Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Evolução: a ideia que revolucionou o sentido da vida

Ao afirmar que todos os seres vivos descendem de um mesmo ancestral comum e que a vida na Terra surgiu há milhões de anos, Charles Darwin lançou as bases da Biologia moderna e mudou nossa forma de ver o mundo

Para baixar a imagem é só acessar o site da Revista Nova Escola.
"É bastante concebível que um naturalista, refletindo sobre as afinidades mútuas dos seres orgânicos, suas relações embrionárias, sua distribuição geográfica, sucessão geológica e outros fatos similares, chegasse à conclusão de que cada espécie não fora criada independentemente, mas se originara... de outra espécie." Assim, Charles Darwin (1809-1882) mostrou, na introdução de A Origem das Espécies, o raciocínio que o levou a formular a Teoria da Evolução por meio da seleção natural. Em 2009, quando se comemoram os 150 anos da publicação do livro (e o bicentenário de nascimento do pesquisador inglês), sua obra continua uma das mais importantes da história do pensamento humano. "Com esse estudo, Darwin inaugurou a Biologia moderna e o evolucionismo passa a ser um conceito central da área", afirma Charbel El-Hani, professor de História da Ciência do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Educação. "A Teoria da Evolução é parte importante do legado cultural da humanidade, pois ela altera o jeito como enxergamos a natureza. E a escola tem o dever de transmitir esse saber a todos os seus alunos", completa El-Hani.
A razão é simples. Cientes dessa visão, crianças e jovens conseguem estabelecer relações entre os diversos conteúdos que, fragmentados, não resultam numa compreensão ampla do mundo. Em seu livro - produto de quase 28 anos de pesquisa bibliográfica e de campo -, Darwin se dispôs a responder a uma das questões que havia muito despertava a curiosidade de estudiosos: qual a origem da vida, do homem e da natureza? Baseado em evidências observadas em diversas regiões do globo e apoiado nas ideias de outros pensadores, ele criou uma fronteira na ciência. Seu grande diferencial foi defender que as questões naturais devem ser compreendidas por meio de processos da natureza, dissociando o pensamento científico do religioso. Um passo e tanto. Na época, a hipótese vigente sobre a origem da vida era a descrita na Bíblia, e mesmo boa parte da comunidade científica se limitava a explicar a diversidade de espécies como o produto da ação de um designer inteligente e divino.

Para baixar a imagem é só acessar o site da Revista Nova Escola.
Segundo a teoria de Darwin, tanto os organismos vivos como os que encontrou fossilizados se originavam de um único ancestral comum e se transformavam ao longo do tempo. Semelhante a uma bactéria, esse primeiro ser vivo sofreu modificações até gerar toda a variedade de animais e plantas do planeta, seguindo um padrão evolutivo (que permanece ativo). Assim, o homem deixou de ser visto como um animal especial e mais evoluído para ser encarado como mais um ramo da grande árvore da vida. "Somos todos seres aparentados e em evolução, e cada população apresenta as características necessárias para se adaptar às condições do ambiente", afirma Diogo Meyer, professor de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
O argumento de Darwin era tão irrefutável que o debate sobre a validade da teoria terminou menos de duas décadas após sua divulgação - mesmo batendo de frente com o dogma religioso. Sobre ele, Sigmund Freud (1856-1939), o pai da Psicanálise, escreveu: "Ao longo do tempo, a humanidade teve de suportar dois grandes golpes em sua autoestima. O primeiro foi constatar que a Terra não é o centro do Universo. O segundo ocorreu quando a Biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de mero descendente animal".
Os conceitos que nortearam a teoria do naturalista
De dezembro de 1831 a outubro de 1836, Darwin viajou em busca de subsídios que o ajudassem a entender a origem da vida. Na aventura, ele colocou em prática todos os passos do processo científico. Um dos pontos que observou foi a existência de espécies próprias em cada região - mas muitas delas, semelhantes, podiam viver em locais distantes. Nesses casos, apresentavam adaptações ao meio. Esse conceito de diversidade foi essencial para formular a teoria.
Fósseis que encontrou em toda a América do Sul complementaram a constatação das semelhanças entre as espécies. Porém havia uma nova variável: o tempo. Darwin estabeleceu a relação entre esses fragmentos e os animais vivos. Seria possível que eles fossem parentes extintos? Para ele, essa era uma concepção razoável, mas eram necessários grandes períodos para que ocorressem as transformações capazes de explicar a diversidade de espécies. E isso se chocava com a ideia vigente na época de que a Terra tinha apenas 6 mil anos.

