua ancestralidade, costumava ter seu nome, intuído pelo Pajé. Os nomes eram escolhidos entre os reinos animal, mineral e vegetal. Essa revelação ocorria, na hora em que a criança nascia, e todos os eventos que circundavam aquele momento, poderiam ser interpretados como indicadores do nome, e inclusive, do destino que poderia ter a criança. Mas após o ritual de passagem, da adolescência, onde o jovem teria que realizar algumas tarefas, que variavam um pouco, entre as tribos, como matar um inimigo, por exemplo, ele obtinha o direito de agregar mais nomes ao seu nome de nascimento. Esses nomes posteriores, também deveriam obedecer critérios circunstanciais que envolviam os fatos e os feitos do bravo guerreiro e serem provados ou sugeridos         pelo    pajé.   Assim, quanto mais feitos de bravura, mais honra, e consequentemente, mais nomes.
            Como cada região territorial, tem sua geografia, fauna e flora peculiares, os nomes variavam em função do ambiente em que vivia cada tribo”.

CLAUDIA BAIBICH. http://caboclosnaumbanda.blogspot.com.br/2009/03/significados-de-nomes-indigenas.html. Acesso: 20/11/2012In. Berutti, Flávio. Caminhos do Homem: Volume 1. Curitiba, PR: Base Editoril: 2010. p. 230.

Pelo estudo do texto acima, é possível perceber a importância que o território e a natureza têm para as populações indígenas? Explique.


   6ª Questão
 
(Rede Pitágoras) Leia atentamente as notícias abaixo.
De um total de 534 crianças indígenas da etnia Guarani-Kaiowá examinadas pela Funasa – Fundação Nacional da Saúde – em aldeias do Mato Grosso do Sul, 136 estão desnutridas ou em risco de desnutrição. (...) O presidente da Funasa afirmou que o órgão não tem culpa pelos casos de desnutrição e que não cabe à FUNASA distribuir cestas básicas.
O Globo, 10/03/2005, O País, p.12
Triste a noção de normalidade do governo do PT, a julgar pelas declarações do ministro da Saúde, Humberto Costa a respeito das mortes de crianças indígenas em Dourados (MS). Diz o ministro: “As mortes estão dentro do número que normalmente acontece”.
Desde quando alguém morrer de fome pode ser considerado um fato dentro do que “normalmente acontece”? O que o ministro não vê é a vergonha e a indignidade que é morrer de fome, uma criança atrás da outra.
ARTIGO DE CLÓVIS ROSSI. Folha de São Paulo, 10/03/2005. p.A2

   A Funasa reconheceu a morte de 43 crianças indígenas nos primeiros dois            meses deste ano, mas apenas admitiu dois casos de morte por desnutrição.   Um relatório da FUNASA apontou que 80 crianças indígenas xavantes menores de cinco anos morreram nas aldeias de Mato Grosso em 2004.
Agência Folha, 05/03/2005
















a) RESPONDA: Qual o assunto em comum nas três reportagens?
b) EXPLIQUE a reação indignada do jornalista Clóvis Rossi com as declarações do Ministro da Saúde.
c)  DESCREVA uma semelhança entre a situação vivida pelos índios no período da colonização e a
realidade descrita nas reportagens acima.


     7ª Questão
 

(Rede Pitágoras) Leia com atenção o que escreveu o índio Davi Ianomâmi.


Eu sou ianomâmi. Nós ianomâmis pensamos que o homem branco era bom para nós. Agora eu estou vendo que é a última invasão da terra indígena, as outras já estão todas invadidas. Chegaram para tomar a nossa terra. Estão tomando.
A mesma coisa aconteceu lá fora com outros irmãos índios, na América; agora acontece aqui na nossa terra. O governo não deveria fazer isso. Ele sabe que nós somos os brasileiros mais antigos, que nos chamamos ianomâmis.
Ele diz que nós vamos morrer de fome se fechar o garimpo. Se eles não pararem de garimpar, nós vamos sim morrer de fome. Mas se parar o garimpo, nós plantamos macaxeira, banana, cará, taioba, mamão, cana, pupunha, e ninguém morre de fome. Nós ianomâmis queremos nossa terra própria. Não queremos acabar com nossos costumes. Até hoje não perdemos nossa língua e a terra, por isso essa luta.
Boa Vista, 31/08/1989, Davi Ianomâmi, Folha de São Paulo – 05/05/1990

