Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Entre a reprovação e a aprovação automática - Diário do Professor

Com base em estatísticas que demonstram as altas taxas de reprovação dos alunos brasileiros, o MEC, com mais uma proposta de “tapar o sol com a peneira” decidiu recomendar a todas as escolas a aprovação automática nos três primeiros anos do ensino fundamental. Segundo Edna Martins Borges, coordenadora-geral do Ensino Fundamental da secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, “O Conselho espera que o Brasil deixe, daqui a alguns anos, de reprovar em todas as séries do ensino fundamental (…) pois ser reprovada faz com que interrompa o sucesso escolar que poderia ter (…) a reprovação é uma das responsáveis pelo aluno abandonar o colégio”.
Alguns especialistas e uma professora foram consultados, mas nenhum deles foi tão duro quanto deveria ser. Estamos falando em retirar a autoridade do professor de decidir quem está ou não apto a avançar para outra etapa escolar.
Em primeiro lugar, como já pude me posicionar em artigos anteriores, não sou a favor da reprovação. No entanto, aprovar um aluno sem que ele esteja em reais condições de acompanhar a série posterior é mais danoso do que impedi-lo. Vamos falar em realidade? O que ocorre é que, quando se promove a aprovação automática do 1º ao 5º ano, recebe-se alunos analfabetos no 6º ano, apenas transferindo a responsabilidade de ensinar a ler, a escrever, a somar e diminuir ao professor do segundo segmento, que não foi preparado para isso. Quando tal programa é estabelecido em todo o Ensino Fundamental, como fez por um tempo a cidade do Rio de Janeiro, os alunos chegam ao Ensino Médio semi-analfabetos, mais uma vez jogando a responsabilidade para professores que deveriam receber um aluno capaz de interpretar e construir textos, utilizar o pensamento racional e crítico e relacionar o seu aprendizado com o mundo em que vive. Pergunte a qualquer professor de faculdade se a cada ano que passa não fica mais complicado dar aula para universitários completamente mal preparados. A aprovação automática só deixará esta situação ainda mais desastrosa.
Em segundo lugar, mais uma mentira contada pelos defensores desta prática é a de que a reprovação provoca a evasão escolar. Falácia! Quero que me mostre uma pesquisa séria fazendo esta relação. Não existe! Sabe o que acontece? Chega-se a conclusão fantástica de que os alunos que saem da escola, em sua maioria, são repetentes. Pois bem, isso quer dizer obrigatoriamente que eles abandonaram por causa da reprovação? Se fizermos um pouquinho de esforço em tentar outra interpretação veremos que a reprovação é parte do processo de evasão, e não a sua causa. Os alunos que têm mais dificuldade em “passar de ano” e, consequentemente, acabam ficando na lista dos repetentes, são os que não têm uma estrutura familiar propícia para o estudo (têm que ajudar os pais trabalhando, por exemplo) e/ou aqueles que não conseguem achar um sentido em estar na escola (este processo acelera-se na medida em que a nossa sociedade valoriza e dá destaque aos que conseguem sucesso na vida com seus talentos natos – atletas, cantores, modelos etc.). Que aluno se entusiasma em estudar, fazer uma faculdade, tornar-se professor e receber menos do que a sua mãe ganha como diarista?
Na verdade, a reprovação acontece paralelamente ao processo que mencionei acima. Quando o aluno decide (levando em conta o abandono voluntário) sair da escola é porque já está com a cabeça fora dela. Passar de ano ou não é apenas um detalhe. Prove-me do contrário com dados concretos!
Não preciso ir longe para encontrar um testemunho do que acabei de falar. Eu mesmo já evadi da escola. Tinha mais ou menos 16 anos, vivia dentro de um furacão familiar (na perspectiva de um adolescente, é claro) e ia para a escola por ir, talvez mais para sair de casa e ficar com os amigos do que verdadeiramente para estudar. Nunca repeti de ano, pelo contrário, era o melhor da sala. Mesmo assim, pedi ao meu pai para abandonar o colégio. Anos mais tarde, o desprezo pelos estudos se transformou na esperança de alcançar uma posição digna para sustentar a minha filha. Voltei a estudar quando encontrei sentido em fazê-lo. Eu sou apenas um exemplo. Sei de muitos casos como o meu.
Resumindo, esta conversa de aprovação automática é típica de pessoas que não conhecem o universo da sala de aula. Faço minha as palavras do professor de políticas públicas e formação humana da UERJ, Gaudêncio Frigotto. Ele diz que “não adianta as crianças terem o direito de passar, se não têm o direito de aprender”. Demonstra verdadeiramente as reais intenções do poder público como um todo quando se fala em educação. O que importa para eles é ter o aluno na escola (melhorando os números e índices, somente eles), não importa como, no menor número de anos possível. Ao mesmo tempo em que podem vangloriar-se de ter todas as crianças na escola, evitando o seu aliciamento pelos bandidos e sua exposição às drogas (como se 4 horas no colégio evitasse isso! Brincadeira!), podem cortar os custos com a educação. Isso porque para cada aluno reprovado existe um aluno novo a menos na rede de ensino. Isso representa menos verba para o Município/Estado. E se tem uma coisa que político gosta é verba para gastar.
Enfim, para evitar frases toscas do tipo “se for proibir reprovar, as pessoas serão obrigadas a ensinar” (dita por Vitor Henrique Paro, professor da Faculdade de Educação da USP) que os professores têm que reagir a este tipo de iniciativa que só nos enfraquece. Além do mais, a respeito desta frase, a experiência dentro das escolas nos permite dizer que pelo contrário, os professores mais medíocres são aqueles que aprovam todos os alunos, são aqueles que são incapazes de cobrar o que não tem a capacidade de ensinar e tem medo que os baixos índices de aprovação lancem holofotes sobre o seu trabalho. São estes professores que irão adorar esta ideia. Para os que realmente se interessam pelo aprendizado dos alunos e primam pela qualidade da educação, a aprovação automática é desestimuladora. 
Com a palavra, os que podem e devem se manifestar – os professores.
Luiz Eduardo Farias
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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:
Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!
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Fonte: http://www.diariodoprofessor.com/2012/11/17/entre-a-reprovacao-e-a-aprovacao-automatica/