Para baixar a imagem é só acessar o site da Revista Nova Escola.
Contrariando esse dogma, o geólogo escocês Charles Lyell (1797-1875) publicou o livro Princípios da Geologia, sustentando que nosso planeta tinha muitos milhões de anos. Darwin leu a primeira edição durante a famosa viagem e refletiu: se isso for verdade, a teoria faz sentido. Nos Andes, ele vivenciou o que Lyell propunha. "Darwin estava cada vez mais convencido de que as alterações nas espécies da região haviam ocorrido muito tempo antes", conta Nelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP e autor de livros sobre o inglês. Além de se deparar com fósseis de animais extintos, ele constatou que montanhas se elevavam do nível do mar. Encontrou, assim, o segundo conceito base para sua teoria: o do tempo geológico.
A viagem durou ainda mais de um ano e Darwin continuou descobrindo evidências da evolução em diversos locais visitados, mas ainda havia pontos a ser respondidos. Ele sabia que o reconhecimento de um padrão evolutivo não bastava para segurar a teoria científica. Era necessário mostrar como as incontáveis espécies foram modificadas. E esse foi o seu pulo-do-gato.
Há uma grande guerra movendo a natureza
A resposta estava no que o naturalista chamou de seleção natural, algo que ocorreu a ele em 1838, após a leitura de Ensaio sobre a População, obra de 1798 do especialista em economia política Thomas Malthus (1766-1834). Nela, o autor argumenta que o contingente humano pode exceder o suprimento de alimentos e a competição por comida ou espaço controla a expansão das populações.
"Darwin projetou esse pensamento para seu trabalho e inferiu que a competição leva à dispersão de traços vantajosos, pois organismos mais adaptados sobrevivem e geram mais descendentes", conta Meyer. Ele usava os elefantes para aclarar esse raciocínio. A capacidade elevada de reprodução do animal - um filhote a cada dois ou três anos por até 50 anos - deixaria o mundo tomado pela espécie. Apesar do potencial, essa população não cresce descontroladamente. Por quê? Não há alimento suficiente para saciar todos. Tendo de competir entre si, só alguns sobrevivem e procriam. No entanto, isso não se dá por acaso. Saem-se melhor os que têm mais capacidade de obter recursos e esses são os que deixam mais filhos, que vão transmitir essa vantagem às futuras gerações.
"É um erro pensar que as espécies se adaptam ao ambiente. Os animais adaptados são os que herdaram características que garantem a sobrevivência", diz El-Hani. Um exemplo clássico para explicar isso é o da girafa. O pescoço dela não cresceu, ao longo dos tempos, para alcançar o alimento no alto. O que ocorreu foi a sobrevivência das que tinham o pescoço mais comprido. Com base nesses três conceitos - diversidade, tempo geológico e seleção natural -, Darwin conseguiu provar que as populações de seres vivos estão em constante transformação. Ao defender a grandeza de sua teoria em A Origem das Espécies, ele resumiu: "De um início tão simples, infinitas formas, as mais belas e mais maravilhosas, evoluíram e continuam evoluindo".
Evolução: a ideia que revolucionou o sentido da vida
Ao afirmar que todos os seres vivos descendem de um mesmo ancestral comum e que a vida na Terra surgiu há milhões de anos, Charles Darwin lançou as bases da Biologia moderna e mudou nossa forma de ver o mundo
"É bastante concebível que um naturalista, refletindo sobre as afinidades mútuas dos seres orgânicos, suas relações embrionárias, sua distribuição geográfica, sucessão geológica e outros fatos similares, chegasse à conclusão de que cada espécie não fora criada independentemente, mas se originara... de outra espécie." Assim, Charles Darwin (1809-1882) mostrou, na introdução de A Origem das Espécies, o raciocínio que o levou a formular a Teoria da Evolução por meio da seleção natural. Em 2009, quando se comemoram os 150 anos da publicação do livro (e o bicentenário de nascimento do pesquisador inglês), sua obra continua uma das mais importantes da história do pensamento humano. "Com esse estudo, Darwin inaugurou a Biologia moderna e o evolucionismo passa a ser um conceito central da área", afirma Charbel El-Hani, professor de História da Ciência do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Educação. "A Teoria da Evolução é parte importante do legado cultural da humanidade, pois ela altera o jeito como enxergamos a natureza. E a escola tem o dever de transmitir esse saber a todos os seus alunos", completa El-Hani.
A razão é simples. Cientes dessa visão, crianças e jovens conseguem estabelecer relações entre os diversos conteúdos que, fragmentados, não resultam numa compreensão ampla do mundo. Em seu livro - produto de quase 28 anos de pesquisa bibliográfica e de campo -, Darwin se dispôs a responder a uma das questões que havia muito despertava a curiosidade de estudiosos: qual a origem da vida, do homem e da natureza? Baseado em evidências observadas em diversas regiões do globo e apoiado nas ideias de outros pensadores, ele criou uma fronteira na ciência. Seu grande diferencial foi defender que as questões naturais devem ser compreendidas por meio de processos da natureza, dissociando o pensamento científico do religioso. Um passo e tanto. Na época, a hipótese vigente sobre a origem da vida era a descrita na Bíblia, e mesmo boa parte da comunidade científica se limitava a explicar a diversidade de espécies como o produto da ação de um designer inteligente e divino.
Segundo a teoria de Darwin, tanto os organismos vivos como os que encontrou fossilizados se originavam de um único ancestral comum e se transformavam ao longo do tempo. Semelhante a uma bactéria, esse primeiro ser vivo sofreu modificações até gerar toda a variedade de animais e plantas do planeta, seguindo um padrão evolutivo (que permanece ativo). Assim, o homem deixou de ser visto como um animal especial e mais evoluído para ser encarado como mais um ramo da grande árvore da vida. "Somos todos seres aparentados e em evolução, e cada população apresenta as características necessárias para se adaptar às condições do ambiente", afirma Diogo Meyer, professor de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). O argumento de Darwin era tão irrefutável que o debate sobre a validade da teoria terminou menos de duas décadas após sua divulgação - mesmo batendo de frente com o dogma religioso. Sobre ele, Sigmund Freud (1856-1939), o pai da Psicanálise, escreveu: "Ao longo do tempo, a humanidade teve de suportar dois grandes golpes em sua autoestima. O primeiro foi constatar que a Terra não é o centro do Universo. O segundo ocorreu quando a Biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de mero descendente animal". Os conceitos que nortearam a teoria do naturalista De dezembro de 1831 a outubro de 1836, Darwin viajou em busca de subsídios que o ajudassem a entender a origem da vida. Na aventura, ele colocou em prática todos os passos do processo científico. Um dos pontos que observou foi a existência de espécies próprias em cada região - mas muitas delas, semelhantes, podiam viver em locais distantes. Nesses casos, apresentavam adaptações ao meio. Esse conceito de diversidade foi essencial para formular a teoria. Fósseis que encontrou em toda a América do Sul complementaram a constatação das semelhanças entre as espécies. Porém havia uma nova variável: o tempo. Darwin estabeleceu a relação entre esses fragmentos e os animais vivos. Seria possível que eles fossem parentes extintos? Para ele, essa era uma concepção razoável, mas eram necessários grandes períodos para que ocorressem as transformações capazes de explicar a diversidade de espécies. E isso se chocava com a ideia vigente na época de que a Terra tinha apenas 6 mil anos.
Contrariando esse dogma, o geólogo escocês Charles Lyell (1797-1875) publicou o livro Princípios da Geologia, sustentando que nosso planeta tinha muitos milhões de anos. Darwin leu a primeira edição durante a famosa viagem e refletiu: se isso for verdade, a teoria faz sentido. Nos Andes, ele vivenciou o que Lyell propunha. "Darwin estava cada vez mais convencido de que as alterações nas espécies da região haviam ocorrido muito tempo antes", conta Nelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP e autor de livros sobre o inglês. Além de se deparar com fósseis de animais extintos, ele constatou que montanhas se elevavam do nível do mar. Encontrou, assim, o segundo conceito base para sua teoria: o do tempo geológico.A viagem durou ainda mais de um ano e Darwin continuou descobrindo evidências da evolução em diversos locais visitados, mas ainda havia pontos a ser respondidos. Ele sabia que o reconhecimento de um padrão evolutivo não bastava para segurar a teoria científica. Era necessário mostrar como as incontáveis espécies foram modificadas. E esse foi o seu pulo-do-gato. Há uma grande guerra movendo a natureza A resposta estava no que o naturalista chamou de seleção natural, algo que ocorreu a ele em 1838, após a leitura de Ensaio sobre a População, obra de 1798 do especialista em economia política Thomas Malthus (1766-1834). Nela, o autor argumenta que o contingente humano pode exceder o suprimento de alimentos e a competição por comida ou espaço controla a expansão das populações. "Darwin projetou esse pensamento para seu trabalho e inferiu que a competição leva à dispersão de traços vantajosos, pois organismos mais adaptados sobrevivem e geram mais descendentes", conta Meyer. Ele usava os elefantes para aclarar esse raciocínio. A capacidade elevada de reprodução do animal - um filhote a cada dois ou três anos por até 50 anos - deixaria o mundo tomado pela espécie. Apesar do potencial, essa população não cresce descontroladamente. Por quê? Não há alimento suficiente para saciar todos. Tendo de competir entre si, só alguns sobrevivem e procriam. No entanto, isso não se dá por acaso. Saem-se melhor os que têm mais capacidade de obter recursos e esses são os que deixam mais filhos, que vão transmitir essa vantagem às futuras gerações. "É um erro pensar que as espécies se adaptam ao ambiente. Os animais adaptados são os que herdaram características que garantem a sobrevivência", diz El-Hani. Um exemplo clássico para explicar isso é o da girafa. O pescoço dela não cresceu, ao longo dos tempos, para alcançar o alimento no alto. O que ocorreu foi a sobrevivência das que tinham o pescoço mais comprido. Com base nesses três conceitos - diversidade, tempo geológico e seleção natural -, Darwin conseguiu provar que as populações de seres vivos estão em constante transformação. Ao defender a grandeza de sua teoria em A Origem das Espécies, ele resumiu: "De um início tão simples, infinitas formas, as mais belas e mais maravilhosas, evoluíram e continuam evoluindo".
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Origem das Espécies, Charles Darwin, 640 págs., Ed. Martin Claret, tel. (11) 3672-8144. Aventuras e Descobertas de Darwin a Bordo do Beagle, Richard Keynes, 404 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808.
Charles Darwin - Em um Futuro Não Tão Distante, Maria Isabel Landin e Cristiano Rangel Moreira (orgs.), 168 págs., Ed. Instituto Sangari, tel. (11) 3474-7500.
Darwin - Do Telhado das Américas à Teoria da Evolução, Nelio Bizzo, 230 págs., Ed. Odysseus, tel. (11) 3816-0835.
O Diário do Beagle, Charles Darwin, 526 págs., Ed. UFPR, tel. (41) 3360-7489.
O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica, Marilda Behrens, 120 págs., Ed. Vozes, tel. (21) 2215-0110.
Para Compreender a Ciência: uma Perspectiva Histórica, Maria Amélia Andery, 436 págs., Ed. Educ, tel. (11) 3670-8558 (edição esgotada)
Vida: a Ciência da Biologia (vol. 3), William K. Purves e outros, 480 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fundamentos/evolucao-ideia-revolucionou-sentido-vida-432110.shtml