O problema vivido pelos ianomâmis é o problema vivido por várias outras tribos.

a) IDENTIFIQUE o problema.

b) TRANSCREVA a parte do texto em que Davi Ianomâmi aborda o que ocorreu com os astecas, incas
e outros grupos indígenas.

c) EXPLIQUE o que Davi Ianomâmi quis dizer com: “Se eles não pararem de garimpar, nós vamos
sim morrer de fome.


  8ª Questão 
            “Formado por 14 bases avançadas do Exército, com apoio da Aeronáutica e da Marinha, o Calha Norte abrange 70 municípios brasileiros, 38 dos quais ao longo dos 5.993 km da faixa de fronteira (mais de 1/3 das fronteiras terrestres do país), nos estados do Amazonas, Roraima, Pará e Amapá”, explica o coronel Claudimar. Sua área de atuação corresponde 14% do território nacional, praticamente inexplorado, esparsamente demarcado, fracamente povoado e praticamente sem vigilância terrestre, onde habitam cerca de 2.300.000 pessoas (apenas 1,2% da população brasileira), incluindo 25% da população indígena do país. Além das 14 bases avançadas, existem quatro Comandos de Fronteira, reunindo aproximadamente 1000 homens cada, com armamento padrão e moderno do Exército Brasileiro e dois veículos de guerra, um Cascavel e um Urutu, em Boa Vista. Já as bases avançadas são constituídas pelos Pelotões Especiais  de Fronteira, cujo lema é Vida, Combate e Trabalho. Um pelotão comum reúne 35 homens, mas estes, por serem especiais, reúnem 65 a 70, armados com metralhadoras e fuzis FAL 7.62 mais metralhadoras de mão e pistolas 9mm.
            Fazem a pé o patrulhamento intensivo e ostensivo da floresta inóspita ou a bordo de embarcações rápidas, de alumínio, pelos inúmeros rios da região.
            A maioria dos soldados dos Comandos e dos Pelotões são índios pertencentes às etnias locais. Acostumados às dificuldades da floresta, incorporaram ao armamento militar seus armamentos rústicos, porém leves, como a zarabatana, cujo dardo pode atingir um alvo a 200 metros, e o arco e a flecha. Uma flecha disparada num homem a 10 metros de distância pode transpor seu corpo.”

Tendo como embasamento para responder a questão o seu módulo didático e as suas conclusões sobre a questão indígena no Brasil atual, analise as questões abaixo e marque a alternativa CORRETA:
a) O objetivo do Programa Calha Norte e levar a chamada “civilização” para os povos indígenas, principalmente para os Yanomani;
b) Pela leitura do texto podemos inferir (deduzir, concluir) que o Programa Calha Norte tem por objetivo proteger as fronteiras brasileiras e que para isso, o governo federal incorpora o conhecimento indígena sobre a região;
c) O texto nos mostra a inexistência de um programa brasileiro de proteção as nossas fronteiras;
d) O Programa Calha Norte é um programa que pretende demarcar as terras indígenas brasileira.

  
PRIMEIRO TEXTO (aulas 1 e 2)


Onde estão os índios do Rio?