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A educação para o século XXI


Para que a escola não atrase o século 21


Grupo internacional pesquisa alternativas para adaptar educação às novas dinâmicas da vida. Entre exemplos, experiência sueca em que alunos desenvolvem, com ajuda de tutores, planos de estudo adequados a suas paixões e afinidades
No Porvir
Não importa muito como ela seja chamada: educação 3.0, educação para o século 21, educação para a vida. Mas a verdade é que muitos educadores já perceberam que os sistemas educacionais precisarão se adaptar se quiserem formar alunos capazes de lidar com a quantidade de informação hoje acessível, hábeis em administrar problemas cada vez mais complexos e prontos para serem atuantes em um mercado que exige habilidades que não ensinadas nos livros. Cientes desse descompasso entre o que a escola oferece e o que o mundo exige, um grupo de especialistas decidiu formar o Gelp (Global Education Leaders’ Program) para discutir problemas reais de sistemas educacionais espalhados pelo mundo e suas possíveis soluções.
“Não há uma resposta única nem um só modelo a ser seguido”, diz David Albury, diretor de design e desenvolvimento do Gelp. O britânico, que foi conselheiro do primeiro-ministro para assuntos estratégicos entre 2002 e 2005, vem conversando com alunos e educadores e conhecendo modelos em todo o mundo. Diante do que tem visto, Albury encontra três tendências importantes para a educação do século 21personalização, aprendizado baseado em projetos e avaliação por performance.
A personalização, explica ele, não quer dizer necessariamente a adoção de plataformas educacionais on-line, mas a configuração do aprendizado para necessidades de cada aluno. “A tecnologia é parte essencial nesse processo, mas não é o processo”, afirma ele. Como exemplo de escola que desenvolve um ensino personalizado, Albury cita a escola sueca Kunskapsskolan, em que os alunos desenvolvem, com a ajuda de tutores, seus planos individuais de estudo adequado às suas paixões e afinidades, com metas claras, que podem ser acompanhadas ao longo do ano.
O aprendizado baseado em projetos, afirma Albury, tem sido uma escolha que escolas ou grupos de escolas têm feito para desenvolver habilidades nos alunos de maneira menos “compartimentalizada”. Nessa abordagem, os alunos precisam desenvolver um projeto e, durante o processo, aprendem conceitos das mais diversas disciplinas, trabalham em equipe, tomam decisão. Apesar de ser uma tendência, diz o britânico, ele não conhece nenhum sistema público de ensino que use o formato em todas as suas escolas. “Não precisa ser adotado em sistemas inteiros. Isso pode acontecer de forma piloto”, afirma. “Não podemos esperar que os sistemas já comecem perfeitos. Leva tempo para acertar, as pessoas cometem erros.”
Já sobre as avaliações por performance, afirma ele, surgem na tentativa de medir e reconhecer habilidades que os testes de múltipla escolha não conseguem. “Como é que eu avalio se um aluno é criativo? Ou se ele é bom em resolver problemas da vida real?”, pergunta Albury. Essa questão, que tem afligido líderes educacionais de todo o mundo, não está respondida, mas há algumas tentativas, diz o inglês, de usar colegas, família e comunidade na construção de novas formas de avaliar.