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Conceitos de História

Conceitos de História
Conceituar é tarefa difícil, senão impossível.
Toda conceituação é incompleta, imperfeita. Condensar em poucas palavras todo o conteúdo de idéias de um objeto ou de coisa torna-se tarefa, já dissemos, quase impossível. Todo conceito sofre limitações na essência e/ou na forma.
Por isso, ao iniciar o nosso estudo de história, achamos por bem trazer para debate os conceitos de História, elaborados por vários historiadores. Teremos a oportunidade de discutir e questionar esses conceitos e, talvez possamos dizer qual o conceito que melhor expressa a realidade histórica ou ainda, se for o caso, elaborar nossa própria conceituação da História.
Eis os conceitos:
1 - "A história é uma pesquisa que nos ensina o que o homem fez, portanto, o que é o homem." (Collinwood).
2 - "O objetivo da História é por natureza o homem." (Marc Bloch)
3 - "A história está para a humanidade assim como a memória está para o indivíduo, é a memória coletiva." (Piancantol)
4 - "A história é um profeta com o olhar voltado para trás. Pelo que foi e contra o que foi e anuncia o que será."(Eduardo Galeano)
5 - "Não há história pura, não há história imparcial. Toda história serva à vida, testemunho e compromisso." (José Honório Rodrigues)
6 - "A história é um processo dinâmico, dialético, no qual cada realidade traz dentro de si o princípio da sua própria contradição e que gera a transformação constante na História é a luta de classe."(Karl Marx)
7 - "A realidade do social, a realidade fundamental do homem revê-la inteiramente nova aos nosso olhos e, queiramos ou não, nosso velho ofício de historiados não cessa de brotar e de reflorir em nossa mãos (...) Sim quantas mudanças!(...) Todas as Ciências Sociais, inclusive a História, evoluíram, igualmente de maneira espetacular, mas não menos decisiva." (Fernando Braudel)
8 - A História é a substância da sociedade. (Agnes Heller)

CNEC: Aula - 22/02/2010 (5ª Série)

Na aula de hoje (22/02/2010) trabalhamos inicialmente com o tema: A concepção de História e esse assunto foi trabalhado com um poema de Jussara Braga, intitulado História da História.
E a partir da leitura do poema respondemos a um desafio com as seguintes perguntas:
Possibilidades de respostas.
1) Quem é a autora do poema?
Jussara Braga.
2) Como a autora do poema lida com a temporalidade da História?
O tempo, para a autora do poema, não é estático, cronológico, mas fluído cheio de idas e vindas. Onde os acontecimentos não têm um lugar fixo.
3) Quais desses acontecimentos históricos, implícitos no poema de Jussara Braga, você conhece? Enumere-os.
Pessoal. Exemplos:
A ida do homem a Lua;
O “descobrimento” do Brasil;
A independência do Brasil;
A Segunda Guerra Mundial;
A Mitologia Grega;
A arte rupreste.
4) Ao ler essa poesia, você notou como a autora apresentou os acontecimentos? Eles estão ordenados de alguma forma? Justifique a sua resposta.
Pessoal.
Sim.
A ordenação temporal dos acontecimentos segue uma linha não cronológica, mas imaginária, não científica, mas literária - poema – por isso, a autora se deixa levar pelos acontecimentos históricos e o dispõe de uma forma em que os fatos, os acontecimentos se ligam de uma forma agradável proporcionando uma leitura mais agradável.
5) Por que autora deu ao poema o título História da História?
Porque para ela o poema conta a história da história do ser humano através dos tempos.
6) Na sua opinião, o que a autora quis dizer com a palavra tempestade no verso “E, no meio da tempestade do mundo”?
Pessoal.
Podemos pensar a palavra tempestade dentro do contexto como mudanças.
7) Que lugares da História aparecem no poema?
Pessoal.
Roma, Grécia, Egito, Japão, Brasil etc.
8) Como você entendeu a última parte do poema?
Pessoal.
Que a História do homem é, em geral, uma história de transformações, de mudanças.