Leonardo Soares Quirino da Silva
       Há 104 anos foi feito o último registro sobre um índio natural do estado do Rio de Janeiro. Era o óbito de Joaquina Maria Pury, registrado em 30 de maio de 1902 na paróquia de Santo Antônio de Pádua, no município de mesmo nome. O estado só voltaria a ser habitado por povos indígenas no final da década de 1940, em razão da migração de guaranis para a região de Angra e Parati.
       O Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado no dia nove de agosto, desde 1995, pode servir de ponto de partida para se conhecer a história do desaparecimento das tribos que viviam no estado na época do descobrimento, bem como para se saber sobre as atividades da ONU nesse campo.
       Para isso, o Portal de Educação Pública conversou com o professor José Ribamar Bessa Freire, do Programa de Estudo de Povos Indígenas da Uerj (Pro-Índio ) e consultou a documentação da ONU sobre o que vem sendo feito no organismo em prol das populações indígenas.
       Como declarou o professor Bessa em seu artigo "Tem índio no Rio", de 2000, o estudo das culturas indígenas e sua relação com os colonizadores servem não só para se conhecer o outro, nesse caso os índios, mas para se pensar sobre a sociedade em que vivemos.

 

Índios e colonização

       No início do século XVI, quando franceses e portugueses chegaram à região onde hoje fica o estado do Rio de Janeiro, as populações indígenas podiam ser dividas em quatro grandes grupos em função do tronco linguístico a que pertenciam, segundo o livro Aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro (atualmente esgotado).
       O primeiro grupo era o tupi-guarani, falado pelas tribos do litoral, entre elas os Tupinambás ou Tamoios e os Tupiniquins. O estudo de sua língua deu origem à Língua Geral. Durante o período colonial, existiram duas versões dessa língua. A Língua Geral Paulista (LGP), falada no sul do país, e a Língua Geral Amazônica (LGA), na região norte.
       As duas versões foram as línguas francas usadas pelos colonizadores - em especial pelos jesuítas, que a organizaram, e pelos bandeirantes - para se comunicarem com os povos indígenas. Até 1750, a LGP foi a língua mais falada no litoral do Brasil. A LGA resistiu até 1870.
As tribos dos grupos Puri-Coroado, Maxakali e Botocudo falavam línguas do tronco macrojê. Estas se localizavam no interior do estado, principalmente na bacia do rio Paraíba do Sul. A única exceção eram os Goitacás, que viviam próximos a foz do rio Paraíba do Sul.
       O último grupo linguístico não foi classificado. A ele pertenciam as tribos Guaianá ou Goianá que viviam no litoral sul, entre Angra e Parati, e na Ilha Grande.
       O processo de extermínio dos povos indígenas que viviam no estado se deu do litoral para o interior. Não por acaso, ele também seguiu os ciclos econômicos que marcaram a colônia e o império - pau-brasil, açúcar, ouro e café. No primeiro século da colonização, as doenças vindas da Europa - como a sífilis, a varíola e o sarampo - dizimavam aldeias inteiras. Depois, as guerras, tanto como aliados de franceses e portugueses, quanto contra estes últimos, também contribuíram para reduzir as populações do litoral. Por fim, a escravização e a aculturação deram cabo dos últimos índios que ainda viviam de acordo com seus costumes.