crédito Porvir
Outra realidade que tem se tornado cada vez mais clara é que processos educativos muito ricos têm ocorrido fora da escola. Albury conta que esteve em uma reunião com alunos canadenses de 13 anos. Um deles lhe disse: “Quando eu venho para a escola, eu sinto que eu estou sendo desempoderado. Fora da escola, eu tenho acesso a várias fontes de informação. Na escola, eu tenho um professor, um livro, talvez um computador”. Um colega dele concluiu: “A escola é o lugar que atrasa o século 21”.
Trazer a educação que ocorre fora da escola para dentro é um desafio a mais para os professores, que precisam remoldar a forma como lidam com o ofício. “É também uma questão de identidade dos professores.” Para tanto, a participação das universidades é fundamental. Nesse quesito, diz o especialista, a demografia do Brasil é mais favorável do que a de países europeus, onde há poucos professores se formando e muitos estão em atividade há muitos anos. “Mais difícil do que aprender é desaprender”, afirma Albury.
Equipe brasileira
Formado há quatro anos, o Gelp começou com quatro membros: Ontário (Canadá), Nova York (EUA), Vitória (Austrália) e Inglaterra. No ano passado, o Brasil passou a fazer parte do Gelp, que hoje já tem 13 membros, entre cidades, estados e países. Entre os representantes brasileiros estão a Secretaria Municipal do Rio e as estaduais de São Paulo, Goiás e Pernambuco. Os participantes se encontram duas vezes por ano e, virtualmente, compõem uma rede com atividades ao longo do ano. Em novembro, o Rio de Janeiro será anfitrião do segundo encontro de 2012.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Paródia "Ouro de tolo" - Diário do Professor.


"Paródia de “Ouro de tolo”, de Raul Seixas, sobre a situação dos professores do Estado do Rio de Janeiro

Ou será da situação de quase todas as redes??
Recebi esta paródia da música Ouro de Tolo, de Raul Seixas, do meu amigo Alex Bernal, por email.
Não sei a autoria, por isso já peço desculpas a quem fez, por eu não colocar o nome.
Se o autor verdadeiro quiser se apresentar, fique a vontade…
EU DEVIA ESTAR
Eu devia estar contente…
Porque fiz graduação, pós, Mestrado e Doutorado
E tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho 700 reais por mês
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por receber auxílio transporte
Pela incorporação do Nova Escola
Parcelado em não sei quantas vezes
Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ser um Educador
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido passar num concurso público
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado
Eu devia estar feliz pela SEEDUC
Ter me concedido o sábado
Pra ir ao colégio
Me informar sobre a GIDE
Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
GIDE, Plano de Metas, Meritocracia,
concurso interno, avaliações externas
Eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
Se sentir um monitor
Saber que é Professor
Que só pode usar
O Currículo Mínimo oficial
E você ainda acredita que é um Gestor, Adjunto,
OGT, Coordenador Regional
Que está contribuindo com sua parte
Para melhorar o nosso belo quadro educacional
Eu que não me sento
Dentro da sala de aula
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando o bônus chegar
Porque longe das promessas feitas na eleição
Esconde-se um governo
Que não tem um projeto sério
De Educação.
Abraços,Declev Reynier Dib-Ferreira
                                                                                                                  Fã de Raul Seixas, Ouro de Tolo e desta paródia"