Lembrem-se as respostas acima é apenas uma sugestão para as perguntas do desafio.
Ao término da leitura e elaboração dos exercícios relembramos a noções de tempo cronológico e natural, para em seguida estudarmos a ideia de tempo histórico ao transformarmos anos em séculos.
Nas próximas aulas o nosso assunto e objetivos serão:
Assunto:
1. O estudo da História e a organização das primeiras sociedades.
Ø Introdução ao estudo da História.
Ø Tempos históricos.
Ø As hipóteses do surgimento do ser humano.
Objetivos:
* Compreender a importância do estudo da História.
* Entender a ideia de contexto histórico.
* Desenvolver a capacidade de elaborar linhas de tempo.
* Conhecer as diferentes hipóteses para o surgimento do homem.
Para saber mais
Abaixo indico uma série de sites com o tema que será trabalhado em sala nas próximas aulas. Desde a introdução do estudo da História até os debates sobre o surgimento da terra e do ser humano, entre criacionistas e evolucionistas. Lembrando sempre que a primeira é uma visão científica do surgimento do homem e a segunda uma interpretação religiosa do mesmo fato.
"Do ponto de vista pedagógico, aceitamos a proposta de Vincenti (1994), na qual nenhuma verdade pode ser aceita ou admitida, ela deve ser construída e reconhecida. Para uma condução a ações morais efetivamente livres, a educação formal não pode trilhar por caminhos que aniquilam a vontade de escolha dos alunos. Age-se, muitas vezes, em toda essa polêmica como se os estudantes não tivessem nenhum valor moral. Como assinala Puig (1998), a escola deve ter como objetivo o estímulo que possa levar os alunos à compreensão de quais são realmente os seus valores, para se sentirem responsáveis e comprometidos com os mesmos; evitando-se, portanto, todo e qualquer tipo de doutrinação ou inculcação."
PUIG, J. M. (1998) A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática.
VINCENTI, L. (1994) Educação e liberdade - Kant e Fichte. São Paulo: Editora Unesp.
http://www.scb.org.br/ (Criacionista)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Movimentos sociais no campo. Caldeirão

Utopias de um beato qualquer
Bill Braga em 20 fevereiro 2010

O Jornal do Brasil, no dia primeiro de fevereiro de 1981, publicou um caderno especial intitulado “A Chacina do Caldeirão”1. Aos leitores cariocas deve ter causado certo estranhamento essa matéria, que falava de uma “conspiração do silêncio” sobre o episódio ocorrido no Ceará nas décadas de 1920 e 1930. O caminho mais fácil para quebrar esse estranhamento foi o de associar a experiência do Caldeirão a uma outra, mais próxima dos leitores cariocas. Assim, segundo reportagem publicada no mesmo jornal em 13 de fevereiro de 1982, Caldeirão seria um “Canudos Menor” e o tal beato Lourenço teria reeditado Antônio Conselheiro. 2 Mas se essas histórias, do Caldeirão e do beato José Lourenço, eram pouco conhecidas dos leitores do Jornal do Brasil, para os nordestinos era diferente. O folclore, a literatura de cordel e mesmo a tradição oral se encarregavam de não deixá-las cair no esquecimento. Especialmente na região do Cariri, ao sul do estado do Ceará, as histórias sobre o beato Lourenço, seu boi Mansinho e a comunidade do Caldeirão povoavam o imaginário popular. A reportagem do jornal do Brasil, portanto, alçava ao plano nacional a história desse beato, permeada de mitos e lendas, que tanto fascinava os moradores do Cariri. Uma história em que religiosidade popular e política se fundem, e que se inicia em fins do século XIX.
A trajetória pública do beato começa na década de 1890, quando se tornou discípulo do Pe. Cícero Romão Batista e, com o seu auxílio, fundou uma comunidade no sítio Baixa D’Antas, próximo à Crato, no Vale do Cariri. Ali permaneceria até o ano de 1926, quando é forçado a abandonar a propriedade e rumar para outro sítio, conhecido como Caldeirão dos Jesuítas. Lá Zé Lourenço organizaria outro grupo, que seria duramente perseguido pelas autoridades policiais nos anos de 1936 e 1937. Nesse ano foi obrigado a deixar o sítio do Caldeirão e se dirigiu para Exu, cidade vizinha no estado de Pernambuco. Organizou ali uma outra comunidade, de menor visibilidade, seguindo os mesmos princípios das de Baixa D’Antas e do Caldeirão. Viria a falecer no ano de 1946. Ao longo de toda sua trajetória, o beato José Lourenço parece ter encarnado, através do trabalho disciplinado com a terra, o desejo e a esperança dos sertanejos por uma vida mais justa ou menos desigual. Suas comunidades forneciam, portanto, uma outra possibilidade de vida, em que a fartura e a abundância substituíam a penúria e a seca dos sertões nordestinos.
A rigor, as fontes que permitem resgatar a trajetória de José Lourenço podem ser divididas em dois conjuntos: um primeiro - compreendendo reportagens de jornal e um relatório policial compilado em livro - traduz uma visão oficial sobre o beato, no mais das vezes endossando a idéia de fanatismo. O segundo conjunto de fontes - formado por entrevistas de contemporâneos e ex-moradores das comunidades lideradas pelo beato, folhetos de literatura de cordel, um romance, e duas peças de teatro -, permite acessar a forma como o imaginário popular construiu a personagem de José Lourenço.
Todavia, identificou-se que ambos os conjuntos documentais privilegiam um momento específico da trajetória de Zé Lourenço: a comunidade do Caldeirão. Assim, esta pesquisa buscou um deslocamento de olhar, visando recuperar a passagem do beato de sua vida privada para o mundo público. Tornou-se, portanto, necessário traçar um relato biográfico de José Lourenço focando especialmente o momento em que ele ascendeu à vida pública, através da comunidade de Baixa D’Antas.
Rumo a Juazeiro
José Lourenço Gomes da Silva, o futuro beato Zé Lourenço, nasce em Pilões de Dentro, na Paraíba, para alguns em 1870, para outros em 1872. 3 Filho de Lourenço Gomes da Silva e Tereza Maria da Conceição – negros alforriados -, ele aprendera desde cedo com seus pais o trabalho com a terra e com o gado. Por volta de 1886, o ainda jovem Lourenço fugiria de casa, com medo de uma surra que o pai lhe prometera. Segundo depoimento de João da Silva, que conviveu durante muito tempo com Zé Lourenço, assim se dera o fato:

“Porque o pai dele (José Lourenço) era muito grosseiro com ele. Era desses véi carrasco. (...) Aí um dia ele chegou em casa. Só porque ele foi na casa de uma pessoa conhecida de lá. Aí acontece que o irmão dele disse assim: Zé, teu pai vai te dar uma surra de matar, pois ele soube que você foi pra casa de fulano (...) Aí ele saiu. Passou foi tempo fora de casa (...)”4

A severa pedagogia do cipó e do marmelo utilizada pelo pai incomodara Zé Lourenço, e ele decidira tomar seus rumos próprios. Aparentemente, seu primeiro destino após sair de casa foi a região de Serraria, no mesmo estado da Paraíba. Ali permaneceria durante um tempo trabalhando como vaqueiro, amansando cavalos, jumentos e burros. As condições de trabalho não eram as melhores, mas José Lourenço conseguia se manter. Segundo João da Silva: “Aí, ele, lá mesmo onde ele trabalhava, ganhou dinheiro. Comprou um cavalo muito bom, bem arreiado. Aí roupas boas, ternos bons...”5.
Alguns anos mais tarde ele resolveria voltar a Pilões de Dentro para rever seus familiares. Lá chegando não os encontrou e teve notícia de que haviam partido rumo à Juazeiro do Norte, no Ceará. Assim como milhares de nordestinos, seus pais tinham seguido em romaria, buscando a benção do Padre Cícero. Com efeito, após os supostos milagres ocorridos naquela região no ano de 1889, ela se transformou em uma espécie de Meca sertaneja. A hóstia que teria se transformado em sangue na boca da beata Maria de Araújo era vista como um sinal divino. Milhares de desvalidos, doentes e flagelados acorreram, assim, para Juazeiro, acreditando que ali se faria a redenção; e a benção do Padim Ciço lhes daria a salvação eterna. 6
José Lourenço, determinado a reencontrar sua família, juntou-se a um grupo de romeiros que partia de Pilões de Dentro. Durante a viagem, à noite, incomodava-se com os benditos cantados pelos romeiros: “Ele achava aquilo muito esquisito. Porque ele num tinha costume, negócio de bendito, essas coisas assim. Ele num tinha costume”7. Chegando em Juazeiro, logo separa-se dos romeiros e vai à procura de sua família. Sem grandes dificuldades consegue encontrar a casa onde seus pais moravam.
A chegada em Juazeiro do Norte, por volta do ano de 1890, daria novos rumos à trajetória do jovem Lourenço. Encontrara uma cidade em rebuliço, o misticismo e a religiosidade popular fervilhavam através da figura do Pe. Cícero Romão. Em pouco tempo Lourenço fez amizade com um grupo de beatos. “Aí o pai achava ruim. Pensava que ele andava por ambiente, não sabe? Os ambiente ruim”.8 Contrariando a vontade do pai, José Lourenço tornou-se beato. Isso significava, à época, a opção por um modo de vida simples, pautado pelos princípios da religiosidade popular. Além disso, o beato “veste-se à maneira de um frade: uma batina de algodão tinto de preto, uma cruz às costas, um cordão de S. Francisco amarrado à cintura (...)”.9
Ao assumir a condição de beato, José Lourenço tornou-se celibatário e passou a viver de esmolas e caridades. Além disso, em pouco tempo ingressou também em uma ordem de penitentes. Esses se reuniam à noite - em capelas, cruzeiros, cemitérios ou em cruzes de estrada – e praticavam rituais de auto-flagelação como forma de purificação do espírito. Imbuído do espírito religioso de Juazeiro, em pouco tempo José Lourenço tornou-se um discípulo do Pe. Cícero. O poeta Abrãao Batista, em seu folheto de cordel História do beato José Lourenço e o Boi Mansinho, recria como teria se dado o encontro entre José Lourenço e o Pe. Cícero:

“Padre Cícero disse assim
há muito que o esperava
você vem pra essa terra
ajudar-me nessa lavra
e cuidar do meu povinho
que a ignorância entrava
(...)
Padre Cícero deu-lhe aí
ajoelhado, uma cruz
dizendo: José Lourenço
só volte aqui com Jesus
vá descontar as maldades
Pra achar a eterna luz”10
A formação do beato
Em pouco tempo a experiência de vida em Juazeiro do Norte operara uma transformação em José Lourenço. Não era mais aquele jovem rebelde, que fugira de casa com medo do pai. Nem mesmo aquele homem que se irritara com os cantos dos romeiros que lhe ajudavam a achar sua família. Seu coração fora tocado pelo clima religioso da cidade. Tornara-se o beato Zé Lourenço, discípulo do Pe. Cícero, e passou a mover-se não mais em função de seus interesses, mas pelos ideais de caridade e piedade. Seu mestre, o Padim Ciço, o aconselhara a ocultar-se em penitências para purificar-se. Assim o beato Lourenço fez. Não se sabe ao certo quantos anos ele permaneceu oculto. 11 Segundo o poema A Santa Cruz do Deserto, de José Bernardo Batista, o beato “se retirou de repente/ Internou-se nas montanhas/ Foi viver ocultamente/ Fazer orações/ Na vida de penitente/ (...) Assim passou muitos anos/ Pelos bosques internado/ Até quando meu padrinho/ Mandou a ele um recado (...)”12
Pe. Cícero percebera, no convívio com José Lourenço, sua capacidade de liderança e sua vocação no trato com a terra. Aconselha, então, o beato a largar a penitência oculta e voltar a trabalhar nas roças. Em seu poema, Abrãao Batista recria o diálogo entre o Padim e o beato:

“Ele disse pra Zé Lourenço:
não quero mais você assim
lhe afirmo com clareza
e responda pra mim
a penitência é oculta
e hoje ponha-a no fim
Eu pergunto se as árvores
Com você elas aprendem?
José Lourenço disse: não
Não aprendem nem entendem
- E as árvores do céu amiguinho?
- Não senhor, nem se ofendem
Eu pergunto José Lourenço
Se alguma cousa ensinou
Aos bichinhos daqueles matos
E se com as pedras falou?
Zé Lourenço disse: Padrinho
São tão mudas como estou.
Então meu caro amiguinho
Não o quero dessa maneira
Você vem pros seus irmãos
Ensinar aqui na feira
Vai morar em Baixa Danta
Orientar a cabroeira”13

Seja seguindo os conselhos de Pe. Cícero seja por decisão própria, o fato é que por volta do ano de 1895 o beato Lourenço larga as penitências ocultas e retorna a Juazeiro. Mas tanto o beato quanto sua família não se adaptaram à vida naquela cidade. Haviam sido criados nas fazendas, trabalhando com a terra e cuidando do gado, e não se acostumavam à vida urbana de Juazeiro. Com a ajuda do seu Padim, o beato consegue arrendar uma porção de terras de um sítio chamado Baixa D’Antas, próximo à Crato, cidade vizinha de Juazeiro. Parte, então, para Baixa D’Antas acompanhado de sua família e de um grupo de trabalhadores rurais. Segundo depoimento de Marina Gurgel, que morou no sítio do Caldeirão, Pe. Cícero teria aconselhado Zé Lourenço:
“José, eu vou lhe botar num sítio pra você trabalhar, porque tá me chegando muita gente, muita gente pode ficar aqui na cidade, gente de negócio, mas esse povo da agricultura, é tudo que tem em dia pra a agricultura. Então eu vou lhe botar em Baixa D’Anta. Você vai trabalhar e todo o povo que chegar para a agricultura eu mando para lá”.14
A comunidade de Baixa D´Antas
O terreno em Baixa D’Antas, para onde o beato se dirigia, era até então uma terra “árida e encapoeirada”15, improdutiva, típica da caatinga dos sertões. Lá chegando, Zé Lourenço tratou de organizar os trabalhadores que haviam o seguido para tornar a terra produtiva. Surgia assim, em Baixa D’Antas, a primeira comunidade liderada por José Lourenço, que se manteria até o ano de 1926. Em pouco tempo, através do trabalho coletivo e disciplinado, a aridez de Baixa D’Antas transformava-se em um “belo pomar, otejando (sic) em pleno desenvolvimento, plantados alguns milhares de laranjeiras, mangueiras, jaqueiras, limeiras, coqueiros, limoeiros, abacateiros, mamoeiros, bananeiras e cafeeiros, ao lado de uma bem cuidada cultura de algodão, cereais e de outras diferentes qualidades de plantas e hortaliças”.16
José Lourenço destacava-se na liderança da comunidade. Não apenas pelas habilidades que tinha no trabalho com a terra, mas também como guia espiritual. O beato ia periodicamente à Juazeiro e mantinha uma relação próxima com o Pe. Cícero. Os moradores de Baixa D’Antas passaram a vê-lo como um conselheiro. Transformara-se no “padrinho Lourenço”. Seu espírito caridoso atraia cada vez mais romeiros que chegavam a Juazeiro buscando a benção do Pe. Cícero. Em Baixa D’Antas não havia propriedade, todos trabalhavam e todos colhiam os frutos. Segundo depoimento de um contemporâneo, lá “juntou um batalhão de 2000 pessoas. Aí trabalhava muito homem trabalhador. Dava de comer ao povo e fazia as orações deles (...)”17. Não havia critérios para fazer parte da comunidade de Baixa D’Antas, bastava que se estivesse disposto a levar uma vida pautada pela fé e pelo trabalho.
O sítio prosperou com relativa tranqüilidade até o ano de 1914. Nesse ano Juazeiro do Norte virou palco de uma batalha entre tropas enviadas pelo governador Franco Rabelo e jagunços liderados por Floro Bartolomeu. O conflito ficou conhecido como Sedição de Juazeiro ou Guerra de 1914.18 Pe. Cícero, importante aliado político de Floro Bartolomeu, convocava seus fiéis para a defesa de Juazeiro. José Lourenço também foi para essa região durante o conflito, mas não se envolveu diretamente com os combates. Como em Baixa D’Antas havia fartura, o beato limitou-se a fornecer alimentos aos jagunços que lutavam em nome de Floro Bartolomeu e Pe. Cícero.
As tropas rabelistas foram derrotadas em Juazeiro, mas não deixariam de fazer estragos nas redondezas. O sítio Baixa D’Antas, enquanto o beato se encontrava em Juazeiro, foi invadido. As benfeitorias que permitiam a fartura da comunidade foram destruídas. As casas foram incendiadas. As atrocidades cometidas mantiveram-se vivas na memória de Antônio Inácio da Silva, seguidor do beato:

“o velho [Bernardino] ia saindo com duas crianças escondidas num balaio. Por que matavam tudo. E viu de longe sua filha ser cortada no meio, de duas bandas. O velho não podia fazer nada. Viu a filha ser cortada de longe e fugiu com os dois netos. O fogo foi grande. Na Baixa Dantas a folha de marmeleiro ficou tostada”.19