Escravidão e Extermínio

       Durante o período colonial até a década de 1750, a mão-de-obra indígena poderia ser forçada a trabalhar de duas formas: pela escravização e pelo sistema de descimento. A primeira (escravização), os índios eram aprisionados nas chamadas Guerras Justas, movidas pelos colonos e autoridades locais.
       Como as populações nativas estavam sendo dizimadas por esse meio, o rei D om Sebastião baixou regulamento para normaliza r as condições em que essas guerras poderiam ser feitas. Pelo documento, só o rei ou o governador poderia autorizar a realização desse tipo de "conflito". Ademais, só seriam justas as guerras feitas contra tribos hostis ou canibais.
       O resgate era a segunda forma de se escravizar um indígena, então chamados de "negros da terra". Os colonos compravam os prisioneiros que as tribos faziam durante suas guerras para usarem como escravos em suas plantações. Esses escravos indígenas também eram chamados de "índios de corda", por terem sido anteriormente prisioneiros de outras tribos.
       No filme Desmundo, de 2003, é retratada discussão entre colonos, índios e autoridades sobre a compra e a captura de "negros da terra" e "índios de corda".
       O sistema de descimento era a forma que as autoridades coloniais tinham de fazer índios livres trabalharem de forma compulsória. Em 1548, o Regimento de Tomé de Souza, governador-geral, estipulou que os índios convertidos fossem separados dos não-convertidos. Eles deveriam descer (daí descimento) de suas aldeias e ser trazidos para as repartições.
Esses aldeamentos ficavam próximos aos núcleos coloniais e serviam de depositário de mão-de-obra para a colonização. O nome vem do fato de seus habitantes serem repartidos para trabalhar para os colonos, missionários ou autoridades. Esse trabalho compulsório durava, em geral, de dois a seis meses. Os que serviam a administração pública eram empregados tanto para a realização de obras públicas quanto para o serviço militar.
       Como forma de incentivo para descerem, os habitantes dessas aldeias recebiam uma sesmaria. Algumas cidades do estado surgiram de repartições, como Cabo Frio, Itaguaí, Itaboraí e Mangaratiba.
       Uma das razões que provocava o esvaziamento das mesmas era o fato de serem as condições de trabalho longe das ideais. Nas propriedades de colonos e de padres, os habitantes das repartições trabalhavam o mesmo tempo que os negros e eram submetidos às mesmas condições - alimentação inadequada, castigos e maus tratos. Por isso, os índios descidos costumavam fugir das repartições.
       Como solução para ter mão-de-obra sempre disponível, as autoridades costumavam trazer índios de outras regiões da colônia para manter as aldeias. Em 1628, por exemplo, os jesuítas trouxeram de Santa Catarina 405 carijós e os instalaram em Guaratiba. Dois anos depois, 43 habitantes dessa repartição foram trabalhar na construção de fortificações da cidade do Rio de Janeiro.
       Outro fato que contribuía para o despovoamento das repartições era que os nativos enviados para trabalhar para os colonos nem sempre voltavam. Um dos artifícios usados pelos escravistas era o de casar os índios vindos das repartições com índias escravas. Dessa forma, mantinham-nos presos à propriedade alegando que não poderiam romper os sagrados laços do matrimônio. Para evitar essa prática, em 1698, o governador geral do Rio de Janeiro proibiu o casamento entre "negros da terra" e "índios livres", como eram chamados os habitantes das repartições.
       De início, as repartições ficavam sob controle dos padres jesuítas. Depois, esse controle será dividido com colonos e com militares. No século XVIII, a briga pela mão-de-obra, cada vez menor, proveniente das repartições é um dos motivos que vai levar à expulsão da Companhia de Jesus do Brasil.
       Nos séculos XVIII e XIX, a descoberta do ouro e depois a expansão da lavoura cafeeira, serviram para dizimar os grupos restantes.
       Por volta de 1800, segundo estudos feitos pelo Pro-Índio, apenas 15 núcleos ainda mantinham sua identidade étnica. Todos eram de índios dos grupos Puri-Coroado, Botocudo ou Maxacali. Estes núcleos foram sendo extintos na medida em que a cultura do café avançava pelo vale do Paraíba. Primeiro, na atual região do Médio Paraíba e, depois, no Norte Fluminense.
       Nessa época, os índios eram classificados de acordo com seu grau de integração à sociedade brasileira. Os que ainda preservavam sua cultura eram chamados de bravos. Os caboclos eram os catequizados.
       Por fim, os destribalizados, que haviam perdido suas terras porque elas foram tomadas por fazendeiros ou pelas Câmaras Municipais. Estes índios, como Joaquina Maria Pury, mudaram para as cidades, onde viviam marginalizados.

Guaranis fluminenses

       Depois disso, o estado só voltaria a ter população indígena no fim da década de 1940. Nessa época, os primeiros índios guarani do grupo linguístico Mbya, vindos do sul do Brasil, vão se estabelecer na região de Parati.
       Eles só foram descobertos pelas autoridades federais em 1972, quando da abertura da Rodovia Rio-Santos. As autoridades só voltaram sua atenção sobre o grupo depois que saiu uma reportagem sobre as obras da rodovia. Segundo o professor Bessa, até então o Serviço de Proteção ao Índio e sua sucessora, a Funai, registravam que o estado não tinha população indígena. O professor observa, ainda, que, em conversa com antigos tropeiros da região elas diziam que os índios estavam na região há muito tempo.
       Atualmente, os 500 guaranis do estado vivem em três aldeias - Sapukaí, Itatiim e Araponga. Sendo que as de Rio Pequeno e Mamanguá estão em processo de reconhecimento e a de Tekoa mboyty, onde os índios pleiteiam junto a FUNAI o processo de regularização das terras.