Zé Lourenço retornaria a Baixa D’Antas após o fim dos combates e não se abalaria com a destruição encontrada. Reorganizou a comunidade e, em pouco tempo, a fartura voltou a reinar no local. Fartura essa que transformou o beato em uma figura pública. Os coronéis da região se incomodavam com a comunidade liderada por José Lourenço. Isso porque Baixa D’Antas passou a atrair a mão-de-obra que antes se dirigia aos latifúndios. Começaria então uma campanha para diminuir o prestígio de José Lourenço, e as acusações de fanatismo e fetichismo não tardariam a tomar as páginas da imprensa cearense.
Boi Mansinho
Na década de 1920, um episódio traduziria de forma especial essa campanha desencadeada contra Zé Lourenço: a história do Boi Mansinho. Tudo começou quando, por volta do ano de 1900, Pe. Cícero recebeu de presente, do industrial alagoano Delmiro Gouveia, um boi da raça zebu. Não tendo onde criar o animal, e demonstrando confiança em seu discípulo, ele deixa o boi sob os cuidados do beato Zé Lourenço. Pelo seu temperamento calmo, logo ele passa a ser chamado Mansinho. Como se tratava de um “presente” do Padim Ciço, os moradores de Baixa D’Antas tratavam com grande apreço o animal. Além disso, por ser um gado de raça, em pouco tempo Mansinho, usado como reprodutor, melhoraria o rebanho local, até então formado apenas por gado “pé-duro”, ou seja, um gado resistente, mas de pouca categoria para a produção de leite e carne.
Depois da Sedição de Juazeiro, os adversários políticos de Floro Bartolomeu e do Pe. Cícero se aproveitaram de um boato surgido em torno do boi Mansinho para divulgar a idéia de que José Lourenço e seus seguidores eram fanáticos e adoravam o animal como um santo.20 Circulou a notícia de que os moradores de Baixa D’Antas consideravam o Boi Mansinho como milagreiro, utilizavam sua urina na cura de doenças e raspas de seu casco como amuleto. O bispado de Crato, incomodado com a influência desse padre na região, ajudou a propagar essa idéia e passou a pressionar Floro para dar fim àquele “antro de fanáticos”. Novamente, como na Sedição de Juazeiro, uma disputa política alheia à comunidade de Baixa D’Antas, interferiria na trajetória de José Lourenço. Ele passou a ser o principal acusado de estimular o fetichismo em torno do “Boi Santo”.
Chega à Baixa D’Antas, em 1923, a notícia de que Floro Bartolomeu mandaria prender o beato. Esse resolve, então, apresentar-se voluntariamente ao político. Na peça de teatro A Irmandade da Santa Cruz do Deserto, Oswald Barroso recria, satiricamente, o encontro entre os dois:

“BEATO: Dr. Floro, pronto Dr. Floro, aqui estou.
FLORO: Com quem é, homem, que eu estou falando?
BEATO: O senhor está falando com o Beato José Lourenço, da Baixa D’Anta, preto, alto, desilustre, incapaz de estar diante de vossa presença.
FLORO: Mas homem, com quem é mesmo que eu estou falando?
BEATO: O senhor está falando com o Beato José Lourenço, da Baixa D’Anta, preto, alto, desilustre, incapaz de estar diante de vossa presença.
FLORO: Com quem é, homem, que eu estou falando?
BEATO: Com o Beato José Lourenço, alto, preto e desilsutre, incapaz de estar na vossa presença!
FLORO: Pois, negro, você está preso!”21

De fato, ao apresentar-se a Floro Bartolomeu o beato é preso. Não bastasse a prisão sem um crime que a justificasse, Floro ainda mandaria matar o Boi Mansinho em frente à prisão. A carne do animal foi oferecida ao beato José Lourenço, que se recusou a comê-la. Ele teria passado “pra sete, oito dias, nove dias, dez dias e descambou, foi para dezessete dias...! Sem comer...! O soldado era quem comia. (...)”22
Em discurso na Câmara Federal, no dia 13 de setembro de 1923, Floro Bartolomeu deixaria registrada sua versão dos fatos:
“Depois das perseguições religiosas ao Padre Cícero, começaram a fazer circular que Zé Lourenço, não tendo mais vida de penitente, abusava da crendice do povo, apresentando o ‘touro como autor de milagres’.
Então se dizia que a urina do animal era por ele distribuída como eficaz medicamento para tôdas as moléstias; que dos seus cascos eram extraídos fragmentos para, em pequenos saquinhos, serem pendurados no pescoço, como relíquias, à moda do Santo Lenho; que todos se ajoelhavam em adoração diante do touro e lhe davam de beber mingaus e papas; enfim, tudo quanto uma alma perversa possa conceber.
Quando se procurava apurar a verdade, ninguém sabia informar, a começar pelos proprietários do sítio onde Zé Lourenço residia e trabalhava como rendeiro.
Os padres, não sei sob que fundamento, repetiam essas banalidades.
(...)
Não sei quem informou o mesmo Zé Lourenço de que eu ia mandar prendê-lo.
O negro, supondo exata a notícia, no terceiro dia apareceu em minha residência. Foi quando o conheci pessoalmente.
Mandei prendê-lo, e, apesar das suas declarações, dêle obtive a promessa de ir morar no Juazeiro, para evitar os boatos.
Ao mesmo tempo fiz vir o touro e, de acordo com o Padre, vendi-o para corte, sob a condição de ser abatido em frente à cadeia.
Ao chegar a notícia do Crato, de que Zé Lourenço não mais voltaria ao sítio Baixa Danta, indo fixar residência no Juàzeiro, recebi diversos telegramas, cartas e visitas de homens respeitáveis da cidade vizinha, empenhando-se para que eu não retirasse Zé Lourenço do seu sítio, tal a falta que êle fazia aos proprietários, pelo auxílio que lhes prestava nos trabalhos de agricultura, e em outros préstimos.
(...)
Consenti na volta do negro ao seu sítio, e assim terminou a história ‘das mil e uma noites’ do touro Mansinho”
23

Em meio às disputas políticas de Floro Bartolomeu, ou à desavença religiosa entre o Pe. Ciçero e o Bispado de Crato, José Lourenço tornara-se o bode expiatório. Na realidade, com a prisão de Zé Lourenço e a morte do Boi, Floro buscava desfazer a imagem de que era um deputado defensor de “fanáticos e cangaceiros”. Somente após a interseção do Pe. Cícero e de algumas figuras notáveis de Crato, o beato é solto e retorna a Baixa D’Antas. Nas memórias daqueles que conviveram com José Lourenço, restou a indignação quanto ao episódio:

“Vi no dia em que Doutor Floro mandou matar o boi. Obrigaram o pobre negro a ficar na grade olhando. Quando disseram ‘vamos matar o boi’, deram uma pancada na cabeça, aí eu corri, não quis vê mais, mas que muita gente não quis comer a carne do boi. Eles estavam dando, mas ninguém queria. “É do boi de Zé Lourenço, eu não quero.”24

Mas José Lourenço não guardaria ressentimentos de Floro Bartolomeu. Dizem mesmo que, à época em que esteve preso, ficou amigo do político, passando, depois de solto, a almoçar na casa dele quando ia à Juazeiro.
O início do Caldeirão
De volta à Baixa D’Antas o beato encontraria parte de suas lavouras destruídas, pois haviam soltado uma boiada na roça.