Publicado em 08/08/06.http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0028.html. Acesso: 19.11.2012. Adaptado

SEGUNDO TEXTO (aulas 3 e 4)

O que pensam os brasileiros sobre os índios brasileiros
       Historicamente os índios têm sido objeto de múltiplas imagens e conceituações por parte dos não-índios e, em conseqüência, dos próprios índios, marcadas profundamente por preconceitos e ignorância. Desde a chegada dos portugueses e outros europeus que por aqui se instalaram, os habitantes nativos foram alvo de diferentes percepções e julgamentos quanto às características, aos comportamentos, às capacidades e à natureza biológica e espiritual que lhes são próprias. Alguns religiosos europeus, por exemplo, duvidavam que os índios tivessem alma. Outros não acreditavam que os nativos pertencessem à natureza humana pois, segundo eles, os indígenas mais pareciam animais selvagens. Estas são algumas maneiras diferentes de como “os brancos” concebem a totalidade dos povos indígenas a partir da visão etnocêntrica predominante no mundo ocidental europeu.
       Dessa visão limitada e discriminatória, que pautou a relação entre índios e brancos no Brasil desde 1500, resultou uma série de ambigüidades e contradições ainda hoje presentes no imaginário da sociedade brasileira e dos próprios povos indígenas. A sociedade brasileira majoritária, permeada pela visão evolucionista da história e das culturas, continua considerando os povos indígenas como culturas em estágios inferiores, cuja única perspectiva é a integração e a assimilação à cultura global. Os povos indígenas, com forte sentimento de inferioridade, enfrentam duplo desafio: lutar pela auto-afirmação identitária e pela conquista de direitos e de cidadania nacional e global. 
       As contradições e os preconceitos têm na ignorância e no desconhecimento sobre o mundo indígena suas principais causas e origens e que precisam ser rapidamente superados. Um mundo que se autodefine como moderno e civilizado não pode aceitar conviver com essa ausência de democracia racial, cultural e política. Como se pode ser civilizado se não se aceita conviver com outras civilizações? Como se pode ser culto e sábio se não se conhece – e o que é bem pior – não se aceita conhecer outras culturas e sabedorias? Enquanto isso não acontece, continuamos convivendo com as contradições em relação aos povos indígenas, as quais podemos resumir na atualidade em três distintas perspectivas sociais.
       A primeira diz respeito à antiga visão romântica sobre os índios, presente desde a chegada dos primeiros europeus ao Brasil. É a visão que concebe o índio como ligado à natureza, protetor das florestas, ingênuo, pouco capaz ou incapaz de compreender o mundo branco com suas regras e valores. O índio viveria numa sociedade contrária à sociedade moderna. Essa visão criada por cronistas, romancistas e intelectuais, desde a chegada de Pedro Álvares Cabral em 1500, perdura até os dias de hoje e tem fundamentado toda a relação tutelar e paternalista entre os índios e a sociedade nacional, institucionalizada pelas políticas indigenistas do último século, inicialmente, por meio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e, atualmente, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Aqui o índio é percebido sempre como uma vítima e um coitado que precisa de tutor para protegê-lo e sustentá-lo, isto é, sem tutor ou protetor os índios não conseguiriam se defender, se proteger, se desenvolver e sobreviver. Daí a idéia da FUNAI como pai e mãe, ainda muito presente entre vários povos indígenas do Brasil.
       A segunda perspectiva é sustentada pela visão do índio cruel, bárbaro, canibal, animal selvagem, preguiçoso, traiçoeiro e tantos outros adjetivos e denominações negativos. Essa visão também surgiu desde a chegada dos portugueses, através principalmente do seguimento econômico, que queria ver os índios totalmente extintos para se apossarem de suas terras para fins econômicos. As denominações e os adjetivos eram para justificar suas práticas de massacre, como autodefesa e defesa dos interesses da Coroa. Ainda hoje essa visão continua sendo sustentada por grupos econômicos que têm interesse pelas terras indígenas e pelos recursos naturais nelas existentes. Os índios são taxados por esses grupos como empecilhos ao desenvolvimento econômico do país, pelo simples fato de não aceitarem se submeter à exploração injusta do mercado capitalista, uma vez que são de culturas igualitárias e não cumulativistas. Dessa visão resulta todo o tipo de perseguição e violência contra os povos indígenas, principalmente contra suas lideranças que atuam na defesa de seus direitos.
       A terceira perspectiva é sustentada por uma visão mais cidadã, que passou a ter maior amplitude nos últimos vinte anos, o que coincide com o mais recente processo de redemocratização do país, iniciado no início da década de 1980, cujo marco foi a promulgação da Constituição de 1988. Eu diria que é a visão mais civilizada do mundo moderno, não somente sobre os índios, mas sobre as minorias ou as maiorias socialmente marginalizadas. Esta visão concebe os índios como sujeitos de direitos e, portanto, de cidadania. E não se trata de cidadania comum, única e genérica, mas daquela que se baseia em direitos específicos, resultando em uma cidadania diferenciada, ou melhor, plural. Aqui os povos indígenas ganharam o direito de continuar perpetuando seus modos próprios de vida, suas culturas, suas civilizações, seus valores, garantindo igualmente o direito de acesso a outras culturas, às tecnologias e aos valores do mundo como um todo.
       Direitos específicos e cidadania plural indicam teoricamente que os povos indígenas têm um tratamento jurídico diferenciado. Por exemplo, é concedido a eles o direito de terra coletiva suficiente para a sua reprodução física, cultural e espiritual, e de educação escolar diferenciada baseada nos seus próprios processos de ensino-aprendizagem e produção, reprodução e distribuição de conhecimentos. Dessa nova perspectiva, do ponto de vista dos povos indígenas, trataremos de forma mais aprofundada nos próximos capítulos.
        Por ora, interessa saber um pouco mais sobre como os brasileiros não-índios percebem e concebem o futuro de vida dos povos indígenas do Brasil. Para isso, utilizaremos uma interessante pesquisa realizada pelo IBOPE a pedido do Instituto Socioambiental (ISA) em 2000, por ocasião das comemorações dos 500 anos do “Descobrimento do Brasil” e publicada por Povos Indígenas no Brasil (ISA, 2000). É uma pesquisa de opinião pioneira desta natureza, envolvendo povos indígenas. Segundo o IBOPE, foram ouvidos 2.000 homens e mulheres entre 24 e 28 de fevereiro daquele ano.
       Imagem dos índios: 78% dos entrevistados revelaram ter interesse no futuro dos índios sobre os quais prevalece uma visão positiva; 88% concordam que os índios ajudam a conservar a natureza e vivem em harmonia com ela, e que não são preguiçosos, mas encaram o trabalho de forma diferente da sociedade branca ocidental; 89% afirmaram que os índios não são ignorantes, mas possuem uma cultura diferente da cultura branca e que só são violentos com aqueles que invadem as suas terras para tomar-lhes.
       As terras indígenas: Apenas 22% dos entrevistados consideraram que os 11% das terras do Brasil de posse dos índios sejam muita terra para eles, enquanto que 68% entendem que a extensão das terras indígenas é adequada ou suficiente; 70% dos brasileiros entrevistados consideraram que os índios, mesmo falando português e se vestindo como os brancos, devem ter seus direitos territoriais garantidos.
       O direito à diferença: Há quase um consenso nacional quanto ao reconhecimento dos direitos dos índios de serem diferentes dos brancos, nos modos de viver, de pensar e de trabalhar; 92% dos brasileiros acham que os índios devem ter os direitos de continuar vivendo de acordo com os seus costumes e suas culturas; 67% discordam que os índios devam ser preparados para abandonar suas aldeias e selvas para viver como e com os brancos.
       Futuro: Em razão do trágico processo histórico vivido durante os 500 anos de colonização, a garantia do futuro dos povos indígenas continua, na opinião de muitos brasileiros, a ser muito incerta; 45% expressaram otimismo quanto ao futuro dos povos indígenas do Brasil, tanto com relação a continuarem vivendo nas suas terras quanto à preservação da sua cultura, enquanto 21% manifestaram pessimismo quanto a isso.
Papel do governo: A maioria dos brasileiros entrevistados acha que o papel do governo brasileiro é garantir a efetividade dos direitos indígenas para que continuem vivendo de acordo com seus modos de vida desejada, implantando programas de saúde e educação adequados (48%), demarcando as suas terras (37%) e estimulando a produção de bens voltados para o mercado (31%); 82% acham que o governo federal deveria atuar para evitar a sua extinção. Os entrevistados apontaram três principais problemas enfrentados pelos povos indígenas: invasão das terras indígenas (57%), desrespeito à cultura (41%) e doenças transmitidas pelo contato com os brancos (28%).
       A opinião pública brasileira, expressa por meio da pesquisa acima mencionada, confirma uma tendência percebida na prática cotidiana dos povos indígenas: a do aumento progressivo de pessoas e de segmentos sociais que vão superando a visão estereotipada sobre os primeiros habitantes do Brasil. Dito de outra forma há uma consciência cada vez maior de que os povos indígenas constituem, sim, um dos pilares da sociedade brasileira e é uma referência importante, senão central, da identidade nacional, assim como é o negro, sem os quais o Brasil não é possível ser ele mesmo. Este caminho para o reencontro com sua história e sua origem pode significar um reencontro consigo mesmo, única possibilidade de seu desenvolvimento pleno, justo, democrático e igualitário diante da diversidade étnica e cultural de seu povo.
O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Gersem dos Santos Luciano Baniwa http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf Acesso: 19/11/2012
  