“Aí ele coçou a cabeça. Aí pensou assim: vou procurar me indenizar com meus esforços. Vou trabalhar de novo. Aí começou a trabalhar. De novo trabalhou, trabalhou. Num tava do mesmo jeito, o terreno lá, muita coisa (...)”25

Todavia, seus esforços de reerguer a comunidade seriam interrompidos em 1926. Nesse ano, João de Brito, proprietário do sítio arrendado pelo beato, resolvera vender sua propriedade. O comprador não aceitara a permanência da comunidade naquela porção de terras. Sem resistir, o beato, acompanhado de seus seguidores, rumou, então, para Juazeiro do Norte.
Reconhecendo a importância da experiência liderada por José Lourenço, o Pe. Cícero o autoriza a se assentar em outro sítio próximo a Crato, que seria de sua propriedade, conhecido como o Caldeirão dos Jesuítas.
Ali, o beato iniciaria uma nova aventura, através da comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, que teria repercussões nacionais e o levaria àquelas páginas do Jornal do Brasil.

1 - Jornal do Brasil, 01/02/1981.
2 - Jornal do Brasil, 13/03/1982.
3 - Não foi possível encontrar documentos que comprovem a data exata de nascimento de José Lourenço.
4 - Apud: RAMOS. Caldeirão: um estudo histórico sobre o beato José Lourenço e suas comunidades. p.39.
5 - Apud: RAMOS. Caldeirão: um estudo histórico sobre o beato José Lourenço e suas comunidades. p.39.
6 - Sobre os milagres de Juazeiro ver: DELLA CLAVA. Milagre em Joazeiro.
7 - Depoimento de João da Silva, contemporâneo do beato. In: RAMOS. Caldeirão: um estudo histórico sobre o beato José Lourenço e suas comunidades. p.39.
8 - Apud: RAMOS. Caldeirão: um estudo histórico sobre o beato José Lourenço e suas comunidades. p.40.
9 - MONTENEGRO. Fanáticos e Cangaçeiros. p.26
10 - BATISTA. História do beato José Lourenço e o Boi Mansinho. p.2.
11 - Não há fontes que indiquem com precisão quantos anos o beato ficou oculto em suas penitências.
12 - Apud: ALVES. A Santa Cruz do Deserto. p.72
13 - BATISTA. História do beato José Lourenço e o Boi Mansinho. pp. 3-4.
14 - Apud: ALVES. A Santa Cruz do Deserto. p.71
15 - O Povo, 07/06/1934.
16 - O Povo, 07/06/1934.
17 - Depoimento de José Honório, contemporâneo de José Lourenço. In: CORDEIRO. Memórias e Narrações na Construção de um líder. p.27.
18 - Sobre a sedição de Juazeiro ver: FACÓ. Cangaçeiros e Fanáticos.
19 - Apud: CORDEIRO. Memórias e Narrações na Construção de um líder. p. 28.
20 - Esse boato, do qual não foi possível encontrar comprovação, dizia que um trabalhador rural, ao pagar uma promessa, oferecera capim roubado ao boi Mansinho, que se recusara a comê-lo.
21 - BARROSO. A Irmandade da Santa Cruz do Deserto. pp. 26-27. Essa versão do encontro entre Zé Lourenço e Floro Bartolomeu é semelhante à descrita por alguns ex-moradores do Caldeirão. Ver: CORDEIRO. Memórias e Narrações na Construção de um líder.
22 - Depoimento de Henrique Ferreira, contemporâneo de José Lourenço. In: CORDEIRO. Memórias e Narrações na Construção de um líder. p.30.
23 - Apud: MACEDO. Floro Bartolomeu – o caudilho dos beatos e cangaçeiros. pp.50-52.
24 - Depoimento de José Pajeú Filho, contemporâneo de José Lourenço. In: CORDEIRO. Memórias e Narrações na Construção de um líder. p. 96.
25 - Depoimento de João da Silva, contemporâneo do beato. Apud: RAMOS. Caldeirão: um estudo histórico sobre o beato José Lourenço e suas comunidades. p. 47.

Fonte: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/utopias-de-um-beato-qualquer

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Guerra de Canudos

"Então o sertão virará praia e a praia virará sertão"
Profecia de Antônio Conselheiro, escrita num caderno encontrado em Canudos.

Guerra de Canudos.
A atividade consiste em: relacionar o vídeo, imagem e música postado no alto da página e a letra a baixo e escrever um texto com as suas conclusões. No seu texto, privilegie a analise das condições de vida do sertanejo, os fatores para que essas pessoas passassem a se agrupar em torno de Antônio Conselheiro, analisar se existe a possibilidade da letra da música se relacionar com o discurso do beato, o que levou as expedições contra Canudos, como no clipe estão caracterizados os personagem.

Data da entrega: a combinar.

Súplica Cearense
Letra: Gordurinha e Nelinho
O Rappa
Oh! Deus,
perdoe esse pobre coitado,
que de joelhos rezou um bocado,
pedindo pra chuva cair,
cair sem parar.
Oh! Deus,
será que o senhor se zangou,
e é só por isso que o sol se arretirou,
fazendo cair toda chuva que há.
Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover,
mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta,
uma planta no chão.
Oh! Meu Deus,
se eu não rezei direito,
a culpa é do sujeito,
desse pobre que nem sabe fazer a oração.
Meu Deus,
perdoe encher meus olhos d'água,
e ter-lhe pedido cheio de mágoa,
pro sol inclemente,
se arretirar, retirar.
Desculpe, pedir a toda hora,
pra chegar o inverno e agora,
o inferno queima o meu humilde Ceará.
Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover,
mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta no chão,
planta no chão.
Violência demais,
chuva não tem mais,
corrupto demais,
política demais,
tristeza demais.
O interesse tem demais!
Violência demais,
fome demais,
falta demais,
promessa demais,
seca demais,
chuva não tem mais!
Lá no céu demais,
chuva tem,
tem, tem, não tem,
não pode tem,é demais.
Pobreza demais,
como tem demais!(Falta demais),
é demais,
chuva não tem mais,
seca demais,
roubo demais,
povo sofre demais.
Oh! demais.
Oh! Deus.
Oh! Deus.
Só se tiver Deus.
Oh! Deus.
Oh! fome.
Oh! interesse demais,
falta demais...!


Para ir mais além:
http://www.portfolium.com.br/Sites/Canudos/lista.asp?IDSecao=38
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/canudos2.htm
http://epoca.globo.com/especiais/rev500anos/canudos.htm
http://www.girafamania.com.br/montagem/fotografia-brasil-guerra-canudos.htm