Aprofundamento:
Ø Para os colegas da Costa Verde

Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba: conflitos de identidades em terras de índios. Bárbara Helena de Araujo Guimarães Sanches http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoBarbaraHAGS.pdf

Os Guarani no Rio de Janeiro
Existem índios no Rio de Janeiro. São os Guarani do subgrupo Mbya, falantes da língua Tupi.
Nos Estados Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul vivem, além dos Mbya, os Guarani dos subgrupos Nhandeva e Kaiowá.
Em 1996, as três terras indígenas existentes no Rio de Janeiro - a Terra Indígena Guarani de Bracuí, localizada no município de Angra dos Reis, a Terra Indígena Araponga e a Terra Indígena Parati-Mirim localizadas no município de Paraty - tiveram o processo de demarcação concluído e foram homologadas pelo governo federal. O Presidente da República, seguindo a Constituição brasileira, reconheceu-as oficialmente como terras tradicionais do povo Guarani e fez publicar no Diário Oficial da União os decretos que dão direito aos Guarani a posse permanente dessas terras.
Vivem nas três aldeias, aproximadamente, 450 pessoas. A Terra Indígena Guarani de Bracuí é a que tem a maior população, cerca de 320 indivíduos. Mais da metade é constituída por crianças menores de 14 anos.
Os Guarani que vivem hoje , em território brasileiro, somam, aproximadamente, cinco mil pessoas. Há também Guarani vivendo em áreas na Argentina, Paraguai e Bolívia.
O subgrupo Mbya , em Angra dos Reis, vive no alto da serra em meio à Mata Atlântica, de onde podem avistar o mar. Atravessar o mar e encontrar a Terra Sem Mal, o paraíso mítico, é o sonho dos Guarani. Na busca incessante desse paraíso, que segundo a tradição pode ser alcançado em vida, eles precisam cumprir e respeitar um conjunto de regras e conduta divina que lhes são transmitidas pelos xamãs. São elas que norteiam as relações que mantém com a natureza, com todos os seres humanos e com os espíritos. É o modo de ser e viver guarani, o nandereko.
Um bom lugar para viver, de acordo com o seu nandereko, é próximo ao mar, mas distante dele. Tem que ter terra boa para plantar, pois são, tradicionalmente , agricultores, mantendo roças familiares e plantando, em sistema de rodízio, os principais alimentos de sua dieta como o milho(awati), mandioca (mandio), batata-doce (djety’i), amendoim (manduvi) e feijão (kumandá), uma média de três hectares ao ano.
Tem que ter um lugar para pescar, caçar e colher as frutinhas do mato. Costumam ter sempre próximo às casas de moradia (o’y) árvores frutíferas como complemento alimentar, tais como o abacateiro e a bananeira. A mata é necessária para os índios para colherem o material necessário para a construção de casas, cestos, arcos, ornamentos e objetos rituais, mágicos e religiosos.
A Casa de Reza (opy) ocupa lugar de destaque, convergindo para ela todas as atividades significativas da aldeia. No seu interior, cuja vedação é completa para impedir a entrada de espíritos indesejáveis, os Guarani ouvem as belas palavras (porahei) proferidas pelos xamãs e realizam os rituais funerários, de cura, e do batismo do milho. É no pátio ,em frente a opy, que se realizam as reuniões de deliberação da comunidade e o xondarê, dança lúdica guarani, quando todos brincam ao som do violão e da rebeca.
São os xamãs, conhecidos também por rezadores, que, ouvindo as vozes e orientações dos deuses, os conduziram a esses espaços para que pudessem neles construir suas aldeias, o tekoa.
O tekoa é formado por um complexo de pequenos núcleos, de duas ou mais casas, dispersos pela área escolhida. Nele, as relações sociais e de parentesco, a divisão sexual do trabalho e as relações cosmológicas com os espíritos e o sobrenatural se reproduzem e se atualizam, dando sentido ao modo de ser e viver Guarani.
Há quinhentos anos os Guarani têm enfrentado o desafio de sobreviver de acordo com suas tradições, interagindo com a sociedade brasileira. Vêm selecionando e incorporando as suas tradições e valores as novas necessidades e conhecimentos advindos dessa relação.
Hoje, administram, em parceria com várias instituições, os projetos que escolheram para desenvolver em sua comunidade: a escola bilíngüe, que já produziu uma cartilha Guarani para alfabetização, e um livro contando a história do contato com os não-índios do ponto de vista Guarani; a instalação de um posto de saúde na aldeia e a formação de agentes de saúde guarani; a construção de açudes para piscicultura; a criação de animais; o ponto de venda de artesanato em Angra dos Reis e o projeto de oficinas fotográficas; entre outros. Na aldeia Sapukai, do tekoa de Bracuí , os Guarani vivem o tempo presente e constroem o futuro de seus filhos. 

A REPRESENTAÇÃO DA ESCOLA EM UM MITO INDÍGENA. José Ribamar Bessa Freire (*)
INTRODUÇÃO
Algumas pesquisas vêm revelando, nos últimos quinze anos, o papel da escola e dos textos didáticos na imagem que os brasileiros construiram sobre os índios. Uma das primeiras abordagens mais sistemáticas concluiu, em 1987, que embora não exista “uma imagem única do índio no livro didático”, o que predomina é uma representação “no mínimo, enganadora e equivocada”, com afirmações inexatas, detalhes exóticos e incompreensíveis, projeções de valores estranhos”, todos eles, enfim, apresentando o índio “como ser inferior”. (Silva, 1987: 40 e 89).

ÍNDIOS

Maria Regina Celestino de Almeida
Doutora pela UNICAMP e professora do Departamento de História da UF
Fontes:
Bibliografia:
Luís Donisete Benzi Grupioni (org). Índios do Brasil. 4ª edição. São Paulo: Global: Brasília: MEC, 2000.